quinta-feira, 26 de maio de 2011

ESTIGMAS: SINAL DE SANTIDADE OU FENÔMENO PARANORMAL?

Ao longo da história, inúmeras pessoas foram acometidas por chagas semelhantes às de Cristo em seu suplício na cruz. A seguir, relatamos vinte fatos impressionantes envolvendo o aparecimento de estigmas, além de uma entrevista com o dr. Ted Harison, uma das maiores autoridades mundiais sobre o assunto. O Fenômeno dos Estigmas
•     São Francisco de Assis (1182-1226), fundador da ordem dos franciscanos, foi um dos primeiros estigmatizados conhecidos: os ferimentos em seu corpo surgiram no ano de 1205. Em 1222 o mesmo aconteceu com Stephen Langton, de Canterbury, Inglaterra.
•      As formas mais comuns de estigma são marcas de cravos nas mãos (ou pulsos) e pés, um ferimento por lança na lateral do abdômen, marcas de coroa de espinhos na cabeça e de chicotadas nas costas. Alguns estigmatizados também ganham feridas num dos ombros, presumivelmente por Cristo ter carregado à cruz antes de ser pregado nela. Em muitos casos, as vítimas sofrem horrores em dias sagrados, especialmente a sexta-feira santa.
•     A estigmatizada Anne Catherine Emmerich (1774-1824) entrava em um transe religioso no qual ela relatava com precisão a jornada de Cristo pela Palestina, descrevendo detalhadamente os rios, montanhas, florestas e povoados, bem como os habitantes, trajes e costumes da época. Catherine jamais saiu da Alemanha.
•     Maria De Mörl (1799-1848) recebeu os estigmas quando uma procissão passava perto de sua casa. Várias testemunhas a viram levitar da cama e irradiar luz pelas feridas.
•     O estigmatizado mais famoso deste século foi Padre Pio (1898-1968). As chagas apareceram aos 23 anos e não o deixaram até sua morte, quase 50 anos depois. O padre também podia projetar sua imagem, aparecendo aos membros de sua congregação quando seu corpo físico estava em outro lugar.
•     De todos os estigmatizados contemporâneos, a irmã Therèse Neumann (1898-1962) foi, sem dúvida, a vítima que mais sofreu. Ela tinha chagas nas mãos, pés e testa, e marcas de chicote nas costas. Também sangrava muito pelos olhos, e dizem que ela conseguia sobreviver meses alimentando-se apenas de hóstias sem o menor prejuízo para sua saúde.
•     Por mais que sangrem pelas chagas, a maioria dos estigmatizados não morre ou fica debilitada com isso.
•     Giorgio Bongiovanni diz ter recebido os estigmas durante uma peregrinação a Fátima, Portugal, em 1989. Desde então, suas chagas sangram diariamente. Ele afirma que o fenômeno é ligado à abdução por alienígenas, e acredita que os anjos são extraterrestres constituídos de energia espiritual.
•     A estigmatizada inglesa Ethel Chapman ganhou suas chagas durante um êxtase religioso, enquanto estava internada num hospital de Liverpool, sob atenta supervisão médica.
•     Desde 1588 uma divisão do Vaticano, hoje denominada Congregação para as Causas dos Santos, também investiga os casos de estigmas. Depois de examinar os relatórios da Congregação sobre milagres, martírios e virtudes heróicas de um servo de Deus o Papa pode iniciar o processos de canonização e beatificação da pessoa.

Sangue nas Mãos
    No filme de suspense e terror Stigmata, já disponível em vídeo, a atriz Patricia Arquette vive uma personagem em cujo corpo aparecem chagas semelhantes às de Cristo. Nesta entrevista, o dr. Ted Harison descreve sua experiência ao investigar o fenômeno.
Como o senhor se tornou uma autoridade em estigmas?
Escrevi dois livros sobre o assunto, e vi ou entrevistei nove pessoas que apresentavam as marcas no momento em que as encontrei. Minha tese de doutorado também foi sobre os estigmas.
Quantos casos de estigmas ocorreram desde São Francisco de Assis?
    Cerca de quatrocentos, e estimo que haja de 25 a 30 casos ocorrendo atualmente. Os estigmas começaram como fenômenos mais localizados na Europa, sendo que  a grande maioria estava na Itália. À medida que o catolicismo foi se expandindo, começaram a surgir vítimas nos EUA, América do Sul, Extremo Oriente, Coréia e Japão. Por volta do do século XVI houve um grande boom de chagas  na Espanha e Portugal. No começo do século XIX ocorreram três casos no Tirol, fronteira da Alemanha, que apareceram praticamente no mesmo povoado, com poucos anos de intervalo entre si.
Como a igreja católica encara o fenômeno?
    O Vaticano considera os estigmas com cautela e ceticismo. A hierarquia católica não gosta de qualquer desafio à sua autoridade. O que eles normalmente fazem é uma investigação profunda sobre o caso e, se depois de dois ou três séculos não chegam a qualquer outra conclusão, canonizam a pessoa. Recentemente esse padrão tem mudado, pois o atual Papa gosta de canonizar — ele proclamou mais santos do que qualquer outro pontífice na história. Entretanto, não é só o aparecimento de estigmas que faz um santo. Para o Vaticano validar um processo de canonização o candidato precisa ter sido uma pessoa piedosa e realizado algum tipo de milagre, algo provando que sua santidade interveio para ajudar ou curar alguém.
O personagem de Patricia Arquette em Estigma tem cinco conjuntos de chagas: nas mãos, nos pés, um ferimento no lado do corpo, a marca da coroa de espinhos e as chicotadas. É assim com a maioria dos estigmatizados?
    Não. As mãos de São Francisco não tinham aberturas que sangravam — na verdade, eram mais protuberâncias, como cabeças de pregos. Outros tiveram cortes muito profundos. Alguns disseram que as feridas de Padre Pio trespassavam as mãos. Às vezes, as marcas são bem superficiais — irregularidades na pele, ou esfoladuras.
    É interessante notar que, com a exibição do Sudário de Turim, no final do século XIX, tornou-se evidente que os cravos da crucificação atravessaram os pulsos e não as mãos de Cristo. De repente, surgiram estigmatizados com marcas nos pulsos, além daqueles com ferimentos nas mãos. A coroa de Cristo é uma marca comum, assim como os cortes nos pés e mãos, e a marca da lança, que vem da história do corpo de Jesus ter sido atingido por uma lança. Uma curiosidade: como o Novo Testamento não diz em qual lado o corpo de Cristo foi ferido, alguns estigmatizados têm feridas no lado esquerdo, outros no direito.
O senhor quer dizer que os ferimentos podem ser auto-impingidos em vez de aparecerem por meios sobrenaturais ou milagrosos?
    Até hoje não encontrei qualquer evidência de que as marcas tenham sido espontâneas. Mesmo Padre Pio: quando ganhou as primeiras chagas ele estava sozinho. Aliás, na ocasião ele fez tudo para estar sozinho.
Por que razão alguém faria algo assim?
    Bem, Padre Pio era um dos mais destacados confessores do século — um sacerdote a quem as pessoas eram completamente devotadas e cujo ministério era extremamente eficaz. Possivelmente, ele queria sofrer a dor de Jesus, e uma das formas de fazer isso foi abrir feridas no corpo e aplicar nelas alguma substância corrosiva. Tenho quase certeza de que o Padre mantinha suas feridas abertas artificialmente, pois na velhice, quando estava debilitado e não tinha mais condições de fazer isso, os tecidos se recuperaram. No dia em que morreu não havia mais qualquer ferimento no seu corpo.
Parece que Therèse Neumann, assim como Padre Pio, sofreu mais que a maioria dos estigmatizados recentes. O senhor atribui as chagas dela ao mesmo tipo de causa?
    Thèrese Neumann é um exemplo muito bom de uma estigmatizada que viveu e respirou sua experiência pessoal integralmente, dia após dia. Alguns estigmatizados apresentam suas marcas ocasionalmente, ou por durante certo período da vida, mas ela as teve o tempo todo. Thèrese concentrou ao seu redor um grupo de devotos que queriam ver coisas milagrosas, e a pobrezinha se tornou uma espécie de indústria de milagres: gente de todas as partes vinha visitá-la, ela recebia visões, o sangue corria por seus olhos e tudo o mais. Isso acabou culminando em uma espécie de circo religioso, o que historicamente também ocorreu com outros estigmatizados.
Então, o senhor diria que a maioria dos estigmatizados são automutiladores religiosos — conscientemente ou não — que mantêm suas feridas abertas para sofrer a dor de Cristo?
    Acho que em muitos casos as pessoas se marcaram deliberadamente, ou por desejarem sofrer, ou para atrair atenção. Existe uma condição clínica chamada Síndrome de Munchausen, em que os pacientes alegam ter certas doenças, alguns chegando a passar por cirurgias dolorosas e desnecessárias, para se tornar o centro das atenções.  E evidentemente os estigmatizados chamam muito a atenção. Por esse motivo, para os estigmas serem tidos como verdadeiros é preciso que eles seja reconhecidos e validados por um padre ou confessor.
E a intenção pode ser especificamente compartilhar da dor de Cristo?
    Exato. Também há casos de pessoas que sofrem as chagas sem intenção — nada deliberado. Os ferimentos ocorrem por acidente, ou a pessoa os produz de uma forma inconsciente. Mas aí alguém chega e diz, “Olhe essas marcas: são as chagas de Cristo!”. Veja o caso de Ethel Chapman, que apresentou os estigmas no final dos anos 70. Na ocasião, ela estava muito doente em um hospital; achava que ia morrer e tentava se agarrar na fé religiosa. Uma noite, Ethel teve uma visão nítida de que estava crucificada com Jesus. Na manhã seguinte, surgiram marcas sangrentas no meio de suas mãos. Na pesma hora ela pensou que tinha escavado as palmas com as unhas. Entretanto, um médico católico que estava de plantão viu as feridas e as identificou como estigmas. A partir daí, a vida de Ethel ganhou propósito e ela deu conforto espiritual a muita gente. O próprio padre que começou a assessorá-la teve sua fé fortalecida e elevada.
  
Mas, se a moça feriu a si própria,  ainda que sem intenção, as chagas não acabariam sarando?
Isso é outra coisa interessante: o ferimento que causa algum tipo de trauma sob a pele, como danos em vasos subcutâneos, geralmente vira uma cicatriz bem discreta.  É bem possível que, sob algum tipo de estresse psicossomático, a mente volte à época do trauma, os vasos capilares sejam afetados e as marcas pareçam reabrir. Isso aconteceu com Ethel Chapman: ela voltou a ter a mesma visão toda sexta-feira santa. Em uma dessas ocasiões eu fui vê-la e, à medida que revivia mentalmente sua crucifixão, as marcas em suas mãos ficavam mais lívidas. Isso me leva a pensar que os estigmas sejam produzidos inicialmente por um fator físico, e que, em certas circunstâncias, a mente pode reativá-las.
    Também não podemos esquecer que alguns reativam seus ferimentos fisicamente. Nos anos 30 o Vaticano estudou o Padre Pio. Eles mandaram médicos examinarem suas mãos e surgiram relatos comprometedores, dizendo que o religioso usava substâncias químicas e iodo para manter as feridas abertas.
 
Então, por sua experiência, o senhor duvidaria que os estigmas são evidências de milagres?
    O que é um milagre? Tecnicamente, não é nada que contrarie as leis da natureza, mas serve para focalizar a mente das pessoas em Deus, fazendo com que elas o vejam com admiração. Acredito que isso consiste em um problema teológico básico: por que Deus não intervém no mundo onde há guerra, fome e doença, mas exibe seus poderes através de truques menores, como ferior o o corpo de certas pessoas? Não acredito que as chagas apareçam de modo sobrenatural, que venham de Deus, mas que sejam uma resposta humana ao sofrimento de Cristo. Não se pode dizer que as marcas sejam fraudulentas, mesmo as causadas fisicamente, pois elas encorajam a fé. Um templo, uma música religiosa, ou determinado sermão podem inspirar a fé, mesmo sendo produto dos seres humanos. Podemos dizer a mesma coisa dos estigmas: eles são causados pelos seres humanos, mas podem inspirar a fé.
Voltando ao filme Stigmata, Patricia Arquette faz  uma cabeleireira agnóstica que apresenta espontaneamente as chagas, depois de receber um rosário “maldito” pelo correio. Até que ponto a personagem se assemelha aos estigmatizados na vida real?
    Não tem nada a ver, se você levar o filme ao pé da letra. O primeiro ferimento da personagem aparece em público, no metrô e com um padre observando — sem saber ela está conectada aos fenômenos através do rosário vindo da América do Sul. Normalmente isso não acontece!

Há outros elementos da história em que o senhor vê problemas?
    Bem, não creio que qualquer um que investigue esses fenômenos já tenha ido a uma cerimônia religiosa com tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo. Já vi estátuas que choram. Vi estigmas. Vi vários outros supostos milagres. Mas tudo de uma vez, na mesma hora e lugar? E bem no momento em que o perito do Vaticano chega? Para mim, é apenas uma licença poética hollywoodiana...

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