segunda-feira, 3 de outubro de 2011

5 ה E - O Pentagrama

GEBURAH - Ecce
Pentagramatton
Até agora expusemos o dogma mágico no que tem de mais árido e mais abstrato; aqui começam os encantamentos; aqui podemos anunciar os prodígios e revelar as coisas ocultas.
O pentagrama exprime a dominação do Espírito sobre os elementos, e é por este signo que encadeamos os Silfos do ar, as salamandras do fogo, as Ondinas da água e os Gnomos da terra.
Armado deste signo e convenientemente disposto, podeis ver o infinito através daquela faculdade que é como que o olho de vossa alma, e vós vos fareis servir por legiões de anjos e colunas de demônios.
E, primeiramente, estabeleçamos princípios:
Não há mundo invisível, há somente vários graus de perfeição nos órgãos.
O corpo é a representação grosseira e como que a casca passageira da alma.
A alma pode perceber de si mesma e sem intermédio dos órgãos corporais, por meio da sua sensibilidade e do seu diáfano, as coisas quer espirituais, quer corporais, que existem no universo.
Espiritual e corporal são palavras que somente exprimem os graus de tenuidade ou densidade da substância.
O que se chama, em nós, imaginação, não é mais que propriedade inerente à nossa alma de se assimilar as imagens e os reflexos contidos na luz viva, que é o grande agente magnético.
Estas imagens e estes reflexos são revelações, quando a ciência intervém para nos revelar o seu corpo ou a sua luz. O homem de gênio difere do sonhador e do louco somente nisto: as suas criações são análogas à verdade, ao passo que a dos sonhadores e loucos são reflexos perdidos e imagens desviadas.
Assim, para o sábio, imaginar é ver, como, para o mago, falar é criar.
Podem-se, pois, ver realmente e em verdade os demônios, as almas, etc., por meio da imaginação; mas a imaginação do adepto é diáfana, ao passo que a do vulgo é opaca; a luz de verdade atravessa uma como por janela esplêndida, e se refrata na outra como uma massa vítrea cheia de escórias e corpos estranhos.
O que contribui mais para os erros do vulgo e as extravagâncias da loucura são os reflexos das imaginações depravadas umas nas outras.
Mas o vidente sabe, com certeza, que as coisas imaginadas por ele são verdadeiras, e a experiência sempre confirma as suas visões.
Dizemos, no Ritual, por que processo se adquire esta lucidez.
É por meio desta luz que os visionários extáticos se põem em comunicação com todos os mundos, como isso acontecia tão freqüentemente a Emanuel Swedenborg, que, não obstante, não era perfeitamente lúcido, pois que não discernia os reflexos dos raios e misturava, às vezes, ilusões aos seus mais admiráveis sonhos.
Dizemos sonhos, porque o sonho é o resultado de um êxtase natural e periódico que se chama sono. Estar em êxtase é dormir; o sonambulismo magnético é uma reprodução do êxtase.
Os erros do sonambulismo são ocasionados pelos reflexos do diáfano das pessoas acordadas, e principalmente do magnetizador.
O sonho é a visão produzida pela refração de um raio de verdade; a ilusão é a alucinação ocasionada por uma reflexão.
A tentação de Santo Antonio, com seus pesadelos e monstros (*), representa a confusão dos reflexos com os raios diretos. Enquanto a alma luta, ela é razoável; quando sucumbe a esta espécie de embebedamento invasor, é louca.
Distinguir o raio direto e o separar do reflexo, tal é a obra do iniciado.
Agora, digamos alto que esta obra sempre foi realizada por alguns homens de “elite” no mundo;
(*) Retratado genialmente pelo pintor flamengo Hieronimus Bosch no quadro As Tentações de Santo Antônio.
que a revelação por intuição é, assim, permanente, e que não há barreira intransponível que separe as almas, porque na natureza não há nem interrupções repentinas nem muralhas abruptas que possam separar os espíritos. Tudo é transição e matizes e, se supusermos a perfectibilidade, se não infinita, ao menos indefinida das faculdades humanas, veremos que todo homem pode chegar a tudo ver, e, por conseguinte, a tudo saber, ao menos num círculo que pode alargar indefinidamente.
Não há vácuo na natureza, tudo é povoado. Não há morte real na natureza, tudo está vivo.
"Vedes esta estrela?" - dizia Napoleão ao cardeal Fresch. - "Não, Senhor" - "Pois bem, eu a vejo!” E, certamente, ele a via.
É por isso que acusam os grandes homens de terem sido supersticiosos: é que eles viram o que o vulgo não vê.
Os homens de gênio diferem dos simples videntes pela faculdade que possuem de fazer sentir aos outros homens o que vêem e de se fazer crer por entusiasmo e simpatia.
São os médiuns do Verbo divino.
Digamos, agora, como se opera a visão. Todas as formas correspondem a idéias, e não há idéia que não tenha sua forma própria e particular.
A luz primordial, veículo de todas as idéias, é a mãe de todas as formas, e transmite-as de emanação em emanação, apenas diminuídas ou alteradas por causa da densidade dos meios.
As formas secundárias são reflexos que voltam ao foco da luz emanada.
As formas dos objetos, sendo uma modificação da luz, ficam na luz onde o reflexo as envia. Por isso, a luz astral ou o fluido terrestre, que chamamos o grande agente mágico, está saturado de imagens ou reflexos de toda espécie os quais a nossa alma pode evocar e submeter ao seu diáfano, como falam os cabalistas. Estas imagens sempre nos estão presentes e somente se acham apagadas pelas impressões mais fortes da realidade durante a vigília, ou pelas preocupações do nosso pensamento, que deixa a nossa imaginação desatenta ao panorama móvel da luz astral. Quando dormimos, este espetáculo se apresenta por si mesmo a nós, e é assim que se produzem os sonhos: sonhos incoerentes e vagos, se alguma vontade dominante não fica ativa no sono e não dá, mesmo contra a vontade da nossa inteligência, uma direção ao sonho, que, então, se transforma em visão.
O magnetismo animal não é nada mais do que um sono artificial produzido pela união, quer voluntária, quer forçada, de duas almas, uma das quais está acordada, enquanto a outra dorme, isto é, uma das quais dirige a outra na escolha dos reflexos para mudar os sonhos em visões e saber a verdade por meio das imagens. Assim, as sonâmbulas não vão realmente aos lugares aonde o magnetizador as manda; elas evocam as suas imagens na luz astral, e nada podem ver do que não existe nesta luz.
A luz astral tem uma ação direta sobre os nervos, que são os condutores, na economia animal, e que a levam ao cérebro; por isso, no estado de sonambulismo, pode-se ver pelos nervos, e sem mesmo ter necessidade da luz irradiante, o fluido astral sendo uma luz latente, como a física reconheceu que existe um calórico latente.
O magnetismo entre dois é, sem dúvida, uma descoberta maravilhosa; mas o magnetismo de um só, dirigindo-se a si mesmo, ficando lúcido à vontade, é a perfeição da arte mágica; e o segredo desta grande obra não está para ser achado: foi conhecido e praticado por um grande número de iniciados, e principalmente pelo célebre Apolônio de Thyana, que deixou dele uma teoria, como veremos no nosso Ritual.
O segredo da lucidez magnética e da direção dos fenômenos do magnetismo provém de duas coisas: da harmonia das inteligências e da união perfeita das vontades numa direção possível e determinada pela ciência; isto é, para o magnetismo operado entre diversos. O magnetismo solitário exige preparações de que falamos no nosso primeiro capítulo, quando enumeramos e fizemos ver, em toda a sua dificuldade, as qualidades exigidas para ser um verdadeiro adepto.
Esclareceremos cada vez mais este ponto importante e fundamental nos capítulos que vão seguir.
Este império da vontade sobre a luz astral, que é a alma física dos quatro elementos, é figurado em magia, pelo pentagrama, cuja figura colocamos no frontispício deste capítulo.
Assim, os espíritos elementais são submissos a este signo, quando é empregado com inteligência, e pode-se, colocando-o no círculo ou na mesa das evocações, fazê-los dóceis, o que, em magia se chama prendê-los.
Expliquemos, em poucas palavras, esta maravilha. Todos os espíritos criados comunicam entre si por sinais e aderem a um certo número de verdades expressas por certas formas determinadas.
A perfeição das formas aumenta em razão do desembaraço dos espíritos, e os que não estão presos pelas cadeias da matéria reconhecem, à primeira intuição, se um signo é a expressão de um poder real ou de uma vontade temerária.
A inteligência do sábio dá, pois, valor ao seu pantáculo, como a sua ciência dá peso à sua vontade, e os espíritos compreendem imediatamente este poder.
Assim, com o pentagrama, pode-se forçar os espíritos a aparecerem em sonho, quer durante a vigília, quer durante o sono, trazendo eles mesmos, diante do nosso diáfano, o seu reflexo, que existe na luz astral, se viveram, ou um reflexo análogo ao seu verbo espiritual, se não viveram na terra. Isto explica todas as visões e demonstra, principalmente, por que os mortos aparecem sempre aos videntes, quer como eram na terra, quer como estão ainda no túmulo, nunca como estão numa existência que escapa às percepções do nosso organismo atual.
As mulheres grávidas estão, mais que os outros, sob a influência da luz astral, que concorre para a formação dos seus filhos, e que lhes apresenta, sem cessar, as reminiscências de formas de que está cheia. É assim que as mulheres muito virtuosas enganam por semelhanças equívocas a malignidade dos observadores. Elas imprimem, muitas vezes, ao fruto do seu casamento uma imagem que as comoveu em sonho, e é assim que as mesmas fisionomias se perpetuam, de século em século.
O uso cabalístico do pentagrama pode, pois, determinar a figura dos filhos a nascer, e uma mulher iniciada pode dar a seu filho as feições de Nereu ou de Aquiles, como as de Luiz XIV ou de Napoleão. Nós indicamos no nosso Ritual o modo de o fazer.
O pentagrama é o que se chama, em Cabala, o signo do microcosmo, o signo cujo poder Goethe exalta no belo monólogo do Fausto:
"Ah! como a esta vista todos meus sentidos estremeceram! Sinto a juvenil e santa volúpia da vida ferver nos meus nervos e nas minhas veias. Será um Deus aquele que traçou este signo que acalma a vertigem de minh’alma, enche de alegria meu pobre coração, e, numa impulsão misteriosa, desvenda ao redor de mim as forças da natureza? Sou um Deus? Tudo se torna tão claro para mim; vejo, nestes simples traços, a natureza ativa se revelar à minh’alma. Agora, pela primeira vez, reconheço a verdade desta palavra do sábio: - O mundo dos espíritos não está fechado! Teu sentido está obtuso, teu coração está morto. Levanta-te! Banha, ó adepto da ciência, o teu peito, ainda envolto de um véu terrestre, nos esplendores do dia nascente!" –(Fausto, 1 parte, cena 1).
Foi em 24 de Julho de 1854 que o autor deste livro, Eliphas Levi, fez em Londres a experiência da evocação pelo pentagrama, depois de se ter preparado, para isso, por todas as cerimônias que estão marcadas no Ritual. O sucesso desta experiência, cujas razões e detalhes damos no 13º capítulo do Dogma e as Cerimônias no 13º capítulo do Ritual, estabelecem um novo fato patológico que os homens de verdadeira ciência admitirão sem dificuldade. A experiência, reiterada até três vezes, deu resultados verdadeiramente extraordinários, mas positivos e sem mistura alguma de alucinação. Convidamos os incrédulos a fazerem um ensaio consciencioso e razoável, antes de levantar os ombros e sorrir.
A figura do Pentagrama, aperfeiçoada conforme a ciência e que serviu ao autor para esta prova, é a que está no começo deste capítulo e que não se acha tão completa nem nas clavículas de Salomão, nem nos calendários mágicos de Tycho-Brahé e Duchenteau.
Observemos somente que o uso do pentagrama é muito perigoso para os operadores que não tem completa e perfeita inteligência dele. A direção das pontas da estrela não é arbitrária, e pode mudar o caráter de toda operação, como explicaremos no Ritual.
Paracelso, este inovador em magia, que sobrepujou todos os outros iniciados pelos sucessos de realização obtidos por ele só, afirma que todas as figuras mágicas e todos os signos cabalísticos dos pantáculos aos quais os espíritos obedecem, se reduzem a dois, que são a síntese de todos os outros; o signo do macrocosmo ou do selo de Salomão, cuja figura já demos e reproduzimos na página seguinte, e o do microcosmo, ainda mais poderoso que o primeiro, isto é, o pentagrama, do qual dá, na sua filosofia oculta, uma minuciosa descrição.
Se perguntarem como um signo pode ter tanto poder sobre os espíritos elementais, perguntaremos, por nossa vez: por que o mundo cristão se prosternou diante do sinal da cruz? O sinal por si mesmo nada é, e só tem força pelo dogma de que é resumo e verbo. Ora, um signo que resume, exprimindo-as, todas as forças ocultas da natureza, um signo que sempre manifestou aos espíritos elementares e outros um poder superior à sua natureza, naturalmente os enche de respeito e temor e os força a obedecer, pelo império da ciência e da vontade sobre a ignorância e a fraqueza.
É também pelo pentagrama que se medem as proporções exatas do grande e único athanor necessário à confecção da pedra filosofal e à realização da grande obra. O alambique mais perfeito que possa elaborar a quintessência é conforme esta figura, e a própria quintessência é figurada pelo signo do pentagrama.
Hexagrama
Selo de Salomão

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