Investigadores defendem em publicação internacional que é preciso um plano para lidar com extraterrestres, caso eles apareçam
É um planeta extrassolar rochoso como a Terra, quase do mesmo tamanho (vá lá, 0,4 vezes maior) e o mais pequeno descoberto até à data. O 521º planeta detectado fora do sistema solar em 15 anos foi anunciado ontem pela NASA. O ritmo das descobertas planetárias já não espanta os cientistas, mas o vazio político nos assuntos supraterrestres começa a provocar algum incómodo. Num artigo publicado também ontem online, Mazlan Othman, do Gabinete das Nações Unidas para Assuntos Espaciais UNOOSA, lança um repto aos estados-membros do comité para o Uso Pacífico do Espaço, Portugal incluído, para que façam chegar o dossiê a uma próxima assembleia-geral da ONU. Com tantos esforços para encontrar vida extraterrestre e inteligente, defende, o assunto não pode continuar fora da agenda internacional. “Quando isso acontecer, teremos de ter uma resposta coordenada que tenha em conta todas as sensibilidades.”
A comunicação interestelar foi discutida pela última vez numa assembleia geral da ONU em 1977. Na altura as recomendações pedidas ao comité caíram em saco roto. Até hoje a única mensagem com o aval global seguiu a bordo das Voyager, no mesmo ano. O então secretário-geral das Nações Unidas apresentava-se como representante de uma organização de 147 estados-membros, logo, da maioria dos habitantes do planeta, e pedia paz e amizade em nome do povo da Terra. Desde então, o trabalho está nas mãos de académicos e há um acordo informal conseguido pela Academia Internacional de Astronáutica: se se detectarem sinais de vida ou mesmo uma mensagem, e só quando houver certeza absoluta, os cientistas podem difundir a informação como entenderem. Não estão contudo autorizados a responder.
Na edição especial da “Philosophical Transactions of the Royal Society A” estão reunidos artigos discutidos num encontro sobre vida extraterrestre em Londres, há um ano. A urgência de um plano para lidar com eventuais extraterrestres é consensual. Martin Dominik, especialista da Universidade de St. Andrews e autor da introdução, sublinhou ao i que se trata de um projecto para demorar anos. “Podemos pensar que ainda é cedo para o fazer, mas, se continuarmos à espera, a certa altura será demasiado tarde.” A opinião é partilhada por Iván Almár, do Observatório de Konkoly, na Hungria, e co- -autor da edição especial, e por Douglas Vakoch, director do departamento de composição de mensagens interestelares do SETI (Instituto para a Busca de Vida Extraterrestre). “Se finalmente detectarmos civilizações extraterrestres, os acontecimentos vão suceder-se de forma tão rápida que não haverá tempo para pensar com calma nos passos seguintes”, defende o especialista em transpor a essência da humanidade para algoritmos que poderão ser usados em futuras saudações interestelares.
O facto de já ter fóruns de discussão estabelecidos e legitimidade política pesam a favor da ONU como guardiã do dossiê, mas o fraco envolvimento dos últimos anos é criticado por todos. Na agenda do UNOOSA não está marcada nenhuma discussão sobre o tema para os próximos meses.
O primeiro encontro continua a não merecer previsões dos cientistas. Ontem, ao final do dia, Vakoch sublinhava ainda assim a importância da descoberta de um planeta rochoso tão parecido com a Terra. “As oportunidades de sucesso na procura de vida fora da Terra acabam de aumentar dramaticamente.” O “mas” que por enquanto segue estas notícias voltou a constar do anúncio da NASA: os cientistas sabem já que o Kepler 10b, como foi baptizado, não está à distância certa da sua estrela para poder ter vida, pelo menos como a conhecemos.
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