Quando decidi fazer as malas, o que ocorreu dentro da minha casa pode ser resumido nas seguintes reações: meu pai parecia estar possesso, gritava, me xingava, ameaçava e minha irmã me chamava de louco o tempo todo e chorava, chorava muito e eu fazia as malas, calmamente como se o Espírito de Deus me colocasse acima de tudo aquilo.
Eu estava bem consciente da minha decisão. Antes de sair, por causa das lágrimas da minha irmã, tentei amenizar a situação e propus ao meu pai:
― Deixe eu ficar com vocês, mas eu serei um pastor. Eu amo vocês, mas Jesus está acima deste amor.
Meu pai respondeu:
― Abandone sua igreja e você fica. Ou então pode ir saindo, e nunca mais ponha os pés nesta casa. Você vai perder tudo K.
Com essas palavras na minha mente eu fui embora. Caminhei até a esquina e parei. Coloquei a mala no chão, e pensei: Para aonde eu vou? Pensei na casa da minha avó, mas não podia dar este desgosto para ela. Já bastava ela ter perdido a filha num assassinato e agora teria que ver o neto expulso de casa, sem rumo definido.
Perdi minha mãe logo cedo. Meu pai e seu irmão, na mocidade, decidiram subir na vida a qualquer preço. Eu ainda não era um cristão quando os dois me contaram esta história sorrindo:
― Quando éramos jovens, K, eu e teu pai fomos ao centro de macumba, para fazermos um pacto, para sermos ricos.
Ele prosseguiu dizendo como foi realizado o ritual de iniciação.
― Jogaram sangue de animais na nossa cabeça, K, era o nosso batismo...Aí baixou uma coisa estranha em nós e eu e teu pai rolamos no chão, e chegamos a cair de um barranco, com aquela força estranha dentro da gente...
Deu certo. Meu pai e meu tio tornaram-se homens ricos. Mas tudo têm suas conseqüências. Anos mais tarde, já casado, meu pai se envolveu com uma amante, que era justamente praticante da macumba. Era médium. Eu tinha três anos de idade, quando essa mulher resolveu assassinar minha mãe, para poder ficar com meu pai.
A trama que se seguiu, eu prefiro não relatar. Minha mãe foi assassinada, esta mulher que pensava nunca ser descoberta, foi presa e meu pai tornou-se um homem amargo e frustrado na vida. Com dinheiro, mas sem alegria.
Sabe, meus irmãos, existem homens que são verdadeiros "tições tirados do fogo..." para serem servos do Senhor. Eu sou um. Vejam da onde Deus me chamou. Não me tornei um pastor porque era de alguma família tradicional da igreja, cujo pai é da administração, e então quer ver o filhinho ser pastor também, não importa se ele tem vocação ou não. São moços, que já tem um chamado garantido, antes de ter entrado no curso de teologia. Pastores, que vão viver de um dinheiro sagrado, o dízimo, mas eles próprios nunca foram santificados, para o ministério.
Cansei de ouvir destes jovens, no curso de teologia a seguinte frase: "Para nós, K, não existe crise de chamado. Temos costas quentes...".
Esses pastores, hoje, vivem dos dízimos, e abusam. Seguem o exemplo dos pais, e esbanjam dinheiro da igreja em infinitas viagens desnecessárias. Francamente, irmãos, eu mesmo era obrigado a deixar meu campo, para participar de concílios, cujos temas eram tão banais e inúteis.
Quando me queixava a um pastor, amigo meu, dizendo que não podia ficar uma semana, longe do meu distrito ele me dizia:
― K, relaxe e aproveite a boa comida...Estamos aqui para ouvir as palestras.
― Mas, pastor, os temas não são de proveito nenhum...
― Faça, como eu, K, que trago sempre meu fone de ouvido, bem discreto, e aproveito para ouvir futebol...
Era revoltante. Dinheiro mal gasto, meu campo abandonado, e eu me sentindo um inútil. Para eles estava tudo bom, mas eu havia deixado tudo para trás para servir Jesus... Tinha esperanças que nenhum dinheiro, nem mesmo o do dízimo, que financiava estas verdadeiras mamatas, poderiam comprar. Não queria viagens, não queria semanas de lazer, queria pregar. Queria ver Jesus voltar, para abraçar minha mãe, ressuscitada dentre os mortos!
Engraçado, meu pai fizera um pacto com o diabo, por dinheiro... E agora eu via administradores fazendo o mesmo. Traindo a causa de Cristo, passando para as fileiras do inimigo, por amarem o dinheiro sagrado dos dízimos!
Quando fui começar meu ministério, este pastor, amigo meu me disse:
― K, cumpra o BCD dos pastores... Batismo, construções e dízimos. Batize bastante, construa muito, e aumente o dízimo por onde você passar.
Batizar, não para levar almas aos pés de Cristo, mas para aumentar o número de dizimistas, construir escolas e igrejas não para honra e glória de Deus, não para levar o evangelho ao mundo, mas para aumentar o patrimônio financeiro da igreja!
Pobre Laodicéia! Pensa que a riqueza é isto. E ainda diz para Jesus:
― Sou rica e de nada tenho falta...
Pobre igreja. Iludida pelos seus guias cegos... Igreja que se diz seguidora Daquele que não tinha onde reclinar a cabeça...
Quando parei, na esquina de casa sem saber para onde ir, mal sabia eu que iria parar no meio de pessoas iguais àquelas que eu estava deixando para trás.
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