Exorcismo é um ritual religioso para expulsar Satanás ou maus espíritos de uma
pessoa, lugar ou objeto possuído. Na antiguidade,
diversas culturas tinham rituais como esses. Hoje em dia,
a Igreja
Católica Romana ainda acredita em possessões
diabólicas e seus sacerdotes ainda praticam o que é
chamado de "exorcismo real", um ritual de 27
páginas que envolve o uso de água-benta, encantamentos
e diversas preces, incensos, relíquias ou símbolos
cristãos como a cruz, a fim de expulsar os espíritos
malignos. A Igreja Católica tem atualmente pelo menos
dez exorcistas oficiais nos EUA (Cuneo). O arcebispo de
Calcutá, Henry Sebastian D´Souza, afirma ter ordenado a
um padre que executasse o exorcismo em Madre Teresa pouco
antes que ela morresse em 1997, por achar que ela estaria
sendo atacada pelo diabo.
A maioria das seitas
protestantes também acredita em possessões
satânicas e em exorcismo. Michael Cuneo, sociólogo da
Universidade Fordham, afirma que "segundo
estimativas conservadoras, há pelo menos quinhentas ou
seiscentas igrejas evangélicas exorcistas em operação,
e é bem possível que o número seja duas ou três vezes
maior". O Reverendo Brian Connor, da Carolina do
Sul, diz que "lidar com o mal encarnado é
isoladamente o componente mais negligenciado dos
mandamentos bíblicos". *
Connor apareceu no programa "Dateline" da NBC
sobre exorcismo (13 de novembro de 2001). Ele e vários
colegas passaram um dia inteiro tentando convencer os
demônios a sair do corpo de um homem na casa dos
cinqüenta anos, que tinha histórico de depressão e
desânimo. Os exorcistas empunhavam Bíblias, que liam
ocasionalmente, e cruzes. Agruparam-se em torno de seu
paciente por horas, entoando preces e ordenando aos
demônios que saíssem. O sujeito ocasionalmente uivava
como um animal e fazia caretas para seus protetores. Isso
teve carga dramática e até catártica suficiente para
que ele vomitasse um pouco. Connor declarou que ele
estaria cuspindo Satanás, e que todos os demônios
haviam saído. No entanto, um acompanhamento feito dois
meses mais tarde descobriu que o grupo teve de repetir o
exercício outras seis vezes. Agora tinham certeza de que
os demônios haviam partido e de que ele estava bem e era
um novo homem.
Michael Cuneo assistiu a uma filmagem do exorcismo e
concluiu que o grupo estava sugerindo ao paciente como
deveria reagir, e não viu nenhum indício de possessão
demoníaca ou de demônios sendo exorcizados. O mesmo
filme foi mostrado a um psiquiatra, que disse não poder
avaliar o que havia observado como profissional, mas como
"crente" achou que poderia haver algo de real
relacionado a possessão. Quando perguntaram em que ele
basearia essa crença, respondeu sem rodeios: fé. Esse
homem era membro do Comitê sobre Religião e Psiquiatria
da Associação Psiquiátrica Americana.
Como leigo, achei o comportamento dos exorcistas no
mínimo tão interessante quanto o do paciente. Acreditar
em demônios é uma coisa. Acreditar que se tem a
capacidade de invocar um ser sobrenatural de poder e
perfeição infinita para fazer com que demônios se
mudem ao seu comando parece coisa de doente mental. O
grupo inteiro de exorcistas e o exorcizado estão
iludidos. Os primeiros claramente sentiram grande orgulho
de sua conquista e compartilharam uma vitória gloriosa
sobre Satanás. O último foi mimado e acalentado,
abraçado e amado, e finalmente abençoado e recompensado
com os bons sentimentos das pessoas que cuidavam dele
quando livrou-se de Satanás e disse "Jesus é o
Senhor". Não parece haver nada de muito complicado
no que aconteceu. O grupo convenceu o sujeito de que ele
estava possuído. Deram-lhe pistas de como se comportar e
recompensaram a ele e a si próprios quando o exorcizado
deixou que o demônio saísse. Reforço
comunitário e auto-engano
podem ajudar muito a explicar como o grupo passou a
acreditar que podia exorcizar demônios. Os exorcistas
claramente gostam de seu trabalho e têm grande
satisfação em "auxiliar" pessoas dessa forma
poderosa. Tenho certeza de que muitos evangélicos que
viram o programa estão curiosos para saber onde podem se
inscrever para ser ajudantes de exorcista.
exorcismos
tradicionais
É possível fazer exorcismos em lugares ou objetos inanimados,
assim como em pessoas. Esses não precisam ser
"exorcismos reais", mas podem ser
"exorcismos simples" (geralmente conhecidos
como o batismo de uma criança ou a "benzedura"
de uma casa ou lugar). Parece que Satanás está em toda
parte, mas o especialista em exorcismos reais só é
necessário quando O Maligno começa a aprontar.
A maioria, senão todos os casos de suposta possessão
demoníaca de seres humanos provavelmente consiste ou de
pessoas com distúrbios cerebrais, que vão de epilepsia
a esquizofrenia e síndrome de Tourette, ou de pessoas
cujos cérebros são mais ou menos saudáveis, mas que
têm a má sorte de serem induzidas a representar um
papel social de conseqüências bem desagradáveis. Em
qualquer dos casos, os comportamentos dos possuídos
lembra muito os das pessoas que têm distúrbios
eletroquímicos, neuroquímicos ou outros de ordem
física ou emocional.
Uma versão secularizada de exorcismo é praticada por
alguns terapeutas que se especializam em revelar e livrar
seus clientes de "entidades" que, segundo
crêem, são a causa dos problemas dos pacientes. Os terapeutas
de livramento de entidades dedicam-se a esse
trabalho, embora haja tantas evidências da existência
das "entidades" como há dos demônios
exorcizados pelos padres católicos e evangélicos
protestantes. Muitas pessoas, no entanto, têm grande
resistência à idéia de que a possessão demoníaca
seja um mito, especialmente por terem visto ou lido obras
de ficção como O Exorcista ou A Cidade do
Horror. Não conseguem imaginar como aquilo poderia
ser invenção. Assim mesmo, parece ser preciso muito mais
imaginação para que alguém acredite em histórias como
essas.
Muitas pessoas têm medo da possessão por demônios,
mas os próprios exorcistas podem fazer grandes estragos
O exorcismo provocou várias tragédias no mundo real ao longo dos anos, inclusive diversas mortes.
Pastores pentecostais de San Francisco surraram uma mulher até a morte em 1995, tentando expulsar demônios.
Em 1997, uma cristã coreana foi pisoteada até a morte em Glendale, Califórnia. E na área do Bronx, na cidade de Nova York, uma garota de 5 anos morreu após ser forçada a ingerir um preparado contendo amônia e vinagre e ter a boca fechada com fita adesiva.
Em 1998, uma garota de 17 anos de Sayville, estado de Nova York, foi sufocada com um saco plástico pela mãe, que tentava destruir um demônio dentro da filha. *
Em 2001, Joanna Lee, uma mulher de 37 anos, foi estrangulada até a morte num exorcismo praticado por um pastor de uma igreja coreana que trabalhava na Nova Zelândia. Luke Lee, o pastor, foi condenado por homicídio.
Um programa da MSNBC sobre exorcistas, apresentando os
evangélicos Tom
Brown e Bob
Larson, advertia os espectadores a não tentar fazer
aquilo em casa porque poderiam acabar presos como
conseqüência de exorcismos catastróficos como os
citados acima. O jogo dos evangélicos é reunir grupos
de pessoas problemáticas e procurar pelos demônios que
causam os problemas para que possam exorcizá-los. Brown
e Larson nunca mataram ninguém, até onde sabemos, mas
se ajudam ou prejudicam pessoas não foi possível
descobrir através do programa, já que os
"repórteres" não fizeram nenhuma
verificação do passado ou acompanhamentos posteriores
nas pessoas exorcizadas.
A única arma dos exorcistas é uma
Bíblia, que é segura em uma das mãos enquanto falam
com o diabo em cenas bem dramáticas, dignas de um Jerry
Springer ou um Jenny Jones [N.T.: Apresentadores de
programas de TV nos EUA em que se explora a baixaria.
Equivalentes ao Ratinho no Brasil]. Os
"possuídos" poderiam ser doentes mentais,
atores, atores doentes mentais, viciados em drogas, ou
poderiam estar possuídos, como alegam os exorcistas.
Todos os participantes apresentados parecem ter assistido
ao filme O
Exorcista ou uma de suas continuações. Todos se
incorporaram o papel do Satanás da voz rouca, falando
das profundezas, que foi mostrado no filme. As
semelhanças de fala e comportamento dos
"possuídos" levou alguns psicólogos como
Nicholas Spanos a concluir que tanto o
"exorcista" como o "possuído" estão
representando papéis.
O que desaponta no programa da MSNBC é
que não houve qualquer esforço para se conseguir a
opinião de qualquer pessoa sobre o que estava
acontecendo, a não ser a dos teleevangelistas e seus
pacientes. Um jornalista sério não procuraria uma
terceira opinião? Por que deveríamos acreditar na
palavra de partes interessadas como Brown e Larson de que
seus pacientes realmente estavam possuídos e de que
realmente eliminaram Satanás de
todos aqueles corpos? Esses exorcistas evangélicos
poderiam estar se iludindo
e cometendo a predisposição
para a confirmação. Mesmo se suas intenções forem
boas é mais provável que estejam iludidos e certamente
prejudicando aos que exorcizam e que deveriam estar sob
cuidados psiquiátricos.
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