quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Xamã


O xamanismo é um termo genericamente usado em referência a práticas etnomédicas, mágicas, religiosas (animista, primitiva) e filosóficas (metafísica), envolvendo cura, transe, metamorfose e contato direto entre corpos e espíritos de outros xamãs, de seres míticos, de animais, dos mortos, etc.
A palavra xamã vem do russo, tungue saman corresponde à práticas dos povos não budistas das regiões asiáticas e árticas especialmente a Sibéria (região centro norte da Ásia). Apesar, como assinala Mircea Eliade da especificidade dessas práticas na região (em especial as técnicas do êxtase dos tungues, Iacutes, mongóis, turco-tártaros etc.), não existe, contudo origem histórica ou geográfica para o xamanismo como conhecido hoje, tampouco algum princípio unificador. Outros nomes para sua tradução seriam feiticeiros, médico-feiticeiros, magos, curandeiros e pajés.
Antropólogos discutem ainda na definição xamanismo a experiência biopsicossocial do transe e êxtase religioso bem como as implicações sociais da definição do xamanismo como fato social, uma tradição equivalente à magia enquanto prática individualizada relacionada aos problemas e técnicas e ciência da sobrevivência cotidiana (agricultura, caça, medicina, etc.) ou ao fenômeno religioso, abstrato, coletivo, normatizador. (Emile Durkheim, Marcel Mauss)


Xamã

O sacerdote do xamanismo é o xamã, que geralmente entra em transe durante rituais xamânicos, manifestando poderes incomuns, invocando espíritos, plantas etc., através de objetos rituais, do próprio corpo ou do corpo de assistentes e pacientes. A comunicação com estes aspectos sutis da vida pode se processar através de estados alterados de consciência. Estados esses alcançados através de batidas de tambor, danças e até ervas enteógenas.
As variações "culturais" são muitas mas, em geral, o xamã pode ser homem ou mulher, e muitas vezes há na história pessoal desse indivíduo um desafio, como uma doença física ou mental, que se configura como um chamado, uma vocação. Depois disto há uma longa preparação, um aprendizado sobre plantas medicinais e outros métodos de cura, e sobre técnicas para atingir o estado alterado de consciência e formas de se proteger contra o descontrole.
O xamã é tido como um profundo conhecedor da natureza humana, tanto na parte física quanto psíquica.
De acordo com Eliade, entre os manchus e os tungues da Manchúria a tradição dos dons xamânicos costuma ser feita de avô para neto, pois o filho ocupa-se em prover as necessidades do pai, isso no caso dos amba saman (xamãs do clã). Os xamãs independentes seguem a sua própria vocação. O reconhecimento como xamã só pode ser feito pela comunidade inteira depois de uma prova iniciática. Ainda segundo esse autor das referências a distúrbios psicológicos (especialmente no processo de formação) o ideal iacuto de um xamã é: um homem sério, que sabe convencer os que estão à sua 
 
volta, não presunçoso nem colérico. Entre os kazak-quirguizes o baqça, guardião das tradições religiosas é também cantor, poeta, músico, adivinho, sacerdote e médico.
Talvez pela experiência do sofrimento antes da iniciação ou experiência de possessão o xamã é confundido com indivíduos portadores de distúrbio mental tipo epilepsia, histeria e psicose, Lévi-Strauss citando os estudos de Nadel e de Mauss na introdução à obra de Marcel Mauss afirma que …existe uma relação entre os distúrbios patológicos e as condutas xamanísticas, mas que consiste menos numa assimilação das segundas aos primeiros do que na necessidade de definir os distúrbios patológicos em função das condutas xamanísticas… afirma ainda, baseado em estudos comparativos, que a freqüência das neuroses e psicoses parecem aumentar nas regiões sem xamanismo e que xamanismo pode desempenhar um duplo papel frente as disposições psicopáticas: explorando-as por um lado, mas, por outro canalizando-as e estabilizando-as


Xamanismo entre os Vikings (Seiðr)

O seiðr, em muitos casos, foi descrito como uma feitiçaria realizada para "ferver" certos objetos imputados de poderes mágicos, sendo basicamente utilizado como um rito adivinhatório ou para assassinato, ou ainda como prescreve Boyer, relacionado a três ações básicas: prever o futuro, aprisionar, causar doenças/desgraças ou matar. A tradução do termo varia segundo os pesquisadores, mas geralmente é interpretada como sendo canto. Tratava-se de um ritual mágico de tipo divinatório e profético, com conotações xamanistas e uma arte mágica criada pela deusa Freyja. Era um tipo de magia extática com transe, êxtase do celebrante e cantos da assembléia, geralmente realizada durante a noite e praticada sobre uma plataforma chamada de assento para encantamento (seiðhjallr). A sua realização era conectada com sons mágicos ou encantamentos, e a melodia era considerada bonita para os ouvidos. Também compreendia fórmulas mágicas para chamar tempestades e todos os tipos de injúrias, metamorfoses e predições de eventos futuros. Criada pela deusa Freyja, era praticada especialmente por mulheres chamadas seiðkonur (sing. Seiðkona). Para Neil Price seria antes de tudo uma forma de extensão do espírito e de suas faculdades, enquanto que para Zoe Borovsky a performance do seiðr simbolizaria o modelo vertical de universo (cosmológico) da árvore Yggdrasill. Como para o xamã, a praticante de seiðr devia descer ao mundo dos mortos para relatar os ensinamentos que buscam os vivos e para efetuar certos malefícios. A magia nórdica era tanto praticada por homens quanto por mulheres, com uma nítida especialização feminina. As Sagas estão repletas de práticas mágicas, mas maiores detalhes sobre o ritual do seiðr são desconhecidos.

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