domingo, 13 de outubro de 2013

Purgatório

Purgatório é a condição e processo de purificação ou castigo temporário em que as almas daqueles que morrem em estado de graça são preparadas para o Reino dos céus. A noção de purgatório é particularmente associada com o Rito Latino da Igreja Católica, também presente nas igrejas orientais católicas (embora muitas vezes sem usar o termo específico de "Purgatório"); os Anglo-católicos geralmente também professam a crença. As Igrejas Ortodoxas acreditam na possibilidade de purificação das almas dos mortos, através das orações dos vivos e pela oferta da Divina Liturgia,  e muitos ortodoxos, especialmente entre os ascetas, na espera da apocatástase.  Uma opinião semelhante, que admite a possibilidade de uma salvação final é registrada no Mormonismo.  O Judaísmo também acredita na possibilidade da purificação após a morte e pode usar a palavra "purgatório" para apresentar a sua compreensão do significado da Geena. No entanto, o conceito "purificação" da alma pode ser negado explicitamente em outras tradições de fé.
A palavra "purgatório" passou a se referir também a uma ampla gama de concepções históricas e modernas de sofrimento pós-morte, e é usado, em um sentido não-específico, para qualquer lugar ou condição de sofrimento ou tormento, especialmente um que é temporário. A cultura popular também apresenta a concepção do purgatório como um lugar físico, embora a Igreja (catolica) ensine que o Purgatório não indica um lugar, mas "uma condição de existência"

A tradição católica do purgatório tem uma história que remonta, antes de Jesus, à crença encontrada no judaísmo de rezar pelos mortos,  especula-se que o cristianismo pode ter tomado a sua prática similar. A Crença católica do purgatório se baseia, entre outras razões, sobre esta prática da oração pelos mortos.
Os católicos consideram que o ensino sobre o purgatório faz parte integrante da fé derivada da revelação de Jesus Cristo que foi pregada pelos apóstolos. Definições dogmáticas foram proclamadas pelos Segundo Concílio de Lyon (1274), o Concílio de Florença (1438-1445), e o Concílio de Trento (1545-63 ).Segundo a doutrina católica, imediatamente após a morte, uma pessoa sofre o julgamento particular em que o destino da alma é especificado. No purgatório, as almas "obtém a santidade necessária para entrar na alegria do céu”. Alguns se unem com Deus no Paraíso, e em contrapartida, outros são destinados ao Inferno, sendo o inferno a morada de Satanás e de pessoas que em vida faziam muito mal ao próximo, viviam no meio do pecado, e nunca chegará a se redimir, pedir perdão sobre seus atos a Deus e tentar uma vida melhor, e ainda,lugar onde por toda eternidade pagará seus pecados e o céu seria um lugar divino, onde as pessoas que, seguiram os preceitos de Deus e propagaram a palavra, estariam na "vida eterna". No entanto, segundo a crença católica, algumas almas não estão suficientemente livres do pecado e suas conseqüências para entrar imediatamente no Paraíso, tais almas, em última análise, estão destinadas a se unirem com Deus no céu, e para isso devem passar pelo estado de purificação do purgatório. Algumas conseguiram, outras não, e por conseqüência será mandada diretamente ao inferno, condenada à tortura eterna

O catolicismo distingue entre dois tipos de pecado  , o pecado mortal é uma "grave violação da lei de Deus", que "coloca o homem longe de Deus",e se não for recuperado mediante o arrependimento e o perdão de Deus, resulta na sua exclusão do Reino de Deus e a punição no inferno. Em contraste, o pecado venial (que significa "pecado perdoável”) "não nos coloca em oposição direta com a vontade e amizade de Deus"  e, embora "constitua uma desordem moral", não priva o pecador da amizade com Deus e, conseqüentemente, da felicidade eterna do céu
De acordo com o catolicismo, o perdão dos pecados e a purificação podem ocorrer durante a vida, por exemplo, no Sacramento do Batismo  e no Sacramento da Penitência.  No entanto, se esta purificação não é atingida totalmente em vida, os pecados veniais podem ser purificados após a morte.  O nome específico dado a esta purificação dos pecados é "purgatório"
 
O Purgatório é uma purificação que envolve um castigo doloroso, associada à idéia de fogo, semelhante ao inferno. Diversos Padres da Igreja consideram 1 Coríntios 3:10-15 como evidência para a existência de um estado intermediário em que as transgressões leves são purificadas, e assim a alma será salva. Santo Agostinho descreve o fogo da purificação como mais doloroso do que qualquer coisa que um homem pode sofrer em vida,  e o Papa Gregório I escreveu que deve haver um fogo de purificação para algumas pequenas falhas . Orígenes escreveu sobre o fogo que tem de purificar a alma São Gregório de Nissa também escreveu sobre a purgação pelo fogo.
Teólogos interpretaram o fogo tanto como um fogo material, embora de natureza diferente do fogo natural, como uma metáfora para um grande sofrimento espiritual , que atualmente é a visão mais comum. O Catecismo da Igreja Católica fala de um “fogo purificador" e cita a expressão "purgatorius ignis" (fogo purificador) usado pelo Papa Gregório Magno. Ele fala do castigo temporal pelo pecado, mesmo em vida, como uma questão de "sofrimentos e provas de todos os tipos".A Igreja Católica ensina que o destino dos que estão no purgatório pode ser afetado pelas ações e intercessão dos vivos. Seu ensino se baseia na prática da oração pelos mortos mencionado em II Macabeus 12:42-46, considerada pelos católicos e ortodoxos parte da Sagrada Escritura.
 Orações para os mortos e indulgências na crença católica diminuem a duração do tempo que os mortos passam no purgatório. O Papa Paulo VI escreveu a indulgência é "(...) uma remissão da pena (...) através da intervenção da Igreja”.Há inúmeras linhas doutrinárias protestantes que divergem grandemente umas das outras, porém as igrejas protestantes (como os metodistas, batistas, presbiterianos, luteranos, quadrangulares etc.), não acreditam na existência do purgatório, por considerarem o livro de II Macabeus (de onde provém o conceito de Purgatório) como deutero-canônico (ou seja, não é divinamente inspirado, mas pertence à segunda classificação de cânones). Além disso, os protestantes acreditam que a santidade deve ser buscada em vida, não podendo o homem ter seu destino mudado após a morte.
Diversamente do que se imagina, Martinho Lutero, fundador do Protestantismo, não contestou a doutrina do Purgatório nem tampouco as indulgências nas suas famosas 95 teses37 , mas unicamente a sua venda abusiva. Treze de suas teses fazem referência direta ao Purgatório.
Nas suas alegações doutrinais, Lutero não questiona a autenticidade do Purgatório, mas a incoerência dos líderes da Igreja de Roma em lucrar com a venda de indulgências. O ex-monge criticou, por exemplo, na 10ª tese, a prática das penitências canônicas impostas pelos padres aos fiéis moribundos para que estes as cumprissem no Purgatório: "Procedem desajuizadamente e mal os sacerdotes que reservam e impõem aos moribundos poenitentias canonicas ou penitências para o purgatório a fim de ali serem cumpridas."
Lutero estava convencido que os padres não tinham autoridade para transformar a penitência dos fiéis em penas a serem cumpridas no Purgatório. É o que ele sustenta na 11ª tese: "Este joio, que é o de se transformar a penitência e satisfação, previstas pelos cânones ou estatutos, em penitência ou penas do purgatório, foi semeado quando os bispos se achavam dormindo".
Para ele, o Purgatório parece ser um lugar de horrores: "Este temor e espanto em si tão só, sem falar de outras cousas, bastam para causar o tormento e o horror do purgatório, pois que se avizinham da angústia do desespero". (15ª tese). No entanto, na tese seguinte, ele define-o como um lugar de "quase desespero", pouco abaixo da "certeza" do Céu.
Assim, a partir da 16ª tese, Martim Lutero define o que supõe ser o Purgatório e o estado das almas que nele se encontram: "Inferno, Purgatório e Céu parecem ser tão diferentes quanto o são um do outro o desespero completo, incompleto ou quase desespero e certeza. Parece que assim como no purgatório diminuem a angústia e o espanto das almas, nelas também deve crescer e aumentar o amor."
Para ele, as almas que estão no Purgatório são plenamente capazes de crescerem no amor e de alcançarem méritos divinos. É isso que Lutero sustenta nas teses 18 e 19: "Bem assim parece não ter sido provado, nem por boas ações e nem pela Escritura, que as almas no Purgatório se encontram fora da possibilidade do mérito ou do crescimento no amor. Ainda parece não ter sido provado que todas as almas do Purgatório tenham certeza de sua salvação e não receiem por ela, não obstante nós termos absoluta certeza disto".
As críticas de Lutero não eram contra o Purgatório, mas o uso que se fazia dele para manipular os fiéis financeiramente. Sua 22ª tese vai nesse sentido: "Pensa com efeito, o papa nenhuma pena dispensa às almas no purgatório das que segundo os cânones da Igreja deviam ter expiado e pago na presente vida”. De modo semelhante, a 25ª tese questiona a autoridade do Papa sobre as penas do Purgatório: “Exatamente o mesmo poder geral, que o papa tem sobre o purgatório, qualquer bispo e cura d’almas o tem no seu bispado e na sua paróquia, quer de modo especial e quer para com os seus em particular".
Na 29ª tese, Lutero demonstra acreditar que nem todas as almas do Purgatório querem, a priori, a purificação. "E quem sabe se todas as almas do purgatório querem ser libertadas, quando há quem diga o que sucedeu com São Severino e São Pascoal".
Assim, para ele, as almas do Purgatório só serão de fato purificadas quando arrependerem-se. Sua 35ª tese parece sugerir isso: "Ensinam de maneira ímpia os que alegam que aqueles que querem livrar almas do Purgatório ou adquirir breves de confissão não necessitam de arrependimento e pesar".
Para Lutero, a autoridade do Papa não se estende ao Purgatório, uma vez que não poderia livrar os fiéis das penas purificatórias. É o que ele questiona na sua 82ª tese: "Por que o Papa, movido por santíssima caridade, não tira duma só vez todas as almas do Purgatório, e em face da mais urgente necessidade das almas, que seria justíssimo motivo para tanto, quando em troca de vil dinheiro para a construção da basílica de São Pedro, livra um sem número de almas, logo por motivo bastante insignificante?"

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