A
Europa moderna dos primeiros tempos foi farta de casos de possessão demoníaca.
Milhares de homens, mulheres e crianças falavam línguas que jamais tinham
ouvido, fatiavam a própria carne e berravam blasfêmias e palavrões. Vomitaram
vastas quantidades de pregos, parafusos, alfinetes, sangue, penas, pedras,
moedas, carvão, excrementos, retalhos de pano, cabelos, e grunhiam e zurravam
como animais. Alguns se dobravam em convulsões, flutuavam pela sala ou
manifestavam força física sobre-humana. Os olhos arregalavam-se, pernas e braços
ficavam rígidos, os rostos torcidos e gargantas e estômagos inchavam
monstruosamente. Havia os que entravam em transe, adivinhavam o futuro,
revelavam segredos que não se podia entender como chegaram a eles.
Linda Blair em O Exorcista |
No
final do século 17, um frade franciscano tirou um enorme sapo da boca de uma
mulher endemoniada, e a cabeça de um jovem escocês virou para as costas,
circuito bem menos impressionante que aquele, de Linda Blair, em O Exorcista.
Uma mulher vomitou uma enguia viva, seguida de quase
11 kg de
substâncias variadas, duas vezes por dia, por duas semanas. (Admiravelmente
ponderado, Brian Levack, autor de The Devil Within, avisa que “a
veracidade desses depoimentos pode ser questionada sob vários aspectos”.) As
pernas de algumas mulheres jovens ficaram tão rígidas, que nem o esforço de
vários homens fortes conseguiu dobrá-las; outras arqueavam a coluna para trás,
como contorcionistas, e ocasionalmente também lambiam o chão, quando arqueadas.
Alguns homens e mulheres levitaram (os católicos comprovadamente melhores
levitadores que os protestantes); outros invertiam o processo, tornando-se tão
pesados que nada conseguia movê-los.
Um
endemoniado alemão, no final do século 17 ganhou fama por ter tossido 400 potes
de sangue. Dizia-se que alguns dos possuídos passavam meses, até anos, sem comer
nem beber. Outros se punham a falar latim, grego ou hebraico, e uma mulher
italiana e analfabeta declamou versos da Eneida no original. Dado que
eram tidos como anjos caídos, os demônios manifestavam a mais alta inteligência
com que Deus adornara os espíritos angélicos e tinham, presumivelmente, boa base
dos clássicos. Em países católicos, os caídos nas garras de Satã cuspiam em
crucifixos, vomitavam sobre a hóstia da comunhão, perseguiam padres e insultavam
a Virgem Maria. Como em A Profecia, reagiam com terror e nojo a objetos
sacros.
Freiras possuídas faziam obscenos gestos sexuais, levantavam as saias e
adotavam comportamento que, segundo um comentarista, “teriam deixado atônitos
até os frequentadores do mais imundo bordel do país”. Bem menos lascivamente, as
endemoniadas jovens da Salem do século 17 faziam discursos tresloucados,
metiam-se debaixo das cadeiras e enfiavam-se em tocas.
O julgamento das Bruxas (jovens) de Salem no século 17 |
Acreditava-se
que o corpo humano fosse poroso, e que os espíritos maléficos que conseguiam
entrar vagavam por ali, à vontade entre as cavidades internas, atacando órgãos
indiscriminadamente. O maior número de demônios que jamais invadiram corpo
humano, dizia-se, foi 12.652, todos os quais tomaram posse do corpo de uma única
jovem alemã de 16 anos, em 1584. Mais frequentemente, o Diabo instalava-se ele
mesmo, sem admitir co-habitação com subordinados. Mas só podia fazê-lo com
permissão de Deus, o que então levantava a questão, teologicamente embaraçadora,
de por que o Altíssimo permitiria que a língua de mulheres jovens e puras
inchasse a ponto de tocar o queixo.
Quando
múltiplos demônios eram exorcizados, os endemoniados às vezes inventavam nomes
para todos eles, em resposta ao questionário do exorcista. Vários endemoniados
ingleses no século 16 apresentaram seus ocupantes demoníacos como Pippin, Maho,
Philpot, Modu e Soforce, que bem passaria como cartão de visita de empresa de
advocacia. Muitos casos de possessão eram fraudes flagrantes. As pessoas fingiam
estar tomadas pelo Diabo, para atrair atenção, violar impunemente normas sociais
ou morais, receber esmolas de vizinhos solidários ou (porque se acreditava que
as bruxas podiam ordenar a possessão de outros) incriminar um inimigo. Mas a
fraude não explica todos os casos.
Thomas Hobbes |
Até
o final do século 19, epilepsia, histeria e melancolia (ou depressão clínica)
também eram consideradas causas primárias. De fato, a histeria ainda era usada
para explicar acordos com Belzebu, no início do século 17. Nossos ancestrais não
eram, de modo algum, tão crédulos quanto às vezes imaginamos: inúmeros cristãos
devotos duvidavam de tudo aquilo. Thomas Hobbes foi um dos muitos que viram a
possessão demoníaca como metáfora de doença mental. E esse parece ter sido
também o pensamento de Spinoza. Desde os primeiros anos do Renascimento,
inúmeros médicos diziam que havia causas naturais para a possessão demoníaca.
Como também alguns de seus predecessores gregos e helênicos.
A
crença no poder de espíritos maléficos para infestar o corpo humano nunca foi
questão de fé para os católicos, e nenhum católico foi processado por heresia
por negar esse poder. Houve os que acreditavam que todas as doenças, físicas ou
mentais, eram trabalho do Demo, convicção da qual Jesus pode ter partilhado.
Chama a atenção que Jesus jamais tenha instado os doentes a reconciliarem-se com
as próprias doenças. Ao contrário: Jesus parece considerar as doenças dos
doentes como frutos do mal; e curar os doentes, como parte de sua missão contra
os poderes das trevas.
Nas
décadas recentes, os (ex-)endemoniados têm sido diagnosticados como portadores
de desordem bipolar, esquizofrenia catatônica, epilepsia, atonias musculares,
síndrome de Tourette, envenenamento por fungos diversos, anorexia, desordens de
personalidade e inúmeras outras moléstias. Levack não se deixa convencer por
essas especulações. Em parte, porque nenhuma dessas síndromes dão conta dos
sintomas padrão da possessão demoníaca. Epiléticos normalmente não vomitam
sapos, e os tomados pela melancolia nem sempre se põem a falar línguas
estrangeiras. Mas Levack não se deixa persuadir, também, porque suspeita que os
diagnósticos psiquiátricos sejam a-históricos. No seu modo de ver, tornar-se
presa do Demônio sempre tem especificidades culturais. Não se pode, diz ele,
usar modelos da psicologia contemporânea, para explicar a mentalidade de gente
que viveu há vários séculos. Não há dúvidas de que é implausível. Os sofrimentos
psicológicos, como os físicos, manifestam um grau de continuidade ao longo das
eras. Sadismo, ansiedade e paranoia assumem formas diferentes em diferentes
tempos, mas há semelhanças de família suficientes que nos permitem falar de, em
linhas gerais, uma mesma condição psicológica.
Todas
as doenças, escreve Levack, “são socialmente construídas e não podem ser
compreendidas se não são estudadas no contexto cultural em que emergem”. O
câncer não é constructo social, no sentido em que o é a melancolia; e um médico
alemão pode tratar de um camponês peruano com artrite, mesmo sem saber grande
coisa sobre o seu contexto cultural.
Terry Eagleton |
Porque
capitula ante um culturalismo “de moda”, Levack não esclarece que papel, se
houver algum, ele entende que a doença mental desempenhe no comportamento
demoníaco. Por outro lado, desconfia muito profundamente das respostas
universalistas; considera a definição moderna de histeria jurássica demais para
ser útil; e descarta rapidamente demais a noção de histeria de massa – que seria
explicação razoável para as várias epidemias de invasão e ocupação diabólica que
irrompem de tempos em tempos. Por outro lado, concede que o distúrbio
psicológico possa dar conta do negócio em tela.
Seu
livro, pois, combina o ceticismo contra as explicações médicas, com a concessão
de que a histeria e a possessão demoníaca possam estar intimamente relacionadas.
Mesmo
assim, a atenção que Levack dá às diferenças culturais abre caminho para alguns
insights fascinantes. Mostra que no Novo Testamento os escravizados pelos
demônios só manifestam alguns dos sintomas de seus primeiros sucessores
modernos: ali, não alucinam, não falam línguas estrangeiras, nem têm
comportamento obsceno. Sitiados pelos espíritos perversos, os católicos tendem a
ter comportamento diferente dos protestantes.
Para
o protestantismo, credo menos materialista, o Diabo traz ameaça menos física que
espiritual. Católicos apanhados nas garras de Satã mostravam horror ante
relíquias sagradas e crucifixos; protestantes, podiam ser contidos e controlados
com uma única Bíblia. A possessão coletiva era fenômeno predominantemente
católico – porque o catolicismo era negócio menos individualista que o
protestantismo. O aspecto sexual da possessão – contorcimentos e gemidos durante
a penetração – era muito mais pronunciado entre católicos, que entre
protestantes. Católicos cuspiam objetos estranhos com muito mais alta
frequência. Judeus endemoniados, nos primeiros tempos da Europa moderna, tendiam
a ser tomados, mas não por demônios: pelos espíritos dos ancestrais
desencarnados.
O
tipo de força que assaltava os corpos dependia muito do sistema de crenças:
muçulmanos que tivessem experiências de quase-morte dificilmente veriam uma
imagem de Cristo caminhando em direção a eles. Os calvinistas, esses, eram quase
impenetráveis à penetração demoníaca: apenas 11 miseráveis casos foram
registrados na Escócia moderna, e só 25 em círculos britânicos puritanos ou
Dissidentes [orig. Dissenting].
Se, como Levack acredita, as bruxas de Salem não foram caso de possessão
demoníaca, e nem elas, nem nenhum observador jamais disse que tivessem sido,
ficamos só com sete endemoniados na Inglaterra no final do século 17.
Dissidentes: cristãos que se separaram da Igreja da Inglaterra nos séculos 16, 17 e 18 |
Na
opinião de Levack, os endemoniados têm de ser compreendidos como atores que
atuavam conforme um roteiro codificado em suas culturas religiosas, numa
performance teatral que envolvia eles mesmos, o exorcista e, como público, a
comunidade. Embora a performance fosse predeterminada, admitia-se o improviso
ocasional. As pessoas inflavam seus personagens lendo relatos de possessões
alheias – o que implica que a disseminação de textos impressos teve papel vital
no negócio todo. Atores e especialistas em treinar atores várias vezes
apareceram envolvidos em casos de falsa possessão. Os exorcismos podiam
acontecer em plataformas, ante vários milhares de espectadores. Eram exercícios
de propaganda, para disseminar a fé, demonstrando o poder da Igreja Católica. (O
protestantismo, credo muito menos teatral, rejeitava esses rituais, que
considerava supersticiosos.) Os exorcistas seguiam o papel que lhes era
prescrito, estimulando o desempenho teatral dos possuídos mediante insistente
implantação de sugestões, que acrescentavam, pela repetição, novas linhas no
roteiro dos infelizes. Ao fazê-lo, o exorcismo sempre agravava os sintomas que
deveria aliviar – o que bem se pode entender como uma espécie de homeopatia
espiritual. Só levando a aflição a ponto de crise, espancando a cabeça dos
endemoniados indefesos, cuspindo-lhes na cara, apertando os seios da endemoniada
ou prendendo-a ao chão, pelo pescoço, com o pé, o exorcista conseguia expelir as
potências ocupantes. As quais emergiam do corpo endemoniado sob a forma de sapos
ou ouriços, que às vezes conseguiam escapar pelo Portal do Diabo, os genitais
femininos. São Martinho de Tours, certa vez, para conseguir exorcizar um homem,
passou-lhe o braço pelo pescoço e apertou, obrigando o demônio, assim, a sair
pelo ânus. Os exorcismos católicos eram questão de oferta e demanda: o sucesso
aumentava a popularidade, o que ajuda a explicar por que havia tantos casos de
possessão católica. A cura, em resumo, ajudava a propagar a doença. Houve muitos
exorcistas viajantes que cobravam por seus serviços, como, hoje, há
espiritualistas itinerantes.
*************
Levack
estima que pelo menos ¾ dos endemoniados nos primeiros tempos da Europa moderna
eram mulheres. A piedade entre as mulheres ganhava nova ênfase, além do culto à
santidade da mulher; e a busca de perfeição moral poder ter alimentado a culpa e
a ansiedade entre mulheres conscientes de suas fragilidades de espírito. Levack
afirma que bom número de freiras no período cultivavam fantasias sexuais que
envolviam seus confessores ou, então, tinham casos com eles. Assumia-se, em
geral, que o Diabo assaltava com mais veemência os aspirantes à santidade, que
os preferia aos moralmente medíocres; portanto, a linha a separar santidade e
danação era perigosamente tênue. Pode-se chamar de Síndrome de Graham Greene.
Dizia-se que Satã tinha mais poder nos monastérios, onde muitos homens santos e
mulheres santas tinham desmaios e transes, visões e alucinações, jejuavam por
longos períodos e demonstravam habilidades para falar línguas que não se tinha
notícias de que tivessem estudado.
Pincher Martin |
Que pecadores e
santos são íntimos é uma venerável crença religiosa. O próprio Diabo, afinal,
foi, antes, anjo. Ninguém pode ser condenado ao inferno, se não compreender
alguma coisa, pouco, que seja, do divino amor ao qual está dando as costas. Por
isso William Golding faz seu malfadado personagem Pincher
Martin
berrar: “Cago para
esse seu paraíso”, enquanto os relâmpagos negros da divindade, com as pinças
fechadas de lagosta, operam pacientemente para derrubar as autodefesas da
vítima. Adrian Leverkühn, malfadado personagem de Thomas Mann, herói de
Doctor Faustus, escolhe estudar teologia na universidade, decidido a
conhecer mais de perto a oposição.
Como
os santos, os endemoniados pervertidos constituem uma aristocracia espiritual,
uma elite privilegiada, tão entendida e au fait, nas questões
metafísicas, quanto o mais desapegado dos mártires; por isso, para os Greene e
Mauriac e assemelhados, são incomparavelmente superiores às classes médias
morais. O Príncipe das Trevas é um gentleman. A equipe do Diabo negocia
em termos de
Bem e Mal, não se envolve em negócios suburbanos de Certo e
Errado.
O
pico das possessões demoníacas parece ter acontecido no século 17, mas persistiu
ao longo da Idade da Razão. Muita gente ainda acreditava que acontecessem, em
lugares onde se acreditava que o Iluminismo já avançara consideravelmente.
Houve
outra avançada das incursões diabólicas nos anos 1960s e 1970s, gerada
em parte por
O Exorcista. Segundo Levack, o interesse pelo fenômeno
cresceu muitíssimo nas últimas duas décadas, nas costas das igrejas pentecostais
e do pentecostalismo. Num exorcismo pentecostal em Kansas City, um jovem, dado a
masturbação compulsiva, autossodomia e bestialismo, com registro de tentativas
mal sucedidas de autofelação aceitou renovar seu compromisso com Jesus Cristo.
Levack não explica como alguém suficientemente pouco alongado e fora de forma
para fracassar na autofelação teria conseguido sucesso na autossodomia. Em 1973,
dois padres alemães foram julgados pelo assassinato de uma mulher jovem, que
tentaram exorcizar 67 vezes. Em 1999, a Igreja Católica publicou um
novo ritual de exorcismo, postulando a necessidade de assistência médica e
pastoral à vítima, antes de o divino maquinário ser posto em movimento. Apesar
disso, há provas de que alguns raros exorcistas católicos manifestaram desejo de
mandar os endemoniados para o psiquiatra. Em 2004, uma universidade romana, com
íntimos laços com o Vaticano, começou a oferecer aos sacerdotes um curso de
quatro meses de exorcismo; e dioceses católicas em todo o mundo foram convocadas
para indicar um exorcista oficial.
Em
2010, aconteceu em Varsóvia o Congresso
Nacional de Exorcistas Poloneses, em parte com o objetivo de
reagir à imagem hollywoodiana de exorcistas que brandem crucifixos, em batalha
contra um Satã monstruosamente priápico, pelo corpo de uma menina da qual jorram
obcenidades e vômito colorido. Mas a modernização da indústria da possessão
ainda parece ter de andar mais: um dos padres poloneses que participava do
Congresso, identificou como endemoniados e possuídos alguns que mostraram
dificuldade para entrar numa igreja, que sentiram falta de ar ou desmaiaram,
quando afinal conseguiram entrar, ou que, depois de entrarem, jogaram-se
dramaticamente ao chão. O fato de que há muitos católicos, hoje, que não
conseguem entrar em igrejas, ou que se sentem mal lá dentro, parece ter escapado
à sua atenção. Muitos dos casos de possessão nos tempos modernos, como em tempos
anteriores, aconteceram em comunidades católicas.
Sabe-se
que cerca de meio milhão de pessoas na Itália, hoje, visitam anualmente um
exorcista, como outros visitam o dentista ou o oftalmologista. Não se sabe se
essa preponderância de papistas explica-se pela superioridade espiritual dos
católicos em relação a outras fés, o que seria o maior prêmio que o Diabo
poderia desejar, ou se se explica pela inferioridade espiritual dos mesmos, o
que os deixa ainda mais expostos ao assalto.
Yahveh |
O
estudo erudito de Levack, de leitura absorvente, se beneficiaria com um toque de
teologia. Ele lembra que o nome “Satã”, em hebreu, significa “adversário” ou
“acusador”; e que a Bíblia algumas vezes o vê como o instrumento de um Deus
irado. Mas são pontos que exigem alguma elaboração. Satã é a imagem de Yahweh
como juiz e patriarca – como um Deus dado a xiliques de prima Donna
irascível, que se tem de manter sempre de bom humor. Jesus, ao contrário, é a
imagem de Deus como amante, camarada e conselheiro do setor de Defesa. Dado o
masoquismo crônico de que padecem, muitos tendem a preferir o Deus prima
donna, ao Deus camarada.
Há
algo de profundamente gratificante num Deus safado, que aliviará você, com
castigos, de sua culpa; e há algo de enervante num Deus que perdoa por
definição, porque ele também é carne e sangue. A possessão demoníaca é uma
manifestação extrema daquela culpa e ansiedade, ponto no qual, como acontece com
o sintoma neurótico, ambas são manifestas e renegadas. Se a culpa brota de
dentro, ela também flui de uma força de alienação que também fez ninho ali, e de
tal modo que o crime nem é, de fato, culpa sua.
A
ideia de que se pode ser tomado por potências de alienação muda o conceito
moderno de autonomia. A seu modo, ela reconhece que há um nível no qual homens e
mulheres não se pertencem a eles mesmos. Nossa relação conosco mesmos não é
nossa relação com uma propriedade. Como o conceito de inconsciente sugere, há
forças destrutivas sobre as quais só temos controle precário, e que podem ganhar
poder mortal, por elas mesmas. Mas há modos mais produtivos de reconhecer que,
num certo nível, não pertencemos a nós mesmos. Mais produtivos que cuspir sapos.
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