sábado, 3 de maio de 2014

Fantasmas Eles e Nos

O casal Jack e Janet Smurl com suas quatro filhas
Fantasmas e assombrações existem? São poucos os parapsicólogos que levam o assunto a sério. Frutos da imaginação ou não, parece que essas criaturas se divertem pregando susto nas pessoas.
 
 No começo dos anos 80, o casal Jack e Janet Smurl, mais suas quatro filhas e seus avós paternos, mudaram-se para uma mansão vitoriana em West Pittston, na Pensilvânia, costa leste dos Estados Unidos.
Depois de alguns meses no local, fenômenos estranhos começaram a acontecer, como objetos voando e gritos de aparentes vítimas de estupros saindo pelas paredes. Para tentar resolver a situação, foi chamado o bispo Robert McKenna.
Ele realizou três exorcismos, sem sucesso. A família continuou se sentindo vítima de ataques mentais e assistindo a aparições de supostos espíritos.
Vinte e oito pessoas, entre familiares, vizinhos, paranormais, religiosos e curiosos em geral, declararam ter presenciado esses eventos na mansão dos Smurl.
A história rendeu vários livros e um filme cult, chamado A Casa das Almas Perdidas, dirigido por Robert Mandel, em 1991. E ajudou a conferir uma aura ainda mais potente para o interesse humano pela relação com o além.
Basicamente, a premissa é a seguinte: não sabemos se as assombrações existem ou não, mas, na dúvida, é melhor não brincar muito com o assunto.
É o que pensam muitos americanos. Segundo uma pesquisa feita nos Estados Unidos pelo Instituto Gallup, em 2001, uma parcela razoável da população (38%) acredita na existência de fantasmas – sendo que 13% afirmam já ter dado de cara com um, na maioria das vezes, em casa.
Os principais sintomas desses fenômenos são aparições, cheiros estranhos, mudanças bruscas de temperatura e um forte sentimento de que há algo inescrutável presente no lugar.
“O fenômeno envolve mais especificamente aparições de espectros luminosos ou vultos, que podem ser acompanhados, por vezes, de ruídos como o arrastar de correntes, gemidos, choro”, diz Fátima Regina Machado, professora da Faculdade de Comunicação e Filosofia da PUC de São Paulo e coordenadora do Inter Psi (Grupo de Estudo de Semiótica, Interconectividade e Consciência). “
Pessoas de diferentes épocas narram ver figuras, ou fantasmas, em lugares assim, e descrevem-nas com as mesmas características. Mas nem todo mundo vê ou sente algo em um lugar desses.
Algumas pessoas parecem ter sensibilidade maior para ver ou sentir algum tipo de presença, descontada a sugestão que um lugar com fama de mal-assombrado pode exercer sobre nossas percepções.”
Resultado ou não de um gatilho disparado pela mente humana diante de situações desconhecidas ou preconcebidas, o fato é que muitos especialistas afirmam que lugares que foram palcos de tragédias (como assassinatos, torturas e prisões) seriam os mais propícios para o aparecimento de assombrações – ou, no mínimo, favoreceriam a experiência de sensações diferentes.
“Pesquisas envolvendo medições físicas apontam que as pessoas narram mais visões de espectros próximos a lugares com forte atividade de energia eletromagnética.
Fortes campos eletromagnéticos afetam nossa percepção e podemos ter a sensação de ver algo que não está realmente ali, uma alucinação, ou sentir como se alguém estivesse nos observando”, diz Fátima.
Alguns experimentos tentaram reproduzir essas sensações em laboratório. Observou-se que, quando as pessoas submetidas aos testes relatavam ter visto ou sentido alguma presença no laboratório, ocorria alguma alteração física no ambiente. “
Não sabemos se isso se deu porque o ambiente se alterou e a pessoa viu ou sentiu algo, ou se foi a própria pessoa quem provocou a alteração”, diz Fátima.

 Uma possível explicação, discutida entre os estudiosos, é que algumas pessoas teriam sensibilidade para perceber “memórias” dos lugares. Elas conseguiriam, de algum modo, obter informação sobre fatos passados ali, mesmo sem nunca ter ouvido ou lido nada a respeito.
Seria um fenômeno de percepção extra-sensorial. Essa explicação leva à teoria de que as assombrações diriam respeito a algo que sobreviveu à morte física e nos revelariam informações visuais ou sonoras de eventos passados.
Ou então que os seres humanos seriam capazes de captar informações do passado, materializando-as por meio de alguma “manobra” psicobiofísica para trazer essa informação à consciência.
Imaginário popular

Tudo isso faz algum sentido? Ninguém sabe ao certo. O problema é que, em geral, histórias de assombração ficam circunscritas a bate-papos com os amigos e contos populares. São poucos os cientistas que levam o assunto a sério, segundo Fátima.
“O fato é que pessoas relatam essas experiências ao redor de todo o mundo. Se é algo que afeta o ser humano, merece ser estudado”, diz Fátima.
No Reino Unido, que abriga inúmeros castelos seculares com a fama de serem mal-assombrados, o assunto é levado mais seriamente.
A Justiça britânica, inclusive, costuma acolher e apreciar casos de rescisão de contrato de locação em que o inquilino alega ter topado com assombrações pela casa.
No Brasil, é mais frequente ouvir relatos de fenômenos ligados a pessoas que seguem a doutrina espírita kardecista ou a crenças afro-brasileiras.
Alguns estudiosos fazem distinção entre os fenômenos conhecidos em inglês como hauntings (assombrações) e o poltergeist (“espírito barulhento”). Os primeiros estão mais ligados a um determinado lugar.
Essas figuras “habitam”, por exemplo, uma casa e não costumam acompanhar os moradores que se mudam para outro lugar. Já os poltergeists, aparentemente, estão ligados a uma determinada pessoa ou a um grupo específico. Ou seja, não adianta nem tentar fugir.
Os poltergeists se manifestam por meio de eventos físicos que ocorrem repetidamente durante um tempo, envolvendo movimentação espontânea de objetos, incêndios não provocados e chuva de tijolos, entre outras experiências estranhas. “
Uma das formas de compreender esse fenômeno é considerá-lo como fruto de conflitos, angústias, problemas não resolvidos. As ocorrências de poltergeist funcionariam como uma válvula de escape para essas tensões”, diz Fátima.
Ela cita um exemplo: imagine alguém que tenha problemas de relacionamento com uma irmã. Como, socialmente, não é aceitável que irmãos briguem entre si, a agressividade fica reprimida. Então, o que poderia acontecer é que, em vez de esse sentimento negativo afetar diretamente a irmã, ele seja dirigido, de alguma forma, para seus objetos.
Assim, num armário onde estão guardadas roupas de várias pessoas da família, apenas as roupas da irmã podem ser carbonizadas, enquanto as demais permanecem intactas.
Há relatos de que, em 1987, na periferia de São Paulo, objetos sumiam para posteriormente reaparecer no lado de fora de uma casa onde moravam pai, mãe e três filhos.
Vultos escuros eram vistos e brisas geladas podiam ser sentidas em diversos pontos da casa. Colchões, móveis e roupas pegavam fogo do nada. Descobriu-se que o fenômeno, analisado por pesquisadores do Inter Psi, era causado pelo filho mais velho da família, que tinha 12 anos na época.
O garoto provocava os fenômenos inconscientemente, como forma de escapar das obrigações e ver seus desejos realizados.
Quando o equilíbrio na casa foi restaurado, os estranhos fenômenos cessaram. Diz Fátima: “Considero os poltergeists como uma linguagem alternativa que o ser humano usa, sob certas condições, para expressar ou comunicar sentimentos ou desejos reprimidos”.
Outro caso famoso de poltergeist aconteceu em 1967, na Alemanha. Ficou conhecido como o “caso Rosenheim”.
Em um escritório de advocacia, gavetas se abriam e fechavam sozinhas, instalações elétricas entravam em pane periodicamente e o lustre se balançava sempre que a secretária Annemarie passava debaixo dele – essa cena foi filmada e mostrada na TV.
Isso não quer dizer que esteja provado ou demonstrado que há algo que transcenda os seres humanos, que convivamos com seres invisíveis que provocam isso ou que o Saci-Pererê exista”, diz Fátima.
“Só sabemos que, em determinadas condições – e parece que precisa haver uma conjunção de condições ambientais –, podem ocorrer fenômenos físicos incomuns”, acrescenta a pesquisadora.
Imagem fantasiosa

Enquanto a ciência não avança para uma explicação totalmente “comprovada”, as histórias de fantasmas e casas mal-assombradas devem continuar a fascinar e amedrontar a humanidade e a abastecer a indústria cultural, principalmente a cinematográfica.
Recentemente, o filme Vozes do Além, dirigido por Geoffrey Sax, mostrou o uso de aparelhos de gravação de áudio e vídeo para captar mensagens de fantasmas.
Mas as descrições feitas pelo cinema, na maioria das vezes, são fantasiosas. Fátima cita A Casa das Almas Perdidas como o filme que retrata um caso de assombração mais próximo do que ela acredita ser mais verossímil. “
Se você está sozinho numa casa e os objetos começam a se mexer na estante, é claro que isso lhe causará arrepios, pois foge completamente àquilo que consideramos normal”, diz Fátima.
“Mas nem sempre um poltergeist se dá de forma estrondosa, com tudo voando ao mesmo tempo, luzes se acendendo e apagando sozinhas e rajadas de ventos assobiando pelo ar.
São geralmente alguns eventos que acontecem e assustam por sua estranheza, mas não com a magnitude mostrada pelo cinema.”
Endereços malditos



 A Torre de Londres
O grande número de execuções, assassinatos e torturas, ocorridos ao longo de mais de mil anos, colocou esse cartão-postal de Londres na lista dos lugares tidos como os mais assombrados da Inglaterra.
O morador mais ilustre seria o fantasma de Ana Bolena, uma das mulheres do rei Henrique VIII, decapitada na torre em 1536. Seu espírito já teria sido “visto” andando por lá.
The Whaley House

Ostenta o não tão simpático título de “a casa mais assombrada dos Estados Unidos”. Localizada na cidade de San Diego, na Califórnia, foi construída em 1857 por Thomas Whaley, num terreno que antes abrigava um cemitério.
Os principais fantasmas que, segundo dizem, habitam a casa são os de uma filha de Whaley, de um ladrão condenado à morte e de uma garota que morreu acidentalmente – enforcada – na propriedade.
Edifício Joelma

No dia 4 de novembro de 1947, o professor de química Paulo Parreira Camargo matou a mãe e duas irmãs, jogando-as em um poço no quintal. Ao ser descoberto, o professor se matou na casa.
Anos mais tarde, nesse mesmo terreno, foi erguido o Edifício Joelma, de 25 andares. Como se sabe, no dia 1º de fevereiro de 1974, o Joelma pegou fogo, depois de um curto-circuito no sistema de ar-condicionado: 188 pessoas morreram e 345 ficaram feridas. Parte do prédio era ocupada pelo Banco Crefisul.
Paranóicos de plantão observam que, lido de trás para frente, o nome do banco se torna Lusiferc. Precisa dizer mais?
Casa Branca

Sim, George W. Bush morou lá, mas nunca esteve sozinho. Segundo consta, o fantasma do ex-presidente William Henry Harrison, que morreu de pneumonia em 1841, após apenas 31 dias no cargo, é uma das figuras mais vistas pelos salões da casa.
Abraham Lincoln, então, seria uma presença quase diária pelos corredores da mansão do poder. A primeira-dama Eleanor Roosevelt e a rainha Guilhermina, da Holanda, foram duas pessoas que afirmaram ter topado com Lincoln.


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