sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Anneliese Michel

Anneliese Michel (Leiblfing, 21 de setembro de 1952 — Klingenberg am Main, 1 de julho de 1976) foi uma
 jovem alemã de família católica que acreditava ter sido possuída por uma legião de demônios, tendo sido
submetida a uma intensa série de sessões de exorcismo pelos padres Ernest Alt e Arnold Renz em 1975 e
1976. O Caso Klingenberg, como passou a ser conhecido pelo grande público, deu origem a vários estudos
e pesquisas, tanto de natureza teológica quanto científica, e serviu como inspiração para os filmes O
Exorcismo de Emily Rose, dirigido pelo cineasta estadunidense Scott Derrickson, e Requiem, dirigido pelo
polêmico cineasta alemão Hans-Christian Schmid.
Anneliese experimentou graves distúrbios psiquiátricos a partir dos 16 anos de idade até sua morte,
aos 23 anos, sendo seu quadro clínico composto desde desnutrição secundária à doença mental. Depois de
vários anos de tratamento psiquiátrico ineficaz, ela se recusou ao tratamento médico e solicitou um
exorcismo.1 As graves consequências atribuídas ao ritual de exorcismo sobre a jovem motivaram a abertura
de um processo criminal pelos promotores de justiça locais contra os pais de Anneliese e os padres exorcistas,
causando uma grande polêmica em toda a Europa e dividindo a opinião pública mundial. Tanto os padres que
realizaram o exorcismo quanto os pais de Michel foram condenados por homicídio negligente porque renunciaram
ao tratamento médico quando do início do tratamento por meio do exorcismo.

Infância

Anneliese Michel nasceu em Leiblfing, no estado federal alemão da Baviera, mas foi criada com as suas
três irmãs no pequeno município de Klingenberg am Main. Seus pais, Anna e Josef Michel, muito religiosos,
lhe deram uma educação profundamente católica. O pai de Anneliese mantinha a família trabalhando em uma
serraria.1 Quando tinha dezesseis anos, Anneliese sofreu uma grave convulsão e foi diagnosticada com epilepsia.
Logo, ela também começou a alucinar enquanto rezava.2 Em 1973, ela sofria de depressão e começou a ouvir vozes
dizendo que diziam que ela estava "condenada"1 e que iria "apodrecer no inferno".
Em 1973, Anneliese estava sofrendo de depressão e considerando o suicídio.3 O seu comportamento tornou-se
cada vez mais bizarro. Ela andava nua pela casa, fazia suas necessidades em qualquer lugar, rasgava suas
roupas, comia insetos como moscas e aranhas, carvão e chegou a lamber sua própria urina.

Tratamento psiquiátrico

Depois de ser admitida em um hospital psiquiátrico a saúde de Anneliese não melhorou. Além disso, sua
depressão começou a se aprofundar. Ela começou a ficar cada vez mais frustrada com a intervenção médica,
que não melhorava a sua condição. Em longo termo, o tratamento médico não foi bem sucedido, seu estado,
incluindo a sua depressão, agravaram-se com o tempo.
Tendo centrado toda a sua vida em torno da fé católica, Anneliese começou a atribuir sua condição psiquiátrica
à possessão demoníaca. Anneliese tornou-se intolerante à lugares e objetos sagrados, como crucifixos, que
contribuiu ao que achavam ser possessão demoníaca. Ao longo do curso dos ritos religiosos Anneliese sofreu
muito. Foram prescritos a ela medicamentos antipsicóticos, que ela pode ou não ter parado de tomar.
Em junho de 1970, Anneliese sofreu uma terceira convulsão no hospital psiquiátrico, neste momento foi
prescrito pela primeira vez anticonvulsivantes. O nome desta droga não é conhecido e não trouxe alívio
imediato aos sintomas de Anneliese. Ela continuou falando sobre o que ela chamou de "faces do diabo",
vistas por ela durante vários momentos do dia. Anneliese ficou convencida de que a medicina convencional
 era de nenhuma ajuda. Acreditando cada vez mais que sua doença era um tipo de distúrbio espiritual, ela
recorreu à Igreja para que a exorcisassem. Naquele mesmo mês, lhe foi prescrita uma outra droga, Aolept
(pericyazine), que é uma fenotiazina com propriedades gerais semelhantes às da clorpromazina: pericyazine
é usado no tratamento de psicoses diversas, incluindo esquizofrenia e distúrbios de comportamento.
Em novembro de 1973, Anneliese iniciou o tratamento com Tegretol (carbamazepina), que é uma droga
antiepiléptica. Anneliese tomou o medicamento com frequência, até pouco antes de sua morte.

Exorcismo e morte

Anneliese fez uma peregrinação a San Damiano com um bom amigo da família, Thea Hein, que regularmente
organizava peregrinações para "lugares santos" não reconhecidos oficialmente pela Igreja Católica.4
Como Anneliese era incapaz de passar por um crucifixo e se recusava beber a água de uma nascente sagrada,
seu acompanhante concluiu que ela estava sofrendo de possessão demoníaca.1 Tanto Anneliese quanto sua família
se convenceram de que ela estava realmente possuída e consultaram vários sacerdotes, pedindo um exorcismo. Os
sacerdotes se recusaram, recomendaram a continuação do tratamento médico e informaram à família que para a
realização de exorcismo era necessária a permissão de um bispo.2 Eventualmente, em uma cidade próxima, se
depararam com vigário Ernst Alt, que, depois de ver Anneliese, declarou que ela não "parecia uma epiléptica"
e que ele não a via tendo convulsões.4 Ele acreditava que a menina estava sofrendo uma possessão demoníaca.1
Alt pediu ao bispo para permitir um exorcismo. Em setembro de 1975, o bispo Josef Stangl concedeu uma permissão
ao Padre Renz para exorcizar Anneliese de acordo com o Rituale Romanum de 1614,1 mas ordenou total sigilo sobre
o caso.5 Renz realizara a primeira sessão em 24 de setembro.
Uma vez convencidos de sua possessão, Anneliese, seus pais e os exorcistas pararam de procurar tratamento médico
e colocoram seu destino nas mãos apenas dos ritos de exorcismo. Sessenta e sete sessões de exorcismo, uma ou duas
 por semanas, com duração de até quatro horas, foram realizadas durante cerca de 10 meses em 1975 e 1976. Em
algum momento, Michel começou a falar cada vez mais sobre a morte para expiar a juventude rebelde do dia e os
padres apóstatas da igreja moderna e se recusou a comer. A pedido da própria Anneliese, os médicos não estavam
mais sendo consultados.1
Em 1 de julho de 1976, Anneliese morreu durante o sono. O relatório da autópsia indicou a causa da morte foi
desnutrição e desidratação de quase um ano de semi-inanição, enquanto os rituais de exorcismo eram realizadas.

Julgamento

Logo após o falecimento de Anneliese, os padres Ernest Alt e Arnold Renz fizeram o comunicado do óbito às
autoridades locais que, imediatamente, abriram inquérito e procederam às investigações preliminares.
Os promotores públicos responsabilizaram os dois padres e os pais de Anneliese de homicídio causado por
negligência médica. O bispo Josef Stangl, embora tivesse dado a autorização para o exorcismo, não foi
indiciado pela promotoria em virtude de sua idade avançada e seu estado de saúde debilitado, vindo a falecer
 em 1979. Josef Stangl foi quem consagrou bispo o padre Joseph Ratzinger, que no futuro se tornaria o Papa Bento XVI.
O julgamento do processo, que passou a ser denominado como o Caso Klingenberg (em alemão: Fall Klingenberg),
iniciou-se em 30 de março de 1978 e despertou grande interesse da opinião pública alemã. Perante o tribunal,
os médicos afirmaram que a jovem não estava possuída, muito embora o Dr. Richard Roth, ao qual foi solicitado
auxílio médico pelo padre Ernest Alt, teria feito a afirmação à época que não havia medicação eficaz contra a
ação de forças demoníacas (cfe. fonte original: "there is no injection against the devil").
Os médicos psiquiatras, que prestaram depoimento, afirmaram que os padres tinham incorrido inadvertidamente
em "indução doutrinária" em razão dos ritos, o que havia reforçado o estado psicótico da jovem, e que, se ela
tivesse sido encaminhada ao hospital e forçada a se alimentar, o seu falecimento não teria ocorrido.A defesa judicial
dos padres foi feita por advogados contratados pela Igreja. A defesa dos pais de Anneliese
argumentou que o exorcismo tinha sido ato lícito e que a Constituição Alemã protege os seus cidadãos no exercício
irrestrito de suas crenças religiosas.
A defesa também recorreu ao conteúdo das fitas gravadas durante as sessões de exorcismo, que foram apresentadas
ao tribunal de justiça, onde, por diversas vezes, as vozes e os diálogos — muitas vezes perturbadores — dos supostos
demônios eram perfeitamente audíveis. Em uma das fitas é possível discernir vozes masculinas de dois supostos demônios
 discutindo entre si qual deles teria de deixar primeiro o corpo de Anneliese. Ambos os padres demonstraram profunda
convicção de que ela estava verdadeiramente possessa e que teria sido finalmente libertada pelo exorcismo, um pouco
antes da sua morte.
Ao fim do processo, os pais de Anneliese e os dois padres foram considerados culpados de negligência médica e foi
determinada uma sentença de seis meses com liberdade condicional sob fiança.

Exumação

Antes do início do processo, os pais de Anneliese solicitaram às autoridades locais uma permissão para
exumar os restos mortais de sua filha. Eles fizeram esta solicitação em virtude de terem recebido uma
mensagem de uma freira carmelita do distrito de Allgäu, no sudoeste da Baviera. A freira relatou aos
pais da jovem que teria tido uma visão na qual o corpo de Anneliese ainda estaria intacto ou incorrupto
e que esta seria a prova definitiva do caráter sobrenatural dos fatos ocorridos. O motivo oficial que foi
dado às autoridades foi o de que Annieliese tinha sido sepultada às pressas em um sarcófago precário.
Os relatórios oficiais, entretanto, divulgaram a informação que o corpo já estava em avançado estado
de decomposição. As fotos que foram tiradas durante a exumação jamais foram divulgadas. Várias pessoas
 chegaram a especular que os exumadores moveram o corpo de Anneliese do antigo sarcófago para o novo,
feito de carvalho, segurando-o pelas mãos e pernas, o que seria um indício de que o corpo não estaria
 na realidade muito decomposto. Os pais e os padres exorcistas foram desencorajados a ver os restos
mortais de Anneliese. O padre Arnold Renz mais tarde afirmou que teria sido inclusive advertido a não
entrar no mortuário.

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