Com estes imperativos em mente vamos analisar a passagem da Bíblia de Gênesis 6:1-12.
Quando os filhos de Deus tomaram para si as filhas dos homens algo de muito grave aconteceu. Quem eram eles?
Em todas as outras referências no Antigo Testamento onde aparece a expressão “filhos de Deus” sempre se referem aos anjos (Jó 1:6, 2:1, 38:7; Dn 3:25). Aqui não é diferente.
Isto está explícito em Judas 6-8 [“6 E aos anjos que não guardaram o seu principado, mas deixaram a sua própria habitação, reservou na escuridão e em prisões eternas até ao juízo daquele grande dia; 7 Assim como Sodoma e Gomorra, e as cidades circunvizinhas, que, havendo-se entregue à fornicação como aqueles, e ido após outra carne, foram postas por exemplo, sofrendo a pena do fogo eterno. 8 ¶ E, contudo, também estes, semelhantemente adormecidos, contaminam a sua carne, e rejeitam a dominação, e vituperam as dignidades.”], onde o pronome demonstrativo “AQUELES” no v. 7 claramente se refere aos anjos do v. 6, dizendo-nos que os habitantes de Sodoma e Gomorra se entregaram a fornicação como os anjos.
Alegar que a palavra grega neste caso do v. 7 deva ser traduzida por “ESTES” (como acontece nos outros 6 casos de sua aparição: vv. 8,10,12,14,16 e 19), significando que Judas se refira aos “homens ímpios” do v.4, é um grave erro de sintaxe. Leia o v. 7 com o pronome “ESTES” e depois leia o v. 8 e veja se não é confuso!!!
Se Judas falava dos “homens ímpios” (v.4) no v. 7, por que o v. 8 começa com a frase “E, contudo, também estes”?
A conjunção “contudo” liga os exemplos do vv. 5, 6 e 7 com os “homens ímpios” a que Judas se refere exatamente com a idéia de adversidade ou seja, apesar dos exemplos registrados na história bíblica de condenação de hereges, os “homens ímpios” do v. 4 ainda assim repetem os mesmos pecados. Se eles são mencionados no v. 7 por que Judas usou esta conjunção?
Observamos ainda o uso da partícula de inclusão “TAMBÉM” que só seria necessária se Judas NÃO estivesse mencionando os “homens ímpios” anteriormente no v. 7. Judas o faz exatamente para AGORA, no v. 8., contabilizá-los no grupo dos ímpios anteriormente exemplificados.
Ainda perguntamos: onde encaixar os “semelhantemente adormecidos” do v. 8? Os “homens ímpios” do v. 4 seriam semelhantes a eles mesmos já que foram supostamente mencionados no v. 7?!!!
Se Judas se referisse aos “homens ímpios” do v. 4 no v. 7, o v. 8 começaria assim: “Estes são adormecidos, contaminam sua carne, ...”. Mas não começa!!!
Sobre Judas basta!!!
Dizer que os anjos não têm sexo é sem fundamento bíblico. Em Mateus 22:30 [c1][c2](e Mc 12:35 e Lc 20:35, 36) Jesus não diz que os anjos não têm sexo. Ele diz que nós (os salvos) seremos como os anjos de Deus NO CÉU.[2] Quando estão aqui na Terra os anjos adquirem forma humana: corpo e aparência.
Em favor dessa conclusão basta ler Gênesis 18 e 19 (em especifico 18:1-3, 16, 22 e 19:1) onde 2 anjos se “materializam” juntamente com Deus, COMEM[3] uma refeição com Abrão e vão até Sodoma tirar Ló de lá.[4] Também vemos em Hebreus 13:3 Paulo dizendo-nos que não devemos esquecer a hospitalidade “porque por ela alguns NÃO o sabendo, hospedaram anjos”. Para que nós não reconheçamos um anjo é necessário que ele assuma forma humana.
Ainda podemos mencionar como evidência que os anjos têm sexo a referência a eles por palavras de gênero masculino, incluindo substantivos próprios: vide “ o HOMEM Gabriel” em Dn 9:21 e “o ANJO Gabriel” em Lc 1:26; vide Dn 10:13,21; 12:1; Jd 9; Ap 12:7 (relacionados ao arcanjo Miguel), bem como chamamos a atenção para o fato de que até em visões os anjos tem aparência humana , de homem (ver Ez 8 e 9; Dn 10 e 12).[5]
Fato comprovado, voltemos ao texto em questão.
“1 ¶ E aconteceu que, como os homens começaram a multiplicar-se sobre a face da terra, e lhes nasceram filhas, 2 Viram os filhos de Deus que as filhas dos homens eram formosas; e tomaram para si mulheres de todas as que escolheram. 3 ¶ Então disse o SENHOR: Não contenderá o meu Espírito para sempre com o homem; porque ele também é carne; porém os seus dias serão cento e vinte anos. 4 ¶ Havia naqueles dias gigantes na terra; e também depois, quando os filhos de Deus entraram às filhas dos homens e delas geraram filhos; estes eram os valentes que houve na antiguidade, os homens de fama. 5 E viu o SENHOR que a maldade do homem se multiplicara sobre a terra e que toda a imaginação dos pensamentos de seu coração era só má continuamente. 6 ¶ Então arrependeu-se o SENHOR de haver feito o homem sobre a terra e pesou-lhe em seu coração. 7 E disse o SENHOR: Destruirei o homem que criei de sobre a face da terra, desde o homem até ao animal, até ao réptil, e até à ave dos céus; porque me arrependo de os haver feito. 8 ¶ Noé, porém, achou graça aos olhos do SENHOR. 9 Estas são as gerações de Noé. Noé era homem justo e perfeito em suas gerações; Noé andava com Deus. 10 E gerou Noé três filhos: Sem, Cão e Jafé. 11 ¶ A terra, porém, estava corrompida diante da face de Deus; e encheu-se a terra de violência. 12 E viu Deus a terra, e eis que estava corrompida; porque toda a carne havia corrompido o seu caminho sobre a terra.”
No versículo 4 temos uma frase muito intrigante: “ e também depois”. Conclui-se que havia alguns homens (filhos de homens com mulheres) pré-diluvianos de grande estatura; fato este, apesar de existente, pela estrutura do versículo (parte a) percebe-se não ser fato corriqueiro mas exceções, assim como casos específicos após o dilúvio (ver Nm 13:32;33 e Dt 3)[6] e alguns raríssimos casos que acontecem ainda hoje.[7] Contudo, percebe-se que a parte b do versículo 4 deixa claro que as relações entre mulheres e anjos produziam com grande freqüência, como sendo característico desta relação, gigantes. Além disso, somente do fruto dessa relação, anjos e mulheres, é que Moisés nos diz que surgiram “os valentes que houve na antigüidade, os homens de fama”, comprovado pelo emprego do pronome demonstrativo ESTES no início da parte c do versículo em questão.
O que de tão grave resultou dessa relação para que Deus decretasse “o fim de toda carne” ?(v. 13)
Devo ao amigo Wilbur Pickering a resposta: “Sabemos através da medicina moderna que cada ser humano leva nas veias o sangue do pai, não da mãe, de sorte que a raça mista mencionada em Gênesis 6:4 levava sangue demoníaco, não humano nas veias; e sabemos através do Texto Sagrado que o espírito humano é transmitido pelo esperma do homem, de sorte que aquela raça mista havia perdido o espírito humano, e presumivelmente a ‘imagem de Deus’ também. Se Satanás tivesse conseguido corromper todo mundo, teria sido impossível o nascimento do Messias, o segundo Adão, e Gênesis 3:15 não poderia se cumprir.” [8]
Podemos objetar que não houve uma perda total da ‘imagem de Deus’ por parte da descendência da relação anjos e mulheres em decorrência da presença do óvulo feminino[9] nessa relação, motivo pelo qual Deus continua a referir-se a esses descendentes como ‘homens’ (v. 4, 5, 6, 7).
Quão longe Satanás chegou!!!
Por que então Deus não destruiu tudo e começou do zero? Porque empenhara sua palavra a Adão fazendo-lhe uma promessa.
Por que fizera tal promessa? “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”. (Jo 3:16)
Logo, Deus teria de resolver esse problema , até porque “Deus não é homem, para que minta; nem filho do homem, para que se arrependa; porventura diria ele, e não o faria? Ou falaria, e não o confirmaria?” (Nm 23:19).[10]
Daí decorre que o emprego do verbo arrepender-se em Gn 6:6 deve ser entendido como tristeza profunda e não mudança de planos, senão Deus destruiria a todos sobre a face da terra sem preservar a ninguém, mas foi exatamente o que Ele não fez. E não o fez por AMOR (Mt 12:33).
Surge desse incidente ainda uma pergunta: Por que Satanás não tentou outra investida como esta após o dilúvio?
Resposta: Porque Deus não o permitiu. Como foi que Deus fez isso (frustrou para sempre outra investida satânica)?
Quem nos conta como isso foi feito é Pedro e, também, Judas:
“Porque, se Deus não perdoou aos anjos que pecaram, mas, havendo-os lançado no inferno, os entregou às cadeias da escuridão, ficando reservados para o juízo”. II Pe 2:4
“O julgamento que se seguiu ao pecado dos anjos incluiu o seu lançamento no inferno (tartaros; II Pe 2:4), acorrentados na escuridão, e o seu juízo no dia futuro. O uso da palavra ‘cadeias’ dá a impressão de que seus movimentos são restritos,... As palavras ‘lançado no inferno’ (tartaroo) é um particípio no tempo aoristo e poderia ser traduzido ‘os tartarizando’, portanto é a sua condição e não o seu lugar de habitação que é mencionada”.[11]
“E aos anjos que não guardaram o seu principado, mas deixaram a sua própria habitação, reservou na escuridão e em prisões eternas até ao juízo daquele grande dia”. Jd 5
O castigo de Deus foi reservar os anjos caídos na escuridão, endo as prisões eternas a incapacidade de se materializar.
É isto mesmo que eu estou afirmando biblicamente!!! Esta é a origem dos demônios.[12]
Ofereço como argumentação filosófica o seguinte: sabemos que dentro do escopo da Filosofia (não da Teologia) que todo ser humano tem (ou deveria ter) pelo menos 3 tipos de liberdade: liberdade de ir e vir (locomoção); liberdade de falar o que pensa (expressão) e liberdade de refletir sobre sua realidade (consciência ou pensamento).[13]
Quando um bandido é preso e colocado no presídio, é-lhe vedado a liberdade de locomoção.
Durante a ditadura militar no Brasil foram criados diversos organismos (DOPS, SNI) e até leis (AI-5) para suprimir a liberdade de expressão do povo (em especial dos estudantes).
Ainda mais profunda é a ALIENAÇÃO, prisão sem muros, onde grande parte da sociedade está “enclausurada” pelo excesso de “desinformação” com que é bombardeada diariamente pela mídia, onde os fatos não são apenas apresentados, mas manipulados para que se pense e propague o que os donos do poder desejam.
Entretanto, quantos foram e são privados de sua liberdade de locomoção e continuaram livres em suas consciência e expressão. Apresento como exemplo Jonh Bunyan.
Concluí-se que existem vários tipos de prisão, e no caso específico dos anjos caídos essa prisão seria a impossibilidade de se materializar,ou seja, eles ficaram presos em ‘corpos’ imateriais.
Eis o porquê da necessidade da possessão demoníaca HOJE, pois sem corpos, os demônios não podem atuar em nosso mundo ‘como se fossem humanos’ (materializar), necessitando de corpos 100% humanos (usados com consentimento dos humanos).[14]
Este é o motivo desse incidente nunca mais se repetir ( relações entre anjos e mulheres) pois, mesmo quando os demônios possuem uma pessoa humana, o corpo dessa pessoa continua humano, e mesmo que o possesso tenha relações sexuais e engravide uma humana, o fruto dessa relação continua 100% humano.
Para corroborar essas evidências, e também confirmar biblicamente o “arquiteto” desse grande ataque, analisemos Apocalipse 12.
Nos versículos 1 e 2 fala-se de “um grande sinal no céu: uma mulher...” que claramente se identifica com a nação de Israel.[15] Existe um personagem que interage com a mulher e dentro do contexto da descrição desta personagem (vv. 3 e 4) é que o apóstolo João nos faz revelações surpreendentes.
“E viu-se outro sinal no céu; e eis que era um grande dragão vermelho...”. Nota-se que nesta visão João nos mostra o dragão SOZINHO. De repente “a sua cauda levou após si a terça parte das estrelas DO CÉU” e para provar que “ Deus não é Deus de confusão” e que “nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação”, pergunto: onde foi que as estrelas do céu foram parar? O dragão “lançou-as sobre a terra”. Não é uma incrível coincidência com Gn 6:1,2?!
Observe agora os versículos 7 a 9, onde o Dragão não está mais sozinho mas com “OS SEUS ANJOS”. Quem mais seriam estes senão a terça das estrelas do céu mencionada no versículo 3?[16]
Analisemos ainda a similaridade de procedimentos de Satanás em sua investida contra Eva e em sua investida em Gn 6:1,2, onde lemos “VIRAM os filhos de Deus que as filhas dos homens eram formosas”. Satanás, “que engana todo o mundo”, também enganou os anjos. Assim como Eva “VIU que aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos...”, os anjos VIRAM também. E Satanás com a “sua cauda levou após si” Eva também.[17]
Por fim, por que só a terça parte das estrelas do céu? Porque também há decretos de Deus quanto à eleição de anjos (I Tm 5:21).
Ainda dentro do texto em análise, resta-nos uma pergunta a ser respondida: o que significam os 120 anos de Gênesis 6:3?
Existem 2 respostas. Uma delas nos diz que daquele momento em diante os homens passariam a ter como expectativa de vida ao nascerem 120 anos. O que de fato a Bíblia nos mostra?
Em primeiro lugar, depois do dilúvio muitas pessoas viveram mais de 120 anos, apesar das drásticas mudanças climáticas pós-diluvianas. Por exemplo, Noé viveu 350 após o dilúvio. Mas pode-se alegar que Noé era pré-diluviano, favorecido pela estrutura do mundo naquela época. Tudo bem!!! Mas como explicar a lista de Gênesis 11? E Abraão que nascera 390 anos após Noé e viveu 175 anos (Gn 25:7). E Sara que viveu 127 (Gn 23:1)? E Isaque que viveu 180 (Gn 35:28)? José é o primeiro a ser mencionado na Bíblia a morrer de velhice com menos de 120 anos (Gn 50:26), isto já sendo pelo menos 700 depois que foi proferido Gn 6:3.
Em segundo lugar, apesar de Moisés ter vivido 120 anos e “os seus olhos nunca se escureceram, nem perdeu o seu vigor” (Dt 34:7) ele já observava que “os dias de nossa vida chegam a setenta anos, e se alguns, pela robustez, chagam a oitenta anos, o orgulho deles é canseira e enfado, pois cedo se corta e vamos voando” (Sl 90:10), evidenciando não mostrar relacionamento entre Gn 6:6 com expectativa de vida das pessoas a partir daquele momento (senão Moisés falaria 120 anos e não 80 anos no Sl 90:10). O próprio destaque em Dt 34:7 demonstra que esta situação não era corriqueira nos tempos de Moisés, mas exceção.
Conclui-se que a derrocada da expectativa de vida após o dilúvio ocorreu de forma gradativa em decorrência das catástrofes geomorfoclimáticas provocadas pelo dilúvio[18] e não estão relacionadas ao que Deus disse em Gn 6:3.
A segunda resposta nos diz que esses 120 anos representariam o tempo decorrente entre o chamado de Noé (Gn 6:13,14) e sua entrada na arca (Gn 7:6,13,16).
O “gargalo” que nos incomoda nesta resposta é que Noé tinha 500 anos quando gerou Sem, Cão e Jafé (Gn 5:32) e tinha 600 anos quando entrou na arca (Gn 6:6,11), sendo que nos surge a pergunta: onde se encaixam os 20 anos de diferença que faltam? A resposta está na correta compreensão do caráter missionário de Deus. Vejamos:
Tanto em João 1:1-18 (especialmente os versículos 10 e 11) quanto Romanos 11:11-36 (especialmente os versículos 30 e 31) e Hebreus 2:14 vemos que Deus tem adotado até agora 3 métodos para lidar com os humanos:
1º) Rm 11:30a: revelação direta (comunicação direta) com todos humanos (ler Jó 21:7, 13-15; 22:15-17; Gn 3:8,9; 12:1; 14:18-20; 16:7-14; 18:1-33; 20:1-18; 31:24; Ex 3:1-22; 20:1, 18-21; Nm 22:8-13...). Este método vigorou de Adão até o pleno estabelecimento do Estado de Israel. De Abraão até Moisés percebe-se o período de transição entre o 1º e o 2º método;[19]
2º) Rm 11:30b-31a: Deus lida diretamente só com Israel, usando-o como nação sacerdotal a favor dos povos (Gn 12:1-3). Através das maravilhas que Deus operava em Israel e a seu favor, Ele atraía os outros povos (gentios) aSi (Ex 7:1-5; 9:18-21; Js 2:1-24; 9:8-11, 21-27...). Este método vigorou desde a saída do Egito (Ex 4:22) até a descida do Espírito Santo para habitar permanentemente nos crentes em Jesus (At 2).
3º) Rm 11:31a-31b: Deus lida diretamente com ambos (judeus e gentios) através de pessoas regeneradas e habitadas pelo Espírito Santo, proclamando o evangelho (Rm 1:1-17). O método agora é nós, os crentes, irmos através do poder do Espírito Santo a toda criatura (At 1:8; Mc 16:15; Mt 28:18-20). A compreensão do papel de Jesus como missionário medianeiro entre o 2º e 3º métodos está explicitada em Rm 15:1-13.[20]
Tudo isso foi escrito como preâmbulo para se provar que os 120 anos dizem respeito ao período entre o chamado de Noé e o dilúvio. Atentando para 1º método, encontraremos a chave para a compreensão desta afirmativa. Observe a seguinte pergunta: será que Deus já havia se pronunciado antes do chamado de Noé a respeito da destruição do mundo pré-diluviano?
Se a resposta for positiva, estaremos provando que o chamado de Noé está ligado a essas revelações de Deus a seus servos pré-diluvianos, não sendo o nascimento de seus 3 filhos o ponto de referência cronológico para o seu chamado.
Para obtermos a resposta a essa pergunta, recorremos novamente aos autores acima citados, onde eles citam a análise bíblica feita por Arthur Walkington Pink de Gênesis 5 como referência. Vejamos:
“E certo que os homens crentes daquela época deveriam ter bom testemunho que revelasse sua fé no Salvador. A conduta desses homens deveria ser bem marcante. Arthur Pink, em seu livro ‘Gleanings in Genesis’ comenta a história de Enoque e Matusalém, Gn 5:21-27, sugerindo que, tirando-se todas as pontuações do versículo 22, pois era a escrita no original, verifica-se que Deus fora ao encontro de Enoque quando lhe nascera Matusalém e desse encontro se originou o nome de seu filho, cujo significado é: quando morrer virá ou Matusalém.[21] Judas, na sua epístola, fala de Enoque, como proclamador da segunda vinda do Messias à geração que viveu antes dilúvio. ‘Andou Enoque com Deus’ daquele momento em diante e foi arrebatado antes do dilúvio (v.24).[22] O mesmo também faz um cálculo matemático com respeito à validade da revelação de Deus: o v. 25 diz que Matusalém gerou Lameque quando tinha a idade de 187 anos. No v. 28, afirma que com 182 anos Lameque gerou Noé. Logo quando nasceu Noé, Matusalém tinha 369 anos, que é a soma de 187 mais 182. O dilúvio começou quando Noé atingiu a idade de 600 anos (Gn 7:11), portanto, Matusalém deveria ter alcançado a idade de 969 anos e morrido, ou seja a soma de 369 mais 600 anos. Nesse ano de vida de Noé, Deus cumprira a revelação que dera a Enoque fazendo de Matusalém uma testemunha viva de que, antes do juízo vir, seria muito longânimo e misericordioso.[23] Através de Matusalém poderiam controlar a época do juízo. Quando morrer virá... o dilúvio. Por outro lado, quem foi em busca de Noé? Hb 11:4-7 diz literalmente que Noé foi movido a construir uma arca por temor à revelação recebida. Em Gn 6:9-22 é Deus (Elohim), o Deus de compromisso, contemplando a criação. ‘Assim fez Noé; conforme a tudo o que Deus (Elohim) lhe mandou, assim o fez’, por compromisso. Deus ama a raça e tem um compromisso com toda a criação, preservando-a [Hb 1:1-3; II Pe 3:7-11]. Aqui não é Deus convidando Noé para crer n’Ele e sim Deus se revelando a um que já era crente. Aparentemente Noé não se mostra surpreso com aquele modo de Deus se revelar a ele, sendo tal atividade normal entre eles [comparar com Is 6]. No cap. 7:1 é o Senhor (Jeová) que fala a Noé: aqui é Jeová julgando e é Jeová salvando também.[24]
Com o acima exposto e comparando com Jó 21:13-15 e 22:15-17 vemos que desde Enoque Deus decretara o fim da raça pré-diluviana. Isto explica também as palavras de Lameque que “este ( referindo-se a Noé) nos consolará acerca de nossas obras e do trabalho de nossas mãos, por causa da terra que o SENHOR amaldiçoou” (Gn 5:29).
Amaldiçoou com que? “com dor comerás dela todos os dias da tua vida. Espinhos e cardos também, produzir-te-á...”? Não. Porque se fosse à maldição de Gn 3:17-19 que Lameque estivesse se referindo então Deus falhou, pois até hoje elas existem. Logo concluímos que Lameque se refere à profecia revelada a Enoque, sendo o “consolo de nossas obras” o cumprimento de tudo que os “crentes” daquela época haviam pregado.
Concluímos que o chamado de Noé está intimamente relacionado com as revelações de Deus aos seus servos pré-diluvianos. Logo, Deus chamou Noé quando ele tinha 480 anos.
Como assim?! E Gn 6:18? No chamado de Noé, Deus lhe revelou que somente sua família, que ele ainda haveria de constituir futuramente (vinte anos depois falando de filhos, não do casamento especificamente)[25], é que entrariam na arca, sendo que esta revelação coincide cronologicamente com a queda dos anjos (que foi a “gota d’água” na depravação do mundo pré-diluviano), bem caracterizado pelo emprego do advérbio ENTÃO em Gn 6:3, e não havendo relação com o nascimento dos filhos de Noé.[26]
Para concluir, gostaria de fazer duas observações:
A primeira é que a Bíblia é inspirada inerrante por Deus, preservada inerrante por Deus, suficiente[27] e a sua autoridade se estende por todos os assuntos em que se pronuncia, quer seja Teologia propriamente dita quer seja Biologia, Física, Química, Matemática, História, Geografia...[28]
Aprendi enquanto escrevia este artigo que não devemos fazer como alguns, que quando são perguntados sobre assuntos “cinzentos” (como criacionismo X evolucionismo, aborto, eutanásia, bebidas alcoólicas,...) dizem “a Bíblia nada fala a respeito disso” ou “muito pouco se diz sobre este assunto” ou “a Bíblia não tem a intenção de ser um livro científico” ou..., como se Deus não fosse capaz de se expressar com clareza, concisão e objetividade nem se expressar sobre outro assunto que não fosse "teologia pura".
O que de fato devemos dizer é “humildemente falando, em decorrência de minhas imperfeições (natureza pecaminosa, finitude de compreensão,...), pouco sei o que Deus nos diz em Sua Palavra sobre este assunto. Preciso ler mais a Bíblia, orar por discernimento e dedicar mais tempo para pesquisar”.
Nós é que somos imperfeitos, pecaminosos, dispersivos, prolixos,... e não o nosso Deus nem a Sua Palavra (Dn 9:7,8; Pv 30:5,6).
A segunda observação é que quando Adão pecou, ele morreu espiritualmente MESMO, e todos nós herdamos isso dele (Rm 3:23; 5:12; I Co 15:21a,22a). De fato, o pecado nos arruinou por completo, e precisamos ter consciência disso e abandonar a idéia de que nós podemos buscar a Deus pelos nossos esforços ou por auto-conscientização de nossos pecados (Rm 3:9-18), pois as únicas coisas que fazemos de fato é deixar o manancial de águas vivas e cavar cisternas rotas (Jr 2:13), sendo isso plenamente perceptível já nos primeiros capítulos de Gênesis.
Em Gn 3 vemos mentiras, rebeldia, arrogância, dureza de coração. Em Gn 4 vemos assassinatos, prostituição, bigamia, violência. Em Gn 6 Deus já diz a respeito do homem que “toda imaginação de pensamentos de seu coração era SÓ MÁ CONTINUAMENTE”.
Este artigo tem por finalidade elucidar ainda mais este contexto terrível em que caiu a humanidade, pois escatologicamente falando, Jesus nos manda atentar para os dias de Noé, revelando-nos que “como foi nos dias de Noé, assim será também a vinda do Filho do homem”. (Mt 24:37-39; Lc 17:26,27)[29]
Reitero, não foi um tropeço, mas uma queda mortal o que aconteceu no Éden!!! (Rm 5:12; Rm 3). E para não enveredarmos pelo mesmo caminho dos homens de Gênesis 6, e desta vez sermos destruídos pelo fogo (II Pe 3), precisamos nos humilhar perante Deus, sentir nossas misérias, lamentar e chorar (Tg 4:1-10). Precisamos reconhecer que não buscamos o bem e não há nada de bom em nós (Is 64:6; Rm 3), que a salvação vem SOMENTE do Senhor Jesus (At 4:12), que é Ele quem nos escolhe (Jo 6:37-40,44,63-65; 15:16; Ef 1:16-20), que é somente pela graça que somos salvos (Ef 2:8,9), que até nosso arrependimento e nossa fé são concessões divinas (At 11:18; Rm 2:2:3,4; II Tm 2:24-26; Fl 1:29,30) e as boas obras praticadas pelos salvos são feitas porque Deus as “preparou para que andássemos nelas” (Ef 2:10).
Só assim procedendo é que veremos o quanto somos carentes da graça de Deus e oraremos como Isaías e Daniel oraram:
“Por que, ó SENHOR, nos fazes errar teus caminhos? Por que endureces o nosso coração, para que não te temamos? Volta, por amor dos teus servos, às tribos da tua herança”. Is 63:17
“Inclina, ó Deus meu, os teus ouvidos, e ouve; abre os teus olhos, e olha para a nossa desolação, e para a cidade que é chamada pelo teu nome, porque não lançamos as nossas súplicas perante a tua face fiados em nossas justiças, mas em tuas muitas misericórdias. Ó Senhor, ouve; ó Senhor perdoa; ó Senhor, atende-nos e age sem tardar; por amor de ti mesmo, ó Deus meu; porque a tua cidade e o teu povo são chamados pelo teu nome”. Dn 9:18,19
Quando os filhos de Deus tomaram para si as filhas dos homens algo de muito grave aconteceu. Quem eram eles?
Em todas as outras referências no Antigo Testamento onde aparece a expressão “filhos de Deus” sempre se referem aos anjos (Jó 1:6, 2:1, 38:7; Dn 3:25). Aqui não é diferente.
Isto está explícito em Judas 6-8 [“6 E aos anjos que não guardaram o seu principado, mas deixaram a sua própria habitação, reservou na escuridão e em prisões eternas até ao juízo daquele grande dia; 7 Assim como Sodoma e Gomorra, e as cidades circunvizinhas, que, havendo-se entregue à fornicação como aqueles, e ido após outra carne, foram postas por exemplo, sofrendo a pena do fogo eterno. 8 ¶ E, contudo, também estes, semelhantemente adormecidos, contaminam a sua carne, e rejeitam a dominação, e vituperam as dignidades.”], onde o pronome demonstrativo “AQUELES” no v. 7 claramente se refere aos anjos do v. 6, dizendo-nos que os habitantes de Sodoma e Gomorra se entregaram a fornicação como os anjos.
Alegar que a palavra grega neste caso do v. 7 deva ser traduzida por “ESTES” (como acontece nos outros 6 casos de sua aparição: vv. 8,10,12,14,16 e 19), significando que Judas se refira aos “homens ímpios” do v.4, é um grave erro de sintaxe. Leia o v. 7 com o pronome “ESTES” e depois leia o v. 8 e veja se não é confuso!!!
Se Judas falava dos “homens ímpios” (v.4) no v. 7, por que o v. 8 começa com a frase “E, contudo, também estes”?
A conjunção “contudo” liga os exemplos do vv. 5, 6 e 7 com os “homens ímpios” a que Judas se refere exatamente com a idéia de adversidade ou seja, apesar dos exemplos registrados na história bíblica de condenação de hereges, os “homens ímpios” do v. 4 ainda assim repetem os mesmos pecados. Se eles são mencionados no v. 7 por que Judas usou esta conjunção?
Observamos ainda o uso da partícula de inclusão “TAMBÉM” que só seria necessária se Judas NÃO estivesse mencionando os “homens ímpios” anteriormente no v. 7. Judas o faz exatamente para AGORA, no v. 8., contabilizá-los no grupo dos ímpios anteriormente exemplificados.
Ainda perguntamos: onde encaixar os “semelhantemente adormecidos” do v. 8? Os “homens ímpios” do v. 4 seriam semelhantes a eles mesmos já que foram supostamente mencionados no v. 7?!!!
Se Judas se referisse aos “homens ímpios” do v. 4 no v. 7, o v. 8 começaria assim: “Estes são adormecidos, contaminam sua carne, ...”. Mas não começa!!!
Sobre Judas basta!!!
Dizer que os anjos não têm sexo é sem fundamento bíblico. Em Mateus 22:30 [c1][c2](e Mc 12:35 e Lc 20:35, 36) Jesus não diz que os anjos não têm sexo. Ele diz que nós (os salvos) seremos como os anjos de Deus NO CÉU.[2] Quando estão aqui na Terra os anjos adquirem forma humana: corpo e aparência.
Em favor dessa conclusão basta ler Gênesis 18 e 19 (em especifico 18:1-3, 16, 22 e 19:1) onde 2 anjos se “materializam” juntamente com Deus, COMEM[3] uma refeição com Abrão e vão até Sodoma tirar Ló de lá.[4] Também vemos em Hebreus 13:3 Paulo dizendo-nos que não devemos esquecer a hospitalidade “porque por ela alguns NÃO o sabendo, hospedaram anjos”. Para que nós não reconheçamos um anjo é necessário que ele assuma forma humana.
Ainda podemos mencionar como evidência que os anjos têm sexo a referência a eles por palavras de gênero masculino, incluindo substantivos próprios: vide “ o HOMEM Gabriel” em Dn 9:21 e “o ANJO Gabriel” em Lc 1:26; vide Dn 10:13,21; 12:1; Jd 9; Ap 12:7 (relacionados ao arcanjo Miguel), bem como chamamos a atenção para o fato de que até em visões os anjos tem aparência humana , de homem (ver Ez 8 e 9; Dn 10 e 12).[5]
Fato comprovado, voltemos ao texto em questão.
“1 ¶ E aconteceu que, como os homens começaram a multiplicar-se sobre a face da terra, e lhes nasceram filhas, 2 Viram os filhos de Deus que as filhas dos homens eram formosas; e tomaram para si mulheres de todas as que escolheram. 3 ¶ Então disse o SENHOR: Não contenderá o meu Espírito para sempre com o homem; porque ele também é carne; porém os seus dias serão cento e vinte anos. 4 ¶ Havia naqueles dias gigantes na terra; e também depois, quando os filhos de Deus entraram às filhas dos homens e delas geraram filhos; estes eram os valentes que houve na antiguidade, os homens de fama. 5 E viu o SENHOR que a maldade do homem se multiplicara sobre a terra e que toda a imaginação dos pensamentos de seu coração era só má continuamente. 6 ¶ Então arrependeu-se o SENHOR de haver feito o homem sobre a terra e pesou-lhe em seu coração. 7 E disse o SENHOR: Destruirei o homem que criei de sobre a face da terra, desde o homem até ao animal, até ao réptil, e até à ave dos céus; porque me arrependo de os haver feito. 8 ¶ Noé, porém, achou graça aos olhos do SENHOR. 9 Estas são as gerações de Noé. Noé era homem justo e perfeito em suas gerações; Noé andava com Deus. 10 E gerou Noé três filhos: Sem, Cão e Jafé. 11 ¶ A terra, porém, estava corrompida diante da face de Deus; e encheu-se a terra de violência. 12 E viu Deus a terra, e eis que estava corrompida; porque toda a carne havia corrompido o seu caminho sobre a terra.”
No versículo 4 temos uma frase muito intrigante: “ e também depois”. Conclui-se que havia alguns homens (filhos de homens com mulheres) pré-diluvianos de grande estatura; fato este, apesar de existente, pela estrutura do versículo (parte a) percebe-se não ser fato corriqueiro mas exceções, assim como casos específicos após o dilúvio (ver Nm 13:32;33 e Dt 3)[6] e alguns raríssimos casos que acontecem ainda hoje.[7] Contudo, percebe-se que a parte b do versículo 4 deixa claro que as relações entre mulheres e anjos produziam com grande freqüência, como sendo característico desta relação, gigantes. Além disso, somente do fruto dessa relação, anjos e mulheres, é que Moisés nos diz que surgiram “os valentes que houve na antigüidade, os homens de fama”, comprovado pelo emprego do pronome demonstrativo ESTES no início da parte c do versículo em questão.
O que de tão grave resultou dessa relação para que Deus decretasse “o fim de toda carne” ?(v. 13)
Devo ao amigo Wilbur Pickering a resposta: “Sabemos através da medicina moderna que cada ser humano leva nas veias o sangue do pai, não da mãe, de sorte que a raça mista mencionada em Gênesis 6:4 levava sangue demoníaco, não humano nas veias; e sabemos através do Texto Sagrado que o espírito humano é transmitido pelo esperma do homem, de sorte que aquela raça mista havia perdido o espírito humano, e presumivelmente a ‘imagem de Deus’ também. Se Satanás tivesse conseguido corromper todo mundo, teria sido impossível o nascimento do Messias, o segundo Adão, e Gênesis 3:15 não poderia se cumprir.” [8]
Podemos objetar que não houve uma perda total da ‘imagem de Deus’ por parte da descendência da relação anjos e mulheres em decorrência da presença do óvulo feminino[9] nessa relação, motivo pelo qual Deus continua a referir-se a esses descendentes como ‘homens’ (v. 4, 5, 6, 7).
Quão longe Satanás chegou!!!
Por que então Deus não destruiu tudo e começou do zero? Porque empenhara sua palavra a Adão fazendo-lhe uma promessa.
Por que fizera tal promessa? “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”. (Jo 3:16)
Logo, Deus teria de resolver esse problema , até porque “Deus não é homem, para que minta; nem filho do homem, para que se arrependa; porventura diria ele, e não o faria? Ou falaria, e não o confirmaria?” (Nm 23:19).[10]
Daí decorre que o emprego do verbo arrepender-se em Gn 6:6 deve ser entendido como tristeza profunda e não mudança de planos, senão Deus destruiria a todos sobre a face da terra sem preservar a ninguém, mas foi exatamente o que Ele não fez. E não o fez por AMOR (Mt 12:33).
Surge desse incidente ainda uma pergunta: Por que Satanás não tentou outra investida como esta após o dilúvio?
Resposta: Porque Deus não o permitiu. Como foi que Deus fez isso (frustrou para sempre outra investida satânica)?
Quem nos conta como isso foi feito é Pedro e, também, Judas:
“Porque, se Deus não perdoou aos anjos que pecaram, mas, havendo-os lançado no inferno, os entregou às cadeias da escuridão, ficando reservados para o juízo”. II Pe 2:4
“O julgamento que se seguiu ao pecado dos anjos incluiu o seu lançamento no inferno (tartaros; II Pe 2:4), acorrentados na escuridão, e o seu juízo no dia futuro. O uso da palavra ‘cadeias’ dá a impressão de que seus movimentos são restritos,... As palavras ‘lançado no inferno’ (tartaroo) é um particípio no tempo aoristo e poderia ser traduzido ‘os tartarizando’, portanto é a sua condição e não o seu lugar de habitação que é mencionada”.[11]
“E aos anjos que não guardaram o seu principado, mas deixaram a sua própria habitação, reservou na escuridão e em prisões eternas até ao juízo daquele grande dia”. Jd 5
O castigo de Deus foi reservar os anjos caídos na escuridão, endo as prisões eternas a incapacidade de se materializar.
É isto mesmo que eu estou afirmando biblicamente!!! Esta é a origem dos demônios.[12]
Ofereço como argumentação filosófica o seguinte: sabemos que dentro do escopo da Filosofia (não da Teologia) que todo ser humano tem (ou deveria ter) pelo menos 3 tipos de liberdade: liberdade de ir e vir (locomoção); liberdade de falar o que pensa (expressão) e liberdade de refletir sobre sua realidade (consciência ou pensamento).[13]
Quando um bandido é preso e colocado no presídio, é-lhe vedado a liberdade de locomoção.
Durante a ditadura militar no Brasil foram criados diversos organismos (DOPS, SNI) e até leis (AI-5) para suprimir a liberdade de expressão do povo (em especial dos estudantes).
Ainda mais profunda é a ALIENAÇÃO, prisão sem muros, onde grande parte da sociedade está “enclausurada” pelo excesso de “desinformação” com que é bombardeada diariamente pela mídia, onde os fatos não são apenas apresentados, mas manipulados para que se pense e propague o que os donos do poder desejam.
Entretanto, quantos foram e são privados de sua liberdade de locomoção e continuaram livres em suas consciência e expressão. Apresento como exemplo Jonh Bunyan.
Concluí-se que existem vários tipos de prisão, e no caso específico dos anjos caídos essa prisão seria a impossibilidade de se materializar,ou seja, eles ficaram presos em ‘corpos’ imateriais.
Eis o porquê da necessidade da possessão demoníaca HOJE, pois sem corpos, os demônios não podem atuar em nosso mundo ‘como se fossem humanos’ (materializar), necessitando de corpos 100% humanos (usados com consentimento dos humanos).[14]
Este é o motivo desse incidente nunca mais se repetir ( relações entre anjos e mulheres) pois, mesmo quando os demônios possuem uma pessoa humana, o corpo dessa pessoa continua humano, e mesmo que o possesso tenha relações sexuais e engravide uma humana, o fruto dessa relação continua 100% humano.
Para corroborar essas evidências, e também confirmar biblicamente o “arquiteto” desse grande ataque, analisemos Apocalipse 12.
Nos versículos 1 e 2 fala-se de “um grande sinal no céu: uma mulher...” que claramente se identifica com a nação de Israel.[15] Existe um personagem que interage com a mulher e dentro do contexto da descrição desta personagem (vv. 3 e 4) é que o apóstolo João nos faz revelações surpreendentes.
“E viu-se outro sinal no céu; e eis que era um grande dragão vermelho...”. Nota-se que nesta visão João nos mostra o dragão SOZINHO. De repente “a sua cauda levou após si a terça parte das estrelas DO CÉU” e para provar que “ Deus não é Deus de confusão” e que “nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação”, pergunto: onde foi que as estrelas do céu foram parar? O dragão “lançou-as sobre a terra”. Não é uma incrível coincidência com Gn 6:1,2?!
Observe agora os versículos 7 a 9, onde o Dragão não está mais sozinho mas com “OS SEUS ANJOS”. Quem mais seriam estes senão a terça das estrelas do céu mencionada no versículo 3?[16]
Analisemos ainda a similaridade de procedimentos de Satanás em sua investida contra Eva e em sua investida em Gn 6:1,2, onde lemos “VIRAM os filhos de Deus que as filhas dos homens eram formosas”. Satanás, “que engana todo o mundo”, também enganou os anjos. Assim como Eva “VIU que aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos...”, os anjos VIRAM também. E Satanás com a “sua cauda levou após si” Eva também.[17]
Por fim, por que só a terça parte das estrelas do céu? Porque também há decretos de Deus quanto à eleição de anjos (I Tm 5:21).
Ainda dentro do texto em análise, resta-nos uma pergunta a ser respondida: o que significam os 120 anos de Gênesis 6:3?
Existem 2 respostas. Uma delas nos diz que daquele momento em diante os homens passariam a ter como expectativa de vida ao nascerem 120 anos. O que de fato a Bíblia nos mostra?
Em primeiro lugar, depois do dilúvio muitas pessoas viveram mais de 120 anos, apesar das drásticas mudanças climáticas pós-diluvianas. Por exemplo, Noé viveu 350 após o dilúvio. Mas pode-se alegar que Noé era pré-diluviano, favorecido pela estrutura do mundo naquela época. Tudo bem!!! Mas como explicar a lista de Gênesis 11? E Abraão que nascera 390 anos após Noé e viveu 175 anos (Gn 25:7). E Sara que viveu 127 (Gn 23:1)? E Isaque que viveu 180 (Gn 35:28)? José é o primeiro a ser mencionado na Bíblia a morrer de velhice com menos de 120 anos (Gn 50:26), isto já sendo pelo menos 700 depois que foi proferido Gn 6:3.
Em segundo lugar, apesar de Moisés ter vivido 120 anos e “os seus olhos nunca se escureceram, nem perdeu o seu vigor” (Dt 34:7) ele já observava que “os dias de nossa vida chegam a setenta anos, e se alguns, pela robustez, chagam a oitenta anos, o orgulho deles é canseira e enfado, pois cedo se corta e vamos voando” (Sl 90:10), evidenciando não mostrar relacionamento entre Gn 6:6 com expectativa de vida das pessoas a partir daquele momento (senão Moisés falaria 120 anos e não 80 anos no Sl 90:10). O próprio destaque em Dt 34:7 demonstra que esta situação não era corriqueira nos tempos de Moisés, mas exceção.
Conclui-se que a derrocada da expectativa de vida após o dilúvio ocorreu de forma gradativa em decorrência das catástrofes geomorfoclimáticas provocadas pelo dilúvio[18] e não estão relacionadas ao que Deus disse em Gn 6:3.
A segunda resposta nos diz que esses 120 anos representariam o tempo decorrente entre o chamado de Noé (Gn 6:13,14) e sua entrada na arca (Gn 7:6,13,16).
O “gargalo” que nos incomoda nesta resposta é que Noé tinha 500 anos quando gerou Sem, Cão e Jafé (Gn 5:32) e tinha 600 anos quando entrou na arca (Gn 6:6,11), sendo que nos surge a pergunta: onde se encaixam os 20 anos de diferença que faltam? A resposta está na correta compreensão do caráter missionário de Deus. Vejamos:
Tanto em João 1:1-18 (especialmente os versículos 10 e 11) quanto Romanos 11:11-36 (especialmente os versículos 30 e 31) e Hebreus 2:14 vemos que Deus tem adotado até agora 3 métodos para lidar com os humanos:
1º) Rm 11:30a: revelação direta (comunicação direta) com todos humanos (ler Jó 21:7, 13-15; 22:15-17; Gn 3:8,9; 12:1; 14:18-20; 16:7-14; 18:1-33; 20:1-18; 31:24; Ex 3:1-22; 20:1, 18-21; Nm 22:8-13...). Este método vigorou de Adão até o pleno estabelecimento do Estado de Israel. De Abraão até Moisés percebe-se o período de transição entre o 1º e o 2º método;[19]
2º) Rm 11:30b-31a: Deus lida diretamente só com Israel, usando-o como nação sacerdotal a favor dos povos (Gn 12:1-3). Através das maravilhas que Deus operava em Israel e a seu favor, Ele atraía os outros povos (gentios) aSi (Ex 7:1-5; 9:18-21; Js 2:1-24; 9:8-11, 21-27...). Este método vigorou desde a saída do Egito (Ex 4:22) até a descida do Espírito Santo para habitar permanentemente nos crentes em Jesus (At 2).
3º) Rm 11:31a-31b: Deus lida diretamente com ambos (judeus e gentios) através de pessoas regeneradas e habitadas pelo Espírito Santo, proclamando o evangelho (Rm 1:1-17). O método agora é nós, os crentes, irmos através do poder do Espírito Santo a toda criatura (At 1:8; Mc 16:15; Mt 28:18-20). A compreensão do papel de Jesus como missionário medianeiro entre o 2º e 3º métodos está explicitada em Rm 15:1-13.[20]
Tudo isso foi escrito como preâmbulo para se provar que os 120 anos dizem respeito ao período entre o chamado de Noé e o dilúvio. Atentando para 1º método, encontraremos a chave para a compreensão desta afirmativa. Observe a seguinte pergunta: será que Deus já havia se pronunciado antes do chamado de Noé a respeito da destruição do mundo pré-diluviano?
Se a resposta for positiva, estaremos provando que o chamado de Noé está ligado a essas revelações de Deus a seus servos pré-diluvianos, não sendo o nascimento de seus 3 filhos o ponto de referência cronológico para o seu chamado.
Para obtermos a resposta a essa pergunta, recorremos novamente aos autores acima citados, onde eles citam a análise bíblica feita por Arthur Walkington Pink de Gênesis 5 como referência. Vejamos:
“E certo que os homens crentes daquela época deveriam ter bom testemunho que revelasse sua fé no Salvador. A conduta desses homens deveria ser bem marcante. Arthur Pink, em seu livro ‘Gleanings in Genesis’ comenta a história de Enoque e Matusalém, Gn 5:21-27, sugerindo que, tirando-se todas as pontuações do versículo 22, pois era a escrita no original, verifica-se que Deus fora ao encontro de Enoque quando lhe nascera Matusalém e desse encontro se originou o nome de seu filho, cujo significado é: quando morrer virá ou Matusalém.[21] Judas, na sua epístola, fala de Enoque, como proclamador da segunda vinda do Messias à geração que viveu antes dilúvio. ‘Andou Enoque com Deus’ daquele momento em diante e foi arrebatado antes do dilúvio (v.24).[22] O mesmo também faz um cálculo matemático com respeito à validade da revelação de Deus: o v. 25 diz que Matusalém gerou Lameque quando tinha a idade de 187 anos. No v. 28, afirma que com 182 anos Lameque gerou Noé. Logo quando nasceu Noé, Matusalém tinha 369 anos, que é a soma de 187 mais 182. O dilúvio começou quando Noé atingiu a idade de 600 anos (Gn 7:11), portanto, Matusalém deveria ter alcançado a idade de 969 anos e morrido, ou seja a soma de 369 mais 600 anos. Nesse ano de vida de Noé, Deus cumprira a revelação que dera a Enoque fazendo de Matusalém uma testemunha viva de que, antes do juízo vir, seria muito longânimo e misericordioso.[23] Através de Matusalém poderiam controlar a época do juízo. Quando morrer virá... o dilúvio. Por outro lado, quem foi em busca de Noé? Hb 11:4-7 diz literalmente que Noé foi movido a construir uma arca por temor à revelação recebida. Em Gn 6:9-22 é Deus (Elohim), o Deus de compromisso, contemplando a criação. ‘Assim fez Noé; conforme a tudo o que Deus (Elohim) lhe mandou, assim o fez’, por compromisso. Deus ama a raça e tem um compromisso com toda a criação, preservando-a [Hb 1:1-3; II Pe 3:7-11]. Aqui não é Deus convidando Noé para crer n’Ele e sim Deus se revelando a um que já era crente. Aparentemente Noé não se mostra surpreso com aquele modo de Deus se revelar a ele, sendo tal atividade normal entre eles [comparar com Is 6]. No cap. 7:1 é o Senhor (Jeová) que fala a Noé: aqui é Jeová julgando e é Jeová salvando também.[24]
Com o acima exposto e comparando com Jó 21:13-15 e 22:15-17 vemos que desde Enoque Deus decretara o fim da raça pré-diluviana. Isto explica também as palavras de Lameque que “este ( referindo-se a Noé) nos consolará acerca de nossas obras e do trabalho de nossas mãos, por causa da terra que o SENHOR amaldiçoou” (Gn 5:29).
Amaldiçoou com que? “com dor comerás dela todos os dias da tua vida. Espinhos e cardos também, produzir-te-á...”? Não. Porque se fosse à maldição de Gn 3:17-19 que Lameque estivesse se referindo então Deus falhou, pois até hoje elas existem. Logo concluímos que Lameque se refere à profecia revelada a Enoque, sendo o “consolo de nossas obras” o cumprimento de tudo que os “crentes” daquela época haviam pregado.
Concluímos que o chamado de Noé está intimamente relacionado com as revelações de Deus aos seus servos pré-diluvianos. Logo, Deus chamou Noé quando ele tinha 480 anos.
Como assim?! E Gn 6:18? No chamado de Noé, Deus lhe revelou que somente sua família, que ele ainda haveria de constituir futuramente (vinte anos depois falando de filhos, não do casamento especificamente)[25], é que entrariam na arca, sendo que esta revelação coincide cronologicamente com a queda dos anjos (que foi a “gota d’água” na depravação do mundo pré-diluviano), bem caracterizado pelo emprego do advérbio ENTÃO em Gn 6:3, e não havendo relação com o nascimento dos filhos de Noé.[26]
Para concluir, gostaria de fazer duas observações:
A primeira é que a Bíblia é inspirada inerrante por Deus, preservada inerrante por Deus, suficiente[27] e a sua autoridade se estende por todos os assuntos em que se pronuncia, quer seja Teologia propriamente dita quer seja Biologia, Física, Química, Matemática, História, Geografia...[28]
Aprendi enquanto escrevia este artigo que não devemos fazer como alguns, que quando são perguntados sobre assuntos “cinzentos” (como criacionismo X evolucionismo, aborto, eutanásia, bebidas alcoólicas,...) dizem “a Bíblia nada fala a respeito disso” ou “muito pouco se diz sobre este assunto” ou “a Bíblia não tem a intenção de ser um livro científico” ou..., como se Deus não fosse capaz de se expressar com clareza, concisão e objetividade nem se expressar sobre outro assunto que não fosse "teologia pura".
O que de fato devemos dizer é “humildemente falando, em decorrência de minhas imperfeições (natureza pecaminosa, finitude de compreensão,...), pouco sei o que Deus nos diz em Sua Palavra sobre este assunto. Preciso ler mais a Bíblia, orar por discernimento e dedicar mais tempo para pesquisar”.
Nós é que somos imperfeitos, pecaminosos, dispersivos, prolixos,... e não o nosso Deus nem a Sua Palavra (Dn 9:7,8; Pv 30:5,6).
A segunda observação é que quando Adão pecou, ele morreu espiritualmente MESMO, e todos nós herdamos isso dele (Rm 3:23; 5:12; I Co 15:21a,22a). De fato, o pecado nos arruinou por completo, e precisamos ter consciência disso e abandonar a idéia de que nós podemos buscar a Deus pelos nossos esforços ou por auto-conscientização de nossos pecados (Rm 3:9-18), pois as únicas coisas que fazemos de fato é deixar o manancial de águas vivas e cavar cisternas rotas (Jr 2:13), sendo isso plenamente perceptível já nos primeiros capítulos de Gênesis.
Em Gn 3 vemos mentiras, rebeldia, arrogância, dureza de coração. Em Gn 4 vemos assassinatos, prostituição, bigamia, violência. Em Gn 6 Deus já diz a respeito do homem que “toda imaginação de pensamentos de seu coração era SÓ MÁ CONTINUAMENTE”.
Este artigo tem por finalidade elucidar ainda mais este contexto terrível em que caiu a humanidade, pois escatologicamente falando, Jesus nos manda atentar para os dias de Noé, revelando-nos que “como foi nos dias de Noé, assim será também a vinda do Filho do homem”. (Mt 24:37-39; Lc 17:26,27)[29]
Reitero, não foi um tropeço, mas uma queda mortal o que aconteceu no Éden!!! (Rm 5:12; Rm 3). E para não enveredarmos pelo mesmo caminho dos homens de Gênesis 6, e desta vez sermos destruídos pelo fogo (II Pe 3), precisamos nos humilhar perante Deus, sentir nossas misérias, lamentar e chorar (Tg 4:1-10). Precisamos reconhecer que não buscamos o bem e não há nada de bom em nós (Is 64:6; Rm 3), que a salvação vem SOMENTE do Senhor Jesus (At 4:12), que é Ele quem nos escolhe (Jo 6:37-40,44,63-65; 15:16; Ef 1:16-20), que é somente pela graça que somos salvos (Ef 2:8,9), que até nosso arrependimento e nossa fé são concessões divinas (At 11:18; Rm 2:2:3,4; II Tm 2:24-26; Fl 1:29,30) e as boas obras praticadas pelos salvos são feitas porque Deus as “preparou para que andássemos nelas” (Ef 2:10).
Só assim procedendo é que veremos o quanto somos carentes da graça de Deus e oraremos como Isaías e Daniel oraram:
“Por que, ó SENHOR, nos fazes errar teus caminhos? Por que endureces o nosso coração, para que não te temamos? Volta, por amor dos teus servos, às tribos da tua herança”. Is 63:17
“Inclina, ó Deus meu, os teus ouvidos, e ouve; abre os teus olhos, e olha para a nossa desolação, e para a cidade que é chamada pelo teu nome, porque não lançamos as nossas súplicas perante a tua face fiados em nossas justiças, mas em tuas muitas misericórdias. Ó Senhor, ouve; ó Senhor perdoa; ó Senhor, atende-nos e age sem tardar; por amor de ti mesmo, ó Deus meu; porque a tua cidade e o teu povo são chamados pelo teu nome”. Dn 9:18,19
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