Na concepção de algumas religiões, a atuação dos “demônios”, assim como a prática do exorcismo para expulsá-los da vida dos fiéis tem acompanhado a história da humanidade. Paralelamente, criou-se uma grande polêmica em torno do assunto que divide opiniões e crenças. O tema ultrapassou as barreiras da Igreja e invadiu o mercado literário, as produções cinematográficas e programas de TV. As evidências mostram que a existência e atuação dos espíritos (que recebem diversas nomenclaturas, de acordo com cada credo) sempre exerceram fascinação sobre as pessoas.
A palavra exorcismo significa oração e cerimônia religiosa com que se esconjura o demônio, os espíritos maus etc.
Nas culturas egípcia, babilônica e judaica, um grande número de doenças e calamidades eram atribuídas à ação dos demônios, sendo que o exorcismo era adotado como um dos meios de afastá-los.
Com o reconhecimento oficial do cristianismo pelo imperador Constantino, os exorcismos, realizados informalmente por qualquer cristão, foram institucionalizados. Segundo a Igreja Católica Apostólica Romana, os métodos para afastar o “diabo” do possesso teriam sido ensinados por Jesus Cristo aos seus discípulos. Os métodos adotados são vários, tais como a utilização da água benta, imposição das mãos, conjurações, sinais da cruz, orações, salmos, cânticos, entre outros.
A Idade Média é conhecida como um período de medo e perseguições a todos aqueles que contradiziam os princípios da Igreja. Os chamados feiticeiros e bruxos foram punidos e queimados nos Tribunais da Inquisição e qualquer traço que fosse considerado como paganismo era combatido rigorosamente, a fim de manter a todo custo o monopólio da cultura que lhe era ideal e que não violasse seu poder político e religioso. Aplicava-se, além dos métodos tradicionais de exorcismo, chicotadas e até a pena de morte na fogueira. O caso mais famoso é o da médium Joana D’Arc, considerada bruxa.
Embora a Igreja Católica sempre tenha afirmado a existência das possessões, para os mais ortodoxos, os exorcismos ordinários ainda são práticas raríssimas e só permitidas mediante permissão episcopal a sacerdotes muito experientes, pois acreditam que Jesus tenha confiado autoridade espiritual à Igreja para libertar as pessoas do domínio das forças malignas. Somente na ausência de um sacerdote é que uma pessoa leiga poderia realizar o exorcismo, claro que com a permissão do clero. Para tanto, crêem ser fundamental, antes de dar início ao ritual, certificar-se de que se trata mesmo da presença do demônio e não de uma doença, principalmente psíquica, cujo cuidado pertence à ciência médica.
Por outro lado, com o passar dos séculos, surgiram correntes mais liberais, como é o caso do movimento carismático, que permite o exorcismo como uma prática mais constante.
OS DEMÔNIOS
Na visão católica, os demônios representam anjos caídos por causa do pecado, providos de grande inteligência e poder, que utilizam a astúcia para desviar a humanidade do caminho de Deus.
A tentação e a expulsão de Adão do paraíso, narrada pelo Antigo Testamento, reconhece a atuação do demônio na figura sagaz da serpente. Mas é no Novo Testamento que se encontram as referências aos chamados exorcismos, praticados por Jesus e seus discípulos. As citações referem-se à expulsão maléfica do corpo de possessos, e da cura de enfermidades atribuídas à ação do demônio. Os exorcismos, realizados pelos evangelistas, aparecem como forma ilustrativa da vitória de Jesus sobre Satanás, ou seja, do bem contra o mal. Na verdade, a Igreja distorceu a idéia do demônio, cuja origem vem do termo grego daimon, que significa espírito, gênio. Ou seja, não tem nenhuma relação com um ser maligno.
NA ERA MODERNA
O racionalismo do século XVIII conseguiu explicar muitos mistérios supostamente sobrenaturais, o que se intensificou com a utilização do hipnotismo e da psicologia no século XIX. Felizmente, a liberdade de expressão evoluiu junto com a humanidade. Diversas correntes de pensamentos e religiões puderam manifestar-se com mais liberdade.
No novo século, tanto a Igreja Católica, quanto algumas denominações protestantes admitem exorcismos ordinários. Um dos padres exorcistas mais famosos da atualidade é Gabriele Amorth, com três livros publicados sobre o assunto, entre eles Um Exorcista conta-nos, escrito em 1990 e traduzido para 94 idiomas. O padre é considerado uma grande autoridade em exorcismo. Ele diz que os exorcistas fazem parte da história da humanidade e que a influência diabólica aparece em todas as religiões. Em entrevista à revista Catolicismo, em agosto de 2000, o padre relata que as pessoas podem libertar-se da possessão com o exorcismo, que é uma oração oficial da Igreja, mas reservada aos exorcistas, que são pouquíssimos. Outra maneira, que é permitida a todos, são as orações de libertação.
Além da visão católica sobre o exorcismo, existe a ciência, como é o caso da parapsicologia, que visa discernir os fenômenos naturais e paranaturais dos de origem espiritual.
Nos EUA e na Europa tem crescido o interesse da população pelo ocultismo ou pelas ciências sobrenaturais. O grande número de livros publicados, artigos, cursos e palestras provam que não só o exorcismo, mas a reencarnação, a vida após a morte e temas ligados à espiritualidade despertam, cada vez mais, a atenção de um número maior de pessoas em todo o mundo.
CINEMA E TV
O exorcismo também virou tema de programas de TV. Em horário nobre e em rede nacional são exibidas cenas de fiéis “possuídos” e que são submetidos a rituais de exorcismo. Se são casos verídicos ou momentos de encenação de pseudo-atores cabe a cada um usar seu bom senso e perceber a verdade.
Não somente na TV, mas também nas telas do cinema, o exorcismo tem sido ao longo do tempo tema de vários filmes de terror e suspense produzidos em Hollywood. O filme O Exorcista foi baseado no livro de William Peter Blatty, de 1971. Segundo o autor, o livro foi baseado em um caso real de exorcismo, ocorrido nos EUA em 1949. Em breve será lançado o quarto episódio da série, que tem por título Exorcista: O Começo. Na verdade, a problemática da obsessão tem sido relatada na mídia de forma aterrorizante e macabra, o que, ao invés de levar esclarecimento, causa mais distorção da realidade.
A VISÃO ESPÍRITA
Segundo o espiritismo, a possessão não é um fenômeno sobrenatural, devido à atuação do demônio, mas sim, um processo que obedece a uma lei natural: a da sintonia mediúnica. A comunicação entre encarnados e desencarnados se manifesta por intermédio da mediunidade, muitas vezes mal conduzida. A atuação do “demônio”, é compreendida na doutrina espírita como a influência de espíritos perversos ou simplesmente desequilibrados sobre os encarnados. E mediante a lei da sintonia, isso significa que as pessoas atraem os afins. Essa influência pode se tornar tão grande a ponto de gerar um processo obsessivo. Sabe-se, também, que a obsessão pode se apresentar em diversos graus, ou seja, de uma obsessão simples a uma fascinação ou uma subjugação, que pode acarretar conseqüências muito mais graves se não tratada adequadamente. O capítulo XXIII de O Livro dos Médiuns, de Allan Kardec, traz explicações detalhadas e completas sobre os gêneros de obsessão e como identificá-las.
O capítulo XXVIII, de O Evangelho Segundo o Espiritismo, diz: “A obsessão é a ação persistente que um mau Espírito exerce sobre um indivíduo. Apresenta caracteres muito diferentes, desde a simples influência moral, sem sinais exteriores sensíveis, até a perturbação completa do organismo e das faculdades mentais”.
Os espíritos recomendam a prece, feita com sinceridade, como o mais poderoso antídoto contra os espíritos obsessores e, é claro, a reforma íntima. Transformando seus sentimentos e pensamentos, o obsediado deixará de ser perturbado por espíritos obsessores. Muitas vezes, para assegurar a libertação verdadeira, é preciso fazer brotar no espírito obsessor o arrependimento e o desejo de mudança. Este é o objetivo maior das sessões de desobsessão praticadas nos centros espíritas e umbandistas.
Diz a questão 477 de O Livro dos Espíritos: “As fórmulas de exorcismo não têm qualquer eficácia sobre os maus Espíritos?” “Não. Estes últimos riem e se obstinam, quando vêem alguém tomar isso a sério”.
Torna-se claro, por meio desses esclarecimentos contidos nas obras da codificação, de que nada adiantam os rituais de exorcismos se forem praticados de forma mecânica, sem fé e vontade sincera de libertação interior dos que procuram ajuda para os males do espírito.
UM CASO DE EXORCISMO
Por Hernani Guimarães Andrade
Boletim Médico-Espírita da AME-Brasil
Em agosto de 1973, foi comunicado ao Instituto Brasileiro de Pesquisas Psicobiofísicas - IBPP - um caso singular de poltergeist. O comunicante foi um sacerdote da Igreja Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, em São Paulo. Conhecemos este sacerdote há muitos anos. Trata-se de pessoa culta, inteligente e idônea. Entre suas atividades, ele pratica o exorcismo, para o que possui excepcional dom inato, tendo dado inúmeras provas de suas faculdades. O relato a nós fornecido é o seguinte.
Certa noite, o referido sacerdote foi acordado pelo administrador da Irmandade. Este fora despertado por insistentes batidas na porta da igreja. Ao descer para atender a pessoa que o procurava, o sacerdote deparou-se com um cidadão transtornado, de pijama e descalço. Este agarrou-se ao sacerdote e solicitou-lhe que fosse à sua casa, sem demora, pois lá estava se manifestando um caso de assombração!
O sacerdote procurou acalmá-lo, visando primeiro inteirar-se a respeito do que se passava realmente. Pediu ao homem para contar-lhe mais detalhadamente o que estava acontecendo em sua casa. A resposta foi a seguinte: “Desde a meia-noite, estão atirando tijolos nas paredes da sala de visitas...”
Antes que ele concluísse a sua narração, o sacerdote recomendou-lhe que chamasse a polícia. Aí o homem completou aflito: “Não vai resolver, pois a sala está completamente fechada, as janelas e as portas da casa estão trancadas, mas os tijolos aparecem lá dentro, batem nas paredes e caem espatifados no chão, Eu apanhei alguns pedaços e são os mesmos tijolos. Ajude-me pelo amor de Deus!”
O homem falava sinceramente, manifestando grande pavor e aflição. O sacerdote ainda quis demovê-lo da idéia de exorcizar a sua casa àquelas horas (eram quatro da madrugada). Prometeu que iria a sua residência assim que raiasse o dia. Mas o homem insistiu, disse que não voltaria para a casa sem o sacerdote, afirmando ficar ali na igreja o resto da madrugada e ir, pela manhã, junto com o sacerdote para resolver o caso. Diante da insistência, ele resolveu vestir-se, e foi ver o que se passava realmente. O homem morava na Vila das Mercês, e viera de lá a pé.
O sacerdote conta que, ao chegarem, encontrou no portão da casa a esposa e a filha do cidadão, ambas de camisola e tiritando de frio. Entraram, e realmente ele viu inúmeros pedaços de tijolos espalhados pelo chão da sala. Nas paredes viam-se marcas do impacto dos tijolos. Sendo um sensitivo bem treinado, o sacerdote sentiu arrepios característicos da presença de forças sutis que perpassavam pelo ambiente. Então, imediatamente iniciou as orações exorcistas e aguardou os acontecimentos.
Passaram-se longos minutos de expectativa, sem que acontecesse qualquer fenômeno. Finalmente, os fenômenos se reiniciaram, e os tijolos começaram a surgir e a espatifar-se contra as paredes. Após três ou quatro impactos, o sacerdote aprofundou as orações e, de acordo com o ritual exorcista, ordenou que o causador dos distúrbios se manifestasse. Em menos de um minuto, as tijoladas cessaram, o próprio dono da casa entrou em transe e começou a falar: “Eu sou o espírito Maria Luiza. Não poderia descansar em paz se não voltasse para dizer-lhes que a minha verdadeira mãe, aquela que me gerou, não está morta como vocês pensam. Ela está internada em um sanatório psiquiátrico no Estado do Rio de Janeiro, cidade tal, e registrada sob número tal, qualificada como de origem ignorada. Não fiquem tristes, porque vocês sempre me amaram como uma verdadeira filha e ainda os estimo como meus verdadeiros pais. Agora posso descansar em paz. Adeus e que Jesus os recompense; cuide bem da minha irmã Maria Antônia”.
Logo após, o referido senhor saiu do transe e perguntou o que estava acontecendo. Nisso, ele viu sua outra filha abraçada à sua esposa, chorando e dizendo: “Não, não, vocês são os meus verdadeiros pais”.
O sacerdote, a essa altura, já não estava entendendo mais nada. Foi preciso que o dono da casa, após ter sido cientificado do ocorrido, esclarecesse aquele drama: “Padre, uma das minhas irmãs teve a infelicidade de ser seduzida por um mau indivíduo. Após engravidá-la, abandonou-a. Como resultado, ela se desequilibrou totalmente e teve de ser internada em um sanatório psiquiátrico. Nasceram-lhe duas gêmeas: Maria Luiza e Maria Antônia. Como não tínhamos filhos, resolvemos registrar as crianças como nossas filhas.”
“Maria Luiza faleceu há três meses atrás. Minha irmã permaneceu oito anos sendo internada periodicamente em vários hospitais. Do último em que se encontrava, ela fugiu. Foram empreendidos intensos esforços e enumeras buscas para encontrá-la. Finalmente, não conseguindo mais localizar o seu próprio paradeiro, concluímos que provavelmente ela teria morrido. Muito tempo já se passou, pois a Maria Luiza – que faleceu há três meses – e a Maria Antônia já fizeram 16 anos.”
Todos estavam comovidos e choravam diante do que acabava de ser revelado pelo espírito Maria Luiza: aquele senhor e sua esposa eram, na realidade, os tios das gêmeas, fato que as garotas ignoravam totalmente. A verdade só foi revelada após a morte de uma delas. Paralelamente, o casal também ignorava que a mãe das meninas ainda estivesse viva.
O referido senhor procurou investigar a exatidão das informações fornecidas pelo espírito. Foi à Baixada Fluminense e, na cidade indicada, encontrou o hospital mencionado na comunicação. Uma vez ali, deu o número fornecido pelo espírito, e na ficha do arquivo realmente constava: “Origem e qualificações ignoradas”. Após falar com o diretor, foi -lhe permitido avistar-se com a paciente. Para seu espanto, reconheceu a irmã que fora dada como falecida e que, no entanto, se achava internada há mais de sete anos! Infelizmente, ela estava totalmente alienada e sem esperança de cura mental.
Esse caso é um fato verídico, cujos elementos comprobatórios foram-nos comunicados pelo sacerdote, pessoa de absoluta idoneidade. Apenas ocultamos os nomes dos protagonistas e os das meninas são pseudônimos. Agora, vamos à análise do caso.
Trata-se de um fenômeno típico denominado popularmente poltergeist. Vocábulo, este, de origem alemã e que significa “Espírito barulhento, desordeiro etc...”
A parapsicologia ortodoxa não aceita a interpretação embutida na palavra poltergeist. A maioria dos parapsicólogos nega qualquer possibilidade da ação de espíritos sugerida na conotação espiritualista contida na denominação desse fenômeno. Prefere a sigla RSPK (do inglês: Recurrent Spontaneous Psychokinesis), ou seja: “psicocinesia espontânea recorrente”. Em outras palavras, eles adotam uma posição materialista reducionista, isto é, atribuem os fenômenos de poltergeist à ação psicocinética de uma pessoa viva presente no local dos fenômenos. Essa pessoa acionaria inconscientemente os objetos, devido às suas faculdades paranormais psicocinéticas. Não aceitam a intervenção de agentes incorpóreos espirituais. A essa pessoa assim dotada e inconscientemente causadora dos fenômenos de poltergeist, dão o nome de epicentro.
De acordo com o posicionamento reducionista dos parapsicólogos, no episódio que acabamos de relatar, o da casa teria sido epicentro do fenômeno, pois o arremesso dos tijolos havia cessado enquanto ele esteve fora à procura do sacerdote. O poltergeist voltou à atividade novamente quando ele retornou à sala. Além disso, o referido senhor caiu em transe quando o exorcista ordenou que o “causador” dos fenômenos se manifestasse.
O estranho de tudo isso é o fato de, em lugar do “inconsciente” do epicentro se manifestar dizendo: “quem está aqui sou eu, o inconsciente do sr. Fulano de tal (o dono da casa)”, ele disse que era a finada Maria Luiza, justamente a gêmea falecida! Além disso, o “suposto inconsciente”, que se identificou como sendo o espírito Maria Luiza, sabia que a irmã do dono da casa ainda estava viva, e indicou o local onde ela poderia ser encontrada, fornecendo o nome da cidade, do hospital psiquiátrico, número e qualificação da interna! Coisas que o “consciente” do epicentro ignorava totalmente.
É verdade que não falta imaginação aos parapsicólogos reducionistas para criar as mais engenhosas teorias e assim enquadrarem tais fatos dentro dos estreitos limites de suas “crenças racionais”. Todavia, diante dos fatos, preferimos aceitá-los como eles são. Desse modo, ousamos propor uma tese que, igual direito, inclui a existência do espírito imortal, a sobrevivência da personalidade após a morte do corpo físico, e a possibilidade da comunicação do morto com o vivo.
REFORMA ÍNTIMA
Como podemos ver, nem sempre um espírito que se utiliza de meios grosseiros para chamar a atenção é um espírito perverso. Neste caso, o espírito que se manifestou teve, provavelmente, o apoio de espíritos superiores, que dominam as leis que regem o mundo atômico, desagregando e tornando a agregar moléculas. Não podemos nos esquecer que matéria é energia em estado condensado. Para obter maiores informações, leia a matéria sobre Apport e Endoport publicada na Revista Cristã de Espiritismo edição especial 05. O que fica claro é que o maior exorcismo que podemos praticar é a nossa iluminação interior, equilibrando sentimentos e pensamentos, harmonizando nossos hábitos e conduta no dia-a-dia a fim de garantirmos nossa saúde e paz espiritual, imunes às ações deletérias dos espíritos perversos, os “demônios”.
OS TIPOS DE OBSESSÃO
O Livro dos Médiuns - Cap. XIII
Obsessão simples: “Dá-se a obsessão simples, quando um espírito malfazejo se impõe a um médium, se imiscui, a seu mau grado, nas comunicações que ele recebe, o impede de se comunicar com outros Espíritos e se apresenta em lugar dos que são evocados.
Ninguém está obsidiado pelo simples fato de ser enganado por um Espírito mentiroso. O melhor médium se acha exposto a isso, sobretudo, no começo, quando ainda lhe falta a experiência necessária, so mesmo modo que, entre nós homens, os mais honestos podem ser enganados por velhacos. Pode-se, pois, ser enganado, sem estar obsidiado. A obsessão consiste na tenacidade de um Espírito, do qual não consegue desembaraçar-se a pessoa sobre quem ele atua”.
Fascinação: “Tem conseqüências muito mais graves. É uma ilusão produzida pela ação direta do Espírito sobre o pensamento do médium e que, de certa maneira, lhe paralisa o raciocínio, relativamente às comunicações. O médium fascinado não acredita que o estejam enganado: o Espírito tem a arte de lhe inspirar confiança cega, que o impede de ver o embuste e de compreender o absurdo do que escreve, ainda quando esse absurdo salte aos olhos de toda gente...
Já dissemos que muito mais graves são as conseqüências da fascinação. Efetivamente, graças à ilusão que dela decorre, o Espírito conduz o individuo de quem ele chegou a apoderar-se, como faria com um cego, e pode levá-lo a aceitar as doutrinas mais estranhas, as teorias mais falsas, como se fossem a única expressão da verdade”.
Subjugação: “Pode ser moral ou corporal. No primeiro caso, o subjugado é constrangido a tomar resoluções muitas vezes absurdas e comprometedoras que, por uma espécie de ilusão, ele julga sensatas: é como uma fascinação. No segundo caso, o Espírito atua sobre os órgãos materiais e provoca movimentos involuntários. Traduz-se, no médium escrevente, por uma necessidade incessante de escrever, ainda nos momentos menos oportunos. Vimos alguns que, à falta de pena ou lápis, simulavam escrever como o dedo, onde quer se encontrassem, mesmo nas ruas, nas portas, nas paredes.
Vai, às vezes, mais longe a subjugação corporal; pode levar aos mais ridículos atos”.
Outro ponto importante na doutrina espírita que se distingue, é que ao invés dos exorcismos praticados por sacerdotes escolhidos pela igreja católica ou pastores das congregações evangélicas, nos centros espíritas quem desenvolve esse trabalho são os médiuns, que nada mais são que trabalhadores de boa vontade auxiliados e intuídos por espíritos superiores e amigos. O atendimento especifico específico no tratamento de obsessão chama-se desobsessão e pode ocorrer na presença do assistido, como realizada à distância, sem com isso ser menos eficiente.
A PRÁTICA DO EXORCISMO (DESOBSESSÃO) SEGUNDO O ESPIRITISMO
O Livro dos Médiuns – Cap. V
“[...] Assim, quando um objeto é posto em movimento, levantado ou atirado para o ar, não é que o Espírito o tome, empurre e suspenda, como o faríamos coma mão. O Espírito o satura, por assim dizer, do seu fluido, combinado com o do médium, e o objeto, momentaneamente vivificada desta maneira, obra como o faria um ser vivo, com a diferença apenas de que, não tendo vontade própria, segue o impulso que lhe dá a vontade do Espírito.
Pois que o fluido vital, que o Espírito, de certo modo, emite, dá vida factícia e momentânea aos corpos inertes; pois que o perispírito não é mais do que esse mesmo fluido vital, segue-se que, quando o Espírito está encarnado, é ele próprio quem dá vida ao seu corpo, por meio do seu corpo, por meio do seu perispírito, conversando-se unido a esse corpo, enquanto a organização deste o permite. Quando se retira, o corpo morre. Agora, se, em vez de uma mesa, teremos uma estatua de uma estátua de madeira e sobre ela atuarmos, como sobre a mesa, teremos uma estátua que se moverá, que baterá, que responderá com os seus movimentos e pancadas. Teremos, em suma, uma estatua animada momentaneamente de uma vida artificial. Em lugar de mesas falantes, ter-se-iam estátuas falantes. Quanta luz esta teoria não projeta sobre uma imensidade de fenômenos até agora sem solução!
Quantas alegorias e efeitos misteriosos ela não explica! [...]”
Em geral, é um erro ter-se medo. A presença desses Espíritos pode ser importuna, porém, não perigosa, aliás, que toda gente deseja ver-se livre deles; mas, geralmente, as que isso desejam fazem o contrário do que isso desejam fazem o contrário do que deveriam fazer para consegui-lo. Se se trata de Espíritos que se tomarem as coisas, tanto mais eles persistirão, como crianças travessas, que tanto mais molestam as pessoas, quanto mais estas se impacientam, e que metem medo aos poltrões. Se todos tomassem o alvitre sensato de rir das suas partidas, eles acabariam por se cansar e ficar quietos. Conhecemos alguém que, longe de se irritar, os excitava, desafinado-os a fazerem tal ou tal coisa, de modo que, ao cabo de poucos dias, não mais voltaram.
Porém, como dissemos acima, alguns há que assim procedem por motivo menos frívolo. Daí vem que é sempre bom saber-se o que querem. Se pedem qualquer coisa, pode-se estar certo de que, satisfeitos os seus desejos, não renovarão as visitas. O melhor meio de nos informarmos a tal respeito consiste em evocarmos o Espírito, por um bom médium escrevente. Pelas suas respostas, veremos imediatamente com quem estamos às voltas e obraremos de conformidade com o esclarecimento colhido.
Se se trata de um Espírito infeliz, manda a caridade que lhe dispensemos as atenções que mereça. Se é um engraçado de mau gosto, podemos proceder desembaraçadamente com ele. Se um malvado, devemos rogar a Deus que o torne melhor. Qualquer que seja o caso, a prece nunca deixa de dar bom resultado. As fórmulas graves de exorcismo, essas os fazem rir; nenhuma importância lhes ligam. Sendo possível entrar em comunicação com eles, deve-se sempre desconfiar dos qualificativos burlescos, ou apavorantes, que dão a si mesmos, para se divertirem com a credulidade dos que acolhem como verdadeiros tais qualificativos. [...]”
A palavra exorcismo significa oração e cerimônia religiosa com que se esconjura o demônio, os espíritos maus etc.
Nas culturas egípcia, babilônica e judaica, um grande número de doenças e calamidades eram atribuídas à ação dos demônios, sendo que o exorcismo era adotado como um dos meios de afastá-los.
Com o reconhecimento oficial do cristianismo pelo imperador Constantino, os exorcismos, realizados informalmente por qualquer cristão, foram institucionalizados. Segundo a Igreja Católica Apostólica Romana, os métodos para afastar o “diabo” do possesso teriam sido ensinados por Jesus Cristo aos seus discípulos. Os métodos adotados são vários, tais como a utilização da água benta, imposição das mãos, conjurações, sinais da cruz, orações, salmos, cânticos, entre outros.
A Idade Média é conhecida como um período de medo e perseguições a todos aqueles que contradiziam os princípios da Igreja. Os chamados feiticeiros e bruxos foram punidos e queimados nos Tribunais da Inquisição e qualquer traço que fosse considerado como paganismo era combatido rigorosamente, a fim de manter a todo custo o monopólio da cultura que lhe era ideal e que não violasse seu poder político e religioso. Aplicava-se, além dos métodos tradicionais de exorcismo, chicotadas e até a pena de morte na fogueira. O caso mais famoso é o da médium Joana D’Arc, considerada bruxa.
Embora a Igreja Católica sempre tenha afirmado a existência das possessões, para os mais ortodoxos, os exorcismos ordinários ainda são práticas raríssimas e só permitidas mediante permissão episcopal a sacerdotes muito experientes, pois acreditam que Jesus tenha confiado autoridade espiritual à Igreja para libertar as pessoas do domínio das forças malignas. Somente na ausência de um sacerdote é que uma pessoa leiga poderia realizar o exorcismo, claro que com a permissão do clero. Para tanto, crêem ser fundamental, antes de dar início ao ritual, certificar-se de que se trata mesmo da presença do demônio e não de uma doença, principalmente psíquica, cujo cuidado pertence à ciência médica.
Por outro lado, com o passar dos séculos, surgiram correntes mais liberais, como é o caso do movimento carismático, que permite o exorcismo como uma prática mais constante.
OS DEMÔNIOS
Na visão católica, os demônios representam anjos caídos por causa do pecado, providos de grande inteligência e poder, que utilizam a astúcia para desviar a humanidade do caminho de Deus.
A tentação e a expulsão de Adão do paraíso, narrada pelo Antigo Testamento, reconhece a atuação do demônio na figura sagaz da serpente. Mas é no Novo Testamento que se encontram as referências aos chamados exorcismos, praticados por Jesus e seus discípulos. As citações referem-se à expulsão maléfica do corpo de possessos, e da cura de enfermidades atribuídas à ação do demônio. Os exorcismos, realizados pelos evangelistas, aparecem como forma ilustrativa da vitória de Jesus sobre Satanás, ou seja, do bem contra o mal. Na verdade, a Igreja distorceu a idéia do demônio, cuja origem vem do termo grego daimon, que significa espírito, gênio. Ou seja, não tem nenhuma relação com um ser maligno.
NA ERA MODERNA
O racionalismo do século XVIII conseguiu explicar muitos mistérios supostamente sobrenaturais, o que se intensificou com a utilização do hipnotismo e da psicologia no século XIX. Felizmente, a liberdade de expressão evoluiu junto com a humanidade. Diversas correntes de pensamentos e religiões puderam manifestar-se com mais liberdade.
No novo século, tanto a Igreja Católica, quanto algumas denominações protestantes admitem exorcismos ordinários. Um dos padres exorcistas mais famosos da atualidade é Gabriele Amorth, com três livros publicados sobre o assunto, entre eles Um Exorcista conta-nos, escrito em 1990 e traduzido para 94 idiomas. O padre é considerado uma grande autoridade em exorcismo. Ele diz que os exorcistas fazem parte da história da humanidade e que a influência diabólica aparece em todas as religiões. Em entrevista à revista Catolicismo, em agosto de 2000, o padre relata que as pessoas podem libertar-se da possessão com o exorcismo, que é uma oração oficial da Igreja, mas reservada aos exorcistas, que são pouquíssimos. Outra maneira, que é permitida a todos, são as orações de libertação.
Além da visão católica sobre o exorcismo, existe a ciência, como é o caso da parapsicologia, que visa discernir os fenômenos naturais e paranaturais dos de origem espiritual.
Nos EUA e na Europa tem crescido o interesse da população pelo ocultismo ou pelas ciências sobrenaturais. O grande número de livros publicados, artigos, cursos e palestras provam que não só o exorcismo, mas a reencarnação, a vida após a morte e temas ligados à espiritualidade despertam, cada vez mais, a atenção de um número maior de pessoas em todo o mundo.
CINEMA E TV
O exorcismo também virou tema de programas de TV. Em horário nobre e em rede nacional são exibidas cenas de fiéis “possuídos” e que são submetidos a rituais de exorcismo. Se são casos verídicos ou momentos de encenação de pseudo-atores cabe a cada um usar seu bom senso e perceber a verdade.
Não somente na TV, mas também nas telas do cinema, o exorcismo tem sido ao longo do tempo tema de vários filmes de terror e suspense produzidos em Hollywood. O filme O Exorcista foi baseado no livro de William Peter Blatty, de 1971. Segundo o autor, o livro foi baseado em um caso real de exorcismo, ocorrido nos EUA em 1949. Em breve será lançado o quarto episódio da série, que tem por título Exorcista: O Começo. Na verdade, a problemática da obsessão tem sido relatada na mídia de forma aterrorizante e macabra, o que, ao invés de levar esclarecimento, causa mais distorção da realidade.
A VISÃO ESPÍRITA
Segundo o espiritismo, a possessão não é um fenômeno sobrenatural, devido à atuação do demônio, mas sim, um processo que obedece a uma lei natural: a da sintonia mediúnica. A comunicação entre encarnados e desencarnados se manifesta por intermédio da mediunidade, muitas vezes mal conduzida. A atuação do “demônio”, é compreendida na doutrina espírita como a influência de espíritos perversos ou simplesmente desequilibrados sobre os encarnados. E mediante a lei da sintonia, isso significa que as pessoas atraem os afins. Essa influência pode se tornar tão grande a ponto de gerar um processo obsessivo. Sabe-se, também, que a obsessão pode se apresentar em diversos graus, ou seja, de uma obsessão simples a uma fascinação ou uma subjugação, que pode acarretar conseqüências muito mais graves se não tratada adequadamente. O capítulo XXIII de O Livro dos Médiuns, de Allan Kardec, traz explicações detalhadas e completas sobre os gêneros de obsessão e como identificá-las.
O capítulo XXVIII, de O Evangelho Segundo o Espiritismo, diz: “A obsessão é a ação persistente que um mau Espírito exerce sobre um indivíduo. Apresenta caracteres muito diferentes, desde a simples influência moral, sem sinais exteriores sensíveis, até a perturbação completa do organismo e das faculdades mentais”.
Os espíritos recomendam a prece, feita com sinceridade, como o mais poderoso antídoto contra os espíritos obsessores e, é claro, a reforma íntima. Transformando seus sentimentos e pensamentos, o obsediado deixará de ser perturbado por espíritos obsessores. Muitas vezes, para assegurar a libertação verdadeira, é preciso fazer brotar no espírito obsessor o arrependimento e o desejo de mudança. Este é o objetivo maior das sessões de desobsessão praticadas nos centros espíritas e umbandistas.
Diz a questão 477 de O Livro dos Espíritos: “As fórmulas de exorcismo não têm qualquer eficácia sobre os maus Espíritos?” “Não. Estes últimos riem e se obstinam, quando vêem alguém tomar isso a sério”.
Torna-se claro, por meio desses esclarecimentos contidos nas obras da codificação, de que nada adiantam os rituais de exorcismos se forem praticados de forma mecânica, sem fé e vontade sincera de libertação interior dos que procuram ajuda para os males do espírito.
UM CASO DE EXORCISMO
Por Hernani Guimarães Andrade
Boletim Médico-Espírita da AME-Brasil
Em agosto de 1973, foi comunicado ao Instituto Brasileiro de Pesquisas Psicobiofísicas - IBPP - um caso singular de poltergeist. O comunicante foi um sacerdote da Igreja Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, em São Paulo. Conhecemos este sacerdote há muitos anos. Trata-se de pessoa culta, inteligente e idônea. Entre suas atividades, ele pratica o exorcismo, para o que possui excepcional dom inato, tendo dado inúmeras provas de suas faculdades. O relato a nós fornecido é o seguinte.
Certa noite, o referido sacerdote foi acordado pelo administrador da Irmandade. Este fora despertado por insistentes batidas na porta da igreja. Ao descer para atender a pessoa que o procurava, o sacerdote deparou-se com um cidadão transtornado, de pijama e descalço. Este agarrou-se ao sacerdote e solicitou-lhe que fosse à sua casa, sem demora, pois lá estava se manifestando um caso de assombração!
O sacerdote procurou acalmá-lo, visando primeiro inteirar-se a respeito do que se passava realmente. Pediu ao homem para contar-lhe mais detalhadamente o que estava acontecendo em sua casa. A resposta foi a seguinte: “Desde a meia-noite, estão atirando tijolos nas paredes da sala de visitas...”
Antes que ele concluísse a sua narração, o sacerdote recomendou-lhe que chamasse a polícia. Aí o homem completou aflito: “Não vai resolver, pois a sala está completamente fechada, as janelas e as portas da casa estão trancadas, mas os tijolos aparecem lá dentro, batem nas paredes e caem espatifados no chão, Eu apanhei alguns pedaços e são os mesmos tijolos. Ajude-me pelo amor de Deus!”
O homem falava sinceramente, manifestando grande pavor e aflição. O sacerdote ainda quis demovê-lo da idéia de exorcizar a sua casa àquelas horas (eram quatro da madrugada). Prometeu que iria a sua residência assim que raiasse o dia. Mas o homem insistiu, disse que não voltaria para a casa sem o sacerdote, afirmando ficar ali na igreja o resto da madrugada e ir, pela manhã, junto com o sacerdote para resolver o caso. Diante da insistência, ele resolveu vestir-se, e foi ver o que se passava realmente. O homem morava na Vila das Mercês, e viera de lá a pé.
O sacerdote conta que, ao chegarem, encontrou no portão da casa a esposa e a filha do cidadão, ambas de camisola e tiritando de frio. Entraram, e realmente ele viu inúmeros pedaços de tijolos espalhados pelo chão da sala. Nas paredes viam-se marcas do impacto dos tijolos. Sendo um sensitivo bem treinado, o sacerdote sentiu arrepios característicos da presença de forças sutis que perpassavam pelo ambiente. Então, imediatamente iniciou as orações exorcistas e aguardou os acontecimentos.
Passaram-se longos minutos de expectativa, sem que acontecesse qualquer fenômeno. Finalmente, os fenômenos se reiniciaram, e os tijolos começaram a surgir e a espatifar-se contra as paredes. Após três ou quatro impactos, o sacerdote aprofundou as orações e, de acordo com o ritual exorcista, ordenou que o causador dos distúrbios se manifestasse. Em menos de um minuto, as tijoladas cessaram, o próprio dono da casa entrou em transe e começou a falar: “Eu sou o espírito Maria Luiza. Não poderia descansar em paz se não voltasse para dizer-lhes que a minha verdadeira mãe, aquela que me gerou, não está morta como vocês pensam. Ela está internada em um sanatório psiquiátrico no Estado do Rio de Janeiro, cidade tal, e registrada sob número tal, qualificada como de origem ignorada. Não fiquem tristes, porque vocês sempre me amaram como uma verdadeira filha e ainda os estimo como meus verdadeiros pais. Agora posso descansar em paz. Adeus e que Jesus os recompense; cuide bem da minha irmã Maria Antônia”.
Logo após, o referido senhor saiu do transe e perguntou o que estava acontecendo. Nisso, ele viu sua outra filha abraçada à sua esposa, chorando e dizendo: “Não, não, vocês são os meus verdadeiros pais”.
O sacerdote, a essa altura, já não estava entendendo mais nada. Foi preciso que o dono da casa, após ter sido cientificado do ocorrido, esclarecesse aquele drama: “Padre, uma das minhas irmãs teve a infelicidade de ser seduzida por um mau indivíduo. Após engravidá-la, abandonou-a. Como resultado, ela se desequilibrou totalmente e teve de ser internada em um sanatório psiquiátrico. Nasceram-lhe duas gêmeas: Maria Luiza e Maria Antônia. Como não tínhamos filhos, resolvemos registrar as crianças como nossas filhas.”
“Maria Luiza faleceu há três meses atrás. Minha irmã permaneceu oito anos sendo internada periodicamente em vários hospitais. Do último em que se encontrava, ela fugiu. Foram empreendidos intensos esforços e enumeras buscas para encontrá-la. Finalmente, não conseguindo mais localizar o seu próprio paradeiro, concluímos que provavelmente ela teria morrido. Muito tempo já se passou, pois a Maria Luiza – que faleceu há três meses – e a Maria Antônia já fizeram 16 anos.”
Todos estavam comovidos e choravam diante do que acabava de ser revelado pelo espírito Maria Luiza: aquele senhor e sua esposa eram, na realidade, os tios das gêmeas, fato que as garotas ignoravam totalmente. A verdade só foi revelada após a morte de uma delas. Paralelamente, o casal também ignorava que a mãe das meninas ainda estivesse viva.
O referido senhor procurou investigar a exatidão das informações fornecidas pelo espírito. Foi à Baixada Fluminense e, na cidade indicada, encontrou o hospital mencionado na comunicação. Uma vez ali, deu o número fornecido pelo espírito, e na ficha do arquivo realmente constava: “Origem e qualificações ignoradas”. Após falar com o diretor, foi -lhe permitido avistar-se com a paciente. Para seu espanto, reconheceu a irmã que fora dada como falecida e que, no entanto, se achava internada há mais de sete anos! Infelizmente, ela estava totalmente alienada e sem esperança de cura mental.
Esse caso é um fato verídico, cujos elementos comprobatórios foram-nos comunicados pelo sacerdote, pessoa de absoluta idoneidade. Apenas ocultamos os nomes dos protagonistas e os das meninas são pseudônimos. Agora, vamos à análise do caso.
Trata-se de um fenômeno típico denominado popularmente poltergeist. Vocábulo, este, de origem alemã e que significa “Espírito barulhento, desordeiro etc...”
A parapsicologia ortodoxa não aceita a interpretação embutida na palavra poltergeist. A maioria dos parapsicólogos nega qualquer possibilidade da ação de espíritos sugerida na conotação espiritualista contida na denominação desse fenômeno. Prefere a sigla RSPK (do inglês: Recurrent Spontaneous Psychokinesis), ou seja: “psicocinesia espontânea recorrente”. Em outras palavras, eles adotam uma posição materialista reducionista, isto é, atribuem os fenômenos de poltergeist à ação psicocinética de uma pessoa viva presente no local dos fenômenos. Essa pessoa acionaria inconscientemente os objetos, devido às suas faculdades paranormais psicocinéticas. Não aceitam a intervenção de agentes incorpóreos espirituais. A essa pessoa assim dotada e inconscientemente causadora dos fenômenos de poltergeist, dão o nome de epicentro.
De acordo com o posicionamento reducionista dos parapsicólogos, no episódio que acabamos de relatar, o da casa teria sido epicentro do fenômeno, pois o arremesso dos tijolos havia cessado enquanto ele esteve fora à procura do sacerdote. O poltergeist voltou à atividade novamente quando ele retornou à sala. Além disso, o referido senhor caiu em transe quando o exorcista ordenou que o “causador” dos fenômenos se manifestasse.
O estranho de tudo isso é o fato de, em lugar do “inconsciente” do epicentro se manifestar dizendo: “quem está aqui sou eu, o inconsciente do sr. Fulano de tal (o dono da casa)”, ele disse que era a finada Maria Luiza, justamente a gêmea falecida! Além disso, o “suposto inconsciente”, que se identificou como sendo o espírito Maria Luiza, sabia que a irmã do dono da casa ainda estava viva, e indicou o local onde ela poderia ser encontrada, fornecendo o nome da cidade, do hospital psiquiátrico, número e qualificação da interna! Coisas que o “consciente” do epicentro ignorava totalmente.
É verdade que não falta imaginação aos parapsicólogos reducionistas para criar as mais engenhosas teorias e assim enquadrarem tais fatos dentro dos estreitos limites de suas “crenças racionais”. Todavia, diante dos fatos, preferimos aceitá-los como eles são. Desse modo, ousamos propor uma tese que, igual direito, inclui a existência do espírito imortal, a sobrevivência da personalidade após a morte do corpo físico, e a possibilidade da comunicação do morto com o vivo.
REFORMA ÍNTIMA
Como podemos ver, nem sempre um espírito que se utiliza de meios grosseiros para chamar a atenção é um espírito perverso. Neste caso, o espírito que se manifestou teve, provavelmente, o apoio de espíritos superiores, que dominam as leis que regem o mundo atômico, desagregando e tornando a agregar moléculas. Não podemos nos esquecer que matéria é energia em estado condensado. Para obter maiores informações, leia a matéria sobre Apport e Endoport publicada na Revista Cristã de Espiritismo edição especial 05. O que fica claro é que o maior exorcismo que podemos praticar é a nossa iluminação interior, equilibrando sentimentos e pensamentos, harmonizando nossos hábitos e conduta no dia-a-dia a fim de garantirmos nossa saúde e paz espiritual, imunes às ações deletérias dos espíritos perversos, os “demônios”.
OS TIPOS DE OBSESSÃO
O Livro dos Médiuns - Cap. XIII
Obsessão simples: “Dá-se a obsessão simples, quando um espírito malfazejo se impõe a um médium, se imiscui, a seu mau grado, nas comunicações que ele recebe, o impede de se comunicar com outros Espíritos e se apresenta em lugar dos que são evocados.
Ninguém está obsidiado pelo simples fato de ser enganado por um Espírito mentiroso. O melhor médium se acha exposto a isso, sobretudo, no começo, quando ainda lhe falta a experiência necessária, so mesmo modo que, entre nós homens, os mais honestos podem ser enganados por velhacos. Pode-se, pois, ser enganado, sem estar obsidiado. A obsessão consiste na tenacidade de um Espírito, do qual não consegue desembaraçar-se a pessoa sobre quem ele atua”.
Fascinação: “Tem conseqüências muito mais graves. É uma ilusão produzida pela ação direta do Espírito sobre o pensamento do médium e que, de certa maneira, lhe paralisa o raciocínio, relativamente às comunicações. O médium fascinado não acredita que o estejam enganado: o Espírito tem a arte de lhe inspirar confiança cega, que o impede de ver o embuste e de compreender o absurdo do que escreve, ainda quando esse absurdo salte aos olhos de toda gente...
Já dissemos que muito mais graves são as conseqüências da fascinação. Efetivamente, graças à ilusão que dela decorre, o Espírito conduz o individuo de quem ele chegou a apoderar-se, como faria com um cego, e pode levá-lo a aceitar as doutrinas mais estranhas, as teorias mais falsas, como se fossem a única expressão da verdade”.
Subjugação: “Pode ser moral ou corporal. No primeiro caso, o subjugado é constrangido a tomar resoluções muitas vezes absurdas e comprometedoras que, por uma espécie de ilusão, ele julga sensatas: é como uma fascinação. No segundo caso, o Espírito atua sobre os órgãos materiais e provoca movimentos involuntários. Traduz-se, no médium escrevente, por uma necessidade incessante de escrever, ainda nos momentos menos oportunos. Vimos alguns que, à falta de pena ou lápis, simulavam escrever como o dedo, onde quer se encontrassem, mesmo nas ruas, nas portas, nas paredes.
Vai, às vezes, mais longe a subjugação corporal; pode levar aos mais ridículos atos”.
Outro ponto importante na doutrina espírita que se distingue, é que ao invés dos exorcismos praticados por sacerdotes escolhidos pela igreja católica ou pastores das congregações evangélicas, nos centros espíritas quem desenvolve esse trabalho são os médiuns, que nada mais são que trabalhadores de boa vontade auxiliados e intuídos por espíritos superiores e amigos. O atendimento especifico específico no tratamento de obsessão chama-se desobsessão e pode ocorrer na presença do assistido, como realizada à distância, sem com isso ser menos eficiente.
A PRÁTICA DO EXORCISMO (DESOBSESSÃO) SEGUNDO O ESPIRITISMO
O Livro dos Médiuns – Cap. V
“[...] Assim, quando um objeto é posto em movimento, levantado ou atirado para o ar, não é que o Espírito o tome, empurre e suspenda, como o faríamos coma mão. O Espírito o satura, por assim dizer, do seu fluido, combinado com o do médium, e o objeto, momentaneamente vivificada desta maneira, obra como o faria um ser vivo, com a diferença apenas de que, não tendo vontade própria, segue o impulso que lhe dá a vontade do Espírito.
Pois que o fluido vital, que o Espírito, de certo modo, emite, dá vida factícia e momentânea aos corpos inertes; pois que o perispírito não é mais do que esse mesmo fluido vital, segue-se que, quando o Espírito está encarnado, é ele próprio quem dá vida ao seu corpo, por meio do seu corpo, por meio do seu perispírito, conversando-se unido a esse corpo, enquanto a organização deste o permite. Quando se retira, o corpo morre. Agora, se, em vez de uma mesa, teremos uma estatua de uma estátua de madeira e sobre ela atuarmos, como sobre a mesa, teremos uma estátua que se moverá, que baterá, que responderá com os seus movimentos e pancadas. Teremos, em suma, uma estatua animada momentaneamente de uma vida artificial. Em lugar de mesas falantes, ter-se-iam estátuas falantes. Quanta luz esta teoria não projeta sobre uma imensidade de fenômenos até agora sem solução!
Quantas alegorias e efeitos misteriosos ela não explica! [...]”
Em geral, é um erro ter-se medo. A presença desses Espíritos pode ser importuna, porém, não perigosa, aliás, que toda gente deseja ver-se livre deles; mas, geralmente, as que isso desejam fazem o contrário do que isso desejam fazem o contrário do que deveriam fazer para consegui-lo. Se se trata de Espíritos que se tomarem as coisas, tanto mais eles persistirão, como crianças travessas, que tanto mais molestam as pessoas, quanto mais estas se impacientam, e que metem medo aos poltrões. Se todos tomassem o alvitre sensato de rir das suas partidas, eles acabariam por se cansar e ficar quietos. Conhecemos alguém que, longe de se irritar, os excitava, desafinado-os a fazerem tal ou tal coisa, de modo que, ao cabo de poucos dias, não mais voltaram.
Porém, como dissemos acima, alguns há que assim procedem por motivo menos frívolo. Daí vem que é sempre bom saber-se o que querem. Se pedem qualquer coisa, pode-se estar certo de que, satisfeitos os seus desejos, não renovarão as visitas. O melhor meio de nos informarmos a tal respeito consiste em evocarmos o Espírito, por um bom médium escrevente. Pelas suas respostas, veremos imediatamente com quem estamos às voltas e obraremos de conformidade com o esclarecimento colhido.
Se se trata de um Espírito infeliz, manda a caridade que lhe dispensemos as atenções que mereça. Se é um engraçado de mau gosto, podemos proceder desembaraçadamente com ele. Se um malvado, devemos rogar a Deus que o torne melhor. Qualquer que seja o caso, a prece nunca deixa de dar bom resultado. As fórmulas graves de exorcismo, essas os fazem rir; nenhuma importância lhes ligam. Sendo possível entrar em comunicação com eles, deve-se sempre desconfiar dos qualificativos burlescos, ou apavorantes, que dão a si mesmos, para se divertirem com a credulidade dos que acolhem como verdadeiros tais qualificativos. [...]”
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