domingo, 13 de novembro de 2016

COMO CAPTURAR UM GNOMO

Poucos sabem, mas Malleo é um ser observador, racional, inventivo e cruel. Ele sabe muitas coisas interessantes. Ele sabe até por que os cogumelos crescem formando círculos quase perfeitos no chão dos bosques; ele sabe que eles não o fazem sob o encantamento de fadas como poderiam acreditar os antigos habitantes daquele lugar... Existe uma explicação racional para o fenômeno. Os cogumelos formam círculos quase perfeitos simplesmente porque as "raízes" deles - as raízes que originam outros cogumelos - crescem sob a terra na mesma velocidade e em todas as direções... Mas pensando nesse fato e observando as formas de um cogumelo, Malleo inventou uma armadilha para capturar Gnomos. O método foi baseado no conhecimento que ele tinha a respeito dos hábitos da criatura e também no seu conhecimento a respeito das peculiaridades da natureza que o rodeia. Malleo sabia qual dos cogumelo provoca a sombra preferida pelos gnomos para tirar uma boa soneca e também sabia como o chapéu do cogumelo interage com as gotas de chuva.... Então, usando estes seus conhecimentos, ele rapidamente elaborou o seu plano: bastava pegar aquelas sementes que preparara utilizando as suas habilidades mágicas e colocá-las bem no topo do chapéu do cogumelo. Depois disso era só esperar o gnomo aparecer... Quando a criatura estivesse dormindo sob o cogumelo, as sementes começariam a inchar como se estivessem prestes a germinar. Isto faria elas começarem a se mover e revelaria que estavam dispostas do modo exato para caírem, rolarem sobre a superfície curva do cogumelo e atingirem o chão de forma a rodear o pequeno ser adormecido. Uma vez no chão, as sementes germinariam numa velocidade surpreendente e os novos arbustos cresceriam verticalmente como grades - os arbustos cresceriam formando com o chapéu do cogumelo uma gaiola perfeita... Assim a frágil criatura ficaria presa e poderia facilmente ser capturada. Tudo era tão sutil que Malleo não teve dúvidas de que a armadilha era ideal para capturar gnomos. Ele sabia que seres sobrenaturais como os gnomos podem pressentir quase tudo que se trame contra eles, mas jamais poderiam perceber uma armadilha como aquela... Porém no dia em que a engenhosa armadilha seria usada algo estranho aconteceu. Já estava tudo no jeito e nada da criatura aparecer... Era muito estranho, mas o Gnomo não apareceu para dormir sob o seu cogumelo preferido. Então Malleo resolveu dar uma olhada pelo bosque para tentar descobrir o que acontecera e acabou encontrando a criatura cochilando encostada num pequeno cogumelo. Parecia que o gnomo tinha pressentido o perigo e desistira de dormir no seu lugar habitual. Porém, como não estava acostumado a ficar acordado por tanto tempo, ele ficou com muita vontade de dormir e, quando já estava quase desmaiando de sono, acabou se encostando num pequeno cogumelo e adormecendo ali mesmo... O gnomo simplesmente aconchegou a cabeça no chapéu do cogumelo, jogou o gorro para o outro lado e adormeceu em pé. Então, no cenário bonito e tranqüilo, agora podia se ver aquela cena interessante: a cabeça do gnomo repousava suavemente sobre o chapéu do pequeno cogumelo enquanto o seu gorro comprido curvava-se sobre a superfície arredondada até o pequeno pompom branco e macio da ponta dele ficar suspenso no espaço do outro lado... Malleo olhou desconfiado para extremidade do gorro da criatura adormecida e aquele pompom lhe pareceu uma pequena semente. Então imediatamente, ele percebeu uma estranha coincidência: o pompom da ponta do gorro do Gnomo estava exatamente naquele local – justamente na posição em que estaria uma dada semente da armadilha quando ela deixasse de rolar sobre a superfície e caísse no vazio. Então Malleo começou a pensar no seu plano, um plano engenhoso e fantástico que não ia mais ser posto em ação. Ele sentiu um pouco de tristeza... Ele pensou nas sementes rolando sobre o cogumelo, depois as imaginou caindo e formando um círculo perfeito ao longo do qual os arbustos cresceriam compondo uma verdadeira cela com o cogumelo... Mas como não podia fazer mais nada para pegar a pequena criatura, Malleo foi pouco a pouco se conformando. Na verdade ninguém nunca tinha conseguido capturar um gnomo; era um feito que, na verdade, quase todo mundo acreditava ser impossível. Então ele não tinha porque ficar aborrecido. O mais sensato a fazer agora era ir embora dali e esquecer que perdera seu tempo tentando capturar a criatura grotesca. Malleo no fundo sabia que tinha fracassado. Porém isto era compreensível. Era mesmo uma tarefa extremamente difícil... Mas, quando já ia embora, ele resolveu dar uma última olhada para trás e, no momento em que viu novamente aquela cena, alguma coisa se acendeu em sua mente... "Por que o pequeno pompom da ponta do gorro do gnomo tinha que ficar justamente ali na borda do chapéu do cogumelo?" Ele pensou... Era muita coincidência. Parecia até que o Gnomo tinha feito aquilo justamente para provocá-lo. Mas foi justamente aquilo que mostrou que existia um jeito mais cruel para se capturar a criatura grotesca: era só colocar apenas uma pequena semente esbranquiçada no topo do chapéu do cogumelo e esperar... O gnomo logo apareceria para tirar o seu cochilo habitual. Mas desta vez, ao se aproximar, ele ainda estaria desconfiado e verificaria cuidadosamente o topo do cogumelo. Ao ver apenas aquele pequeno ponto no topo do seu cogumelo preferido ele não desconfiaria de nada. Aquilo não pareceria ser nada perigoso. Apenas uma semente não poderia cair e criar uma linha de grades para aprisioná-lo sob o cogumelo. Então, quando a criatura adormecesse, algo na pequena semente esbranquiçada começaria a germinar e por meio de algum feitiço agiria sobre a mente do gnomo. O gnomo acordaria assustado como se percebesse a aproximação de algum perigo, entretanto um estranho sentimento o impediria de fugir. Ele teria a terrível sensação de que a pequena semente acima de sua cabeça se tornara algo extremamente pesado e que poderia rolar em qualquer direção para atingi-lo exatamente no instante em que ele estivesse tentando sair de debaixo do cogumelo. Ele acreditaria que a pequena semente cairia como se fosse uma pedra que racharia facilmente o seu crânio. O pequeno gnomo teria a certeza de que a semente rolaria na direção exata para atingi-lo justamente quando estivesse tentando abandonar o cogumelo. Então este medo irracional o impediria de tomar coragem para sair dali. Em pânico, ele andaria de um lado para o outro sob o cogumelo; andaria em círculos ao redor do cabo do cogumelo; moveria agitado de um lado para o outro sem sair de debaixo do cogumelo; ele ficaria como um passarinho que acabara de cair no alçapão: correria de um lado para o outro sob o cogumelo como se grades de verdade o mantivessem preso enquanto Malleo se aproximaria para capturá-lo.

Foi no fim de uma manhã iluminada que Malleo se aproximou do cogumelo que provocava a sombra preferida pelos gnomos. Ele tirou do bolso uma pequeno cacho de sementes brancas e escolheu aquela que lhe pareceu a melhor e, quando já ia arrancá-la do minúsculo cacho para colocá-la bem no topo do cogumelo, ele teve outra idéia. Ele resolveu colocar o cacho inteiro no topo do cogumelo. Assim, se o plano de uma delas agir sobre a mente da criatura não desse certo, elas ainda poderiam se desprender do cacho, rolar e cair formando um círculo de grades ao redor do gnomo como no plano anterior. Aquele cacho parecido com um pompom era tão pequeno que era como uma única semente. Então o gnomo não desconfiaria que ele era parte de uma armadilha maliciosa.

Depois que a armadilha ficou pronta, não demorou muito para a criaturinha aparecer e, como Malleo previra, ela não se incomodou com o pequeno ponto esbranquiçado no topo do chapéu do cogumelo. O monstrinho chegou, sentou sob o cogumelo, repousou a sua cabeça próxima ao caule, retirou as botas e adormeceu. Escondido próximo do cogumelo, Malleo logo percebeu que as duas pequenas botas que o gnomo descalçara ficaram nos limites da sombra do cogumelo. Malleo ficou preocupado. Se as sementes rolassem para formar o círculo de grades, duas delas poderia cair dentro das botas e, então, não germinariam, deixando assim um buraco para o gnomo fugir. Porém olhando mais atentamente, ele percebeu que seria necessário que duas das sementes caíssem dentro das botas para que o círculo ficasse com duas grades a menos e formasse uma fresta suficientemente larga para a criatura escapar. Então Malleo concluiu que era melhor as sementes rolarem e caírem formando o círculo de grades do que tentarem agir sob a mente do gnomo. Foi então que, como se atendendo ao desejo do criador da armadilha, as sementes se desprenderam do cacho, rolaram sobre o cogumelo e caíram nos pontos exatos para formar o círculo de grades. Porém, duas delas caíram exatamente dentro das botas do pequeno ser. As semente que tocaram o solo cresceram como grades mas as que caiaram dentro das botas ficaram inativas... Mesmo assim, Malleo foi correndo em direção ao cogumelo tentando surpreender a criatura, porém ela acordou e se lançou na fresta que estava bem na sua frente e saiu correndo. Malleo continuou correndo perseguindo a criatura, que apesar de pequena e desajeitada ainda conseguia correr, ele corria e olhava para os pés do pequeno ser a sua frente. Ele olhava para os calcanhares como se acreditasse que, sob os pés do gnomo, as pequenas sementes poderiam germinar a qualquer instante e crescer de forma abrupta derrubando a criatura grotesca.

O gnomo correu em direção ao campo aberto com Malleo no seu encalço. A criatura corria desajeitada mas veloz suficiente enquanto seu perseguidor corria olhando os calcanhares dela. A pequena criatura não conseguia despistar o seu perseguidor e ele parecia que não desistiria nunca... O gnomo buscava algum lugar para se refugiar mas o campo aberto não acabava. A perseguição continuava... Até que, exaustos, os dois seres caíram. Eles desabaram ao mesmo tempo vencidos pelo cansaço. Reunindo as sua últimas forças, Malleo se arrastou em direção ao pequeno ser que parecia estar se recuperando rapidamente do cansaço. O gnomo tentava se levantar para continuar fugindo quando, com dificuldade, Malleo esticou os braços para conseguir alcançá-lo. Malleo pegou o pequeno ser pelas botas no instante em que ele se levantava e saía correndo. O gnomo escapou e deixou o seu perseguidor com as pequenas botas nas mãos. Somente quando percebeu que a criatura escapara, Malleo virou os pequenos calçados para ver o que tinha acontecido com as sementes. Neste momento, um cheiro insuportável saiu de dentro das pequenas botas, um cheiro forte suficiente para matar o exausto rapaz. Malleo olhou para o horizonte e ainda viu o gnomo se afastando. A criaturinha ainda corria assustada. Então Malleo não conseguiu mais prender a respiração e inspirou mais um pouco daquele ar contaminado. Isto o fez desmaiar imediatamente. Parecia que estava tudo acabado... Desmaiado ali, aquele cheiro o sufocaria rapidamente. Foi então que algo espetacular aconteceu. As botas ao caírem da mão dele ficaram de cabeça para baixo sobre as sementes e, como deveria acontecer, elas germinaram e cresceram rapidamente como estacas levando os pequenos e fedorentos calçados para bem longe. As botas foram levadas para cima até uma corrente de ar que soprava exatamente na direção em que o gnomo fugia desesperado..

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