segunda-feira, 11 de junho de 2018

DEMONOLOGIA MEDIEVAL

O período medieval é considerado como "os séculos das trevas" em função de uma série de fatores ligada, principalmente, a uma estagnação do pensamento científico. Muitos autores estabelecem uma relação entre essa estagnação e a Igreja Católica, pela sua influência conquistada ao final do Império Romano e que perdurou por vários séculos, sobretudo na Europa. Os acusadores da Igreja citam os sentimentos pouco religiosos, a intolerância e o obscurantismo intelectual disfarçados nos preceitos extraídos de dogmas religiosos.

A influência da Igreja, aliada a uma série de outros fatores (guerras, pestes, etc.) fizeram da Idade Média um período bastante particular na história humana. A magia passou a ser proibida em quaisquer de suas formas; a Astrologia também não era admitida, pois defendia determinados princípios astrais não diretamente vinculados a Deus. Todo e qualquer estudo, raciocínio ou conclusão deveria estar em consonância com os dogmas vigentes. E tudo que não estivesse dentro daquela realidade era, naturalmente, apontado como contrário a Deus e, conseqüentemente, oriundo de demônios.


Talvez por extrema insatisfação com o contexto cultural, talvez como forma de liberação de tensões reprimidas, as práticas chamadas "demoníacas" difundiram-se por toda a Europa medieval. Os adoradores do Diabo reuniam-se, secretamente, em assembléias denominadas "Pequeno Sabat", que ocorriam semanalmente, aos sábados. De cinco em cinco anos, acontecia o Grande Sabat, uma festa maior e mais variada. Nessas assembléias praticava-seuma espécie de anti-missa: o Diabo era representado por um animal (bode, sapo, etc.) e havia rituais com defumações com ervas e manuseio de excrementos (fezes, urina e sangue menstrual). Muitas dessas "missas negras"traziam no lugar do altar uma mulher nua, com as pernas abertas, expondo à "adoração"seus órgãos sexuais. Percebe-se, claramente, em muitos desses rituais o fator "sexo" associado. Talvez fosse uma forma de se lidar com a "repressão" sexual imposta pela Igreja, que defendia ser o sexo instrumento da procriação, ou seja, desprezando o aspecto "prazer" que o sexo poderia proporcionar.


Durante os rituais "negros" havia a distribuição de prêmios àqueles que tivessem sido suficientemente "maus"e, muitas vezes, eram castigados os membros de conduta contrária. No decorrer das reuniões ia ocorrendo uma grande "histeria"coletiva que culminava com uma grande orgia onde todos participavam. Durantes essas crises histérico-epiléticas muitas vezes ocorriam predições.


Em resposta à difusão desses rituais, a Igreja reagiu violentamente. Instituiu os tribunais da Inquisição para julgar os indivíduos acusados de adoração aos demônios ou de praticarem a bruxaria. Esses tribunais acusavam e julgavam pessoas baseados em provas consideradas, no mínimo, suspeitas. Por exemplo, dentre os sintomas médicos capazes de identificar "seguramente" um endemoniado encontramos: quando a doença não era conhecida ou descoberta; doenças inconstantes e incontroláveis; cólicas e sensações de frio ou calor pelo corpo; ver fantasmas; ter ataques epiléticos, perturbações ou sustos sem causas aparentes. Bastava ter um ou mais destes sintomas, entre outros, para que o "pobre diabo" não escapasse da acusação de estar mantendo vínculos com demônios.


As acusações legais capazesde inculpar alguém por heresia ou magia eram , aproximadamente, quinze. Bastava uma denúncia anônima ou uma simples suspeita para que o denunciado sofresse maus tratos nas mãos dos inquisitores, não raro sendo morto, comumente queimado. Muitos autores observam que a Inquisição, pelas características de sua atividade e pelo seu "modus operandi" era um excelente instrumento de combate aos opositores do Catolicismo.



Eis as quinze acusações:

01. Renegar Deus;

02. Basfemá-lo;

03. Adorar ao Diabo;

04. Consagrar filhos aos demônios;

05. Sacrificar os filhos;

06. Consagrar os recém-nascidos aos demônios;

07. Fazer prosélitos a Satanás;

08. Jurar em nome do Diabo;

09. Não respeitar alguma Lei ou cometer incesto;

10. Matar, coser e comer seres humanos;

11. Alimentar-se de carne humana, mesmo não sendo o responsável pela morte;

12. Envenenar e matar pessoas por meio de sortilégios;

13. Matar o gado;

14. Causar esterilidade;

15. Escravizar-se ao Diabo.



O culto ao Diabo parece ter alcançado proporções tão fantásticas que Jean Wier, em sua obra DE PRESTIGIIS (1568), afirmava que o Império do Mal reunia "72 Príncipes e 7.405.926 demônios, divididos em 1.111 legiões e cada legião possuía 6.666 soldados".



Mássimo Inardi, em "História da Parapsicologia", relaciona os nomes dos demônios mais conhecidos na Idade Média:



ABRASSO ou ABRACAN: (daí se deriva a palavra ABRACADABRA) tinha às suas ordens 365 gênios, um para cada dia do ano;

ADRAMELEK: o grande chanceler do Inferno;

ANDRES: o Grande Marquês infernal;

ALASTOR, AGNAS e ALOCERO: Grãos-Duques;

ASMODEU: grande jogador, protetor das casas de jogo ( atribuí-se a ele a tentação à Eva);

ASTAROTH: um dos mais conhecidos e poderosos;

BEHEMONT, ISSACHAR e BALAAN: responsáveis pelos endemoniados de Loudun;

BEL: demônio dos caldeus;

BEELZEBUTH: um dos príncipes infernais. Alguns autores afirmam que é o supremo chefe dos demônios;

BELIAL: o mais corrupto dos demônios;

CARONTE: do Inferno de Dante;

LEVIATÃ: Grande Almirante infernal;

LÚCIFER: Rei do Inferno;

MALPHAS: Presidente da Corte infernal;

SANTANÁS: personificação do mal.



MALLEUS MALLEFICARUM


Um manual publicado por dois padres dominicanos alemães, Heinrich Kramer e Jacobus Sprenger, tornou-se famoso por orientar os inquisidores na caça às feiticeiras. Escrito no final do século XV, o MALLEUS MALLEFICARUM ( Martelo da Bruxaria, em latim) trazia uma pesquisa apurada a respeito dos métodos utilizados pelos demônios para seduzirem os seres humanos. Capítulos como "Do meio de fazer um pacto formal com o Diabo" ou "Os métodos para destruir e curar a bruxaria" fizeram desse livro a literatura preferida dos Juízes da Inquisição.



ÍNCUBOS E SÚCUBOS

Além de todos os "problemas"habituais causados pelos demônios, os mesmos podiam, ainda, assumir as mais diversas formas para se relacionarem sexualmente com os seres humanos. Podiam assumir a forma de parentes, namorados ou cônjuges das vítimas, ou, simplesmente, de forma invisível, possuírem sexualmente a vítima. Esses demônios eram chamados de Íncubos e Súcubos. Os Íncubos se apossavam de mulheres e, os Súcubos, de homens.


Analisando a literatura da época chega-se à conclusão que, muitas vezes, esses diabetes foram bodes expiatórios para situações meio irregulares como mães solteiras, moças desvirginadas, filhos ilegítimos, namoros proibidos, traições inconfessáveis, etc. É o caso de um bispo que, ao ser acusado de violentar uma freira, afirmou ser o efeito das "travessuras"de um íncubo que assumira sua forma.

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