sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

A LUZ E A VERDADE: AS (SUB)VERSÕES DE LÚCIFER E JUDAS ISCARIOTES

Resumo
O presente estudo apresenta uma comparação entre os contos Três versões de Judas,
de Jorge Luis Borges, e O evangelho segundo Lúcifer, de Arturo Gouveia. Pretende-se
enfocar os mecanismos estéticos de construção do discurso herético em ambos os
textos, analisando os aspectos convergentes e, mormente, os divergentes. A dissonância
consubstanciada nos referidos textos respeita a uma releitura crítica da tradição
bíblica que atribui a Judas Iscariotes a marca do traidor de Jesus Cristo, e a Lúcifer, o
protagonismo da degenerescência humana.
Palavras-chave: teologia, literatura, Jorge Luis Borges, Arturo Gouveia.
Introdução
Antonio Candido (2000, p. 22-23) divide a arte, mormente a da palavra, em dois
grupos: arte de agregaƒ„o e arte de segregaƒ„o. A primeira categoria abarca as formas e
express…es  j†  cristalizadas,  filiando-se  ‡  tradiƒ„o;  ou  seja,  fulcra-se  na  experincia
coletiva, e, por isso, ˆ mais acess‰vel. A outra atualiza o sistema, instaurando a novidade
mediante a  criaƒ„o  de  procedimentos  e  mecanismos  estˆticos; logo,  destina-se  a  uma
parcela reduzida da sociedade.
A  literatura,  haja  vista seu  car†ter  essencialmente  mimˆtico,  constitui-se  como
poiese, (re)criaƒ„o da realidade. Portanto, ˆ capaz de estabelecer pontos de contato com
a referida, bem como pode distanciar-se, seja desfigurando-a ou negando-a (CANDIDO,
2000,  p.  12).  Para  corroborar  a  afirmaƒ„o  acima  acerca  da  natureza  da  arte  liter†ria,
citamos AristŠteles (1997, p. 48) que leciona: “Quando plaus‰vel, o imposs‰vel se deve
preferir a um poss‰vel que n„o convenƒa”. Essa liƒ„o diz respeito ‡ quest„o da qualidade
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intr‰nseca da obra que deve suplantar os aspectos da verossimilhanƒa externa e nortear a
an†lise liter†ria.
A narrativa Três versões de Judas, de Jorge Luis Borges, destaca-se por sua forma
ensa‰stica. Ela apresenta  vis…es acerca da figura de Judas Iscariotes, desmistificando o
seu car†ter de traidor de Cristo e apontando a sua relevncia para o plano salv‰fico da
humanidade.
Por  sua  vez,  o  conto  Evangelho Segundo Lúcifer,  de  Arturo  Gouveia,  exp…e  a
perspectiva de LŽcifer, que contraria toda a tradiƒ„o b‰blica. A partir de sua prŠpria voz,
o “Anjo de Luz” imputa a Deus o papel de algoz da humanidade, responsabilizando-o
por todo o mal que a aflige. Para o narrador-personagem o verdadeiro "Usurpador" ˆ o
prŠprio Deus.
Como  se  pode  depreender  tais  textos  s„o  subversivos e  podem  ser  tidos  como
herˆticos, tomando como parmetro a b‰blia e a exegese crist„ consolidada ao longo do
tempo.  Eis  o  aspecto  que,  dentre  outros, motivou  o  desenvolvimento  deste  estudo.
Baseando-nos  principalmente  nas  consideraƒ…es  de Antonio  Candido sobre  a  arte  de
segregaƒ„o,  analisamos  os  contos  e  estabelecemos  os  aspectos  convergentes  e
divergentes.
Revelando outro Judas: a decifração do enigma
O conto de Borges em tela est† inserido no livro Ficções, publicado em 1944. A
narrativa  estrutura-se a  partir  das trs  teses  do  gnŠstico Nils  Runeberg  sobre  Judas
Iscariotes1.
A narraƒ„o  ˆ  m‰nima,  mas  a  discuss„o,  a  exposiƒ„o das  ideias  e  os  coment†rios
que constituem a ficƒ„o e entrelaƒam os fatos s„o o centro, consubstanciam o conflito
principal2. O texto constitui-se como artigo, em consonncia com as palavras do prŠprio
narrador-ensa‰sta (BORGES, p. 573).
1 Borges trata da figura de Judas, de forma tambˆm diversa do cnone b‰blico, em outro conto chamado
“A  seita  dos  trinta” (BORGES,  1999).  Indicamos  ainda  a  leitura  de  KASSER,  R.  et  al  (orgs). O
Evangelho segundo Judas: do cŠdice tchacos. S„o Paulo: Prest‰gio, 2006.
2 Neste mesmo sentido ver GOUVEIA, A. A consagração da impertinência (Machado de Assis, Borges,
Guimar„es Rosa e a  teoria do conto).  In: ________ (org.). Machado de Assis desce aos infernos. Jo„o
Pessoa: Idˆia, 2009, p. 44.
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Para  o  filŠsofo  alem„o  T.  W.  Adorno  (2003,  p.  37),  “A  conscincia  da  n„o-
identidade  entre  o  modo  de  exposiƒ„o  e  a  coisa  imp…e  ‡  exposiƒ„o um esforƒo  sem
limites.  Apenas  nisso  o  ensaio  ˆ  semelhante  ‡  arte;  no  resto,  ele  necessariamente  se
aproxima da teoria, em raz„o dos conceitos que nele aparecem [...]”.
A construƒ„o textual do escritor argentino transcende os limites da separaƒ„o entre
as formas, n„o sŠ relativizando-os, mas quebrando-os. Misturando elementos, citaƒ…es,
noƒ…es, construtos teŠricos, autores ora fict‰cios3, ora “reais”, o narrador desmistifica a
“verdade”  crist„,  atravˆs  de  uma  construƒ„o  lŠgica  e,  portanto,  racional.  Todavia,
dialeticamente, essa racionalizaƒ„o ˆ engendrada pela mediaƒ„o poˆtica que expressa o
tom ficcional ‡ matˆria tratada4.
A primeira  tese de  Runeberg,  explicitada  pelo  narrador, encontra-se  presente  no
livro  Kristus och Judas (“Cristo  e  Judas”)  do  aludido  heresiarca.  Segundo  o seu
entendimento a traiƒ„o de Judas configura-se como fato predeterminado na “economia
da  redenƒ„o”  (BORGES,  p.  574).  A  construƒ„o  argumentativa  erige-se  da  noƒ„o de
encarnaƒ„o de Jesus, o que pode ser compreendido como degenerescncia. Sendo assim,
o disc‰pulo do Verbo – Judas Iscariotes – seguindo o seu Mestre, tambˆm deve rebaixar-
se.  Entretanto  o  rebaixamento  d†-se  na  condiƒ„o  de delator.  Por  esse  prisma  Judas
reflete,  de  certa  maneira,  Jesus. Consoante  apurou  o  narrador  inŽmeras  foram  as
refutaƒ…es por parte dos teŠlogos de todos os credos ‡ argumentaƒ„o do heresiarca: a)
reflete  ignorncia  da  dupla  natureza  de  Cristo (uni„o  hispost†tica); b) trata-se  de uma
heresia; c) entra em contradiƒ„o com o evangelho de Lucas (cap‰tulo XXII).
Os  questionamentos  e  as  cr‰ticas  repercutem  na  doutrina  runeberguiana.  O
gnŠstico  reescreve parcialmente seu  livro,  “abandonando  o  terreno  teolŠgico  e
adotando, agora, obl‰quas raz…es morais” (BORGES, p. 575). Ele reconhece que Jesus
“n„o  necessitava  de  um  homem  para  redimir  todos  os  homens”  (BORGES, p.  575).
Contudo, fundamentando-se em passagens da B‰blia, passa a defender que Judas, como
um dos apŠstolos, “merece de nŠs a melhor interpretaƒ„o dos seus atos” (BORGES, p.
575). De acordo com o  autor de  Kristus och Judas,  a traiƒ„o  deve ser  reinterpretada,
3 Por exemplo, a nota de nŽmero 3 do conto-ensaio remonta a uma observaƒ„o sobre  a obra Vindicação
da eternidade,  de  Jaromir  Hladik,  protagonista  de  outra  narrativa  de  J. L.  Borges,  que  se  intitula O
milagre secreto.Este conto integra o livro Ficƒ…es assim como Trs vers…es de Judas. Logo, a verdade n„o
passa de uma construƒ„o, ˆ ficƒ„o.
4 Nos termos de Davi Arrigucci, poder‰amos dizer que ocorre, concretamente, em “Trs vers…es de Judas”
a  ficcionalizaƒ„o  do  ensaio  (vide ARRIGUCCI,  D. Borges ou do conto filosófico.  In:  BORGES,  J.  L.
Ficções. 6. ed. S„o Paulo: Globo, 1995).
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afinal, tem como teleologia a maior glŠria de Deus, da‰ o envilecimento e mortificaƒ„o
do  esp‰rito,  caracter‰sticos  do  ascetismo.  Num  gesto  extremado  de  humildade, Judas
premeditou a culpa (fez-se delator), buscando, assim, deliberadamente o inferno, visto
que a felicidade do Senhor lhe era suficiente.
Nils Runeberg, com o desiderato de ratificar que a atitude de Judas ˆ fundamental
para  a  realizaƒ„o  da  remiss„o  dos  pecados  e  salvaƒ„o da  humanidade  por  Jesus,  faz
menƒ„o  ‡  I Epístola de Paulo aos Coríntios,  1,  31:  “O  que  se  gloria,  glorie-se  no
Senhor”. Vale sublinhar, ainda, que o narrador-ensa‰sta em nota de rodapˆ constrŠi um
elo entre a postura de Judas e as palavras de Antnio Conselheiro – a virtude era “uma
quase impiedade” (personagem heresiarca do livro Os Sertões, de Euclides da Cunha);
remonta,  ainda,  ‡s  passagens  da  obra de  Almafuerte,  e,  por Žltimo  o  articulista traz  ‡
tona  o  poema  simbolista A Água Secreta.  Este,  conforme  reforƒa  o  narrador,  termina
assim “A †gua da selva ˆ feliz; podemos ser maldosos e dolorosos”5. Estas associaƒ…es
dialogam  com  a  convicƒ„o  gnŠstica  de  que  Judas  cumpriu  seu  papel  na  redenƒ„o  do
gnero  humano,  independentemente  do  julgamento  que  as  pessoas  poder„o  fazer.  A
alegria  reside  no  cumprimento  da  miss„o  dada  pela  divindade.  Nesta  Štica, podemos
concluir: sem traiƒ„o, n„o h† salvaƒ„o.
A Žltima tese de Runeberg, que est† plasmada no livro Den Hemlige Frälsaren6,
configura-se  como  “pervers„o” ou  “exasperaƒ„o” de  sua  obra  anterior. A  conclus„o
edificada  por  ele ˆ  a  seguinte: “Deus  se  fez  totalmente  homem, porˆm  homem  atˆ  a
infmia, homem atˆ a reprovaƒ„o e o abismo. Para nos salvar, pde escolher qualquer
dos destinos que tramam a perplexa rede da histŠria; pde ser Alexandre ou Pit†goras
ou Rurik ou Jesus; escolheu um ‰nfimo destino: foi Judas (p.577).”
Do exposto, deflui-se que o gnŠstico sustenta que o sacrif‰cio de Judas foi maior
que o  de  Cristo; portanto o  “Žltimo dos  homens”,  o  “var„o de  dores”,  prefigurado no
livro de Isa‰as, n„o ˆ o crucificado; ˆ aquele que est† despojado da graƒa e da glŠria, o
que  entregou  o  Mestre, para  que  este  pudesse  realizar  a  salvaƒ„o da  humanidade,  ou
seja,  o  prŠprio  Judas. Ciente  da  condenaƒ„o,  ainda  assim, entregou-se  ‡  miss„o,
propiciando vida ‡  humanidade.  Eis  a  revelaƒ„o  de  Runeberg.  A  recepƒ„o  desta em
5 “A †gua da selva ˆ feliz consiste numa met†fora. A †gua pode ser entendida como o  prŠprio Judas que
segue seu curso, consoante a liberdade concedida pela prŠpria natureza. A parte final do verso destacado
(“podemos ser maldosos e dolorosos”) aponta para a leitura cr‰tica que nos ˆ poss‰vel ser feita desse fato.
6 Interessante que o t‰tulo em portugus indica a tese runeberguiana: O Salvador Oculto, que ˆ o prŠprio
Judas.
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Estocolmo e Lund (ambas as cidades situadas na  Suˆcia) n„o encontrou eco, apenas  a
indiferenƒa. A reaƒ„o, para o gnŠstico, tem uma explicaƒ„o divina: “Deus ordenava essa
indiferenƒa;  Deus  n„o  queria  que  se  propagasse  na  terra  Seu  terr‰vel  segredo”
(BORGES, 1998, p. 577).
O seu fim estava prenunciado, assim como aqueles que revelaram a Verdade ou a
encontraram  n„o  passam  incŠlumes.  A  dŽvida,  a  certeza,  o  castigo,  a  blasfmia,  o
del‰rio tomaram sua vida. Suplicando em gritos a graƒa de compartilhar com o Redentor
(Judas)  o  Inferno,  Nils  Runeberg  faleceu.  O  desfecho  do  conto-ensaio  retoma  a  sua
contribuiƒ„o herˆtica7: “[...] acrescentou ao conceito do Filho, que parecia exaurido, as
complexidades do mal e do infortŽnio” (BORGES, 1998, p. 577).
Segundo Adorno (2003, p. 45), “a lei formal mais profunda do ensaio ˆ a heresia.
Apenas  a  infraƒ„o  ‡  ortodoxia  do  pensamento  torna  vis‰vel,  na  coisa,  aquilo  que  a
finalidade objetiva da ortodoxia procurava, secretamente, manter invis‰vel”.
O  conto-ensaio estudado corporifica  a  compreens„o  adorniana  da  forma
ensa‰stica.  Versando  sobre  quest…es  teolŠgicas  e  filosŠficas,  trabalhando  conceitos,  e
marcado pela  construƒ„o  lŠgica, sedimenta  a  heresia sob  a  ˆgide da  arte,  contrariando
toda  a  tradiƒ„o  crist„  e  o  consenso  popular  acerca  de  Cristo  e  mais  propriamente  de
Judas, por um lado; de outra banda, reformula a noƒ„o de narrativa e ensaio.
O conto borgiano,  por  sua  construƒ„o,  ontologia e  tem†tica,  enquadra-se
perfeitamente como arte de segregaƒ„o, nos moldes de Antonio Candido.
A transgressão de AG: a notícia de Lúcifer
O evangelho segundo Lúcifer integra o livro que recebe o mesmo nome. Escrito
por Arturo Gouveia, renomado contista brasileiro, foi publicado em 2007.  interessante
ressaltar  que  o t‰tulo  do  conto  arturiano  j†  manifesta  seu  car†ter  subversivo.  Como
imaginar a boa not‰cia, ante o cnone b‰blico e  sua presenƒa  no inconsciente coletivo,
dada pelo Anjo deca‰do? A maestria da construƒ„o textual reside na vaz„o ao ponto de
7 A ep‰grafe em ingls do conto (atribu‰da a T. E. Lawrence) apresenta-nos antecipadamente a revelaƒ„o
de  Nils  Runeberg que  ˆ  dialˆtica:  “Parecia  haver  uma  certeza  na  degradaƒ„o”,  qual  seja:  a  traiƒ„o  ˆ  o
fundamento da salvaƒ„o dos seres humanos. Judas equipara-se ao Redentor.
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vista  de  LŽcifer,  para  ent„o  questionar  a  sua  condiƒ„o  de  cativo  e  inverter  o jogo:  a
culpa pelos males n„o ˆ sua e sim de Deus.
A aƒ„o ˆ m‰nima, o enredo desenvolve-se de modo truncado, porquanto reflete a
situaƒ„o  do  narrador-personagem. H†  uma  proeminncia  da  linguagem  e  da  reflex„o.
Nesse aspecto, a narrativa de AG apresenta um car†ter doutrin†rio e teolŠgico insŠlito.
“Minha pris„o ˆ do tamanho exato do meu esqueleto” (GOUVEIA, 2007, p. 317),
afirma LŽcifer. De fato, o tamanho diminuto do c†rcere limita a sua aƒ„o, no entanto, a
mente  trabalha  continuamente.  O  microcosmos  em  que  se  encontra  n„o  o  impede  de
fazer  elucubraƒ…es,  constatar  realidades e  tecer  cr‰ticas  ao  Usurpador,  que  ˆ  para  o
protagonista, Deus, que se apropriou da inteligncia no instante em que ia compartilh†-
la com este8. Desde ent„o foi emparedado9, e destitu‰do da glŠria, restando-lhe, apenas,
a  ingest„o  de  esterco  e  vermes,  sua  Žnica  forma  de  sobrevivncia,  a  recepƒ„o  de
oxignio  podre,  e  o  contato  com  as  escrituras  “mentirosas”. O  pensamento constitui
tambˆm a sua pris„o, seu mart‰rio. A maior tirania de Deus, segundo o prisioneiro, foi a
acusaƒ„o de ter feito o mal ‡ Criaƒ„o e a Ele.
As  pupilas  do  emparedado possuem pregos, portanto,  n„o  podem  ser  fechadas;
vislumbra as cat†strofes e a cegueira da humanidade, fruto do fanatismo institu‰do pela
B‰blia. Contraditoriamente sua lucidez corresponde ‡ escurid„o dos humanos.
Fluidez  da  imaginaƒ„o  e  incapacidade  de  agir s„o,  por  conseguinte, as marcas
caracter‰sticas do cativo:
Minha mente n„o p†ra de trabalhar, ainda que meus olhos se esgotem
nessa  posiƒ„o  imut†vel.  Ele  acredita  em  minha  rendiƒ„o  para  a
destruiƒ„o  final. Que resposta  eficaz  poderei dar  ao  mais abomin†vel
dos seres? Basta lembrar que Deus ˆ o Žnico ser apŠcrifo, que sŠ tem
zelo  pelo  Inferno  e  por  essas  grades  que  me  destroƒam.  Sua  Žnica
meta  para  a  Humanidade, em dias  prŠximos,  ˆ  a  extinƒ„o. Da Žltima
vez  que  O  vi,  mesmo  Ele  desviando  o  olhar,  pude  identificar  com
sutileza  alguns  dos  Seus  crimes  futuros.  N„o  consigo  compreender
com precis„o o que vi, mas ter visto j† me ˆ uma imensur†vel alegria.
Vi  um  sˆculo  monstruoso  enterrando,  em  poucos  anos,  milh…es  de
pessoas;  vi um cogumelo  de  fogo  caindo  sobre uma cidade  indefesa,
incendiando  berƒos  e  geraƒ…es  futuras;  vi  crianƒas  convertidas  em
cinzas  e  jogadas  no  V‰stula;  vi  arsenais  poderosos,  de  destruiƒ„o
imponder†vel,  girando  em  torno  da  Terra;  vi  milh…es  de  esqueletos
trabalhando ‡ forƒa numa plan‰cie de gelo; vi seq‘ncias e seq‘ncias
de  guerras,  explodindo  aldeias  e  continentes  inteiros;  vi uma  menina
incendiada  nua;  vi umas  m„es  numa  praƒa clamando por  seus  filhos,
todos pisunhados de torturas. (GOUVEIA, 2007,  p. 320)
8 Dento desta perspectiva, LŽcifer apresenta-se como Criador.
9 O emparedamento do personagem faz-nos recordar o conto O gato preto, de Edgar Allan Poe.
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O trecho acima exprime a Štica luciferina, que contesta a divindade, invertendo os
pŠlos.  O  princ‰pio  da  Luz  ˆ  o  prŠprio  LŽcifer  (note-se um nexo etimolŠgico)  e  o  da
Treva ˆ Deus, art‰fice do mal e do pecado, que encaminha a humanidade para extinƒ„o.
Isto  sŠ  se  dar† quando o  Anjo  sucumbir ao  ultraje.  Aquele  consiste  num  ser apŠcrifo
(sem  autenticidade,  visto  que  n„o  se  manifesta  diretamente,  diferente  de  LŽcifer).   A
contemplaƒ„o parcial dos  olhos d’Ele indicam um per‰odo de caos. Se  analisarmos as
imagens  elencadas  teremos  alus…es  a  momentos  histŠricos de  extrema  violncia do
sˆculo XX.
A  conscincia do  prisioneiro ˆ  o  Žnico  reduto  imune  ‡  treva  divina.  Porˆm,  o
aludido sente que o Usurpador passa a manipul†-la, a partir do sonho. Logo, a coerƒ„o
passa  a  ser  por  dentro,  interna.  “Mesmo  com os  olhos  abertos, (....) consegui dormir,
submergir na  letargia” (GOUVEIA, 2007, p. 321). A descriƒ„o do sonho ˆ ontolŠgica,
pois  concretiza  um labirinto (fagulha  de  conscincia dentro  do  sonho). L†  h†  a
confluncia  da  conscincia e  do  inconsciente, do presente,  do futuro e do  passado  –
instante  da  criaƒ„o.  A  chance  de acordar  da  ilus„o  do  c†rcere e a  possibilidade  de
transfiguraƒ„o da realidade plasma-se. LŽcifer enquanto Criador poderia excluir o Žnico
desastre da criaƒ„o. Todavia, a devassa ‰ntima por meio da manobra on‰rica consolida-
se. A pris„o exsurge no momento fatal10.
“Esse sono,  o  Žnico  a  que  tive  direito desde  a  sentenƒa,  alterou  para
sempre  minha  estima.  Apesar  de  ser  um  anjo  de  luz,  criador  do
Universo  e  da  Linguagem,  minha  eternidade  est†  com  os  dias
contados. N„o sinto apenas na carne esse final sinistro. Os terrores de
Deus tm conseguido penetrar em minha lucidez. [...] Com isso, Deus
substituir†  minha  perpetuidade  pela  perpetuidade  do  Mal.  Morrerei
sem  ter  operado  o  milagre:  corrigir  meu  prŠprio  erro.  Morrerei
sabendo  que  Deus  ˆ  a  alma  do  Inferno.  A  Humanidade  evite  o
cogumelo  de  fogo,  evite  as  cinzas  do  V‰stula,  evite  as  m„es
desesperadas.  Ainda  h†  tempo.    a  mensagem  que  deixo  para  uma
linda  criatura  que  um  dia  idealizei  e  foi  brutalmente  deturpada,
seduzida  pela  serpente  de Deus.  Os  homens,  se  ainda  tiverem  um
resqu‰cio da minha luz entendam, com carinho, os meus limites. Se j†
pressinto  meu  fim,  n„o  posso  resgatar  mais  ninguˆm (GOUVEIA,
2007, p. 323).
O encadeamento narrativo leva-nos, como vimos no excerto transcrito, do sono de
LŽcifer ‡ reflex„o sobre o dom‰nio pleno de Deus da sua conscincia, Žltimo resqu‰cio
10 O procedimento de construƒ…es dos sonhos faz-nos remeter  ‡ narrativa A escrita do deus, de Borges.
Ademais a possibilidade de deglutir as crianƒas no caminho aponta, ainda, para o mito de Chronos.
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de  independncia,  lucidez e  criticidade.  O  tom  dram†tico  do  conto  constrŠi-se,
justamente, na  desilus„o de  LŽcifer  face  ‡ capacidade  de  libertar-se,  resgatar  a  sua
imagem e  salvar  os  seres  humanos,  mostrando-lhes  a  verdade.  Encarcerado  em  si,
reconhece a sua finitude, sua limitaƒ„o. No desfecho da narrativa oferta uma advertncia
‡ humanidade. Por Žltimo, evocando a presenƒa de sua luz nela, ele acalenta a esperanƒa
de ganhar a compreens„o pela inaƒ„o.
Ainda  sobre  o  conto,  gostar‰amos  de  elucidar  alguns pontos.  O  sono  e  o  sonho
constituem a  met†fora  do  fim  do  narrador-personagem.  Tentando  compreender  o
significado  dos  sonhos,  LŽcifer  recupera  a  imagem  de  duas  crianƒas:  “A  primeira  se
chamava Is  e  tinha o nŽmero 14 selado  a  fogo  na  testa;  a  Žltima era  Rev  e  seu  corpo
triturado  trazia  o nŽmero 1220.  Das  outras,  lembro  apenas  de uma massa  amorfa, em
forma  de  vmito  e  excreƒ„o” (GOUVEIA,  2007,  p.  323). As  crianƒas  abortadas  que
surgem  em  del‰rios  on‰ricos  sequenciais,  avolumam-se  ‡  medida  que exsurgem  na
mente de LŽcifer. As marcas e as denominaƒ…es da primeira e da Žltima Is  14 e Rev
1220, respectivamente, s„o simbŠlicas.
O nome Is remete ao livro de Isa‰as11, presente no Antigo Testamento. O nŽmero
14  denota  o  cap‰tulo. Associando  essas  express…es, temos  Isa‰as  14.  Tal  passagem
apresenta uma  s†tira  contundente  a um oponente.  H† nos  vers‰culos b‰blicos  a
celebraƒ„o da certeza da queda e morte do rei opressor e tirnico. O rei, a‰ focalizado, ˆ,
provavelmente Nabucodonosor,  da  Babilnia.  Inobstante  isso, encontramos  uma
menƒ„o clara ‡ figura de Sat„:
Tua majestade desceu  ‡ morada dos mortos,
acompanhada do som de tuas harpas.
Jazes sobre um leito de vermes
e os vermes s„o a tua coberta.
Ent„o! Ca‰ste dos cˆus,
astro brilhante, filho da aurora!
(Is 14, 11-12)
Com fulcro nesses versos, temos a aƒ„o poderosa de Javˆ que arrasa o inimigo. 
o prenŽncio do que acontecer† a Nabucodonosor. A voz-poˆtica canta a humilhaƒ„o de
LŽcifer  (=  astro  brilhante).  Fazendo  isso,  profetiza  o  destino do  rei da Babilnia e  de
todos  os  que  se  insurgem  contra  Javˆ.  Logo,  o  referido  governante liga-se  a  Sat„.
Ressaltamos, ainda, que a humilhaƒ„o do povo babilnico ˆ cruel: ru‰na e exterm‰nio do
11 Is ˆ a abreviatura usual de Isa‰as.
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seu povo, inclusive com o massacre de toda a descendncia (Is 14, 21-23). O vers‰culo
19 do livro de Isa‰as reforƒa, a partir de outra construƒ„o imagˆtica, o ultraje infligido
ao rei: “Todos os reis das naƒ…es, todos repousam com glŠria, cada um no seu tŽmulo; /
tu, porˆm, foste atirado para longe do teu sepulcro, como um aborto que causa horror”
(Is 14, 18-19).
J†  a  Žltima  crianƒa  do  sonho  do  “astro  brilhante” chama-se  Rev.  Ela  possui a
marca 1220. Rev, na  nossa  an†lise, ˆ a abreviatura de Revelaƒ„o, ou seja, Apocalipse,
mensagem reveladora. A numeraƒ„o 1220 pode ser desmembrada. Destarte, passamos a
ter 12  e  20,  que  s„o  dois  cap‰tulos  importantes  do  texto  de  Jo„o,  livro que  encerra  o
Novo Testamento. As mencionadas seƒ…es  do  Livro do Apocalipse  (ou da Revelaƒ„o)
tratam da derrota da Serpente (LŽcifer). Em Apo 12, deparamo-nos com a descriƒ„o de
um combate no cˆu, em que o Drag„o, que personifica o mal, tenciona lutar contra as
estrelas (Deus), bem  como aspira  a  devorar o  filho  da  Mulher12,  o  Messias, que  veio
para extermin†-lo. Contudo, as pretens…es daquele s„o frustradas. No cap‰tulo 20, Jo„o
narra a sorte da Serpente e a vitŠria definitiva de Deus.
Refletindo sobre as profecias do livro de Isa‰as (14) e a mensagem do Apocalipse
(12 e 20), notamos que elas se presentificam no sonho de LŽcifer. A Palavra Divina j†
invadia os recnditos da mente luciferina (as crianƒas abortadas e marcadas). Elas eram
o sinal da revelaƒ„o de Deus, anŽncio da derrota, pris„o, humilhaƒ„o e violncia, o fim
de LŽcifer.
Abrah„o  Costa  Andrade (2003,  p.  176),  afirma  que  Arturo Gouveia,  em  seus
contos, “desmantela certo esquema mental afeito a colocar em posiƒ„o de atrito linear o
bem  e  o  mal.” Com  efeito,  no  di†logo  entre  o  texto  ficcional analisado e  o  cnone
b‰blico, percebemos uma ruptura total, visto que a escolha de LŽcifer como narrador e
como  protagonista  manifesta  uma  atitude totalmente  inventiva e  questionadora,  que
causa impacto e incompreens…es para quem l (invers„o da origem do mal13), haja vista
a  forte  heranƒa  judaico-crist„  que  impera  no  Ocidente.    a  efetivaƒ„o  da  chamada
poˆtica do incmodo (ANDRADE, 2003, p. 177).
12 A Mulher estava prestes a dar ‡ luz a um menino, que era o alvo do Drag„o.
13 O  conto  materializa  a  transgress„o  dos  evangelhos  b‰blicos e, de  certa  maneira, a  compreens„o
agostiniana  sobre  o  mal (ver  SANTO  AGOSTINHO.  Confissões. S„o  Paulo:  Martin  Claret,  2002). A
narrativa, alˆm de recuperar o manique‰smo, isentando a humanidade, inverte a origem: o Mal provˆm de
Deus.
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Pela verificação que fizemos da narrativa arturiana, fica patente a sua
classificação no rol da arte de segregação.
As consonâncias e as dissonâncias: uma breve comparação
A aplicabilidade do conceito de arte de segregação nas narrativas Três versões de
Judas, de Jorge Luis Borges, e, O evangelho segundo Lúcifer, de Arturo Gouveia,
viabiliza a comparação destas.
Considerando que a segregação não é absoluta, enfocamos os aspectos que a
caracterizam, visto que prevalecem nos textos mencionados. A incursão comparatista
está radicada no engendramento da transgressão e subversão da forma e do conteúdo
que marcam os contos estudados.
Os personagens são distintos, mas compartilham o mesmo papel antagônico ante à
construção do reino celeste e da salvação dos homens por Cristo, e, por este motivo,
recebem o desprezo, a marginalidade, a periferia, seja na bíblia e em outros textos
literários, ao longo do tempo. As narrativas aqui estudadas, uma do século XX e outra
do XXI, estabelecem uma visão atípica sobre tais personagens, respectivamente, Judas e
Lúcifer, que são alçados à posição de centralidade. Mudando-se o ângulo, encontramos
nas narrativas a exposição de pontos de vista desmistificadores em relação a ambos,
efetivando-se, assim, a desconstrução da imagem que a tradição cristalizara. Judas, de
traidor passa a salvador, e, Lúcifer, a personificação do mal, fonte de todo pecado,
mostra-se como Criador, vítima da truculência de Deus, este sim, sob seu prisma, o
próprio mal. É a consagração da subversão temática, discurso herético por natureza.
A despeito dessa convergência, os aspectos estruturais são dissonantes e, ao
mesmo, transgressores. Três versões de Judas consiste em um misto de narrativa e
ensaio. Com esta configuração, o narrador-ensaista explicita as teses de um heresiarca,
chamado Nils Runeberg, acerca da figura de Judas Iscariotes. Há um adensamento da
hermenêutica sobre a temática da traição de Judas no decorrer da exposição. Os
argumentos de Runeberg, delineados pelo narrador, ganham mais corpo, isto é, ficam
mais elaborados na medida em que avançamos na leitura do conto, até redundarem na
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decifraƒ„o do enigma de Judas: o salvador da humanidade. Esta situaƒ„o leva Runeberg
a encontrar-se com a loucura e a morte. A narraƒ„o ˆ praticamente argumentaƒ„o.
O  evangelho  segundo  LŽcifer n„o  est†  pautado  numa  voz  pretensamente
“imparcial” como no texto borgiano.  o prŠprio LŽcifer que propaga a sua not‰cia, ou
seja, a “boa-nova” n„o ˆ revelada por terceiros (diferentemente do que ocorre no cnone
b‰blico).  O  “Anjo  de  Luz”  relata  sua  vers„o  sobre  os  fatos  da  Criaƒ„o,  da queda, do
cativeiro.  Imputando a  Deus  a  responsabilidade pelas  cat†strofes no  mundo, vocifera
que  Ele  ˆ  o  berƒo  do  mal  e  do  pecado  e que as  escrituras  n„o s„o  sacrossantas,  pelo
contr†rio,  constituem  alienaƒ„o e  obscurem a  verdade. A  sua  mensagem ˆ  para  que  a
humanidade  liberte-se  da  cegueira  divina,  evitando  assim  o  Mal  (Deus)  e  as  misˆrias
que lhe ser„o infligidas. A LŽcifer cabe resignar-se com o destino cruel e reconhecer-se
incapaz, clamando, humildemente, a compreens„o do gnero humano. Este instante ˆ o
reconhecimento da vitŠria de Deus, ou seja, o fim dos tempos. H† uma reinvenƒ„o do
evangelho, da b‰blia, de si e, consequentemente, de Deus. D†-se no conto uma complexa
e irnica construƒ„o textual, cujo tom subversor se acentua na circularidade de ideias,
na  resistncia de  LŽcifer e  na  dominaƒ„o  por  dentro  (matˆria  on‰rica)  e  por  fora
(emparedamento) de Deus sobre a conscincia e a aƒ„o da Serpente, o que reforƒa que
Ele ˆ o mal absoluto, desprovido da misericŠrdia. A narraƒ„o ˆ revelaƒ„o ‡s avessas.
Referências
ADORNO, T. W. Notas de literatura I. S„o Paulo: Duas Cidades; 34, 2003.
ANDRADE,  A.  C.  Angústia da concisão:  ensaios  de  filosofia  e  cr‰tica  liter†ria.  S„o
Paulo: Escrituras, 2003.
ARIST€TELES; HOR“CIO; LONGINO. A poética clássica. 7. ed. S„o Paulo: Cultrix,
1997.
BORGES, J. L. Obras completas. v.1. S„o Paulo: Globo, 1998.
_______. Obras completas. v. 3. S„o Paulo: Globo, 1999.
B”BLIA. Portugus. Bíblia sagrada. Traduƒ„o do Centro B‰blico CatŠlico. 86. ed. S„o
Paulo: Ave Maria, 1992. Ediƒ„o Claretiana.
CANDIDO, A. Literatura e sociedade: estudos de teoria e histŠria liter†ria. 8. ed. S„o
Paulo: T. A. Queiroz, 2000.
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GOUVEIA, A. O evangelho segundo Lúcifer. João Pessoa: Idéia, 2007.

O FIM DE JUDAS ISCARIOTES

O que os cristãos conhecem sobre Judas Iscariotes é que ele traiu Jesus. Entretanto, há duas afirmações contraditórias, o que impede um leitor cuidadoso de ter qualquer uma como verdade. Agora foi encontrado o Evangelho de Judas, evangelho já citado por "Santo Irineu de Lyon, no século II", segundo a Revista Época, ed. 405, 20/02/2006. Segundo esse evangelho, Judas teria "sido perdoado por Jesus e orientado a se retirar para fazer exercícios espirituais no deserto". Não temos como saber se é verdadeira a versão no evangelho de Judas. No entanto, temos certeza de que uma das versões bíblia é falsa, o que não quer dizer alguma seja verdadeira.

O fim de Judas Iscariotes segundo o Evangelho de Mateus é o seguinte:

"Ora, chegada a manhã, todos os principais sacerdotes e os anciãos do povo entraram em conselho contra Jesus, para o matarem; e, maniatando-o, levaram-no e o entregaram a Pilatos, o governador. Então Judas, aquele que o traíra, vendo que Jesus fora condenado, devolveu, compungido, as trinta moedas de prata aos anciãos, dizendo: Pequei, traindo o sangue inocente. Responderam eles: Que nos importa? Seja isto lá contigo. E tendo ele atirado para dentro do santuário as moedas de prata, retirou-se, e foi enforcar-se. Os principais sacerdotes, pois, tomaram as moedas de prata, e disseram: Não é lícito metê-las no cofre das ofertas, porque é preço de sangue. E, tendo deliberado em conselho, compraram com elas o campo do oleiro, para servir de cemitério para os estrangeiros. Por isso tem sido chamado aquele campo, até o dia de hoje, Campo de Sangue. Cumpriu-se, então, o que foi dito pelo profeta Jeremias: Tomaram as trinta moedas de prata, preço do que foi avaliado, a quem certos filhos de Israel avaliaram, e deram-nas pelo campo do oleiro, assim como me ordenou o Senhor. (Mateus, 27: 1-10).

O autor de Atos dos Apóstolo já contou outra história, incompatível com a primeira:

"Irmãos, convinha que se cumprisse a escritura que o Espírito Santo predisse pela boca de Davi, acerca de Judas, que foi o guia daqueles que prenderam a Jesus; pois ele era contado entre nós e teve parte neste ministério. (Ora, ele adquiriu um campo com o salário da sua iniqüidade; e precipitando-se, caiu prostrado e arrebentou pelo meio, e todas as suas entranhas se derramaram. E tornou-se isto conhecido de todos os habitantes de Jerusalém; de maneira que na própria língua deles esse campo se chama Acéldama, isto é, Campo de Sangue.) Porquanto no livro dos Salmos está escrito: Fique deserta a sua habitação, e não haja quem nela habite; e: Tome outro o seu ministério. (Atos, 1: 16-20).

O chamado Evangelho de Judas, conforme a revista Época, tem a seguinte informação: "A delação aos sacerdotes judeus teria sido, segundo o manuscrito, um desígnio divino para que o Filho de Deus sofresse o martírio e salvasse os homens. Judas também afirma, de acordo com os relatos, que não se enforcou depois, arrasado pela culpa. Teria sido perdoado por Jesus e orientado a se retirar para fazer exercícios espirituais no deserto".

Quem teria dito a verdade? O Evangelho de Mateus? O livro de Atos dos Apóstolos? Ou o Evangelho de Judas? Pelo menos dois disseram mentira. Judas, arrependido, atirou as moedas dentro do templo e se enforcou, tendo os sacerdotes adquirido com o dinheiro o terreno chamado Acéldama, OU Judas adquiriu o terreno e caiu arrebentado-se? Ou Judas foi para o deserto? Como muitas coisas da origem do cristianismo já são provadas fábulas, é possível que Judas Iscariotes nem tenha existido.

O Caminho, A Verdade e A Vida é uma pessoa

Eu sou o caminho, a verdade e a vida” diz o Senhor Jesus. Somos informados de forma clara que o caminho que Deus provê é Cristo, a verdade que Deus revela é Cristo e que a Vida que Deus concede, é , do mesmo modo, Cristo. Jesus é o nosso caminho, nossa verdade e nossa Vida. É através de Jesus que vamos ao Pai. No coração de Deus, aquilo que está relacionado a Ele é Jesus. Ele não nos deu muita coisa fora de Jesus.

Em assuntos espirituais,freqüentemente lidamos com questões que se tornam vazias e sem qualquer utilidade espiritual para nós. Precisamos então pedir a Deus que abra nossos olhos de modo que possamos conhecer Jesus. A essência do cristianismo reside no fato de sua fonte, profundidade e riqueza estarem vinculadas ao conhecimento do Filho de Deus. Não importa o quanto sabemos de doutrinas, métodos ou poder; o que realmente importa é conhecer o Filho de Deus.

O CAMINHO

Disse Jesus ; “Eu sou o caminho”. A palavra caminho também significa método. Então Jesus é o caminho pelo qual chegamos a Deus e o método que também alcançamos a Deus. Tendo a Ele, temos o caminho; possuindo-O, possuímos o método. Esse caminho nada mais é do que o próprio Cristo. Não é um método qualquer fora dele.

Alguns cristãos estão à procura de novos métodos espirituais. Certa vez, depois de ouvir uma mensagem a respeito da vitória através de Cristo e não por esforço próprio, um irmão disse ao pregador: “Por muitos anos tenho sido constantemente derrotado mas hoje está resolvido”. Ao que o pregador perguntou : “E como você sabe disso?”. O irmão respondeu : “Porque agora creio Ter achado um caminho para a vitória, Louvado seja Deus porque achei um método! A vitória é através do Senhor, não através de mim mesmo”. O pregador respondeu : “Se tudo que você achou foi um caminho para a vitória, então você vai ser derrotado novamente, porque o caminho e o método é o próprio Jesus. Deus não nos dá um caminho, Ele nos dá Jesus”.

Pela graça de Deus, um cristão tem seus olhos abertos para ver que tipo de pessoa ele é; portanto, ele se submete e crê no Senhor, confiando que o Senhor fará aquilo que ele não pode realizar sozinho. Mais tarde, porém, um outro cristão, ao ouvir o testemunho do primeiro, também pede a Deus para iluminá-lo para descobrir sua incapacidade. Ele também sabe que deve crer em Deus e que humildemente deve abandonar seu eu. No entanto, estranhamente ele não recebe a libertação que o primeiro experimentou. Como se explica isso? A razão é que o primeiro irmão possui uma fé viva que o capacita tanto a tocar como crer no Senhor, enquanto segundo está meramente copiando uma fórmula, ou seja, ele tem um método e não o Senhor.

Todas as coisas espirituais fora de Cristo são mortas. Não é porque alguém tenha aprendido uma série de métodos, que tal pessoa é um cristão, uma vez que as pessoas se tornam filhas de Deus através do novo nascimento, e não pelo aprendizado.

A VERDADE

A verdade não se refere a palavras a respeito de Cristo; Ele próprio é que é a Verdade. Freqüentemente, os cristãos consideram o ensino como verdades, embora a verdade seja uma pessoa e não algo mais.

“E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará (Jo 8:32). Se verificarmos nossa experiência, verificaremos que jamais alguma verdade nos libertou. Podemos Ter falado de doutrinas anos a fio, e, ainda assim não enxergarmos nada. Se nossas palavras se resumem a mera doutrina, estamos manuseando algo morto, tendo como resultado algo artificial, sem vida.

Certa vez um irmão ficou ofendido com outro. Ele não tolerou uma ofensa e repreendeu furiosamente o irmão que o ofendera. Sentiu que deveria procurar o irmão e pedir perdão. Mas quando se lembrava da ofensa e fúria reacendia. Mesmo assim considerava que deveria pedir perdão. Começou a Escrever uma carta e por muitas vezes parou com a fúria em seu coração. Ate que um certo dia conseguiu terminá-la e postar no correio, porém a ira ainda estava em seu coração. Se ele encontrasse aquele irmão, poderia até mesmo cumprimentá-lo e apertar sua mão, mais no sue íntimo o problema estava lá. Ou seja, sua ação foi resultado da doutrina e não de vida.

A VIDA

Devemos deixar bem claro aqui que as obras não são vida porque vida não resulta de esforço, a vida é o próprio Cristo. Como as pessoas se esforçam para serem cristãs! Como nos cansamos com este esforço diário. Quão pesadas são as doutrinas que cobram de nós humildade, mansidão, perdão, paciência e santidade. Elas nos esgotam, literalmente. Muitos consideram que ser cristão é uma tarefa difícil. Quanto mais eles tentam, mais difícil a tarefa se torna. Depois de haver tentado por algum tempo, ainda não agem como cristãos. Irmãos, se Cristo não for a nossa vida, nós mesmos teremos que realizar as obras; mas se Ele for a vida para nós, não viveremos em esforço contínuo e vão.

Um erro muito grave é considerar a vida com algo que devemos conseguir por esforço. Devemos deixar bem claro que a vida flui naturalmente resultando em obras, mas as obras não substituirão a vida. Temos pessoas que tem um bom temperamento, raramente causam problemas, são gentis e nunca discutem; mas não se pode dizer que tenham vida espiritual rica. Se essas virtudes procedem de sua natureza humana, não são vida, pois elas não vêm de Cristo.

O que é a Vida? A vida é mais profunda que pensamentos e emoções. Tanto pensamento quanto emoções são coisas externas, O que é então a vida? O senhor Jesus disse : “Eu sou a vida”.

Não devemos nos precipitar em concluir que encontramos a vida quando tudo o que encontramos é uma atmosfera espiritual excitante. A experiência tem mostrado que muitos daqueles que são especialistas em criar um atmosfera excitante conhecem muito pouco ao Senhor. Muitas pessoas se emocionam facilmente, na verdade, conhecem muito pouco o Senhor. Somente Cristo é a vida, nada mais.

À medida que O conhecemos, tocamos a vida. Na presença de Deus devemos ver o significado de Cristo como a nossa vida. Aqueles que se emocionam facilmente ou que são demasiamente inteligentes não são necessariamente pessoas que conhecem o Senhor. Conhecê-lo requer uma visão espiritual.


A verdade sobre Jesus

PARECE não haver fim de teorias e especulações sobre quem foi Jesus e o que ele fez. E a própria Bíblia? O que ela diz sobre Jesus Cristo?
O que a Bíblia diz
Lendo a Bíblia com atenção, notará os seguintes fatos básicos:
• Jesus é o Filho unigênito de Deus, o primogênito de toda a criação, a Segunda Pessoa da Trindade — Jo.1.1; 3:16; Colossenses 1:15.
• Há uns dois milênios, Deus transferiu a vida de Jesus para o ventre de uma virgem judia para que nascesse como ser humano. — Mateus 1:18; João 1:14.
• Jesus foi mais do que só um homem bom. Foi, em todos os aspectos, um reflexo exato da bela personalidade do seu Pai, Deus. — João 14:9, 10; Hebreus 1:3.
• Durante seu ministério terrestre, Jesus cuidou com todo amor das necessidades dos oprimidos. Fez curas milagrosas e até ressuscitou mortos. — Mateus 11:4-6; João 11:5-45.
• Jesus proclamou o Reino de Deus como única esperança para a humanidade aflita e treinou os discípulos para dar continuidade à obra de pregação. — Mateus 4:17; 10:5-7; 28:19, 20.
• Em 14 de nisã (por volta de 1.° de abril) de 33 d.C., Jesus foi preso, julgado, condenado e executado sob a falsa acusação de sedição. — Mateus 26:18-20.
• A morte de Jesus serve de resgate, que liberta da pecaminosidade a humanidade crente e assim abre o caminho da vida eterna para todos os que tenham fé nele. — Romanos 3:23, 24; 1 João 2:2.
• Em 16 de nisã, Jesus foi ressuscitado e algum tempo depois ascendeu de volta ao céu para apresentar ao seu Pai o valor de sua vida humana perfeita oferecida como resgate. — Marcos 16:1-8; Lucas 24:50-53; Atos 1:6-9.
• Como Rei designado por Deus, o ressuscitado Jesus tem plena autoridade para levar a cabo o propósito original de Deus para o homem. — Isaías 9:6, 7; Lucas 1:32, 33.
Assim, a Bíblia apresenta Jesus como a figura central na execução dos propósitos de Deus. Mas como você pode ter certeza de que se trata do Jesus real — o Jesus histórico, que nasceu em Belém e andou na Terra há uns 2.000 anos?
Base para confiança
É possível dirimir muitas dúvidas simplesmente lendo o Novo Testamento com mente aberta. Você verá que o registro bíblico não é uma narrativa vaga de eventos, como se dá na mitologia. Mencionam-se nomes, ocasiões específicas e locais exatos. (Veja, por exemplo, Lucas 3:1, 2.) Além disso, os discípulos de Jesus são retratados com uma honestidade notável, com uma candura que inspira confiança no leitor. Os escritores não encobriram as falhas de ninguém — nem de si mesmos — com o objetivo de produzir um relato fiel. Você concluirá que a Bíblia diz a verdade. — Mateus 14:28-31; 16:21-23; 26:56, 69-75; Marcos 9:33, 34; Gálatas 2:11-14; 2 Pedro 1:16.
Mas isso não é tudo. Não faltam descobertas arqueológicas que confirmam o registro bíblico. Se você visitar o Museu de Israel, em Jerusalém, por exemplo, poderá ver uma pedra com a inscrição do nome de Pôncio Pilatos. Outras descobertas arqueológicas confirmam que Lisânias e Sérgio Paulo, mencionados na Bíblia, foram homens que realmente existiram, não personagens fictícios inventados pelos primeiros cristãos. Eventos narrados no Novo Testamento são confirmados inúmeras vezes em referências feitas por escritores antigos, entre os quais Juvenal, Tácito, Sêneca, Suetônio, Plínio, o Moço, Luciano, Celso e o historiador judeu Josefo.
Os relatos do Novo Testamento foram aceitos sem questionamento por milhares de pessoas no primeiro século. Nem os inimigos do cristianismo negaram a veracidade do que consta que Jesus disse e fez. Quanto à possibilidade de o perfil de Jesus ter sido retocado pelos discípulos depois da sua morte, o professor titular F. F. Bruce comenta: "Certamente não teria sido nada fácil, como alguns escritores parecem achar, inventar palavras e ações para Jesus naqueles primeiros anos, quando ainda viviam tantos dos Seus discípulos, que podiam lembrar-se do que havia e do que não havia acontecido. . . . Os discípulos não podiam dar-se ao luxo de arriscar inexatidões (sem falar em deliberadamente manipular os fatos), o que seria de imediato exposto por aqueles que teriam o maior prazer em fazer isso."
Por que eles não crêem
No entanto, alguns estudiosos mantêm-se cépticos. Embora pressuponham que o registro bíblico seja fictício, vasculham os escritos apócrifos com avidez e meticulosidade e os acham dignos de crédito! Por quê? É óbvio que o registro bíblico contém coisas em que muitos intelectuais modernos não querem crer.
Em The Union Bible Companion, publicado em 1871, S. Austin Allibone fez um desafio aos cépticos: "Pergunte a qualquer um que professe duvidar da veracidade da história dos Evangelhos que razão tem para crer que César morreu no Capitólio ou que Carlos Magno foi coroado Imperador do Ocidente pelo Papa Leão III, no ano 800. . . . Cremos em todas as afirmações . . . feitas a respeito destes homens; e isto porque temos evidência histórica de sua veracidade. . . . Se, após a apresentação de provas como estas, quaisquer pessoas ainda se recusam a acreditar, abandonamo-las como estupidamente obstinadas ou irremediavelmente ignorantes. O que diremos, então, dos que, apesar da abundante evidência agora apresentada da autenticidade das Escrituras Sagradas, professam-se não persuadidos? . . . Não desejam crer naquilo que humilha seu orgulho e que os obrigará a levar uma vida diferente."
Vê-se que alguns cépticos rejeitam o NT por motivos inconfessos. O problema que eles encontram não está na credibilidade das Escrituras, mas nos seus valores. Por exemplo, Jesus disse aos seus seguidores: "Não fazem parte do mundo, assim como eu não faço parte do mundo." (João 17:14). Muita gente preferiria que a Bíblia se amoldasse aos seus valores a amoldar-se aos valores da Bíblia.
Pense também na questão da moralidade. Jesus deu fortes conselhos à igreja em Tiatira por tolerar a prática da fornicação. "Sou eu quem pesquisa os rins e os corações", disse-lhes ele, "e eu vos darei individualmente segundo as vossas ações". (Revelação [Apocalipse] 2:18-23) Mas não é verdade que muitos que professam ser cristãos desprezam os padrões de moral? Preferem rejeitar o que Jesus disse a rejeitar a imoralidade.
Propensos a não aceitar o Jesus da Bíblia, os estudiosos criam um Jesus que é fruto da sua imaginação. Tornam-se culpados daquilo de que falsamente acusam os evangelistas, isto é, de fabricar um mito. Aceitam as partes da vida de Jesus que querem aceitar, rejeitam as demais e acrescentam detalhes a seu bel-prazer. Na verdade, o sábio errante ou o reformador social de suas concepções não é o Jesus histórico, à procura de quem dizem estar. É pura invenção, fruto da imaginação de acadêmicos orgulhosos.
Como encontrar o Jesus real
Jesus empenhou-se em despertar o coração dos sinceros e sedentos da verdade e da justiça. (Mateus 5:3, 6; 13:10-15) Essas pessoas aceitam o convite de Jesus: "Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu os aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração, e achareis repouso para as vossas almas. Pois o meu jugo é suave e meu fardo é leve." — Mateus 11:28-30.
O Jesus real não se acha nos livros dos estudiosos da atualidade. Você pode encontrar o Jesus histórico em seu exemplar da Bíblia. Gostaria de aprender mais sobre ele? No Logos você pode conhecê-lo melhor.
SÉCULOS DE CRÍTICA
A crítica do NT teve início há mais de 200 anos, quando o filósofo alemão Hermann Samuel Reimarus (1694-1768) asseverou: "Estamos justificados a fazer uma distinção absoluta entre o ensino dos Apóstolos em seus escritos e o que o Próprio Jesus em vida proclamou e ensinou." Desde Reimarus, muitos estudiosos foram ensinados a ter a mesma opinião.
O livro The Real Jesus diz que muitos críticos do passado não se consideravam apóstatas. "Viam a si mesmos como os mais genuinamente cristãos por se terem libertado dos grilhões do dogma e da superstição." Em sua opinião, a alta crítica era uma "forma purificada do cristianismo". Podemos estar certos de que o NT é um registro de verdade histórica e doutrinal.
QUANDO OS EVANGELHOS FORAM ESCRITOS?
Muitos críticos do Novo Testamento insistem em dizer que os Evangelhos foram escritos muito depois dos eventos relatados e que por isso é quase certo que contêm inexatidões.
No entanto, as evidências sugerem que Mateus, Marcos e Lucas foram escritos antes do que os críticos imaginam. Há subscritos em alguns manuscritos de Mateus que indicam que a escrita original ocorreu já em 41 d.C.. Lucas foi escrito com toda probabilidade entre 56 e 58 d.C., porque o livro de Atos (provavelmente concluído em 61 d.C.) indica que o escritor, Lucas, já havia terminado seu "primeiro relato", o Evangelho. (Atos 1:1) Acredita-se que o Evangelho de Marcos foi escrito em Roma durante o primeiro ou o segundo encarceramento do apóstolo Paulo, provavelmente entre 60 e 65 d.C..
O professor titular Craig L. Blomberg também acredita que esses Evangelhos foram escritos antes do que os críticos imaginam. Ele diz que, mesmo acrescentando o Evangelho de João, escrito no fim do primeiro século, "ainda ficamos bem mais próximos dos eventos originais do que muitas biografias antigas. Os dois mais antigos biógrafos de Alexandre, o Grande, por exemplo, Ariano e Plutarco, escreveram mais de quatrocentos anos depois da morte de Alexandre, em 323 a.C.; no entanto, os historiadores em geral os consideram merecedores de crédito. Com o tempo surgiram lendas fantásticas sobre a vida de Alexandre, mas na maior parte só nos vários séculos depois desses dois escritores." Os trechos históricos do NT certamente são dignos de no mínimo tanto crédito quanto histórias seculares.