domingo, 3 de julho de 2011

Há quem garanta que há fantasmas, em Portugal espíritos do além, objectos que se movem sozinhos, e casas assombradas. Para outros tudo não passa de uma imaginação fértil. Será? Histórias de casas povoadas de assombrações.



Era uma vez uma casa onde voavam copos, as portas abriam e fechavam sozinhas, as velas acendiam como que por artes mágicas e até caíam pedras, sem que alguma vez se ferisse alguém. Nesta casa vivia gente. Gente que passava pelos dias e, sobretudo, pelas noites, apavorada. A vizinhança tinha já presenciado certas manifestações que todos atribuíam a presenças do além. Pior, era o próprio demónio o autor de tão insólitos acontecimentos. Até que um dia o senhor António, o habitante mais velho da casa, decidiu recorrer ao cura da aldeia, ali numa paróquia do Minho, a pedir que fosse lá a casa, fizesse umas rezas e expulsasse os espíritos. Antes de tomar qualquer decisão, o pároco decidiu passar um dia em casa daquela apavorada família. Não queria acreditar quando assistiu, ele próprio, ao que o senhor António lhe tinha relatado no silêncio da sua sacristia. Aquelas coisas estranhas aconteciam mesmo. Todos, lá em casa, lhe rogaram para que benzesse o lar e, mais, ali fizesse um exorcismo. Não se deixando convencer à primeira, ainda que tenha presenciado tão estranhos eventos, recorreu a uns conhecimentos que tinha em Braga para ali trazer especialistas ligados à parapsicologia.

Mesmo na presença dos doutores, os espíritos não estiveram com meias-tintas. Choveram pedras, portas e janelas abriram e fecharam-se sozinhas e até alguns fardos de palha arrumados no telheiro começaram a arder. Maria Luísa Albuquerque, uma encartada chamada pelo cura, a todos perguntou pela idade, na esperança de que o causador fosse algum adolescente dado a brincadeiras. Segundo os estudos de parapsicologia, são eles os responsáveis por 90% destes casos. Adolescentes naquela casa só o neto, um rapaz de 15 anos... e o senhor António, na presença dos quais os fenómenos aconteciam repetidamente. Avô e neto foram afastados de casa por alguns dias, a parapsicóloga conversou com ambos em separado e, tal como se supunha, não houve mais nenhum objecto voador.



Casa das Pedras, na Linha de Cascais...


O senhor António, 76 anos acabados de fazer, andava muito angustiado com a ideia da morte; já Francisco, levava a vida "na boa". Resolvido o mistério havia que solucionar os problemas psicológicos do senhor António, que se manifestavam com estas reacções parapsicológicas. "Tudo aquilo se devia à emissão de energia somática, do senhor António, ao que em parapsicologia damos o nome de telergia, e a essa energia chamamos de psicorragia", esclarece Maria Luísa Albuquerque, que também ajudou o patriarca da família a encarar a ideia de morte de forma menos negativa. Os calmantes receitados pelo médico de família levaram-no a dormir melhor, e, a partir daí, os fenómenos cessaram. Tudo se resumia, afinal, ao medo "do que encontraria do outro lado, depois da morte, ele que tinha dedicado a vida à família e às terras", recorda a parapsicóloga, licenciada por uma universidade de São Paulo, no Brasil, e com doutoramento em Espanha dedicado ao tema "Demónio, um caso clínico".

Heitor Morais, padre jesuíta e director da revista "Magnificat", sediada em Braga, tem uma explicação para estes fenómenos: "Tudo isto é causado pela força física da mente. As pessoas andam angustiadas, têm problemas que as inquietam, medos, angústias, e de forma inesperada, involuntária e inconscientemente provocam reacções físicas nos objectos." Ele próprio já assistiu a estas ocorrências e já tranquilizou as pessoas dizendo-lhes que aquilo eram reacções parapsicológicas que terminariam quando as pessoas se tranquilizassem. "Mesmo assim pedem-me para lhes benzer as casas, talvez por sugestão, para ficarem mais tranquilos. Em regra não rezo, nem deito água benta, mas se isso fizer com que as pessoas fiquem sossegadas..."



... e Castelinho, também na Linha de Cascais, conhecidas pela presença de fantasmas


A casa onde José Castelo Branco teve uma visão parece um pequenino castelo, com torres e imitações de ameias. Fica junto ao mar, em São João do Estoril, na estrada Marginal que liga Lisboa a Cascais. Esteve durante muito anos votada ao abandono, mas nem por isso quem lá passava deixava de ver luzes a acender e a apagar. Figura ímpar do jet set nacional, Castelo Branco esteve decidido a comprá-la em 1983. Na sua primeira visita ao local logo mudou de ideias, quando avistou uma criança, menina, a brincar em cima do muro da propriedade, junto à falésia, acompanhada por outras, sentadas nos rochedos. Na altura, o marchant sentiu-se tentado a voar. "Se não me tivessem agarrado teria caído ali mesmo." Desistiu do negócio e não se arrepende. A mesma casa tentou a mãe de Lili Caneças. "Eu era a pessoa certa para a morada certa. Aquele castelinho com ameias junto ao mar faria de mim a princesa que eu sempre achei que era." O preço pedido era até convidativo. Mas o negócio ficou por acontecer dado que foram informadas de que a casa seria assombrada e de que as pessoas que lá viviam ou morriam rapidamente ou os negócios estoiravam. "Era a visão do inferno de Dante. A minha mãe não quis arriscar e desistimos do negócio. Hoje teria insistido para que se comprasse a casa. Quando por lá passo conto esta história ao meu neto", diz Lili Caneças. Actualmente, o castelinho, conhecido por casa do Dr. Cebola, está habitada e restaurada e não consta que alguma desgraça tenha acontecido.

Ali bem perto, na Parede, mas do lado oposto, apresenta-se outra habitação com fama de assombrações. Mandada construir em 1904 pelo comandante e capitão-de-fragata Manuel de Azevedo Gomes, ficou conhecida como a casa das pedras. Em vias de classificação, foi desenhada pelo arquitecto italiano Nicola Bigaglia para ser casa de veraneio. O proprietário, dada a paixão que tinha pelo mar, pediu que fosse totalmente revestida a pedras, seixos e conchas trazidas da costa. "Com um corpo arredondado virado a sul, abrigando um jardim de Inverno, tem várias ameias e merlões, jogando com o imaginário dos castelos medievais. De tom escuro, com a pedra evidente, o edifício impõe-se ao passante como uma sugestão misteriosa, tenebrosa e repleta de opções estéticas próprias do gosto do romantismo tardio português que caracteriza o início do século XX", explica Mário Lisboa, técnico superior da Câmara Municipal de Cascais. Mas nem por isso a explicação atenua os boatos que correm sobre as assombrações desta casa. Talvez por esta moradia tão inusitada ter sido sempre habitada por pessoas de muita idade. "A mulher do capitão viveu lá até ser muito velhinha, ia à janela, assim como a sua filha, a D. Alice, que ali viveu até ter mais de 90 anos", refere Mário Lisboa. Actualmente habitada, não consta que alguma vez os seus inquilinos tenham sido importunados.



Sanatório da Serra da Estrela, onde vivem espirítos de antigos doentes


Ainda na estrada Marginal, agora já bem mais próximo de Lisboa, há referências, diga-se rumores, de uma outra casa assombrada. Em ruínas, fica em Caxias, junto à curva que dá acesso à A5, próximo do farol da Gibalta. Antiga casa de chá, nunca ali viveu ou funcionou durante muito tempo gente ou negócios. Diz-se que os antigos donos não querem lá ninguém. Para já, têm tido sorte. Está previsto que aquele vale seja todo reconvertido e transformado em habitação e comércio.

Ana Maria Magalhães, a autora que em parceria com Isabel Alçada tem escrito a colecção "Uma Aventura", foi proprietária de uma casa dita assombrada. Comprou-a nos anos 60 e logo após o 25 de Abril viu as casas vizinhas serem todas ocupadas. A sua foi uma excepção. Ninguém a quis. Até ao dia em que comentou o facto com uma vizinha e esta lhe disse que a casa era assombrada por um pescador, antigo proprietário, conhecido como Rompedias. Em vida, Rompedias jurara que a sua casa nunca haveria de sair da família. Como saiu, o falecido pescador não abandonou a moradia. Até então, a escritora nunca tinha dado por nada. Mas a partir daí começou a reconhecer fenómenos estranhos: "Emprestava a casa a amigos e alguns deles vinham de lá pálidos e diziam que não queriam lá voltar, garantindo que tinham visto um velho com camisa aos quadrados na sala ou a espreitar à janela." Ana Maria Magalhães garante nunca ter sido visitada, mas numa noite de Verão ouviu uma porta a bater e, quando foi espreitar, a porta da casa de banho estava trancada por dentro. "Não estava lá ninguém e não havia janelas. Só não sei se foi o Rompedias", graceja. A verdade é que a história serviu de inspiração a um dos seus livros e até o fantasma da história ganhou o nome de Rompedias.



Hotel da Bela Vista, em Portimão. Diz a lenda que a antiga proprietária ainda por lá anda


Vítor Rodrigues, psicólogo e psicoterapeuta, garante que a forma mais fácil de criar fantasmas é a sugestão: "Se uma pessoa vai a uma casa sabendo que existe uma lenda, fica logo influenciada. Qualquer perito em efeitos especiais sabe que é facílimo criar ilusões deste tipo, e, às vezes, criam-se para fazer baixar os preços de uma casa, mas também há locais onde de facto se produzem fenómenos bizarros. A existência de campos electromagnéticos, de veios de água subterrâneos podem provocar perturbações. A existência de infra-sons provocados por fenómenos naturais podem ter o mesmo efeito." Mas Vítor Rodrigues também reconhece que "há pessoas com elevada percepção extra-sensorial, capaz de captar informação e de agir sobre fenómenos físicos e biológicos do nosso mundo tangível sem qualquer mediação física conhecida". Acrescenta: "Não falta rigor epistemológico à investigação que demonstra a existência da possibilidade de seres humanos, e até animais, poderem interagir à distância com sistemas físicos e biológicos ou poderem transcender os limites de espaço e tempo e captarem informação sobre eventos distantes no futuro e no passado. Como é evidente, qualquer especulação sobre hipotéticas implicações religiosas deste facto poderá ser ilusória."



Ruínas de uma casa de chá em Caxias, onde nada vai avante


José Lucas não tem ilusões. Para ele, as casas assombradas são um facto. "Não são mais do que locais onde existem manifestações espirituais, repetitivas, que podem ter várias causas". Explica: "Existem locais onde, certas pessoas, após a morte do corpo físico, se apegam e ficam por lá." Isso acontece, esclarece José Lucas, militar e secretário da Associação de Divulgadores de Espiritismo de Portugal, pelo facto de alguém, que tendo uma obsessão muito grande pela sua casa, terreno, ou qualquer outro bem material, continuar depois de morta ligada mentalmente àquilo que valoriza: os seus bens particulares. Podem existir outros motivos, como explica "O Livro dos Espíritos", de Allan Kardec.

Assim sendo, "se alguém alugar ou adquirir aquela casa, as pessoas no mundo espiritual, sentindo os novos donos como ameaças aos seus pertences, desencadeiam barulhos e outros fenómenos de efeitos físicos, no sentido de afastar os intrusos e assim ficarem sozinhos com o que é deles". Mas também existe outro fenómeno, clarifica José Lucas, em que algum habitante, com poderes de médium, liberta ectoplasma, uma substância utilizada pelos espíritos para agirem sobre a matéria. Nesses casos, as pessoas, pensando ser a casa que está assombrada, mudam de residência, continuando os mesmos fenómenos para onde forem.

Segundo consta, as assombrações que atormentaram Jenna Bush, uma das filhas de George W. Bush, enquanto viveu na Casa Branca, não a seguiram. Mas se ficaram pelos salões parece que ainda não visitaram a família Obama. Contudo, no site oficial da casa mais famosa de Washington, a tradição não é abafada e por lá se referem as famosas aparições dos fantasmas do 16º Presidente dos EUA, Abraham Lincoln, e de Abigail Adams, mulher do segundo Presidente dos EUA, e dos sons celestiais que saem de algumas lareiras. Será que pelos corredores de Belém e de São Bento também há fantasmas? Talvez assim se expliquem os espiões do Governo e os assessores do Presidente a serem seguidos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário