sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Anneliese Michel: Um Caso de Possessão Demoníaca

Este é o caso que originou o filme O Exorcismo de Emily Rose
Os padres Ernest Alt e Arnold Renz  tinham uma dolorosa e necessária missão a cumprir.  Talvez a simples fé no Cristo não fosse suficiente para levar a cabo a empreitada.  Os padres sabiam muito bem que teriam de ser fortes. E extremamente corajosos. Doravante, era o inimigo do Altíssimo  que teriam de enfrentar e combater.
Anneliese Michel  tinha visões assustadoras de faces demoníacas enquanto, ajoelhada, dedicava uma prece ao Senhor.  Vozes invadiam os seus ouvidos com promessas terríveis: a jovem, distante de qualquer possibilidade de Salvação em Crsisto,  queimaria eternamente no Inferno.  Crises de depressões sucediam-se, já que Anneliese, embora profundamente católica, via crescer em si uma insuportável intolerância a locais e objetos sagrados.
O que era uma simples conjectura tornou-se, para os pais daquela jovem de apenas vinte e três anos, uma convicção inabalável: a filha estava possuída por forças sobrenaturais malignas.

Foto de Anneliese Michel antes da possessão
Anneliese nascera em 1952, na Baviera, recanto alemão de arraigada tradição católica. Por volta dos dezesseis  anos,   desencadeou-se  em Anneliese uma torrente de sintomas  que, ao menos na aparência,  sugeriam problemas mentais.  A Clínica Psiquiátrica de Würzburg chegou a um diagnóstico:  Anneliese padecia de epilepsia associada à esquizofrenia.  Inciou-se um tratamento intensivo, que durou um ano.  Supostamente  recuperada, Anneliese  completou o segundo grau. Posteriormente, ingressou na  Universidade de Würzburg,  iniciando o curso  de Pedagogia.
Mas os estudos foram interrompidos.  As vozes e visões demoníacas se tornaram cada vez mais constantes e opressoras.  Anneliese assumira  um comportamento agressivo. Consta que a moça  “insultava, espancava e mordia os outros membros da família, além de dormir sempre no chão e se alimentar com moscas e aranhas, chegando a beber da própria urina. Anneliese podia ser ouvida gritando por horas em sua casa, enquanto quebrava crucifixos, destruía imagens de Jesus Cristo e lançava rosários para longe de si. Ela também cometia atos de auto-mutilação, tirava suas roupas e urinava pela casa com freqüência” (1).

Anneliese, subjulgada pelas forças malígnas
Frustrado o tratamento psiquiátrico, os pais de Anneliese buscaram o auxílio da Igreja. O padre Ernest Alt acompanhou o caso.  Em 1974, ele chegou à conclusão de que havia indícios veementes de possessão demoníaca,  o que requereria  a realização de exorcismo.  Mas somente em setembro do ano seguinte o bispo de Wüzburg autorizou o ritual, conforme os procedimentos previstos no Rituale Romano.
Ao longo de 67 seções,  que se prolongaram por longos nove meses, realizadas uma ou duas vezes por semana, os padres Ernest e Arnold pelejaram contra entidades que assumiam a identidade de Lúcifer,  Caim, Judas, Nero, Adolf Hitler e Fleischmann, um bruxo do século XVI. Durante as sessões, Anneliese, muitas vezes,   “tinha que ser segurada por até três homens ou, em algumas ocasiões, acorrentada” (2).  Argumenta-se que ela “lesionou seriamente os joelhos em virtude das genuflexões compulsivas que realizava durante o exorcismo, aproximadamente quatrocentas em cada sessão” (3).
Anneliese teria relatado   um sonho místico no qual  dialogara com a Virgem Maria.  A mãe de Jesus teria proposto, à jovem,  a seguinte escolha: liberar-se, em proveito próprio,  do terrível jugo demoníaco,  ou continuar imersa no dolososo martírio, mas em nome da fé cristã.  A segunda alternativa seduziu a jovem estudante: ela seria um público exemplo de que os demônios existem e  de que exercem os seus nefandos poderes  no plano terrestre.  Argumenta-se que  “Anneliese optou pelo martírio voluntário, alegando que seu exemplo enquanto possessa serviria de aviso a toda a humanidade de que o demônio existe e que nos ronda a todos, e que trabalhar pela própria salvação deve ser uma meta sempre presente. Ela afirmava que muitas pessoas diziam que Deus está morto, que haviam perdido a fé, então ela, com seu exemplo, lhes mostraria que o demônio age, e independe da fé das pessoas para isso. (4)”
Anneliese predissera quando se daria a sua libertação: 1 de julho de 1976.  Consta que, à meia-noite, os demônios finamente abandonaram o corpo da estudante, deixando-a em paz e livre das convulsões impingidas durante tantos anos. Exausta, Anneliese adormeceu.  E teve, em seqüência,  uma morte tranqüila. Era o fim de um insuportável suplício.  “A autópsia considerou o seu estado avançado de desnutrição e desidratação como a causa de sua morte por falência múltipla dos órgãos. Nesse dia o seu corpo pesava pouco mais de trinta quilos. (5)”
Segundo Elbson do Carmo, após a morte  de Anneliese,  “seus pais foram indiciados por homicídio culposo e omissão de socorro, e os dois padres exorcistas Ernst Alt e Arnold Renz sofreram as mesmas acusações. Os dois padres foram condenados a seis meses de prisão.” (6)  Registra o mesmo autor que esse fato “chocou a opinião pública alemã, gerando uma enorme polêmica em toda a Europa, que incluiu a Igreja, os meios acadêmicos e a justiça em torno da mesma discussão” (7).  A história de Anneliese deu origem a dois filmes, “Requien” –   produção alemã – e “O Exorcismo de Emily Rose”  – produção norte-americana dirigida por Scott Derrickson.
Anneliese Michel  é, certamente, um dos mais bem documentados casos de distúrbios de comportamento  ao qual se atribui  a ação opressora  e letal  de forças malignas incidente sobre a frágil psique  humana.  E, a considerar o  incontestável rigor que antecede a qualquer autorização da  Igreja Católica para a prática do  Rituale Romano, não se pode pôr em dúvida a materialidade do excêntrico e destrutivo  calvário, ou as implicações  místicas que acompanharam o longo sofrimento da estudante de  Wüzburg. Mas se,  de fato, possessão houve, isto compõe uma insondável silhueta  que, por se situar  no campo metafísico,  escapa a qualquer possibilidade de juízo conclusivo.

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