sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

ANGEOLOGIA E DEMONOLOGIA


Anjos e Demônios - A Luta Contra o Poder das Trevas
Os anjos e os demônios não são um fruto da fantasia do homem, nem mera expressão de suas esperanças e temores. Eles existem, são seres reais, dotados de uma natureza puramente espiritual, muito mais perfeita do que a nossa, de uma inteligência agudíssima e uma vontade possante. Eles intervêm continuamente em nossa vida; os santos anjos, por meio das boas inspirações que nos sugerem; os demônios, pelas tentações a que nos submetem. Quais são os poderes reais dos anjos e dos demônios? Como devemos nos portar diante da ação angélica e como reagir em face da atividade diabólica? Mais especificamente, como resistir às tentações do demônio, à sua ação extraordinária, às infestações e à possessão? O que pensar da feitiçaria, dos sabás e das missas negras? Existem ainda hoje bruxos e feiticeiras? O espiritismo e a macumba têm alguma influência diabólica? Existe alguma relação entre Rock ’n’ Roll e satanismo? Para responder a estas perguntas, os autores de Anjos e demônios — A luta contra o poder das trevas consultaram um sem-número de obras especializadas, recolhendo o ensinamento de uma centena de teólogos, moralistas e canonistas católicos; percorreram ainda as páginas de numerosos jornais e revistas, tanto nacionais como estrangeiros. Eles apresentam aqui, numa linguagem acessível, o resultado de sua pesquisa, colocando nas mãos do leitor não-especializado um trabalho denso de conteúdo bíblico e teológico e ao mesmo tempo de leitura amena e atraente.

“Sede sóbrios e vigiai, porque o demônio, vosso adversário, anda como um leão que ruge, buscando a quem devorar. Resisti-lhe fortes na fé”. (Primeira Epístola de São Pedro 5,8) 
OS ANJOS,OS DEMÔNIOS E O HOMEM

“(Jacó) teve um sonho: Uma escada se erguia da terra e chegava até o céu, e anjos de Deus subiam e desciam por ela".    (Gen 28, 12)

CONSIDERANDO ÀS VEZES a beleza de um panorama marítimo, a elegância das ondas que vêm suavemente espraiar-se na areia límpida em um turbilhão de espuma; gaivotas e outros pássaros marinhos que planam docemente, sem esforço aparente, ao sabor das brisas; o brilho da luminosidade que reverbera nas águas e parece confundir-se com elas na linha do horizonte; diante de tudo isso sentimos a tranqüila majestade de Deus, sua imensa sabedoria, amor infinito por nós homens, dando-nos, sem nenhum mérito nosso, tais maravilhas. Mas, se para além dos sentidos naturais, considerássemos o mesmo panorama também com os olhos da Fé, perceberíamos que a maravilha é ainda maior, e a sabedoria e a bondade divinas ainda mais perfeitas; sua solicitude em relação a nós, homens, ainda mais excelente e carinhosa. É que, ao lado de toda aquela perfeição material, guardando-a e dirigindo-a, saberíamos que estão criaturas espirituais, incomparavelmente mais perfeitas do que nós e que têm como uma de suas missões ajudar-nos a melhor conhecer e amar o Criador, aconselhar-nos em nossas dúvidas, proteger-nos em todos os perigos, socorrer-nos em todas as dificuldades: os anjos.


Os Santos Anjos

Coroando a criação, acima dos seres inanimados, do mundo vegetal e animal, do homem que é o Rei dessa obra, Deus colocou os espíritos angélicos, dotados de inteligência (incomparavelmente mais perfeita que a nossa), porém não sujeitos às limitações do corpo, como nós. Explica São Tomás que Deus criou todas as coisas para tornarem manifesta a sua bondade e, de algum modo, participarem dessa bondade. Ora essa participação e manifestação não seriam perfeitíssimas senão no caso em que houvesse, além das criaturas, meramente materiais, outras compostas de matéria e espírito (os homens) e, por fim, outras puramente espirituais, que pudessem as similar de modo mais pleno as perfeições divinas. A verdade maravilhosa da existência dos anjos - seres intermediários entre Deus e os homens — é ilustrada poéticamente na Escrituras pelo sonho de Jacó, Patriarca do Povo eleito: “(Jacó)  teve um sonho: Uma escada se erguia da terra e chegava até o céu e anjos de Deus subiam e desciam por ela” (Gen 28, 12).

Do ápice da escala da criação, os puros espíritos descem até a criaturas inferiores, governando o mundo material, amparando protegendo o homem; e sobem até Deus para oferecer-Lhe a glória da criação, bem como a oração e as boas obras dos justos. Essa realidade angélica foi pressentida pelos povos antigos, em meio às brumas do paganismo e das superstições, sob a forma de gênios benfazejos das fontes, dos bosques, dos mares, os quais garantiriam a harmonia do Universo, e eram propícios aos homens.
Mas foi a revelação divina que apresentou aos homens a verdadeira figura dos espíritos angélicos, desembaraçada de toda forma de superstição. As Sagradas Escrituras e a Tradição forneceram os elementos fundamentais, que os grandes teólogos Doutores da Igreja — em especial São Tomás de Aquino — sistematizaram, dando-nos uma doutrina sólida e coerente sobre o mundo angélico.

É essa doutrina que procuramos sintetizar no presente trabalho, seguindo o Doutor Angélico bem como autores mais recentes que trataram do tema. Estamos certos de que o conhecimento desta doutrina será proveitoso para todos os fiéis. Conhecendo melhor os anjos, teremos mais intimidade com eles e seremos assim levados a recorrer mais amiúde à sua proteção e ao seu amparo, nesta nossa jornada terrestre rumo ao Paraíso. Sobretudo na luta tremenda que devemos travar contra o Adversário, o Caluniador, que anda ao redor de nós, no um leão feroz, querendo nos devorar (1 Ped 5, 8-9): Satanás!

Satanás e os anjos rebeldes

Da maravilhosa realidade dos santos anjos, descemos assim para tenebrosa realidade dos espíritos infernais, os demônios. Mais ainda do que em relação aos anjos, os povos pagãos da Antiguidade (como também os primitivos de hoje) tiveram a percepção dos demônios. A tal ponto, que mentalidades racionalistas do século passado e deste quiseram ver na concepção bíblica de anjos e demônios uma mera influência babilônica e grega. Essa apreciação é completamente falsa pois a concepção bíblica e cristã sobre os anjos está inteiramente imune dos absurdos supersticiosos dos pagãos. Em relação aos demônios, os povos antigos (babilônios, caldeus ou gregos) manifestaram uma grande confusão, por não terem conseguido resolver o problema da origem do mal. Em suas concepções, o bem e o mal se mesclam e se confundem de tal maneira que tanto os deuses como os gênios perversos mostram-se ambíguos, representando e praticando, uns e outros, tanto o bem como o mal.
Entre os gregos, o vocábulo daimon designava os deuses e outros seres com forças divinas, sobretudo os maléficos, dos quais os homens deveriam guardar-se por meio da magia, da feitiçaria e do esconjuro. A concepção revelada pela Sagrada Escritura e pela Tradição é bem outra: os demônios não são divindades, mas simples criaturas, dotadas de uma perfeição natural muitíssimo acima da do homem, porém infinitamente abaixo da perfeição de Deus, seu criador, acima da do homem, porém infinitamente abaixo da perfeição de Deus, seu criador.

Se eles são perversos, não é por terem uma natureza essencialmente má, e sim por prevaricação; feitos bons por Deus, os anjos maus ou demônios se revoltaram e não quiseram submeter-se Criador, servi-Lo e adorá-Lo como sua condição de criatura o exigia. Uma vez revoltados, os anjos rebeldes fixaram-se no mal, e passaram a tentar o homem, procurando arrastá-lo à perdição eterna.  Essa atividade demoníaca — a tentação —  os teólogos qualificam de ordinária, por ser a mais freqüente e também a menos espetacular de suas atuações sobre o homem. Além dessa atividade, ele pode — com a permissão de Deus — perturbar o homem de um modo mais intenso mais sensível, provocando-lhe visões, fazendo-o ouvir ruídos e sentir dores; ou, então, atuando sobre as criaturas inferiores — as planta animais, os elementos atmosféricos — para desse modo atingir o homem. É a infestação pessoal ou local, atividade menos freqüente mais visível, chamada por isso extraordinária. Em certos casos extremos, podem os demônios chegar a possuir o corpo do homem para atormentá-lo. Temos aqui a possessão, a mais rara manifestação extraordinária do Maligno.

Deus não nos deixou à mercê dos espíritos depravados. Além da proteção especial de nosso Anjo da Guarda e demais espíritos celestes, entregou à Igreja os meios preventivos e liberativos para enfrentar a ação do
sacramentais (bênçãos, medalhas, escapulários). O mais efetivo desses meios sobrenaturais, para os casos de infestação e possessão são os exorcismos, pelos quais se dão ordens ao demônio, em virtude do nome Jesus, para abandonar o corpo da pessoa ou o lugar que ele infesta ou possui.
Devido à sua importância, nos deteremos um pouco mais no estudo dos exorcismos, considerando os seus fundamentos teológicos, o modo de praticá-los, bem como a legislação da Igreja a respeito.

Da atuação espontânea do demônio, passamos àquela que ele desenvolve a convite do homem, seja pela invocação direta e explicita, seja pela indireta e implícita. Com relação à magia, à feitiçaria e outras  formas de superstição, deixamos de lado os aspectos históricos polêmicos (que alongariam por demais o presente estudo e fugiriam ao objetivo dele), limitando-nos a considerar sua possibilidade teológica, afirmada, aliás pelo Magistério da Igreja e pela unanimidade dos teólogos e moralistas. Dedicamos algumas páginas à revivescência do satanismo nos dias de hoje, salientando o papel do Rock’ n’Roll, sobretudo do Heavy Metal (Rock Pesado) na sua difusão. A título de ilustração da doutrina aqui desenvolvida, apresentamos alguns casos de infestação possessão diabólica, uns decorrentes de intervenção espontânea do espírito das trevas, outros conseqüência de malefícios ou no de pacto explícito com o demônio; acrescentamos por fim o relato de uma série de sacrifícios  humanos aqui no Brasil em honra de entidades de macumba e candomblé (as quais entidades não são coisa senão demônios), que revelam, de modo alarmante, o quanto nosso país está envolvido por essa onda de satanismo moderno, conseqüência de sua apostasia da Fé católica.

Esperamos que este estudo contribua para reavivar a devoção santos anjos, nossos fiéis amigos, conselheiros e protetores; e ao mesmo tempo, sirva de alerta aos católicos para o perigo das das espíritas ou de macumba, e outras formas de superstição( como o  uso de amuletos, adivinhações, etc.), as quais podem conduzir, muitas vezes sem que se queira, à comunicação pelo menos implícita  com os espíritos infernais.

***

Digne-se a Virgem Santíssima — que esmaga para sempre a cabeça da serpente infernal (cf. Gen 3, 15) — proteger e abençoar este modesto esforço. Invocamos também o patrocínio do glorioso Patriarca São José e a proteção do invencível Arcanjo São Miguel — que derrotou Satã no “praelium magnum in caelo”  (Apoc 12, 7-l0) — e dos santos anjos que atenderam ao seu brado de guerra: “Quis ut Deus?” — “Quem é como Deus?”



demônio: orações, sacramentos, sacramentai
OS PRÍNCIPES DOS EXÉRCITOS DO SENHOR

AS NOÇÕES que correm entre os fiéis, mesmo dentre os mais fervorosos, a respeito dos santos anjos são muito vagas e superficiais. Meras reminiscências e imagens da infância, na maioria dos casos, não muito diferentes de entidades fictícias e de algum modo mitológicas, como as fadas e os duendes.

A iconografia corrente, infelizmente, não ajuda a dar a conhecer a verdadeira fisionomia dos anjos, apresentando-nos seres alados, com vestes e aspecto feminino; ou, então, anjinhos bochechudos, com cara infantil e tola, brincando despreocupadamente sobre nuvens que mais parecem flocos de algodão doce...

Esses anjos não existem, nem é deles que tratamos aqui.

A partir dos dados da Sagrada Escritura e da Tradição, dos escritos dos Santos Padres, do ensinamento do Magistério eclesiástico, da lição dos Doutores e teólogos, queremos apresentar a verdadeira natureza dos santos anjos: seres puramente espirituais, dotados de uma inteligência agudíssima e de uma possante vontade livre dominando abaixo de Deus sobre todas as demais criaturas, racionais e irracionais, bem como as forças da natureza, os elementos da atmosfera e subjugando para sempre os espíritos infernais.

Eis os santos anjos, príncipes dos exércitos do Senhor, mas também nossos amigos e protetores.



O admirável mundo angélico


"E ouvi a voz de muitos anjos
em volta do trono...
e era o número deles
milhares de milhares".
( Ap 5,11)



ALÉM DO MUNDO VISÍVEL e material, criou Deus também o mundo invisível e espiritual, o admirável mundo angélico.

A existência dos anjos foi negada na Antiguidade, entre judeus, pela seita dos saduceus (cf. At 23, 8). Mais tarde, por certas seitas protestantes, como os anabatistas. Em nossos dias ela tem por adversários os ateus, materialistas e positivistas, que não crêem senão naquilo que seus olhos vêem e seus sentidos apalpam. Os racionalistas, para encontrar uma excusa aparentemente racional à sua incredulidade, alegam que os anjos foram inventados pelos judeus no tempo do cativeiro da Babilônia, por imitação das entidades ali cultuadas; ou, então, consideram os anjos como simples modo poético e simbólico de referir-se às virtudes divinas e aos vícios humanos...

Contra todos esses, falam os dados da razão, a crença comum dos povos e a revelação divina.

Os anjos existem

Pela simples razão, independentemente da revelação, o homem pode chegar de algum modo ao conhecimento da existência dos anjos. Com efeito, a existência de seres puramente espirituais não repugna à razão. E um exame da criação, à mera luz do intelecto pode levar-nos à conclusão de que a existência de criaturas puramente espirituais convém à harmonia do Universo, pois assim estariam representados os três gêneros possíveis de seres: os puramente espirituais, acima do homem; outros, puramente materiais, abaixo do homem; por fim, seres compostos, dotados de matéria e espírito —   os homens. E a crença comum dos povos, constante em todos os lugares e em todas as épocas, sempre afirmou a existência desses seres de natureza superior aos homens e inferior à divindade.

Uma coisa, porém, é a mera possibilidade da existência de seres puramente espirituais, e outra é a sua realidade objetiva. A existência dos anjos (e dos demônios, anjos decaídos) seria para nós um problema insolúvel, não houvesse a tal respeito especial revelação divina por meio da Escritura e da Tradição,* que nos garantem a certeza da existência dos anjos.

* Tradição, em sentido amplo, é o conjunto de idéias, sentimentos e costumes, como também de fatos que, numa sociedade, se transmitem de maneira viva de geração a geração.

 Em sentido estrito teológico, chama-se Tradição o conjunto de verdades reveladas que os apóstolos receberam de Cristo ou do Espírito santo, e transmitiram, independentemente Sagradas Escrituras, à Igreja, que as conserva e transmite sem alteração. Essa revelação foi feita a nossos primeiros pais, e se conservou na  Humanidade, por via de transmissão oral pelos Patriarcas. Com o tempo (e também por obra do demônio, sem dúvida), essa revelação primitiva foi-se corrompendo, restando dela meros vestígios no paganismo antigo e no atual. Nas brumas desse paganismo encontramos seres incorpóreos, ora malfazejos ora benignos, quase sempre cultuados como divindades ou quase-divindades. Para preservar o povo judeu da contaminação por essa deformação politeísta pagã, os Autores sagrados, durante largo período, evitaram mencionar nominalmente o espírito das trevas. E, pela mesma razão, não se encontram muitos pormenores no Antigo Testamento sobre a natureza dos anjos e dos demônios, embora sejam mencionados a cada passo. A revelação definitiva só se verifica Nosso Senhor Jesus Cristo. Porém, a Bíblia não traz toda a revelação sobre o mundo angélico, sendo necessário recorrer à Tradição, Esta, como se sabe, encontra-se recolhida nos documentos dos Santos Padres* e escritores eclesiásticos dos primeiros tempos, assim como nos documentos do Magistério - Papas e Concílio - na Liturgia e nos monumentos da Antiguidade cristã (catacumbas cemitérios, etc.).

*Chamam-se Santos Padres ou Padres da Igreja certos escritores eclesiásticos antigos, que se distinguiram pela doutrina ortodoxa e santidade de vida e são reconhecido Igreja como testemunhas da tradição divina.

A existência dos anjos é uma verdade de fé,* provada pela Escritura e pela Tradição. A Sagrada Escritura refere-se inúmeras vezes a seres racionais, inferiores a Deus e superiores aos homens; logo, segundo ela, esses seres, que nós denominamos anjos, existem.

* Verdade de fé é aquela que se encontra na Revelação e é proposta pela Igreja aos fiéis como verdade que se deve crer. A negação pertinaz de uma verdade de fé constitui a heresia.

Essa verdade foi definida solenemente como dogma pelo concílio IV de Latrão (1215): “Deus.., desde o princípio do tempo criou do nada duas espécies de seres — os espirituais e os corporais, isto é, os anjos e o mundo”. De forma igual se expressa o I Concílio do Vaticano (1870).

Os nove coros angélicos

Existem diferenças entre os anjos, mas não consta na Revelação qual sua origem nem seu modo preciso. É questão de livre discussão se os anjos são todos da mesma espécie, ou se existem tantas espécies quantos são os coros, ou se cada indivíduo constitui uma espécie por si (opinião de São Tomás).

De acordo com uma tradição que remonta ao Pseudo-Dionísio Areopagita,* os teólogos costumam agrupá-los em nove ordens ou coros angèlicos, distribuídos em três hierarquias ( os nomes são tomados da Sagrada Escritura):**

*Renomado escritor eclesiástico dos primeiros séculos, cuja identidade não se estabeleceu ainda ao certo, durante muito tempo confundido com o sábio convertido por São Paulo no Areópago de Atenas (cf. At 17, 34). Uma de suas obras mais célebres é De coelesti hierarquia — Sobre a hierarquia celeste, na qual estabelece a ordem dos Anjos, deteminada pelo seu grau de assimilação a Deus, de união com Deus, do dom de luz divina que recebem e transmitem aos Anjos inferiores.


** Por exemplo: Serafins ( Is 6,2); Querubins ( Gen 3,24; Ex 25, 18; 3 Reis 6,23; Sl 17, 11; Ez 10,3; Dan 3,55); Arcanjos ( 1 Tes 4,15; Jud 9); Anjos, Potestades, Virtudes (1 Ped 3,22); Principados, Dominações ( Ef 1,20-21); Tronos (Col 1,16).

Primeira hierarquia - Serafins, Querubins, Tronos;

Segunda hierarquia - Dominações, Potestades, Virtudes;

Terceira hierarquia - Principados, Arcanjos e Anjos.

Os anjos dos três primeiros coros ou primeira hierarquia - Serafins, Querubins e Tronos contemplam e glorificam continuamente a Deus: " Vi o Senhor sentado sobre um alto e elevado trono... Os Serafins estavam por cima do trono ... E clamavam um para o outro e diziam: Santo, Santo, Santo, é o Senhor Deus dos exércitos" (Is 6, 1-3 ). " O Senhor reina ... está sentado sobre querubins" (Sl 98,1); os três coros seguintes - Dominações, Virtudes  e Potestades - ocupam-se do governo do mundo; finalmente, os três últimos - Principados, Arcanjos e Anjos - executam as órdens de Deus:  "Bendizei ao Senhor, vós todos os seus anjos, fortes e poderosos, que executais as suas ordens e obedeceis as suas palavras" (Sl 102, 20).

Todos eles podem entretanto ser chamados genericamente anjos, estando à disposição de Deus para executar suas vontades.  Embora o Evangelho, na Anunciação a Maria, se refira ao anjo Gabriel ( Lc 1,26), isto não quer dizer que ele pertença à última das hierarquias angélicas, pois a sublimidade dessa embaixada leva a supor que se trate de um dos primeiros espíritos que assistem diante de Deus.

Os três arcanjos - como são conhecidos comumente São Miguel, São Gabriel e São Rafael - pertencem, provavelmente, à mais alta hierarquia angélica.  Falaremos deles mais adiante.

Embora não conheçamos, o número exato dos anjos, sabemos, pelas Escrituras e pela Tradição, que são muitíssimos,.  É o que lemos no livro do Apocalipse: "E ouvi a voz de muitos anjos em volta do trono ... e era o número deles milhares e milhares"

(Apoc 5, 11). E no livro de Daniel: “Eram milhares de milhares de milhares (os anjos) que o serviam, e mil milhões os que assistiam diante dele” (Dan 7, 10).

Muitos teólogos deduzem que o número dos anjos é superior ao dos homens que existiram desde o princípio do mundo e existirão até o fim dos tempos. A razão disso é dada por São Tomás ao dizer que, tendo Deus procurado principalmente a perfeição do universo ao criar os seres, quanto mais estes forem perfeitos, Deus os terá criado com maior prodigalidade. Ora, os anjos são mais perfeitos que os homens, logo foram criados em maior número.



A natureza angélica


“Então o anjo do Senhor tornou-o pelo
alto da cabeça e, tendo-o pelos cabelos,
levou-o com a impetuosidade do seu espírito até Babilônia,
sobre a cova"
(Dan 14, 32-35)


É TAL O ESPLENDOR de um anjo, que as pessoas às quais eles aparecem muitas vezes se prostram por terra por temor e reverência para adorá-los, pensando que se trata do próprio Deus — conforme relato das Escrituras e da vida dos santos. E assim que São João conta no Apocalipse: “Prostrei-me aos pés do anjo para o adorar; porém ele disse-me: Vê, não faças tal; porque eu sou servo de Deus como tu .... Adora a Deus” (Apoc 22,9).
É essa natureza maravilhosa que vamos estudar agora.

Seres racionais e livres

Os anjos são seres intelectuais ou racionais, inferiores a Deus e mais perfeitos que os homens. Eles são puros espíritos, não estando ligados a um corpo como nós; são dotados de uma inteligência luminosa e de vontade livre e possante. Tendo sido criados por Deus do nada, como tudo o mais, os pelo próprio fato de serem puramente espirituais, são imortais, pois não têm nenhuma ligação com a matéria corruptível, como os homens. Ao contrário da natureza do homem, que é composta (isto é, formada de dois elementos distintos, o corpo e a alma) os anjos têm natureza simples, puramente espiritual. Embora a alma humana seja igualmente espiritual, ela foi criada por Deus para viver em união substancial com o corpo; quando se dá a morte e a alma se separa do corpo, ela permanece em um estado de violência, enquanto não se dá a ressurreição dos corpos. Já os anjos não têm necessidade de um corpo como o homem.  Desse modo, é um ser muito mais perfeito, sendo inferior, quanto à natureza, apenas ao próprio Deus. Não se pode pois, ao pensar nos anjos, concebê-los à maneira de uma alma humana separada de seu corpo. Esta última não é capaz daquilo que o anjo pode fazer sua simples natureza.
Tal como o homem, os anjos existem realmente enquanto pessoas; ou seja, eles são substâncias individuais, dotadas de inteligência e livre arbítrio*. Em outros termos, eles têm uma existência real, distinta da de outros seres, sendo capazes de conhecer, de amar, de servir, de escolher entre uma coisa e outra. Eles não são portanto, seres imaginários, fictícios, concebidos pelo homem como mero modo poético de exprimir-se, ou como personificações das virtudes e dos vícios humanos ou das forças da natureza,nem tampouco emanações do poder de Deus.

* É clássica a definição de pessoa dada por Boécio: “Rationalis naturae individua substantia “— " Substância individual de natureza racional”.

Os anjos foram elevados à ordem sobrenatural, isto é chamados a participar da vida da graça, cujo fim é a visão beatífica de Deus. Esta elevação é gratuita, mas discute-se em que momento se deu (para São Tomás, foi no momento mesmo de sua criação); é de fé que os anjos deveram sofrer uma prova, porém não se sabe qual teria sido. Depois da prova cessou para eles o tempo de merecer; é também de fé que os anjos bons gozaram e gozam para sempre visão beatífica e que os maus foram condenados a uma pena eterna.

Conhecimento e comunicação angélica
 
É questão de livre discussão tudo quanto se refere ao conhecimento angélico, à comunicação de uns com os outros, bem como o que se refere ao seu ato de vontade; é certo que sua capacidade de conhecer — embora incomparavelmente superior à do homem — é limitada: eles não conhecem naturalmente os mistérios divinos, nem o futuro livre ou contingente;* também é certo que têm pleno livre arbítrio.

*Os anjos (e também os demônios, que são anjos pervertidos), pela sua própria natureza, não têm capacidade de conhecer o futuro que depende de um ato livre de Deus ou do homem; porém, dada sua inteligência agudíssíma e seu conhecimento da natureza e de suas leis, eles podem prever qual o desenrolar dos acontecimentos, postas cenas causas. Também podem, em razão de sua profunda penetração psicológica e do conhecimento da alma humana, fazer conjeturas mais ou menos prováveis de como os homens reagirão diante de determinada circunstância, e assim prever o que decorrerá daí.

Para dar uma idéia da perfeição do conhecimento angélico, parece oportuno transcrever a explicação do Cardeal Lepicier, grande especialista na matéria. Comparando o modo de conhecimento humano com o angélico, ressalta o Cardeal que Deus infundiu no intelecto dos anjos, logo que os criou, representações de todas as coisas naturais. Estas imagens “são não somente representativas de princípios gerais que regulam cada ciência particular, mas encerram também, distintamente, todos os pormenores virtualmente contidos nesses princípios, de maneira que uma e a mesma imagem informa a mente angélica das particularidades de cada ciência. Não poderá pois haver confusão na mente angélica, quando ela passa da observação de um para a observação de outro...
"Um anjo, com um simples olhar à imagem que representa — digamos — o reino animal, conhece não só as várias espécies de animais existentes, mas também cada indivíduo que exista ou tenha existido dentro de cada espécie, assim como as suas propriedades particulares e os seus meios de ação. E o mesmo sucede com o conhecimento de qualquer objeto, seja ele qual for, que se encontre no reino da natureza, seja orgânico ou inorgânico, material ou espiritual visível ou invisível. Chama-se futuro livre ou contingente aquele que depende, seja da vontade divina, seja da humana. Distingue-se do futuro necessário, o qual não depende do livre arbítrio, mas decorre de causas que, uma vez postas, levam necessariamente a um determinado efeito.  Assim, à noite sucede o dia; a semente, lançada à terra, germinará dentro de determinado tempo, se se verificarem todas as condições necessárias a isso, independentemente da vontade divina (que já está manifestada no ato da criação da espécie) ou da natureza humana.

“Por aqui se pode ver que a ciência humana é muito excedida pela ciência da mente angélica, tanto em extensão com precisão”.*
* (Cardeal A. LEPICIER, O Mundo Invisível pp. 42-43.)


São Tomás explica do seguinte modo a comunicação dos anjos entre si: como nós homens, os anjos têm o verbo interior ou verbo mental, com o qual falamos a nós mesmos ou formulamos os conceitos interiormente. Mas, enquanto nós só podemos comunicar esse pensamento a outros por meio da palavra oral, ou de outro meio externo, pois entre nós e os demais existe a barreira do nosso corpo, que vela o pensamento, os anjos não têm essa barreira corpórea; assim, basta a eles, por um ato de vontade, se dirigirem a outros anjos, para que seu pensamento — ou seja, esse verbo interior ou verbo mental — se manifeste a eles. Como os anjos são diferentes entre si, e uns são mais perfeitos que outros, os mais perfeitos iluminam os menos perfeitos cor comunicando-lhes aquilo que eles vêem mais em Deus. Do mesmo modo, eles podem iluminar os homens, comunicando-lhes bons pensamentos, embora de forma diferente daquela pela qual um anjo se comunica com outro. Como a mente humana necessita do concurso da fantasia para entender as coisas, os anjos comunicam as verdades ao homem por meio de imagens sensíveis. Quanto à vontade humana, só Deus ou o próprio homem são capazes de movê-la eficazmente; o anjo, ou outro homem. só podem movê-la por meio da persuasão.

Poder dos anjos sobre a matéria

É um tanto misterioso a nós o modo como os anjos, seres espirituais, possam mover a matéria. No entanto tal poder está formalmente revelado, como se pode ver, por exemplo, no livro de Daniel. O profeta fora jogado na cova dos leões para que perecesse; por ação divina, os animais não fizeram mal: “O meu Deus enviou o seu anjo, e fechou a boca dos leões e estes não me fizeram mal algum” (Dan 6, 21). No entanto, para alimentá-lo, Deus quis servir-se do profeta Habacuc, conduzido até a cova por um anjo. Narra a Escritura: “Estava então o Profeta Habacuc na Judéia, e tinha cozido um caldo, e esfarelado uns pães dentro duma vasilha, e ia levá-los ao campo aos ceifeiros que lá estavam. E o anjo do Senhor disse a Habacuc: Leva a Babilônia essa refeição que tens, para a dares a Daniel que está na cova dos leões. E Habacuc respondeu: Senhor eu nunca vi a Babilônia e não sei onde é a cova.  Então o anjo do Senhor tomou-o pelo alto da cabeça e, tendo-o pelos cabelos, levou-o com a impetuosidade do seu espírito até Babilônia, sobre a cova” (Dan 14, 32-35). O próprio Salvador deixou-se carregar pelo demônio até o alto monte para ser tentado (cf. Mt 4, 5-8). Em São Mateus, sobre a Ressurreição de Nosso Senhor, está escrito: “Um anjo do Senhor desceu do céu, e, aproximando-se, revolveu a  pedra, e estava sentado sobre ela” (Mt 28, 2).*

* Cf. Suma Teológica, 1,qq. 52, 107,110-112.

Embora a questão, como dissemos, seja algo misteriosa, procuraremos sintetizar aqui a doutrina de São Tomás de Aquino a respeito. Antes de tudo, convém lembrar o que ensina o santo Doutor a respeito do modo como os anjos encontram-se em um lugar: enquanto os seres corpóreos manifestam sua presença num lugar circunscrevendo-o pelo contato físico de seu corpo com o lugar ocupado, as criaturas incorpóreas delimitam o lugar por meio de um contato operativo. Quer dizer: elas estão no lugar onde agem. Quanto ao modo como os anjos movem a matéria, é a seguinte explicação tomista:

O ser superior pode mover os inferiores porque tem em si, de um modo mais eminente, as virtualidades desses seres inferiores.  Assim, o corpo humano é movido por algo superior a ele, a alma, que é espiritual, a qual, através da vontade, que também é imaterial, move os membros corpóreos a seu bel-prazer; logo, não repugna à razão que uma substância espiritual possa mover a matéria. Entretanto, no caso da alma humana, ela só pode mover diretamente aquele corpo com o qual está substancialmente unida; as demais coisas, ela só pode mover por meio desse corpo;* ora, como os anjos são seres espirituais, não estando substancialmente unidos a nenhum corpo material, sua força de ação sobre a matéria não está delimitada por nenhum corpo determinado; dai se segue que eles podem mover livremente qualquer matéria.

* Por exemplo, para mover uma caneta sobre o papel no escrever, nós precisamos segurá-la com a mão e através desta imprimir o impulso que fará a caneta deslizar no papel e traçar as letras que desejamos; eu não posso mover diretamente a caneta, por um simples ato de vontade: pelo ato de vontade eu agarro a caneta e movo minha mão segundo meus intentos.

Esse movimento se produz pelo contato operativo do anjo a matéria, impulsionando um primeiro movimento local; por meio desse primeiro movimento local o anjo pode produzir outros movimentos na matéria utilizando-se dos próprios recursos dela, com o ferreiro se utiliza do fogo para dobrar o ferro.

O Cardeal Lepicier observa que, como os anjos possuem conhecimento das leis físicas e químicas que ultrapassa tudo quanto a Ciência possa ter descoberto ou venha a descobrir, e, além do mais, têm um poder imenso sobre a matéria, podemos dizer que dificilmente se encontrarão no Universo fenômenos que os anjos não possam produzir, de um modo ou de outro. Esses fenômenos são por vezes tão surpreendentes, que chegam a parecer verdadeiros milagres. Porém, não são milagres, pois embora ultrapassem de longe a capacidade dos homens, não estão acima do poder angélico. Ele exemplifica:

“Um rápido exame dos fenômenos que ocorrem no mundo físico bastará para nos dar uma idéia dos maravilhosos efeitos a que os seres angélicos podem dar causa. Em primeiro lugar, assim como, devido às forças da natureza, massas enormes se podem deslocar, ou, sob a ação de agentes físicos, os elementos da matérias dissolvem ou trabalham em conjunto, como quando provocam as tempestades, furacões e procelas — assim também um anjo, sem a cooperação de quaisquer agentes intermediários, transfere de um lugar para outro os corpos mais pesados, levanta-os e conserva-os suspensos durante determinado tempo, agita as mais pesadas substâncias e provoca colisões entre elas. Pode o mesmo anjo revolver cidades e vilas, provocar terremotos e encapelar as ondas do mar, originar tempestades e furacões, parar a corrente dos rios e, se assim o entender, dividir as águas do mar.

"Além de tudo isso, pode também um anjo, usando das próprias forças, produzir os mais surpreendentes efeitos óticos, não só obrigando substâncias desconhecidas para nós espargir jorros de luz, mas também projetando sombras que se assemelham a representações fantasmagóricas. Pode ainda, sem a ajuda de qualquer instrumento, pôr em movimento os elementos da matéria, fazer ouvir a música mais harmoniosa ou produzir os mais estranhos ruídos, tais como pancadas repetidas ou explosões súbitas. São ainda os anjos capazes de aglomerar nuvens, provocar relâmpagos e trovões, arrancar árvores gigantescas, arrasar edifícios, rasgar tecidos e quebrar as rochas mais duras. É-lhes também possível fazer com que um lápis escreva, por assim dizer automaticamente, certas frases com um sentido inteligível, assim como dar aos objetos formas diferentes das que são peculiares à sua natureza.  Podem, até certo ponto, suspender as funções da vida, parar a respiração dum corpo, acelerar a circulação do sangue e fazer com sementes lançadas à terra cresçam dentro de pouco tempo, até atingirem a altura duma árvore, com folhas, botões e até com frutos.

"A um anjo é possível fazer todas estas coisas no mais breve espaço de tempo por causa do seu poder sobre os elementos da matéria, e sem a menor dificuldade, imitando perfeitamente as obras da natureza e dando em tudo a impressão de que se trata de efeitos s a causas naturais” .*

* (Cardeal A. LEPICIER, O Mundo Invisível. pp. 74-75.)


Poder dos anjos sobre o homem

O anjo pode produzir efeitos corpóreos maravilhosos. Ele pode, através do movimento que imprime à matéria, produzir mudanças nos corpos, mas de tal forma que apenas se sirva da natureza, desdobrando as potencialidades dela. Assim ele pode, nos homens, favorecer ou impedir a nutrição ou provocar doenças. Mas ele não pode fazer qualquer coisa que esteja completamente acima da natureza, como, por exemplo, ressuscitar pessoas mortas. O anjo tem ainda o poder de favorecer ou impedir os movimentos da sensualidade, a delectação, a dor, a ira, a memória e afetar de vários modos os sentidos externos e internos, isto é, os cinco sentidos, a memória e a imaginação. Do mesmo, modo o anjo pode aguçar a força da inteligência e, de um modo indireto, mover quer o intelecto — excitando imagens na fantasia ou propondo questões — quer a vontade, solicitando-a para que escolha algo. O anjo pode formar para si um corpo com o qual aparece aos homens como, por exemplo, o arcanjo São Rafael fez com Tobias.  Santo Agostinho diz que os anjos aparecem aos homens com um corpo que eles não somente podem ver, mas também tocar, como é provado pela Escritura (Gen 18, 2ss; Lc 1, 26ss; At 12, 7ss; o livro de Tobias).
O anjo move o corpo que assume, como nós poderíamos mover um boneco, dando a impressão de que ele está vivo, fazendo-os imitar os movimentos do homem. Quando São Rafael parecia comer na companhia de Tobias, ele apenas fazia o corpo do qual estava se servindo mover-se como faz um homem nessa circunstância, mas sem consumir o alimento. Os espíritos angélicos não podem fazer milagres propriamente ditos, mas sim coisas maravilhosas, que ultrapassam o poder humano, não porém o angélico. Por exemplo, graças ao seu poder e conhecimento extraordinário, podem curar doenças, restituir a vista a cegos (Tob 11, 15); fazer prodígios como elevar uma pessoa e carregá-la pelos ares (Dan 14, 15), fazer falar serpente (Gen. 3, Iss), etc.








Ministérios dos anjos

"Anjos do Senhor, bendizei ao Senhor...
Exércitos do Senhor, bendizei ao Senhor".
(Dan 3, 58-61)


OS MINISTÉRIOS dos anjos são: em relação a Deus, adorá-lo, louvá-Lo, servi-Lo, executando todos os Seus decretos em relação aos demais anjos, quer aos homens, como também a toda a natureza material, animada e inanimada; em relação aos demais anjos, os de natureza superior iluminam os inferiores. dando-lhes a conhecer aquilo que vêm em Deus; em relação aos homens, eles são ministros de Deus para encaminhá-los à pátria celeste, protegendo-os, corrigindo-os, instruindo-os, animando-os; em relação ao mundo material, eles são agentes de Deus para o governo do Universo.

Ministros da liturgia celeste

O principal ministério dos anjos consiste em adorar, louvar e servir a Deus: “Anjos do Senhor, bendizei ao Senhor ... Exércitos do Senhor, bendizei ao Senhor; louvai-O e exaltai-O por todos os séculos” (Dan 3, 58-61). “Bendizei ao Senhor, vós todos os seus anjos,  fortes e poderosos, que executais as suas ordens e obedeceis as suas palavras” (Si 102, 20). “Os Serafins estavam por cima do trono ... E clamavam um para o outro e diziam: Santo, Santo, Santo, é o Senhor Deus dos exércitos” (Is 6,2-3).

Os santos anjos desempenham assim a liturgia celeste:

"E vi os sete anjos que estavam de pé diante de Deus ... E veio outro anjo, e parou diante do altar, tendo um turíbulo de ouro; e foram-lhe dados muitos perfumes, a fim de que oferecesse as orações de todos os santos sobre o altar de ouro, que está diante do trono de Deus. E o aroma dos perfumes das orações dos santos subiu da mão do anjo até à presença de Deus” (Apoc 8,2-4).

Esses puros espíritos são, pois, ministros do altar e ministros do trono de Deus: eles cantam os louvores de Deus na presença do Altíssimo, e apresentam-Lhe as nossas preces e as nossas boas obras; ao mesmo tempo, descem até nós e nos trazem as graças e bênçãos divinas, verdade belamente expressa na visão da escada de Jacó: “(Jacó) teve um sonho: Uma escada se erguia da terra e chegava até o céu, e anjos de Deus subiam desciam por ela” (Gen 28, 12).

Essa verdade, em termos práticos, significa que eles são intercessores poderosíssimos diante de Deus. A eficácia da intercessão angélica é testemunhada, entre muitas outras passagens da Escritura, por esta do livro do Profeta Zacarias: “E o anjo do senhor replicou e disse: Senhor dos exércitos, até quando diferirás tu o compadecer-te de Jerusalém e das cidades de Judá, contra as quais te iraste? Este é já o ano septuagésimo. ... Isto diz o Senhor dos exércitos: Eu sinto um grande zelo por Jerusalém e por Sião... Portanto isto diz o Senhor: Voltarei para Jerusalém com entranhas de misericórdia” (Zac 1,12-16). Isto nos deve mover a recorrer sempre com fervor e cada mais a eles.


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