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Demonologia é o estudo sistemático dos demônios. Quando envolve os estudo de textos bíblicos, é considerada um ramo da Teologia. Por geralmente se referir aos demônios descritos no Cristianismo, pode ser considerada um estudo de parte da hierarquia bíblica. Também não está diretamente relacionada ao culto aos demônios.


sábado, 3 de maio de 2014

Os Anjos da Guarda


 “Eis que eu enviarei o meu anjo,
que vá adiante de ti, e te guarde
pelo caminho, e te introduza
no lugar que preparei".
(Ex 23, 20-23)


DEUS, no seu amor infinito pelos homens, entregou cada um de nós à guarda e cuidado especial de um anjo, que nos acompanha desde o nascimento até a morte: o Anjo da Guarda. Essa doutrina foi sempre ensinada pela Igreja (Cf. Catecismo Romano, Parte IV, cap. IX, n. 4.) e se baseia em testemunhos da Sagrada Escritura e da Tradição — Santos Padres, Magistério Eclesiástico, Liturgia.


As Escrituras e os Santos Padres

O Antigo Testamento faz contínuas referências a esses anjos que nos servem de protetores. Mais do que nos ensinar explicitamente tal verdade, parece dá-la por suposta em suas narrações. Jacó ao abençoar seus netos, filhos de José, diz: “Que o anjo que me livrou de todo o mal, abençõe estes meninos” (Gen 48, 16). Nas palavras seguintes de Deus a Moisés encontramos os múltiplos ofícios que incumbem ao Anjo da Guarda, de proteção e de conselho: “Eis que eu enviarei o meu anjo, que vá adiante de ti, e te guarde pelo caminho, e te introduza no lugar que preparei. Respeita-o, e ouve a sua voz, e vê que não o desprezes; porque ele não te perdoará se pecares, e o meu nome está nele. Se ouvirdes a sua voz, e fizerdes tudo o que te digo, eu serei inimigo dos teus inimigos, e afligirei os que te afligem.  E o meu anjo caminhará adiante de ti" (Ex 23,20-23). Por meio do profeta Baruc, Deus comunica a Israel: “Porque o meu anjo está convosco, e eu mesmo terei cuidado das vossas almas" (Bar 6,6). O Salmo 90 exprime, com muita poesia, a solicitude de Deus para conosco, por meio do Anjo da Guarda: “O mal não virá sobre ti, e o flagelo não se aproximará da tua tenda. Porque mandou (Deus) os seus anjos em teu favor, que te guardem em todos os teus caminhos. Eles te levarão nas suas mãos, para que o teu pé não tropece em alguma pedra” (SI 90, 10-12). E outro Salmo proclama: “O anjo do Senhor assenta os seus acampamentos em volta dos que o temem, e os liberta” (SI 33, 8).

Lançado na cova dos leões, por intriga de invejosos, Daniel foi socorrido por um anjo: “O meu Deus enviou o seu anjo, e fechou as bocas dos leões e estes não me fizeram mal algum” (Dan 6, 21). Fala-se, no Livro dos Reis, de um exército de carros que cercavam o profeta Eliseu (4 Reis 6, 14-17). São Tomás vê aí uma imagem do poder dos Anjos Custódios e a preponderância dos anjos bons sobre os maus. São inúmeras as passagens do Antigo Testamento que fazem referência à doutrina sobre os Anjos da Guarda. Em nenhuma, porém, a solicitude dos anjos para com os homens fica tão patente como no livro de Tobias.* E por isso que ele é muito citado sempre que se trata da matéria.

 *Este livro da Sagrada Escritura é todo ele rico de ensinamentos sobre esta doutrina, de maneira que não basta transcrever aqui uma ou outra passagem dele; assim, convida-mos o leitor a lê-lo diretamente na Bíblia.

 Esse ensinamento se torna mais preciso no Novo Testamento, onde a existência do Anjo da Guarda é confirmada pelo próprio Salvador. Aos seus discípulos, advertindo-os contra os escândalos em relação às crianças, diz: “Vêdes que não desprezeis a um só destes pequeninos, pois eu vos declaro que os seus anjos vêem continuamente a face de meu Pai que está nos céus” (Mt 18, 10). Essas palavras deixam claro que mesmo as crianças pequenas têm seus Anjos Custódios, como também que estes anjos mantém a visão beatífica de Deus ao descer à terra para atender e proteger a seus custodiados. Também São Paulo se refere ao papel protetor dos anjos em relação aos homens: “Não são eles todos espíritos a serviço de Deus mandados para exercer o ministério a favor dos que devem obter a salvação?” (Heb 1, 14).


Os Santos Padres ensinam desde cedo essa doutrina

São Basílio (329-379), entre os gregos, afirma: “Que cada qual tenha um anjo para o dirigir, como pedagogo e pastor, é o ensinamento de Moisés” (Apud Card. J. DANIELOU, Les Anges et leur mission, p. 93. ).

E, entre os latinos, São Jerônimo (342-420) assim comenta passagem de São Mateus (18, 10), acima citada, sobre os anjos das crianças: “Isto mostra a grande dignidade das almas, pois cada uma tem, desde o nascimento, um anjo encarregado de sua guarda" (Comm. in Evang. 5. Matth., lib. III, ad cap. XVIII, 10 Apud Card. P. GA5PARRI Catechisme Catholique pour Adultes, p. 346.)

A crença na existência e atuação dos Anjos da Guarda está tão firmemente estabelecida na tradição da Igreja, que desde tempos imemoriais foi instituída uma festa especial em louvor deles (2 de outubro).

O ensinamento dos teólogos


A partir dos dados da Sagrada Escritura e da Tradição, teólogos foram explicitando ao longo dos séculos uma doutrina sólida e coerente sobre os Anjos da Guarda. O príncipe dos teólogos, São Tomás de Aquino, na sua célebre Suma Teológica, (Suma Teológica, 1,q. 113.)  expõe largamente essa doutrina. O santo Doutor justifica a existência dos Anjos da Guarda pelo princípio de que Deus governa as coisas inferiores e variáveis por meio das superiores e invariáveis. O homem não só é inferior ao anjo, mais ainda está sujeito a instabilidades e variações por causa fraqueza de seu conhecimento, das paixões, etc. Assim, ele é governado e amparado pelos anjos, que servem como instrumentos da providência especial de Deus para com os homens. A função principal do Anjo da Guarda é iluminar-nos em relação a verdade, à boa doutrina; mas sua custódia tem também muitos efeitos, tais como reprimir os demônios e impedir que nos sejam causados outros danos espirituais ou corporais. Cada homem tem um anjo especialmente encarregado de guardá-lo, distinto do das coletividades humanas de que façam parte.  Estas têm anjos especiais para custodiá-las; enquanto os anjos dos indivíduos pertencem ao último coro angélico, o das coletividades ou instituições podem fazer parte dos coros e hierarquias superiores. Como há vários títulos pelos quais um homem necessita ser especialmente protegido (ou seja, considerado enquanto particular ou como ocupando um cargo ou função na Igreja a ou na sociedade), um mesmo homem pode ter vários anjos para custodiá-lo. A Virgem Santíssima, Rainha dos Anjos, teve também não um, mas os Anjos da Guarda. Enquanto homem, Jesus teve Anjos da Guarda; não evidentemente para protegê-Lo, pois o inferior não guarda o superior, mas para servi-Lo. Mesmo os infiéis têm Anjos da Guarda e até o Anti-Cristo o terá. O Anjo da Guarda nunca abandonará o homem, mesmo após a morte, se ele for para o Paraíso, pois a custódia angélica é parte da providência especial de Deus para com o homem, o qual jamais estará totalmente privado da providência divina. Embora estejam normalmente no Céu, contemplando a Deus, os Anjos da Guarda conhecem tudo o que se passa na terra com seus protegidos; podem, então, quase imediatamente, passar de um lugar ao outro para protegê-los ou influenciá-los beneficamente.

Santo Agostinho pergunta: “Como podem os anjos estar longe, quando nos foram dados por Deus para ajudar-nos?” E responde:  “Eles não se apartam de nós, embora aquele que é assaltado pelas tentações pense que estão longe”. (Apud A. J. MacINTYRE, Os anjos, urna realidade admirável p. 321. )

Os Anjos Custódios nunca estão em oposição ou divergência real entre si. O relato bíblico da luta entre o anjo da Pérsia e o anjo Protetor dos Judeus (cf. Dan 10, 13-21) em que o primeiro queria reter os hebreus na Babilônia e o segundo desejava conduzi-los de volta à sua pátria encontra a seguinte explicação: às vezes Deus não revela aos anjos os méritos ou os deméritos das diversas nações ou indivíduos que eles custodiam. Enquanto não conhecem com certeza a vontade divina, os Anjos da Guarda procuram, santamente, proteger de todas as formas os que estão sob a sua proteção, mesmo contrariando os desejos de outros Anjos Custódios. Mas logo que a vontade de Deus fica clara para eles, todos se submetem pressurosos, pois o que desejam sempre é fazer a vontade divina.

Do mesmo modo que os homens, também as instituições, os povos e os países contam com um anjo especialmente encarregado de velar por eles. Essa doutrina tem base nas palavras da Sagrada Escritura, onde é dito que um anjo conduzia o povo judeu pelo deserto (Ex 23,20), e também na passagem já referida sobre a luta entre o anjo dos Judeus e o anjo dos Persas (Dan 10, 13-21).

É também o que ensina São Basílio: “Entre os anjos, uns são prepostos às nações; os outros são companheiros dos fiéis”. (Apud Card. J. DANIELOU, Les Anges et leur Mission, p. 93. )

São Miguel Arcanjo era o protetor de Israel enquanto povo eleito (Dan 10, 13-21); atualmente ele é o protetor do novo povo de eleição, a Igreja. As aparições de Nossa Senhora em Fátima foram precedidas pela do Anjo de Portugal.

Efeitos da custódia dos anjos

Os efeitos da custódia dos anjos são, uns corporais, outros espirituais, ordenados, uns e outros, à salvação eterna do homem. Os efeitos são corporais, na medida em que impedem ou livram dos perigos ou males do corpo, ou auxiliam os homens nas questões materiais, conforme consta no livro de Tobias (cap. 5 e seguintes). E são espirituais, sempre que os anjos nos defendem contra os demônios (Tob 8, 3); rezam por nós e oferecem nossas preces a Deus, tornando-as mais eficazes pelas sua intercessão (Apoc 8, 3; 12); nos sugerem bons pensamentos, incitando-nos assim a fazer o bem (At 8, 26; 10, 3ss),* por meio de estímulos da imaginação ou do apetite sensitivo; do mesmo modo, quando nos infligem penas medicinais para nos corrigir (2 Reis 24, 16); ou ainda, na hora da morte, fortalecem-nos contra o demônio; os anjos conduzem diretamente para o Céu as almas daqueles que morrem sem precisar passar pelo Purgatório, e levam para o Paraíso as almas que já passaram pela purgação necessária; eles também visitam as almas do Purgatório para as consolar e fortalecer, esclarecendo-as glória do céu, etc.

 *Há vários exemplos disso na Sagrada Escritura:

Os Atos dos Apóstolos relatam a aparição de um anjo ao Centurião Cornélio, homem religioso e temente a Deus, para instruí-lo sobre como proceder para conhecer a verdadeira religião: "Este (Cornélio) viu claramente numa visão que um anjo de Deus se apresentava diante dele, e lhe dizia: Cornélio ... as tuas orações e as tuas esmolas subiram como memorial à presença de Deus. E agora envia homens a Jope a chamar um certo Simão que tem por sobrenome Pedro ... ele te dirá o que deves fazer" (At 10, 1-6). E nos mesmos Atos se lê como um anjo inspira São Filipe Diácono a desviar-se de seu caminho, para fazê-lo encontrar-se com o ministro da Rainha Candace, da Etiópia, e batizá-lo, depois de instruí-lo na doutrina cristã (At 8, 26). A custódia dos anjos nos livra de inúmeros perigos tanto para a alma como para o corpo. Entretanto, ela não nos livra de todas as cruzes e sofrimentos desta vida, que Deus nos manda para nossa provação e purificação; nem daquelas tentações que Deus permite para que mostremos nossa fidelidade. Porém eles sempre nos ajudam a tudo suportar com paciência e vencer com perseverança. Às vezes parece que os anjos não nos estão atendendo; é preciso então rezar com mais insistência até que esse socorro se perceba. Mas pode ocorrer de não sermos ouvidos, não porque faltem aos anjos poder ou desejo de nos ajudar, mas é que aquilo que estamos pedindo não é o melhor para a nossa eterna salvação, que é o que antes de tudo eles procuram.

Nossos deveres em relação aos Santos Anjos Custódio

São Bernardo resume assim nossos deveres em relação aos nossos Anjos da Guarda:

a. Respeito pela sua presença. Devemos evitar tudo o que pode contristar um espírito assim puro e santo. Sobretudo, evitar o pecado.

“Como te atreverias — interpela o santo Doutor — a fazer na presença dos anjos aquilo que não farias estando eu diante de ti?"

b. Confiança na sua proteção. Sendo tão poderoso e estando continuamente diante de Deus, e ao mesmo tempo conhecendo as nossas necessidades, como não confiar na sua proteção? A melhor maneira de provar essa confiança é recorrer a ele pela oração nos momentos difíceis, especialmente nas tentações.

c. Amor e reconhecimento por sua proteção. Devemos amá-lo como a um benfeitor, um amigo e um irmão, e ser agradecidos pela sua proteção diligentíssima.


“Sejamos, pois, devotos” — escreve o mesmo São Bernardo. “Sejamos agradecidos a guardiões tão dignos de apreço, correspondamos a seu amor, honremos-lhe quanto possamos e quanto devemos!” ( Apud Jesus VALBUENA O.P., Tratado del Gobierno del Mundo — Introducciones, p. 930. )

A oração por excelência para invocar e honrar o Anjo da Guarda da é o Santo anjo do Senhor:

“Santo anjo do Senhor, meu zeloso guardador, já que a ti me confiou a piedade divina, sempre me rege, guarda, governa e ilumina".

 Os Três Gloriosos Arcanjos


"Eis que veio em meu socorro Miguel,
um dos primeiros príncipes".
(Dan 10, 13)

“Eu sou Gabriel, que assisto
diante (do trono) de Deus".
(Lc 1, 19,)

“Eu sou o anjo Rafael, um dos sete
que assistimos diante do Senhor”.
(Tob 12, 15)


A Igreja e o povo fiel veneram de modo especial os três gloriosos Arcanjos — São Miguel, São Gabriel e São Rafael. Embora eles sejam comumente chamados de Arcanjos, segundo teólogos e comentaristas das Escrituras, eles certamente pertencem ao primeiro dos coros angélicos, o dos Serafins.

São Miguel: “Quem é como Deus?”

Em hebraico: mîkâ’êl, que significa: “Quem (é) como Deus?” As Escrituras se referem nominalmente ao Arcanjo São Miguel em quatro passagens: duas delas na profecia de Daniel (cap. 10, 13 e 21; e ap. 12, 1); uma na Epístola de São Judas Tadeu (cap. único, vers. 9 ) e finalmente no Apocalipse (cap. 12, 7-12). No livro de Daniel o Santo Arcanjo aparece como “príncipe e protetor de Israel”, que se opõe ao “príncipe” ou celestial protetor dos persas.* Segundo São Jerônimo e outros comentadores, o anjo protetor da Pérsia teria desejado que ficassem ali alguns judeus para mais dilatarem o conhecimento de Deus; porém São Miguel teria desejado e pedido a Deus que todos os judeus voltassem logo para a Palestina, a fim de que o templo do Senhor fosse reconstruído mais depressa. Essa luta espiritual entre os dois anjos teria durado vinte e um dias.

* Nas escrituras os anjos são chamados com freqüência príncipes.

São Judas, na sua Epístola, alude a uma disputa de São Miguel com o demônio sobre o corpo de Moisés: o glorioso Arcanjo, por disposição de Deus, queria que o sepulcro de Moisés permanecesse oculto; o demônio, porém, procurava tomá-lo conhecido, com o fim de dar aos judeus ocasião de caírem em idolatria, por influência dos povos pagãos circunvizinhos. No Apocalipse, São João apresenta São Miguel capitaneando os anjos bons em uma grande batalha no céu contra os anjo rebeldes chefiados por Satanás, ali chamado dragão:

“E houve no céu unia grande batalha: Miguel e os seus anjos pelejavam contra o dragão, e o dragão e seus anjos pelejavam contra ele; porém, estes não prevaleceram, e o seu lugar não se achou mais no céu. E foi precipitado aquele grande dragão, aquela antiga serpente, que se chama demônio e Satanás, que seduz todo o mundo; e foi precipitado na terra, e foram precipitados com seus anjos” (Apoc 12, 7-12). A Igreja não definiu nada de particular sobre São Miguel, mas tem permitido que as crenças nascidas da tradição cristã a respeito do glorioso Arcanjo tenham livre curso na piedade dos fiéis e na elaboração dos teólogos. A primeira crença é a de que São Miguel era, no Antigo Testamento, o defensor do povo escolhido — Israel; e hoje o é do novo povo escolhido — a Igreja. Tal piedosa crença está em consonância com o que é dito no livro de Daniel: “Eis que veio em meu socorro Miguel, um dos primeiros príncipes. ... Miguel. que é o vosso príncipe” — isto é, dos judeus (10, 13 e 21). “Se levantará o grande príncipe Miguel, que é o protetor dos filhos do teu povo” — de Israel (12, 1). Essa crença é muito antiga, sendo já confirmada pelo Pastor de Hermas, célebre livro cristão do século II, no qual se lê: “O grande e digno Miguel é aquele que tem poder sobre este povo” (os cristãos). Ademais, tal crença é partilhada pelos teólogos e pela própria Igreja, que a manifesta de muitas maneiras.

A segunda crença geral é a de que São Miguel tem o poder de admitir ou não as almas no Paraíso. No Oficio Romano deste Santo no antigo Breviário, São Miguel era chamado de “Praepositus paradisi” — “Guarda do paraíso”, ao qual o próprio Deus se dirige nos seguintes termos: “Constitui te Principem super omnes animais suscipiendas” — “Eu te constituí chefe sobre todas as almas a serem admitidas”. E na Missa pelos defuntos rezava-se: " Signifer Sanctus Michael representet eas in lucem sanctam” — "O ' Porta-estandarte São Miguel, conduzi-as à luz santa”.

A terceira crença, ou melhor, opinião, é a de que São Miguel ocupa o primeiro lugar na hierarquia angélica. Sobre este ponto há divergência entre os teólogos, mas tal opinião tem a seu favor vários Padres da Igreja gregos e parece ser corroborada pela liturgia latina, que se referia ao glorioso Arcanjo como "Princeps militiae coelestis quem honorificant coelorum cives” — "Príncipe da milicia celeste, a quem honram os habitantes do Céu"; e pela liturgia grega que o chama “Archistrátegos “, isto é, "Generalíssimo."

O grande comentador das Sagradas Escrituras, Pe. Cornélio a Lapide, jesuíta do século XVI, escreve:

"Muitos julgam que Miguel, tanto pela dignidade de natureza, como de graça e de glória é absolutamente o primeiro e o Príncipe de todos os anjos. E isso se prova, primeiro, pelo Apocalipse (12, 7), onde se diz que Miguel lutou contra Lúcifer e seus anjos, resistindo à sua soberba com o brado cheio de humildade: 'Quem (é) como Deus?’ Portanto, assim como Lúcifer é o chefe dos demônios, Miguel o é dos anjos, sendo o primeiro entre os serafins. Segundo, porque a Igreja o chama de Príncipe da Milícia Celeste, que está posto à entrada do Paraíso. E é em seu nome que se celebra a festa de todos os anjos. Terceiro, porque Miguel é hoje ao cultuado como o protetor da Igreja como outrora o foi da Sinagoga. Finalmente, em quarto lugar, prova-se que São Miguel é o Príncipe de todos os anjos, e por isso o primeiro entre os Serafins, porque diz São Basílio na Homilia De Angelis: ‘A ti, ó Miguel, general dos espíritos celestes, que por honra e dignidade estais posto à frente de todos os outros espíritos celestiais, a ti suplico...' ". (Cornélio A LAPIDE, Commentaria in Scripturam Sacram, t. 13, pp. 112-114 )

O mesmo dizem inúmeros outros autores, entre os quais São Roberto Bellarmino.

Na Idade Média, São Miguel era padroeiro especial das Ordens de Cavalaria, que defendiam a Cristandade contra o perigo metano.

São Gabriel: “Força de Deus”

Em hebraico: gabrî’êl, que quer dizer: “Homem de Deus" ou “Deus se mostrou forte” ou, ainda, “Força de Deus". O próprio Arcanjo disse a Zacarias: “Eu sou Gabriel que assisto diante (do trono) de Deus” (Lc 1, 29). Isto leva a crer que se trata de um dos primeiros espíritos angélicos. O já citado Cornélio a Lápide argumenta do seguinte modo, para comprovar esta opinião:

1. Se os Serafins alguma vez são enviados por Deus em missão junto aos homens, um deles devia ser enviado à Mãe do Redentor para anunciar o insigne mistério da Encarnação do Verbo. Não somente pela excelsitude de tal mistério, mas porque a Santíssima Virgem supera a todos os coros de anjos em dignidade e graça.

2. Ora, São Paulo, na Epístola aos Hebreus (1, 14), afirma que Deus pode enviar como mensageiro um anjo de qualquer hierarquia: “Porventura não são todos esses espíritos uns ministros ( de Deus) enviados para exercer o seu ministério a favor daqueles que hão de receber a herança da salvação?”

3. Logo, deve-se crer que São Gabriel pertence à mais alta categoria angélica, isto é, ao coro dos Serafins. (Cornélio A LAPIDE, Commentaria in Scripturam Sacram, t. 13, pp. 142-143 )

São Gabriel, o Anjo da Encarnação, é considerado igualmente como o Anjo da Consolação e da Misericórdia; mas, de com o significado de seu próprio nome, representa o poder de Deus. É por isso que as Escrituras, ao referir-se a ele, utilizam expressões como poder, força, grande, poderoso (cf. Dan 8-10). A tradição judaica atribuía a esse glorioso Arcanjo a destruição de Sodoma ( cf. Gen 19, 1-29), bem como o ter marcado com um Tau a fronte dos eleitos (Ez 9, 4); e apresentava-o como o Anjo do Julgamento Final.

A tradição cristã vê nele o anjo que apareceu aos pastores para anunciar o nascimento do Salvador (Lc 2, 8-14), e a São José, em sonhos, para explicar a concepção virginal de Maria Santíssima (Mt 1,20). Teria sido ele também quem confortara Jesus em sua agonia no Horto (cf. Hino de Laudes do dia 24 de março).


São Rafael: “Medicina de Deus”

Em hebraico: refâ’êl, cujo sentido — é igual a: “Deus curou” ou "Medicina de Deus”.

Ele próprio revelou sua elevada hierarquia, depois de ajudar o jovem Tobias, que cria estar em presença de um simples homem: "Eu sou o anjo Rafael, um dos sete (espíritos principais) que assistimos diante do Senhor” (Tob 12, 15).

Cornélio a Lapide também considera o Arcanjo São Rafael Serafim. (Cornélio A LAPIDE, Commentaria in, Scripturam Sacram, t. 4, p. 282.) Este insigne Arcanjo é protetor especial contra o demônio, padroeiro e guia dos viajantes, sanador dos enfermos.

Todos esses ofícios estão amplamente ilustrados no livro de Tobias: ele protege na viagem o jovem Tobias (caps. 5 a 10); restitui a vista ao velho Tobias, mediante a aplicação do fel de um peixe (cap. 11, 13-15); livra o jovem Tobias e Sara das insídias do demônio, mediante a fumaça das vísceras do mesmo peixe, e encadeia o demônio no deserto do Egito (cap. 8, 2-3); apresenta as boas obras e as orações do velho Tobias a Deus (cap. 12, 12).
 Devoção aos Santos Anjos


 "Formamos com os anjos
uma única cidade de Deus...”.
(Santo Agostinho)

A DEVOÇÃO AOS SANTOS ANJOS é uma dessas devoções quase espontâneas do povo cristão.

A legitimidade do culto aos anjos constitui uma verdade de fé, afirmada pelo Magistério ordinário da Igreja, interpretante da Tradição: condenação dos iconoclastas no século V pelo 2° Concílio de Nicéia, e dos protestantes no século XVI pelo Concílio de Trento.

Origem e desenvolvimento da devoção aos anjos

Entre os judeus e na Antiguidade cristã


Com exceção dos saduceus, que não criam neles, ( “Os saduceus dizem que não há ressurreição, nem anjos, nem espírito" ( At 23,8) ) essa devoção já existia entre os judeus, que veneravam particularmente o “grande príncipe Miguel”, protetor dos filhos do povo de Israel (Dan 12, 1). Nos primeiros tempos do Cristianismo essa devoção não era muito acentuada em razão do paganismo ainda dominante na sociedade, que podia levar os gentios neo-convertidos a confundirem os espíritos celestes com os gênios — espécies de divindades menores falsamente cultuadas por certas religiões —, o que equivaleria a cair no politeísmo pagão. Porém, já no século II, São Justino e Atenágoras dão testemunho sobre o culto cristão aos santos anjos. Dídimo Alexandrino (+ 395) atesta que desde os primórdios do Cristianismo surgiram igrejas e oratórios consagrados a Deus sob a invocação dos arcanjos.
Santo Ambrósio (séc. IV) já exortava os fiéis: “Os anjos devem ser invocados por nós, pois para nossa proteção nos foram dados". (De Viduis, cap. IV, 55; PL 16, 264c Apud Mons. F. TINELLO, La devozione agli angeli, col. 1252.)

E Santo Agostinho ensinava: “Formamos com os anjos uma única cidade de Deus ... da qual uma parte somos nós, peregrinos por este mundo, e a outra, que são os anjos, está sempre pronta a socorrer-nos.

"Se aquele, junto de quem devemos exercer obras de misericórdia do qual as recebemos, com razão se chama nosso próximo que no preceito a nós imposto de amar o próximo estão  incluídos os anjos, dos quais todos os dias recebemos tantos e tão insignes atos de misericórdia.

"Os anjos nos amam... por nossa causa, porque lhes somos semelhantes na natureza racional; por causa deles próprios, porque nos querem sentados naqueles tronos de glória que eram dos anjos que prevaricaram”. (Apud Archibald J. MacINTYRE, Os anjos, uma realidade admirável, pp. 320- 321.)

Na Idade Média

A "doce primavera da fé” (para empregar a bela expressão com que Montalembert se refere à Idade Média) foi uma época angélica, não só pela pureza dos costumes e das doutrinas, e pelo fervor seráfico do povo fiel, mas também pela familiaridade com os santos anjos.  Foi nessa época que surgiu a prece ao mesmo tempo tão singela, tão doce e tão confiante: “Santo anjo do Senhor...”

Foi igualmente nessa época que surgiram os grandes tratados sobre os anjos, dos quais o mais admirável é aquele, precisamente, de autoria do Doutor Angélico, São Tomás de Aquino.

São Bernardo de Claraval, cantor da Rainha dos Anjos, deu um particular impulso a essa devoção; a Igreja fez suas as palavras do insigne Doutor, para louvar os espíritos celestiais no Breviáirio (festa dos Anjos Custódios, 2 de outubro). Sua fórmula reflete e sintetiza a tradição ininterrupta da Igreja: aos anjos devemos “reverência por sua presença, devoção por sua benevolência, confiança por sua custódia”. (Apud Jesus VALBUENA O.P., Tratado del Gobierno del Mundo — Indroducciones, p.931.)

Na Contra-Reforma

Os ímpios Lutero e Calvino, depois do culto dos santos, rejeitaram também o dos anjos. Mas a devoção aos espíritos angélicos recebeu novo alento com os paladinos da Contra-Reforma. Santo Inácio recomenda aos seus religiosos imitarem a pureza dos anjos. Por obra dos jesuítas multiplicam-se os tratados manuais de piedade sobre os anjos. Entre eles, o Tratado e pratica da devoção aos anjos, de São Francisco de Borja, e o Tratado dos anjos custódios, do Pe. Francisco Albertini. Também contribuíram muito para a difusão dessa devoção o Cardeal de Bérulle e o Venerável Olier.

O Concilio de Trento, condenando a ímpia doutrina dos pretensos reformadores, definiu a legitimidade dessa devoção, que adquiria assim maiores títulos para ser divulgada.

Igrejas e santuários — Ladainhas e orações

Já no século IV encontram-se testemunhos sobre a ereção de igrejas e oratórios em honra dos arcanjos. No tempo de São Gregório Magno (+604) o culto a São Miguel já tinha um centro no Monte Gargano (na Apúlia, região da Itália junto ao Adriático), onde o Arcanjo havia aparecido no tempo do Papa São Gelásio I (+496), pedindo que lhe erguessem ali um santuário. No século VII o Príncipe da Milícia celeste apareceu sobre um rochedo da Normandia (França), o Monte Tombes, onde se praticavam cultos pagãos, e ali se ergueu uma abadia que se tornou um dos mais célebres santuários em louvor do santo Arcanjo. E o monte passou a chamar-se Monte Saint-Michel. Em Roma, no século IX, sete oratórios eram já dedicados ao santo Arcanjo. Surgiram várias festas litúrgicas em honra dos santos anjos: São Gabriel (24 de março); Aparição de São Miguel no Monte Gargano (8 de maio); Dedicação de São Miguel Arcanjo (29 de setembro); Santos Anjos Custódios (2 de outubro); São Rafael Arcanjo (24 de outubro). Existem orações e ladainhas em louvor de cada um dos três dos Arcanjos, dos Santos Anjos, do Anjo da Guarda. Talvez a oração mais divulgada seja o “Santo anjo do Senhor, meu zeloso guardador..." -  bela expressão da piedade medieval para com nosso angélico guardião. Outra bela oração (que teria sido inspirada pela própria Rainha dos Anjos) é aquela que começa pelas palavras "Augusta  Rainha dos Céus e soberana Senhora dos Anjos “, de caráter exorcístico deprecativo muito eficaz.*

 *Essa bela oração foi composta em 1863 pelo Venerável Padre Louis de Cestac (1801- 1868) por inspiração de Nossa Senhora. Na antiga disciplina tinha 500 dias de indulgência decreto da sagrada Congregação das Indulgências, de 8 de julho de 1908 e da Sagrada Penitenciaria, de 28 de março de 1935. Seu texto completo é o seguinte:

Augusta Rainha dos Céus e soberana Senhora dos Anjos, Vós que, desde o primeiro instante de vossa existência, recebestes de Deus o poder e a missão de esmagar a cabeça de Satanás, humildemente vô-lo pedimos, enviai as legiões celestes dos santos anjos perseguirem, por vosso poder e sob vossas ordens, os demônios, combatendo-os por toda a parte, reprimindo-lhes a insolência, e lançando-os nas profundezas do abismo. Quem é como Deus? Ó boa e terna Mãe, sêde sempre o nosso amor e a nossa esperança. Ó Mãe divina, mandai-nos os vossos santos anjos que nos defendam, e repilam para bem longe de nós o maldito demônio, nosso cruel inimigo.
Santos anjos e arcanjos, defendei-nos e guardai-nos. Amém.

A devoção aos santos anjos é, pois, não só lícita, mas extremamente louvável e recomendável. Como em toda devoção, cumpre entretanto observar sempre fielmente as prescrições da Santa Igreja, afim de evitar que desvios doutrinários ou práticas mal sonantes se introduzam nela. Desde os primeiros séculos, para evitar superstições, a Igreja permitiu o culto nominal apenas aos três anjos cujo nome consta na Sagrada Escritura - São Miguel, São Gabriel e São Rafael - proibindo a invocação de anjos pelos nomes mencionados em escritos apócrifos ou conhecidos apenas mediante revelação particular.

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