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Demonologia é o estudo sistemático dos demônios. Quando envolve os estudo de textos bíblicos, é considerada um ramo da Teologia. Por geralmente se referir aos demônios descritos no Cristianismo, pode ser considerada um estudo de parte da hierarquia bíblica. Também não está diretamente relacionada ao culto aos demônios.


sábado, 3 de maio de 2014

OS PRÍNCIPES DOS EXÉRCITOS DO SENHOR

O admirável mundo angélico

AS NOÇÕES que correm entre os fiéis, mesmo dentre os mais fervorosos, a respeito dos santos anjos são muito vagas e superficiais. Meras reminiscências e imagens da infância, na maioria dos casos, não muito diferentes de entidades fictícias e de algum modo mitológicas, como as fadas e os duendes.

A iconografia corrente, infelizmente, não ajuda a dar a conhecer a verdadeira fisionomia dos anjos, apresentando-nos seres alados, com vestes e aspecto feminino; ou, então, anjinhos bochechudos, com cara infantil e tola, brincando despreocupadamente sobre nuvens que mais parecem flocos de algodão doce...

Esses anjos não existem, nem é deles que tratamos aqui.

A partir dos dados da Sagrada Escritura e da Tradição, dos escritos dos Santos Padres, do ensinamento do Magistério eclesiástico, da lição dos Doutores e teólogos, queremos apresentar a verdadeira natureza dos santos anjos: seres puramente espirituais, dotados de uma inteligência agudíssima e de uma possante vontade livre dominando abaixo de Deus sobre todas as demais criaturas, racionais e irracionais, bem como as forças da natureza, os elementos da atmosfera e subjugando para sempre os espíritos infernais.

Eis os santos anjos, príncipes dos exércitos do Senhor, mas também nossos amigos e protetores.



O admirável mundo angélico


"E ouvi a voz de muitos anjos
em volta do trono...
e era o número deles
milhares de milhares".
( Ap 5,11)



ALÉM DO MUNDO VISÍVEL e material, criou Deus também o mundo invisível e espiritual, o admirável mundo angélico.

A existência dos anjos foi negada na Antiguidade, entre judeus, pela seita dos saduceus (cf. At 23, 8). Mais tarde, por certas seitas protestantes, como os anabatistas. Em nossos dias ela tem por adversários os ateus, materialistas e positivistas, que não crêem senão naquilo que seus olhos vêem e seus sentidos apalpam. Os racionalistas, para encontrar uma excusa aparentemente racional à sua incredulidade, alegam que os anjos foram inventados pelos judeus no tempo do cativeiro da Babilônia, por imitação das entidades ali cultuadas; ou, então, consideram os anjos como simples modo poético e simbólico de referir-se às virtudes divinas e aos vícios humanos...

Contra todos esses, falam os dados da razão, a crença comum dos povos e a revelação divina.

Os anjos existem

Pela simples razão, independentemente da revelação, o homem pode chegar de algum modo ao conhecimento da existência dos anjos. Com efeito, a existência de seres puramente espirituais não repugna à razão. E um exame da criação, à mera luz do intelecto pode levar-nos à conclusão de que a existência de criaturas puramente espirituais convém à harmonia do Universo, pois assim estariam representados os três gêneros possíveis de seres: os puramente espirituais, acima do homem; outros, puramente materiais, abaixo do homem; por fim, seres compostos, dotados de matéria e espírito —   os homens. E a crença comum dos povos, constante em todos os lugares e em todas as épocas, sempre afirmou a existência desses seres de natureza superior aos homens e inferior à divindade.

Uma coisa, porém, é a mera possibilidade da existência de seres puramente espirituais, e outra é a sua realidade objetiva. A existência dos anjos (e dos demônios, anjos decaídos) seria para nós um problema insolúvel, não houvesse a tal respeito especial revelação divina por meio da Escritura e da Tradição,* que nos garantem a certeza da existência dos anjos.

* Tradição, em sentido amplo, é o conjunto de idéias, sentimentos e costumes, como também de fatos que, numa sociedade, se transmitem de maneira viva de geração a geração.

 Em sentido estrito teológico, chama-se Tradição o conjunto de verdades reveladas que os apóstolos receberam de Cristo ou do Espírito santo, e transmitiram, independentemente Sagradas Escrituras, à Igreja, que as conserva e transmite sem alteração. Essa revelação foi feita a nossos primeiros pais, e se conservou na  Humanidade, por via de transmissão oral pelos Patriarcas. Com o tempo (e também por obra do demônio, sem dúvida), essa revelação primitiva foi-se corrompendo, restando dela meros vestígios no paganismo antigo e no atual. Nas brumas desse paganismo encontramos seres incorpóreos, ora malfazejos ora benignos, quase sempre cultuados como divindades ou quase-divindades. Para preservar o povo judeu da contaminação por essa deformação politeísta pagã, os Autores sagrados, durante largo período, evitaram mencionar nominalmente o espírito das trevas. E, pela mesma razão, não se encontram muitos pormenores no Antigo Testamento sobre a natureza dos anjos e dos demônios, embora sejam mencionados a cada passo. A revelação definitiva só se verifica Nosso Senhor Jesus Cristo. Porém, a Bíblia não traz toda a revelação sobre o mundo angélico, sendo necessário recorrer à Tradição, Esta, como se sabe, encontra-se recolhida nos documentos dos Santos Padres* e escritores eclesiásticos dos primeiros tempos, assim como nos documentos do Magistério - Papas e Concílio - na Liturgia e nos monumentos da Antiguidade cristã (catacumbas cemitérios, etc.).

*Chamam-se Santos Padres ou Padres da Igreja certos escritores eclesiásticos antigos, que se distinguiram pela doutrina ortodoxa e santidade de vida e são reconhecido Igreja como testemunhas da tradição divina.

A existência dos anjos é uma verdade de fé,* provada pela Escritura e pela Tradição. A Sagrada Escritura refere-se inúmeras vezes a seres racionais, inferiores a Deus e superiores aos homens; logo, segundo ela, esses seres, que nós denominamos anjos, existem.

* Verdade de fé é aquela que se encontra na Revelação e é proposta pela Igreja aos fiéis como verdade que se deve crer. A negação pertinaz de uma verdade de fé constitui a heresia.

Essa verdade foi definida solenemente como dogma pelo concílio IV de Latrão (1215): “Deus.., desde o princípio do tempo criou do nada duas espécies de seres — os espirituais e os corporais, isto é, os anjos e o mundo”. De forma igual se expressa o I Concílio do Vaticano (1870).

Os nove coros angélicos

Existem diferenças entre os anjos, mas não consta na Revelação qual sua origem nem seu modo preciso. É questão de livre discussão se os anjos são todos da mesma espécie, ou se existem tantas espécies quantos são os coros, ou se cada indivíduo constitui uma espécie por si (opinião de São Tomás).

De acordo com uma tradição que remonta ao Pseudo-Dionísio Areopagita,* os teólogos costumam agrupá-los em nove ordens ou coros angèlicos, distribuídos em três hierarquias ( os nomes são tomados da Sagrada Escritura):**

*Renomado escritor eclesiástico dos primeiros séculos, cuja identidade não se estabeleceu ainda ao certo, durante muito tempo confundido com o sábio convertido por São Paulo no Areópago de Atenas (cf. At 17, 34). Uma de suas obras mais célebres é De coelesti hierarquia — Sobre a hierarquia celeste, na qual estabelece a ordem dos Anjos, deteminada pelo seu grau de assimilação a Deus, de união com Deus, do dom de luz divina que recebem e transmitem aos Anjos inferiores.


** Por exemplo: Serafins ( Is 6,2); Querubins ( Gen 3,24; Ex 25, 18; 3 Reis 6,23; Sl 17, 11; Ez 10,3; Dan 3,55); Arcanjos ( 1 Tes 4,15; Jud 9); Anjos, Potestades, Virtudes (1 Ped 3,22); Principados, Dominações ( Ef 1,20-21); Tronos (Col 1,16).

Primeira hierarquia - Serafins, Querubins, Tronos;

Segunda hierarquia - Dominações, Potestades, Virtudes;

Terceira hierarquia - Principados, Arcanjos e Anjos.

Os anjos dos três primeiros coros ou primeira hierarquia - Serafins, Querubins e Tronos contemplam e glorificam continuamente a Deus: " Vi o Senhor sentado sobre um alto e elevado trono... Os Serafins estavam por cima do trono ... E clamavam um para o outro e diziam: Santo, Santo, Santo, é o Senhor Deus dos exércitos" (Is 6, 1-3 ). " O Senhor reina ... está sentado sobre querubins" (Sl 98,1); os três coros seguintes - Dominações, Virtudes  e Potestades - ocupam-se do governo do mundo; finalmente, os três últimos - Principados, Arcanjos e Anjos - executam as órdens de Deus:  "Bendizei ao Senhor, vós todos os seus anjos, fortes e poderosos, que executais as suas ordens e obedeceis as suas palavras" (Sl 102, 20).

Todos eles podem entretanto ser chamados genericamente anjos, estando à disposição de Deus para executar suas vontades.  Embora o Evangelho, na Anunciação a Maria, se refira ao anjo Gabriel ( Lc 1,26), isto não quer dizer que ele pertença à última das hierarquias angélicas, pois a sublimidade dessa embaixada leva a supor que se trate de um dos primeiros espíritos que assistem diante de Deus.

Os três arcanjos - como são conhecidos comumente São Miguel, São Gabriel e São Rafael - pertencem, provavelmente, à mais alta hierarquia angélica.  Falaremos deles mais adiante.

Embora não conheçamos, o número exato dos anjos, sabemos, pelas Escrituras e pela Tradição, que são muitíssimos,.  É o que lemos no livro do Apocalipse: "E ouvi a voz de muitos anjos em volta do trono ... e era o número deles milhares e milhares"

(Apoc 5, 11). E no livro de Daniel: “Eram milhares de milhares de milhares (os anjos) que o serviam, e mil milhões os que assistiam diante dele” (Dan 7, 10).

Muitos teólogos deduzem que o número dos anjos é superior ao dos homens que existiram desde o princípio do mundo e existirão até o fim dos tempos. A razão disso é dada por São Tomás ao dizer que, tendo Deus procurado principalmente a perfeição do universo ao criar os seres, quanto mais estes forem perfeitos, Deus os terá criado com maior prodigalidade. Ora, os anjos são mais perfeitos que os homens, logo foram criados em maior número.
 A natureza angélica


“Então o anjo do Senhor tornou-o pelo
alto da cabeça e, tendo-o pelos cabelos,
levou-o com a impetuosidade do seu espírito até Babilônia,
sobre a cova"
(Dan 14, 32-35)


É TAL O ESPLENDOR de um anjo, que as pessoas às quais eles aparecem muitas vezes se prostram por terra por temor e reverência para adorá-los, pensando que se trata do próprio Deus — conforme relato das Escrituras e da vida dos santos. E assim que São João conta no Apocalipse: “Prostrei-me aos pés do anjo para o adorar; porém ele disse-me: Vê, não faças tal; porque eu sou servo de Deus como tu .... Adora a Deus” (Apoc 22,9).
É essa natureza maravilhosa que vamos estudar agora.

Seres racionais e livres

Os anjos são seres intelectuais ou racionais, inferiores a Deus e mais perfeitos que os homens. Eles são puros espíritos, não estando ligados a um corpo como nós; são dotados de uma inteligência luminosa e de vontade livre e possante. Tendo sido criados por Deus do nada, como tudo o mais, os pelo próprio fato de serem puramente espirituais, são imortais, pois não têm nenhuma ligação com a matéria corruptível, como os homens. Ao contrário da natureza do homem, que é composta (isto é, formada de dois elementos distintos, o corpo e a alma) os anjos têm natureza simples, puramente espiritual. Embora a alma humana seja igualmente espiritual, ela foi criada por Deus para viver em união substancial com o corpo; quando se dá a morte e a alma se separa do corpo, ela permanece em um estado de violência, enquanto não se dá a ressurreição dos corpos. Já os anjos não têm necessidade de um corpo como o homem.  Desse modo, é um ser muito mais perfeito, sendo inferior, quanto à natureza, apenas ao próprio Deus. Não se pode pois, ao pensar nos anjos, concebê-los à maneira de uma alma humana separada de seu corpo. Esta última não é capaz daquilo que o anjo pode fazer sua simples natureza.
Tal como o homem, os anjos existem realmente enquanto pessoas; ou seja, eles são substâncias individuais, dotadas de inteligência e livre arbítrio*. Em outros termos, eles têm uma existência real, distinta da de outros seres, sendo capazes de conhecer, de amar, de servir, de escolher entre uma coisa e outra. Eles não são portanto, seres imaginários, fictícios, concebidos pelo homem como mero modo poético de exprimir-se, ou como personificações das virtudes e dos vícios humanos ou das forças da natureza,nem tampouco emanações do poder de Deus.

* É clássica a definição de pessoa dada por Boécio: “Rationalis naturae individua substantia “— " Substância individual de natureza racional”.

Os anjos foram elevados à ordem sobrenatural, isto é chamados a participar da vida da graça, cujo fim é a visão beatífica de Deus. Esta elevação é gratuita, mas discute-se em que momento se deu (para São Tomás, foi no momento mesmo de sua criação); é de fé que os anjos deveram sofrer uma prova, porém não se sabe qual teria sido. Depois da prova cessou para eles o tempo de merecer; é também de fé que os anjos bons gozaram e gozam para sempre visão beatífica e que os maus foram condenados a uma pena eterna.

Conhecimento e comunicação angélica

É questão de livre discussão tudo quanto se refere ao conhecimento angélico, à comunicação de uns com os outros, bem como o que se refere ao seu ato de vontade; é certo que sua capacidade de conhecer — embora incomparavelmente superior à do homem — é limitada: eles não conhecem naturalmente os mistérios divinos, nem o futuro livre ou contingente;* também é certo que têm pleno livre arbítrio.

*Os anjos (e também os demônios, que são anjos pervertidos), pela sua própria natureza, não têm capacidade de conhecer o futuro que depende de um ato livre de Deus ou do homem; porém, dada sua inteligência agudíssíma e seu conhecimento da natureza e de suas leis, eles podem prever qual o desenrolar dos acontecimentos, postas cenas causas. Também podem, em razão de sua profunda penetração psicológica e do conhecimento da alma humana, fazer conjeturas mais ou menos prováveis de como os homens reagirão diante de determinada circunstância, e assim prever o que decorrerá daí.

Para dar uma idéia da perfeição do conhecimento angélico, parece oportuno transcrever a explicação do Cardeal Lepicier, grande especialista na matéria. Comparando o modo de conhecimento humano com o angélico, ressalta o Cardeal que Deus infundiu no intelecto dos anjos, logo que os criou, representações de todas as coisas naturais. Estas imagens “são não somente representativas de princípios gerais que regulam cada ciência particular, mas encerram também, distintamente, todos os pormenores virtualmente contidos nesses princípios, de maneira que uma e a mesma imagem informa a mente angélica das particularidades de cada ciência. Não poderá pois haver confusão na mente angélica, quando ela passa da observação de um para a observação de outro...
"Um anjo, com um simples olhar à imagem que representa — digamos — o reino animal, conhece não só as várias espécies de animais existentes, mas também cada indivíduo que exista ou tenha existido dentro de cada espécie, assim como as suas propriedades particulares e os seus meios de ação. E o mesmo sucede com o conhecimento de qualquer objeto, seja ele qual for, que se encontre no reino da natureza, seja orgânico ou inorgânico, material ou espiritual visível ou invisível. Chama-se futuro livre ou contingente aquele que depende, seja da vontade divina, seja da humana. Distingue-se do futuro necessário, o qual não depende do livre arbítrio, mas decorre de causas que, uma vez postas, levam necessariamente a um determinado efeito.  Assim, à noite sucede o dia; a semente, lançada à terra, germinará dentro de determinado tempo, se se verificarem todas as condições necessárias a isso, independentemente da vontade divina (que já está manifestada no ato da criação da espécie) ou da natureza humana.

“Por aqui se pode ver que a ciência humana é muito excedida pela ciência da mente angélica, tanto em extensão com precisão”.*
* (Cardeal A. LEPICIER, O Mundo Invisível pp. 42-43.)


São Tomás explica do seguinte modo a comunicação dos anjos entre si: como nós homens, os anjos têm o verbo interior ou verbo mental, com o qual falamos a nós mesmos ou formulamos os conceitos interiormente. Mas, enquanto nós só podemos comunicar esse pensamento a outros por meio da palavra oral, ou de outro meio externo, pois entre nós e os demais existe a barreira do nosso corpo, que vela o pensamento, os anjos não têm essa barreira corpórea; assim, basta a eles, por um ato de vontade, se dirigirem a outros anjos, para que seu pensamento — ou seja, esse verbo interior ou verbo mental — se manifeste a eles. Como os anjos são diferentes entre si, e uns são mais perfeitos que outros, os mais perfeitos iluminam os menos perfeitos cor comunicando-lhes aquilo que eles vêem mais em Deus. Do mesmo modo, eles podem iluminar os homens, comunicando-lhes bons pensamentos, embora de forma diferente daquela pela qual um anjo se comunica com outro. Como a mente humana necessita do concurso da fantasia para entender as coisas, os anjos comunicam as verdades ao homem por meio de imagens sensíveis. Quanto à vontade humana, só Deus ou o próprio homem são capazes de movê-la eficazmente; o anjo, ou outro homem. só podem movê-la por meio da persuasão.

Poder dos anjos sobre a matéria

É um tanto misterioso a nós o modo como os anjos, seres espirituais, possam mover a matéria. No entanto tal poder está formalmente revelado, como se pode ver, por exemplo, no livro de Daniel. O profeta fora jogado na cova dos leões para que perecesse; por ação divina, os animais não fizeram mal: “O meu Deus enviou o seu anjo, e fechou a boca dos leões e estes não me fizeram mal algum” (Dan 6, 21). No entanto, para alimentá-lo, Deus quis servir-se do profeta Habacuc, conduzido até a cova por um anjo. Narra a Escritura: “Estava então o Profeta Habacuc na Judéia, e tinha cozido um caldo, e esfarelado uns pães dentro duma vasilha, e ia levá-los ao campo aos ceifeiros que lá estavam. E o anjo do Senhor disse a Habacuc: Leva a Babilônia essa refeição que tens, para a dares a Daniel que está na cova dos leões. E Habacuc respondeu: Senhor eu nunca vi a Babilônia e não sei onde é a cova.  Então o anjo do Senhor tomou-o pelo alto da cabeça e, tendo-o pelos cabelos, levou-o com a impetuosidade do seu espírito até Babilônia, sobre a cova” (Dan 14, 32-35). O próprio Salvador deixou-se carregar pelo demônio até o alto monte para ser tentado (cf. Mt 4, 5-8). Em São Mateus, sobre a Ressurreição de Nosso Senhor, está escrito: “Um anjo do Senhor desceu do céu, e, aproximando-se, revolveu a  pedra, e estava sentado sobre ela” (Mt 28, 2).*

* Cf. Suma Teológica, 1,qq. 52, 107,110-112.

Embora a questão, como dissemos, seja algo misteriosa, procuraremos sintetizar aqui a doutrina de São Tomás de Aquino a respeito. Antes de tudo, convém lembrar o que ensina o santo Doutor a respeito do modo como os anjos encontram-se em um lugar: enquanto os seres corpóreos manifestam sua presença num lugar circunscrevendo-o pelo contato físico de seu corpo com o lugar ocupado, as criaturas incorpóreas delimitam o lugar por meio de um contato operativo. Quer dizer: elas estão no lugar onde agem. Quanto ao modo como os anjos movem a matéria, é a seguinte explicação tomista:

O ser superior pode mover os inferiores porque tem em si, de um modo mais eminente, as virtualidades desses seres inferiores.  Assim, o corpo humano é movido por algo superior a ele, a alma, que é espiritual, a qual, através da vontade, que também é imaterial, move os membros corpóreos a seu bel-prazer; logo, não repugna à razão que uma substância espiritual possa mover a matéria. Entretanto, no caso da alma humana, ela só pode mover diretamente aquele corpo com o qual está substancialmente unida; as demais coisas, ela só pode mover por meio desse corpo;* ora, como os anjos são seres espirituais, não estando substancialmente unidos a nenhum corpo material, sua força de ação sobre a matéria não está delimitada por nenhum corpo determinado; dai se segue que eles podem mover livremente qualquer matéria.

* Por exemplo, para mover uma caneta sobre o papel no escrever, nós precisamos segurá-la com a mão e através desta imprimir o impulso que fará a caneta deslizar no papel e traçar as letras que desejamos; eu não posso mover diretamente a caneta, por um simples ato de vontade: pelo ato de vontade eu agarro a caneta e movo minha mão segundo meus intentos.

Esse movimento se produz pelo contato operativo do anjo a matéria, impulsionando um primeiro movimento local; por meio desse primeiro movimento local o anjo pode produzir outros movimentos na matéria utilizando-se dos próprios recursos dela, com o ferreiro se utiliza do fogo para dobrar o ferro.

O Cardeal Lepicier observa que, como os anjos possuem conhecimento das leis físicas e químicas que ultrapassa tudo quanto a Ciência possa ter descoberto ou venha a descobrir, e, além do mais, têm um poder imenso sobre a matéria, podemos dizer que dificilmente se encontrarão no Universo fenômenos que os anjos não possam produzir, de um modo ou de outro. Esses fenômenos são por vezes tão surpreendentes, que chegam a parecer verdadeiros milagres. Porém, não são milagres, pois embora ultrapassem de longe a capacidade dos homens, não estão acima do poder angélico. Ele exemplifica:

“Um rápido exame dos fenômenos que ocorrem no mundo físico bastará para nos dar uma idéia dos maravilhosos efeitos a que os seres angélicos podem dar causa. Em primeiro lugar, assim como, devido às forças da natureza, massas enormes se podem deslocar, ou, sob a ação de agentes físicos, os elementos da matérias dissolvem ou trabalham em conjunto, como quando provocam as tempestades, furacões e procelas — assim também um anjo, sem a cooperação de quaisquer agentes intermediários, transfere de um lugar para outro os corpos mais pesados, levanta-os e conserva-os suspensos durante determinado tempo, agita as mais pesadas substâncias e provoca colisões entre elas. Pode o mesmo anjo revolver cidades e vilas, provocar terremotos e encapelar as ondas do mar, originar tempestades e furacões, parar a corrente dos rios e, se assim o entender, dividir as águas do mar.

"Além de tudo isso, pode também um anjo, usando das próprias forças, produzir os mais surpreendentes efeitos óticos, não só obrigando substâncias desconhecidas para nós espargir jorros de luz, mas também projetando sombras que se assemelham a representações fantasmagóricas. Pode ainda, sem a ajuda de qualquer instrumento, pôr em movimento os elementos da matéria, fazer ouvir a música mais harmoniosa ou produzir os mais estranhos ruídos, tais como pancadas repetidas ou explosões súbitas. São ainda os anjos capazes de aglomerar nuvens, provocar relâmpagos e trovões, arrancar árvores gigantescas, arrasar edifícios, rasgar tecidos e quebrar as rochas mais duras. É-lhes também possível fazer com que um lápis escreva, por assim dizer automaticamente, certas frases com um sentido inteligível, assim como dar aos objetos formas diferentes das que são peculiares à sua natureza.  Podem, até certo ponto, suspender as funções da vida, parar a respiração dum corpo, acelerar a circulação do sangue e fazer com sementes lançadas à terra cresçam dentro de pouco tempo, até atingirem a altura duma árvore, com folhas, botões e até com frutos.

"A um anjo é possível fazer todas estas coisas no mais breve espaço de tempo por causa do seu poder sobre os elementos da matéria, e sem a menor dificuldade, imitando perfeitamente as obras da natureza e dando em tudo a impressão de que se trata de efeitos s a causas naturais” .*

* (Cardeal A. LEPICIER, O Mundo Invisível. pp. 74-75.)


Poder dos anjos sobre o homem

O anjo pode produzir efeitos corpóreos maravilhosos. Ele pode, através do movimento que imprime à matéria, produzir mudanças nos corpos, mas de tal forma que apenas se sirva da natureza, desdobrando as potencialidades dela. Assim ele pode, nos homens, favorecer ou impedir a nutrição ou provocar doenças. Mas ele não pode fazer qualquer coisa que esteja completamente acima da natureza, como, por exemplo, ressuscitar pessoas mortas. O anjo tem ainda o poder de favorecer ou impedir os movimentos da sensualidade, a delectação, a dor, a ira, a memória e afetar de vários modos os sentidos externos e internos, isto é, os cinco sentidos, a memória e a imaginação. Do mesmo, modo o anjo pode aguçar a força da inteligência e, de um modo indireto, mover quer o intelecto — excitando imagens na fantasia ou propondo questões — quer a vontade, solicitando-a para que escolha algo. O anjo pode formar para si um corpo com o qual aparece aos homens como, por exemplo, o arcanjo São Rafael fez com Tobias.  Santo Agostinho diz que os anjos aparecem aos homens com um corpo que eles não somente podem ver, mas também tocar, como é provado pela Escritura (Gen 18, 2ss; Lc 1, 26ss; At 12, 7ss; o livro de Tobias).

O anjo move o corpo que assume, como nós poderíamos mover um boneco, dando a impressão de que ele está vivo, fazendo-os imitar os movimentos do homem. Quando São Rafael parecia comer na companhia de Tobias, ele apenas fazia o corpo do qual estava se servindo mover-se como faz um homem nessa circunstância, mas sem consumir o alimento. Os espíritos angélicos não podem fazer milagres propriamente ditos, mas sim coisas maravilhosas, que ultrapassam o poder humano, não porém o angélico. Por exemplo, graças ao seu poder e conhecimento extraordinário, podem curar doenças, restituir a vista a cegos (Tob 11, 15); fazer prodígios como elevar uma pessoa e carregá-la pelos ares (Dan 14, 15), fazer falar serpente (Gen. 3, Iss), etc.
 Ministérios dos anjos

"Anjos do Senhor, bendizei ao Senhor...
Exércitos do Senhor, bendizei ao Senhor".
(Dan 3, 58-61)


OS MINISTÉRIOS dos anjos são: em relação a Deus, adorá-lo, louvá-Lo, servi-Lo, executando todos os Seus decretos em relação aos demais anjos, quer aos homens, como também a toda a natureza material, animada e inanimada; em relação aos demais anjos, os de natureza superior iluminam os inferiores, dando-lhes a conhecer aquilo que vêm em Deus; em relação aos homens, eles são ministros de Deus para encaminhá-los à pátria celeste, protegendo-os, corrigindo-os, instruindo-os, animando-os; em relação ao mundo material, eles são agentes de Deus para o governo do Universo.

Ministros da liturgia celeste

O principal ministério dos anjos consiste em adorar, louvar e servir a Deus: “Anjos do Senhor, bendizei ao Senhor... Exércitos do Senhor, bendizei ao Senhor; louvai-O e exaltai-O por todos os séculos” (Dan 3, 58-61). “Bendizei ao Senhor, vós todos os seus anjos, fortes e poderosos, que executais as suas ordens e obedeceis as suas palavras” (Si 102, 20). “Os Serafins estavam por cima do trono... E clamavam um para o outro e diziam: Santo, Santo, Santo, é o Senhor Deus dos exércitos” (Is 6,2-3).

Os santos anjos desempenham assim a liturgia celeste:

"E vi os sete anjos que estavam de pé diante de Deus ... E veio outro anjo, e parou diante do altar, tendo um turíbulo de ouro; e foram-lhe dados muitos perfumes, a fim de que oferecesse as orações de todos os santos sobre o altar de ouro, que está diante do trono de Deus. E o aroma dos perfumes das orações dos santos subiu da mão do anjo até à presença de Deus” (Apoc 8,2-4).

Esses puros espíritos são, pois, ministros do altar e ministros do trono de Deus: eles cantam os louvores de Deus na presença do Altíssimo, e apresentam-Lhe as nossas preces e as nossas boas obras; ao mesmo tempo, descem até nós e nos trazem as graças e bênçãos divinas, verdade belamente expressa na visão da escada de Jacó: “(Jacó) teve um sonho: Uma escada se erguia da terra e chegava até o céu, e anjos de Deus subiam desciam por ela” (Gen 28, 12).

Essa verdade, em termos práticos, significa que eles são intercessores poderosíssimos diante de Deus. A eficácia da intercessão angélica é testemunhada, entre muitas outras passagens da Escritura, por esta do livro do Profeta Zacarias: “E o anjo do senhor replicou e disse: Senhor dos exércitos, até quando diferirás tu o compadecer-te de Jerusalém e das cidades de Judá, contra as quais te iraste? Este é já o ano septuagésimo. ... Isto diz o Senhor dos exércitos: Eu sinto um grande zelo por Jerusalém e por Sião... Portanto isto diz o Senhor: Voltarei para Jerusalém com entranhas de misericórdia” (Zac 1,12-16). Isto nos deve mover a recorrer sempre com fervor e cada mais a eles.

Guerreiros dos exércitos do Senhor

As Sagradas Escrituras nos apresentam os anjos numa guerreira, como a milícia dos exércitos do Senhor. Assim, o profeta Miquéias exclama: “Eu vi o Senhor sentado sobre seu trono, e todo o exército do céu ao redor dele, à direita e à esquerda” (3 Reis 22, 19). E o livro de Josué, ao narrar a luta dos judeus para conquistar a Palestina, após saírem do Egito, diz: "Ora, estando Josué nos arredores da cidade de Jericó, levantou os olhos e viu diante de si um homem em pé, que tinha uma espada desembainhada. Foi ter com ele e disse-lhe: Tu és dos nossos, ou dos inimigos? E ele respondeu: Não; mas sou o príncipe do to do Senhor” (Jos 5, 13-14).*

* No Antigo Testamento os anjos são designados das mais diversas formas:  "príncipes"; "filhos de Deus"; "santos"; "anjos santos"; "sentidos vigilantes"; "espíritos"; "homem".

O próprio Deus, a quem servem esses anjos guerreiros, é apresentado como o Deus dos exércitos. O profeta Oséias, descrevendo a fidelidade de Jacó, registra: “E o Senhor Deus dos exércitos, este Senhor ficou sempre na sua memória” (Os 12, 4-5). Amós profetiza a prevaricação de Israel em nome do Senhor Deus dos exércitos: "Ouvi isto, e declarai-o à casa de Jacó, diz o Senhor dos exércitos”. E adiante: “Pois sabe, casa de Israel, diz o Senhor Deus dos exércitos, que eu vou suscitar contra vós uma nação vos oprimirá” (Am 3, 13; 6, 15). Na visão do profeta Isaías: "Os serafins .. clamavam um para o outro e diziam: Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus dos exércitos” (Is 6, 2-3). A mesma expressão é utilizada nos Salmos de Davi: “Quem é esse Rei da Glória? O Senhor dos exércitos; esse é o Rei da glória “. “O Senhor dos exércitos está conosco; o Deus de Jacó é a nossa cidadela"     ( Sl 23,10; 45, 8). O Senhor Deus dos exércitos, após a desobediência de nossos primeiros pais, “pôs diante do paraíso de delícias Querubins brandindo uma espada de fogo, para guardar o caminho da árvore da vida" (Gen 3,24). As hostes celestes combateram no Céu uma “grande batalha"  (Apoc 12, 7), derrotando e expulsando Satanás e os anjos rebeldes. E na noite sublime do Natal, esses guerreiros celestes apareceram aos pastores: “E subitamente apareceu com o anjo uma multidão da milícia celeste louvando a Deus e dizendo: Glória a Deus no mais alto dos Céus e paz na terra aos homens de boa vontade” (Lc 2, 8-14). Deus confia à milícia celeste a defesa daqueles que O amam. Segundo os intérpretes, um anjo exterminador matou em meio à noite todos os primogênitos do Egito (Ex 12, 29); e ao serem os judeus perseguidos pelo exército do Faraó, o anjo do Senhor, que ia diante deles, se interpôs entre os egípcios e o povo escolhido (Ex 14, 19). Quando Senaquerib ameaçava o povo eleito, Deus enviou um de seus terríveis guerreiros angélicos: "Naquela mesma noite saiu o anjo de Iavé e exterminou no acampamento assírio cento e  oitenta e cinco mil homens” (4 Reis 19, 35).

Às vezes os combatentes celestes se juntam aos combatentes terrestres para dar-lhes a vitória, como se deu numa batalha decisiva de Judas Macabeu:

“Mas, no mais forte do combate, apareceram do céu aos inimigos cinco homens em cavalos adornados de freios de ouro, que serviam de guia aos judeus. Dois deles, tendo no meio de si Macabeu, cobrindo-o com suas armas, guardavam-no para que andasse sem risco da sua pessoa; e lançavam dardos e raios contra os inimigos, que iam caindo feridos de cegueira, e cheios de turbação. Foram pois mortos vinte mil e quinhentos homens, e seiscentos cavalos” (2 Mac 10, 28-32).

O Senhor Deus dos exércitos envia igualmente seus guerreiros para livrar seus amigos das mãos dos ímpios:


“Deitaram (os judeus) as mãos sobre os Apóstolos e meteram-nos na cadeia pública. Mas um anjo do Senhor, abrindo de noite as portas do cárcere, e, tirando-os para fora, disse: Ide, e , apresentando-vos no templo, pregai ao povo toda as palavras desta vida” (At 5, 18-20).

“Herodes ... mandou também prender Pedro ...  E eis que sobreveio um anjo do Senhor, e resplandeceu de luz no aposento; e, tocando no lado de Pedro, o despertou, dizendo: Levanta-te depressa. E caíram as cadeias das suas mãos. E o anjo disse-lhe: Toma a tua cinta, e calça as tuas sandálias. E ele fez assim. E o anjo disse-lhe: Põe sobre ti a tua capa e segue-me. E ele, saindo, seguia-o, e não sabia que era realidade o que por intervenção do anjo, mas julgava ter uma visão. E, depois de passarem a primeira e a segunda guarda, chegaram à porta de  ferro que dá para a cidade, a qual se lhes abriu por si mesma. E saindo, passaram uma rua e, imediatamente, o anjo afastou-se dele: Então Pedro, voltando a si, disse: Agora sei verdadeiramente que o Senhor mandou o seu anjo, e me livrou da mão de Herodes e de tudo o que esperava o povo dos judeus” (At 12, 1-11).

O próprio Salvador, para deixar claro aos Apóstolos que Ele sofria a Paixão por espontânea vontade, disse a São Pedro, que O queria defender por meio da espada: “Julgaste por ventura que eu não posso rogar a meu Pai, e que ele não me porá imediatamente aqui de doze legiões de anjos?” (Mt 26, 53).

Executores das vinganças de Deus

Esses guerreiros executam igualmente as vinganças de Deus:

Diante dos pecados dos sodomitas, Deus enviou seus anjos:

"Quanto aos homens que estavam à porta (da casa de Lot e queriam abusar dos jovens que lá estavam), eles (os anjos) os feriram com cegueira, do menor ao maior, de modo que não conseguiram achar a entrada “. “Os anjos disseram a Lot ... nós vamos destruir este lugar pois é grande o clamor que se ergueu contra eles diante do Senhor. E o Senhor nos enviou para exterminá-los (Gen 19, 10-13).

"Quando os mensageiros do rei Senaquerib blasfemaram contra ti, teu anjo interveio e feriu cento e oitenta e cinco mil dos seus homens". (1 Mac 7,41).

Herodes Agripa, que perseguira São Pedro e matara São Tiago, foi "ferido pelo anjo do Senhor e comido de vermes” (At 12, 23).

No fim do mundo:

"O Filho do homem enviará os seus anjos, e tirarão do seu reino todos os escândalos e os que praticam a iniqüidade. E lançá-los-ão na fornalha de fogo. Ali haverá choro e ranger de dentes” (Mt13, 41-42).

"Quando aparecer o Senhor Jesus (descendo) do céu com os anjos do seu poder, em uma chama de fogo, para tomar vingança daqueles que não conheceram a Deus e que não obedecem ao Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo; os quais serão punidos com a perdição eterna longe da face do Senhor e da glória do seu poder" (2 Tess 1, 7-9).

Mensageiros celestes

O próprio nome de anjos indica já sua função: enviados ou mensageiros de Deus. Com efeito, o original hebraico do Antigo Testamento se refere a esses puros espíritos como mal´âk yahweh, isto é, emissários de Deus. A versão grega utilizou a expressão angelos, a qual foi por sua vez traduzida em latim por angelus, palavra que serviu de base para as línguas ocidentais.

O Novo Testamento nos mostra a ação desses emissários de Deus,  comunicando aos homens as mais importantes mensagens divinas. Assim, o arcanjo São Gabriel anuncia a Zacarias o nascimento do Precursor, São João Batista: “Eu sou Gabriel, que assisto diante do trono de Deus e fui enviado para falar-te e comunicar-te esta boa nova” (Lc 1,19). O mesmo anjo anuncia à Santíssima Virgem o mistério da Encarnação: “Foi enviado o anjo Gabriel da parte de Deus a uma cidade da Galiléia chamada Nazaré, a uma virgem desposada com um varão de nome José, da casa de David; e o nome da Virgem era Maria” (Lc 1,26-27). Um anjo aparece a São José em sonhos dando-lhe a conhecer também esse mistério: “Eis que um anjo do Senhor lhe apareceu em sonhos dizendo: José, filho de David, não temas receber Maria como tua esposa, porque o que nela foi concebido é (obra) Espírito Santo” (Mt 1,20).

A alegria do nascimento do Salvador foi anunciada pela aos pastores: “Ora naquela mesma região havia uns pastores que velavam e faziam de noite a guarda ao seu rebanho. E eis que apareceu junto deles um anjo do Senhor, e a claridade de Deus os cercou,, e tiveram grande temor. Porém o anjo disse-lhes: Não temais; porque eis que vos anuncio uma grande alegria, que terá todo o povo. Nasceu-vos na cidade de David o Salvador, que é Cristo Senhor. E eis o sinal: Encontrareis um menino envolto em panos deitado numa manjedoura. E subitamente apareceu com o anjo uma multidão da milícia celeste louvando a Deus e dizendo: Glória a Deus no mais alto dos Céus e paz na terra aos homens de boa vontade” (Lc 2,8-14). Um anjo aconselha à Sagrada Família fugir para o Egito por causa da perseguição de Herodes: “Eis que um anjo do Senhor apareceu em sonhos a José e lhe disse: Levanta-te, torna o menino e sua mãe e foge para o Egito, e fica lá até que eu te avise; porque Herodes vai procurara menino para o matar” (Mt 2, 13). Depois da morte de Herodes, o anjo torna a aparecer a São José: "Morto Herodes, eis que o anjo do Senhor apareceu em sonho a José no Egito, dizendo: Levanta-te, toma o menino e sua mãe, e vai para a terra de Israel, porque morreram os que procuravam tirar a vida ao menino” (Mt 2, 19-20).

Consoladores e confortadores

Em diversos episódios, a Sagrada Escritura nos mostra os anjos no seu ministério de consoladores e confortadores dos homens em dificuldades. O profeta Elias, sendo perseguido pela ímpia rainha Jezabel (a qual introduzido em Israel o culto idolátrico de Baal), fugiu para o deserto; ali, prostrado de desânimo e fadiga, adormeceu. “E um anjo do Senhor o tocou, e lhe disse: Levanta-te e come". Elias abriu os olhos e viu junto de sua cabeça um pão e um vaso de água; comeu e bebeu e tornou a adormecer. “E voltou segunda vez o anjo do Senhor, e o tocou e lhe disse: Levanta-te e come, porque te resta um longo caminho “. O Profeta levantou-se, e bebeu e, revigorado, caminhou durante quarenta dias e quarenta noites até o Monte Horeb, onde Deus iria manifestar-se a ele (3 Reis 19, 1-8).


Em sua vida terrena o próprio Salvador foi servido e confortado anjos.

Assim se deu após o prolongado jejum no deserto e a tentação do demônio: “Então o demônio deixou-o; e eis que os anjos se aproximam e o serviam” (Mt 4, 11). Na terrível agonia do Horto das Oliveiras, depois de Jesus exclamar: “Pai, se é do teu agrado, afasta de mim este cálice “, o Padre enviou um anjo para confortá-Lo: “Então apareceu-lhe um anjo do céu que o confortava” (Lc 22, 42-43). Na Ressurreição “um anjo do Senhor desceu do céu e, aproximando-se, revolveu a pedra, e estava sentado sobre ela; e o seu aspecto era como um relâmpago e as suas vestes brancas como a neve”. E o mesmo anjo consolou as Santas Mulheres que haviam ido ao Sepulcro: “Não temais, porque sei que procurais a Jesus que foi crucificado; ele já não está aqui, porque ressuscitou como tinha dito” (Mt 28, 2-8).

Agentes de Deus para o governo do Universo

É por meio dos santos anjos que Deus exerce o governo do Universo.

Os Padres e Doutores da Igreja reconhecem nos anjos um grande poder, não só sobre as plantas e animais, mas até sobre o próprio homem. A Sagrada Escritura fala-nos também do anjo que tem poder sobre o fogo (Apoc 14, 18), e daquele que manda nas águas (Apoc 16, 5).

Santo Agostinho diz que cada espécie distinta, nos diferentes reinos da natureza, é governada pelo poder angélico. Segundo São Tomás, Deus mesmo estabeleceu, até os mínimos detalhes, seu plano de governo do mundo. Mas ele confia a execução desse plano, em graus variados, primeiro aos anjos, depois aos homens, segundo suas funções diversas, e por fim às outras criaturas.

Os anjos são os agentes da execução de Deus em todos domínios. Como Deus governa tudo, os anjos O ajudam e obedecem em tudo. Ele exerce seus desígnios no Cosmos pelo ministério dos anjos. “E claro que as galáxias do céu, assim como as feras das florestas e os pássaros que cantam para nós, e o trigo de nossos campos, os minerais e os gases, os prótons e os nêutrons sofrem a ação dos anjos” comenta Mons. Cristiani. (Mgr L. CRISTIANI, Les Anges, ces inconus, p. 651.)

São Tomás é categórico a esse respeito: “Todas as corporais são governadas pelos anjos. E este é não somente o ensinamento dos Doutores da Igreja, mas também de todos os filósofos" (Suma contra Gentiles, lib. III, c. 1.)

E o Cardeal Daniélou explica: “Trata-se pois de uma doutrina estabelecida pela tradição e pela razão. E nós, de nossa parte, pensamos que o governo inteligente e forte do qual dá testemunho a ordem do cosmos pode bem ter por ministros os espíritos celestes, em que pese o racionalismo de alguns de nossos contemporâneos”. (Apud Mgr L. CRISTIANI, art. cit., p.651.)

Guias e protetores dos homens

Os anjos, apesar de sua excelsitude, por desígnio de Deus, são nossos amigos e companheiros. Eles nos protegem nas necessidades, nos guiam nos perigos, nos sugerem continuamente bons propósitos, atos de amor e submissão a Deus. Pela sua importância, a doutrina sobre os Anjos da Guarda merece maior desenvolvimento. É o que faremos em capítulo à parte. Se o próprio Deus se serve continuamente dos anjos, não devemos nós também recorrer sempre aos príncipes dos exércitos do Senhor, aos mensageiros de Deus, invocando-os em todas as nossas necessidades?

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