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Demonologia é o estudo sistemático dos demônios. Quando envolve os estudo de textos bíblicos, é considerada um ramo da Teologia. Por geralmente se referir aos demônios descritos no Cristianismo, pode ser considerada um estudo de parte da hierarquia bíblica. Também não está diretamente relacionada ao culto aos demônios.


terça-feira, 2 de junho de 2015

Gênesis 6:1-12

Com estes imperativos em mente vamos analisar a passagem da Bíblia de Gênesis 6:1-12.

Quando os filhos de Deus tomaram para si as filhas dos homens algo de muito grave aconteceu. Quem eram eles?

Em todas as outras referências no Antigo Testamento onde aparece a expressão “filhos de Deus” sempre se referem aos anjos (Jó 1:6, 2:1, 38:7; Dn 3:25). Aqui não é diferente.

Isto está explícito em Judas 6-8 [“6  E aos anjos que não guardaram o seu principado, mas deixaram a sua própria habitação, reservou na escuridão e em prisões eternas até ao juízo daquele grande dia; 7  Assim como Sodoma e Gomorra, e as cidades circunvizinhas, que, havendo-se entregue à fornicação como aqueles, e ido após outra carne, foram postas por exemplo, sofrendo a pena do fogo eterno. 8 ¶  E, contudo, também estes, semelhantemente adormecidos, contaminam a sua carne, e rejeitam a dominação, e vituperam as dignidades.”], onde o pronome demonstrativo “AQUELES” no v. 7 claramente se refere aos anjos do v. 6, dizendo-nos que os habitantes de Sodoma e Gomorra se entregaram a fornicação como os anjos.

Alegar que a palavra grega neste caso do v. 7 deva ser traduzida por “ESTES” (como acontece nos outros 6 casos de sua aparição: vv. 8,10,12,14,16 e 19), significando que Judas se refira aos “homens ímpios” do v.4, é um grave erro de sintaxe. Leia o v. 7 com o pronome “ESTES” e depois leia o v. 8 e veja se não é confuso!!!

Se Judas falava dos “homens ímpios” (v.4) no v. 7, por que o v. 8 começa com a frase “E, contudo, também estes”?

A conjunção “contudo” liga os exemplos do vv. 5, 6 e 7 com os “homens ímpios” a que Judas se refere exatamente com a idéia de adversidade ou seja, apesar dos exemplos registrados na história bíblica de condenação de hereges, os “homens ímpios” do v. 4 ainda assim repetem os mesmos pecados. Se eles são mencionados no v. 7 por que Judas usou esta conjunção?

Observamos ainda o uso da partícula de inclusão “TAMBÉM” que só seria necessária se Judas NÃO estivesse mencionando os “homens ímpios” anteriormente no v. 7. Judas o faz exatamente para AGORA, no v. 8., contabilizá-los no grupo dos ímpios anteriormente exemplificados.

Ainda perguntamos: onde encaixar os “semelhantemente adormecidos” do v. 8? Os “homens ímpios” do v. 4 seriam semelhantes a eles mesmos já que foram supostamente mencionados no v. 7?!!!

Se Judas se referisse aos “homens ímpios” do v. 4 no v. 7, o v. 8 começaria assim: “Estes são adormecidos, contaminam sua carne, ...”. Mas não começa!!!

Sobre Judas basta!!!

Dizer que os anjos não têm sexo é sem fundamento bíblico. Em Mateus 22:30 [c1][c2](e Mc 12:35 e Lc 20:35, 36) Jesus não diz que os anjos não têm sexo. Ele diz que nós (os salvos) seremos como os anjos de Deus NO CÉU.[2] Quando estão aqui na Terra os anjos adquirem forma humana: corpo e aparência.

Em favor dessa conclusão basta ler Gênesis 18 e 19 (em especifico 18:1-3, 16, 22 e 19:1) onde 2 anjos se “materializam” juntamente com Deus, COMEM[3] uma refeição com Abrão e vão até Sodoma tirar Ló de lá.[4] Também vemos em Hebreus 13:3 Paulo dizendo-nos que não devemos esquecer a hospitalidade “porque por ela alguns NÃO o sabendo, hospedaram anjos”. Para que nós não reconheçamos um anjo é necessário que ele assuma forma humana.

Ainda podemos mencionar como evidência que os anjos têm sexo a referência a eles por palavras  de gênero masculino, incluindo substantivos próprios: vide  “ o HOMEM Gabriel” em Dn 9:21 e  “o ANJO Gabriel” em Lc 1:26; vide Dn 10:13,21; 12:1; Jd 9; Ap 12:7 (relacionados ao arcanjo Miguel), bem como chamamos a atenção para o fato de que até em visões os anjos tem aparência humana , de homem (ver Ez 8 e 9; Dn 10 e 12).[5]

Fato comprovado, voltemos ao texto em questão.
“1 ¶  E aconteceu que, como os homens começaram a multiplicar-se sobre a face da terra, e lhes nasceram filhas, 2  Viram os filhos de Deus que as filhas dos homens eram formosas; e tomaram para si mulheres de todas as que escolheram. 3 ¶  Então disse o SENHOR: Não contenderá o meu Espírito para sempre com o homem; porque ele também é carne; porém os seus dias serão cento e vinte anos. 4 ¶  Havia naqueles dias gigantes na terra; e também depois, quando os filhos de Deus entraram às filhas dos homens e delas geraram filhos; estes eram os valentes que houve na antiguidade, os homens de fama. 5  E viu o SENHOR que a maldade do homem se multiplicara sobre a terra e que toda a imaginação dos pensamentos de seu coração era só má continuamente. 6 ¶  Então arrependeu-se o SENHOR de haver feito o homem sobre a terra e pesou-lhe em seu coração. 7  E disse o SENHOR: Destruirei o homem que criei de sobre a face da terra, desde o homem até ao animal, até ao réptil, e até à ave dos céus; porque me arrependo de os haver feito. 8 ¶  Noé, porém, achou graça aos olhos do SENHOR. 9  Estas são as gerações de Noé. Noé era homem justo e perfeito em suas gerações; Noé andava com Deus. 10  E gerou Noé três filhos: Sem, Cão e Jafé. 11 ¶  A terra, porém, estava corrompida diante da face de Deus; e encheu-se a terra de violência. 12  E viu Deus a terra, e eis que estava corrompida; porque toda a carne havia corrompido o seu caminho sobre a terra.”



No versículo 4 temos uma frase muito intrigante: “ e também depois”. Conclui-se que havia alguns homens (filhos de homens com mulheres) pré-diluvianos de grande estatura; fato este, apesar de existente, pela estrutura do versículo (parte a) percebe-se não ser fato corriqueiro mas exceções, assim como casos específicos após o dilúvio (ver Nm 13:32;33 e Dt 3)[6] e alguns raríssimos casos que acontecem ainda hoje.[7] Contudo, percebe-se que a parte b do versículo 4 deixa claro que as relações entre mulheres e anjos produziam com grande freqüência, como sendo característico desta relação, gigantes. Além disso, somente do fruto dessa relação, anjos e mulheres, é que Moisés nos diz que surgiram “os valentes que houve na antigüidade, os homens de fama”, comprovado pelo emprego do pronome demonstrativo ESTES no início da parte c do versículo em questão.

O que de tão grave resultou dessa relação para que Deus decretasse “o fim de toda carne” ?(v. 13)

Devo ao amigo Wilbur Pickering a resposta: “Sabemos através da medicina moderna que cada ser humano leva nas veias o sangue do pai, não da mãe, de sorte que a raça mista mencionada em Gênesis 6:4 levava sangue demoníaco, não humano nas veias; e sabemos através do Texto Sagrado que o espírito humano é transmitido pelo esperma do homem, de sorte que aquela raça mista havia perdido o espírito humano, e presumivelmente a ‘imagem de Deus’ também. Se Satanás tivesse conseguido corromper todo mundo, teria sido impossível o nascimento do Messias, o segundo Adão, e Gênesis 3:15 não poderia se cumprir.” [8]

Podemos objetar que não houve uma perda total da ‘imagem de Deus’ por parte da descendência da relação anjos e mulheres em decorrência da presença do óvulo feminino[9] nessa relação, motivo pelo qual Deus continua a referir-se a esses descendentes como ‘homens’ (v. 4, 5, 6, 7).

Quão longe Satanás chegou!!!

Por que então Deus não destruiu tudo e começou do zero? Porque empenhara sua palavra a Adão fazendo-lhe uma promessa.

Por que fizera tal promessa? “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”. (Jo 3:16)

Logo, Deus teria de resolver esse problema , até porque “Deus não é homem, para que minta; nem filho do homem, para que se arrependa; porventura diria ele, e não o faria? Ou falaria, e não o confirmaria?” (Nm 23:19).[10]

Daí decorre que o emprego do verbo arrepender-se em Gn 6:6 deve ser entendido como tristeza profunda e não mudança de planos, senão Deus destruiria a todos sobre a face da terra sem preservar a ninguém, mas foi exatamente o que Ele não fez. E não o fez por AMOR (Mt 12:33).

Surge desse incidente ainda uma pergunta: Por que Satanás não tentou outra investida como esta após o dilúvio?

Resposta: Porque Deus não o permitiu. Como foi que Deus fez isso (frustrou para sempre outra investida satânica)?

Quem nos conta como isso foi feito é Pedro e, também, Judas:
“Porque, se Deus não perdoou aos anjos que pecaram, mas, havendo-os lançado no inferno, os entregou às cadeias da escuridão, ficando reservados para o juízo”.  II Pe 2:4

“O julgamento que se seguiu ao pecado dos anjos incluiu o seu lançamento no inferno (tartaros; II Pe 2:4), acorrentados na escuridão, e o seu juízo no dia futuro. O uso da palavra ‘cadeias’ dá a impressão de que seus movimentos são restritos,... As palavras ‘lançado no inferno’ (tartaroo) é um particípio no tempo aoristo e poderia ser traduzido ‘os tartarizando’, portanto é a sua condição e não o seu lugar de habitação que é mencionada”.[11]

“E aos anjos que não guardaram o seu principado, mas deixaram a sua própria habitação, reservou na escuridão e em prisões eternas até ao juízo daquele grande dia”. Jd 5

O castigo de Deus foi reservar os anjos caídos na escuridão, endo as prisões eternas a incapacidade de se materializar.

É isto mesmo que eu estou afirmando biblicamente!!! Esta é a origem dos demônios.[12]

Ofereço como argumentação filosófica o seguinte: sabemos que dentro do escopo da Filosofia (não da Teologia) que todo ser humano tem (ou deveria ter) pelo menos 3 tipos de liberdade: liberdade de ir e vir (locomoção); liberdade de falar o que pensa (expressão) e liberdade de refletir sobre sua realidade (consciência ou pensamento).[13]

Quando um bandido é preso e colocado no presídio, é-lhe vedado a liberdade de locomoção.

Durante a ditadura militar no Brasil foram criados diversos organismos (DOPS, SNI) e até leis (AI-5) para suprimir a liberdade de expressão do povo (em especial dos estudantes).

Ainda mais profunda é a ALIENAÇÃO, prisão sem muros, onde grande parte da sociedade está “enclausurada” pelo excesso de “desinformação” com que é bombardeada diariamente pela mídia, onde os fatos não são apenas apresentados, mas manipulados para que se pense e propague o que os donos do poder desejam.

Entretanto, quantos foram e são privados de sua liberdade de locomoção e continuaram livres em suas consciência e expressão. Apresento como exemplo Jonh Bunyan.
Concluí-se que existem vários tipos de prisão, e no caso específico dos anjos caídos essa prisão seria a impossibilidade de se materializar,ou seja, eles ficaram presos em ‘corpos’ imateriais.

Eis o porquê da necessidade da possessão demoníaca HOJE, pois sem corpos, os demônios não podem atuar em nosso mundo ‘como se fossem humanos’ (materializar), necessitando de corpos 100% humanos (usados com consentimento dos humanos).[14]

Este é o motivo desse incidente nunca mais se repetir ( relações entre anjos e mulheres) pois, mesmo quando os demônios possuem uma pessoa humana, o corpo dessa pessoa continua humano, e mesmo que o possesso tenha relações sexuais e engravide uma humana, o fruto dessa relação continua 100% humano.

Para corroborar essas evidências, e também confirmar biblicamente o “arquiteto” desse grande ataque, analisemos Apocalipse 12.

Nos versículos 1 e 2 fala-se de “um grande sinal no céu: uma mulher...” que claramente se identifica com a nação de Israel.[15] Existe um personagem que interage com a mulher e dentro do contexto da descrição desta personagem (vv. 3 e 4) é que o apóstolo João nos faz revelações surpreendentes.

 “E viu-se outro sinal no céu; e eis que era um grande dragão vermelho...”. Nota-se que nesta visão João nos mostra o dragão SOZINHO. De repente “a sua cauda levou após si a terça parte das estrelas DO CÉU” e para provar que “ Deus não é Deus de confusão” e que “nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação”, pergunto: onde foi que as estrelas do céu foram parar? O dragão “lançou-as sobre a terra”. Não é uma incrível coincidência com Gn 6:1,2?!

Observe agora os versículos 7 a 9, onde o Dragão não está mais sozinho mas com “OS SEUS ANJOS”. Quem mais seriam estes senão a terça das estrelas do céu mencionada no versículo 3?[16]

Analisemos ainda a similaridade de procedimentos de Satanás em sua investida contra Eva e em sua investida em Gn 6:1,2, onde lemos “VIRAM os filhos de Deus que as filhas dos homens eram formosas”. Satanás, “que engana todo o mundo”, também enganou os anjos. Assim como Eva “VIU que aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos...”,  os anjos VIRAM também. E Satanás com a “sua cauda levou após si” Eva também.[17]

Por fim, por que só a terça parte das estrelas do céu? Porque também há decretos de Deus quanto à eleição de anjos (I Tm 5:21).

Ainda dentro do texto em análise, resta-nos uma pergunta a ser respondida: o que significam os 120 anos de Gênesis 6:3?

Existem 2 respostas. Uma delas nos diz que daquele momento em diante os homens passariam a ter como expectativa de vida ao nascerem 120 anos. O que de fato a Bíblia nos mostra?


Em primeiro lugar, depois do dilúvio muitas pessoas viveram mais de 120 anos, apesar das drásticas mudanças climáticas pós-diluvianas. Por exemplo, Noé viveu 350 após o dilúvio. Mas pode-se alegar que Noé era pré-diluviano, favorecido pela estrutura do mundo naquela época. Tudo bem!!! Mas como explicar a lista de Gênesis 11? E Abraão que nascera 390 anos após Noé e viveu 175 anos (Gn 25:7). E Sara que viveu 127 (Gn 23:1)? E Isaque que viveu 180 (Gn 35:28)? José é o primeiro a ser mencionado na Bíblia a morrer de velhice com menos de 120 anos (Gn 50:26), isto já sendo pelo menos 700 depois que foi proferido Gn 6:3.

Em segundo lugar, apesar de Moisés ter vivido 120 anos e “os seus olhos nunca se escureceram, nem perdeu o seu vigor” (Dt 34:7) ele já observava que “os dias de nossa vida chegam a setenta anos, e se alguns, pela robustez, chagam a oitenta anos, o orgulho deles é canseira e enfado, pois cedo se corta e vamos voando” (Sl 90:10), evidenciando não mostrar relacionamento entre Gn 6:6 com expectativa de vida das pessoas a partir daquele momento (senão Moisés falaria 120 anos e não 80 anos no Sl 90:10). O próprio destaque em Dt 34:7 demonstra que esta situação não era corriqueira nos tempos de Moisés, mas exceção.

Conclui-se que a derrocada da expectativa de vida após o dilúvio ocorreu de forma gradativa em decorrência das catástrofes geomorfoclimáticas provocadas pelo dilúvio[18] e não estão relacionadas ao que Deus disse em Gn 6:3.

A segunda resposta nos diz que esses 120 anos representariam o tempo decorrente entre o chamado de Noé (Gn 6:13,14) e sua entrada na arca (Gn 7:6,13,16).

O “gargalo” que nos incomoda nesta resposta é que Noé tinha 500 anos quando gerou Sem, Cão e Jafé (Gn 5:32) e tinha 600 anos quando entrou na arca (Gn 6:6,11), sendo que nos surge a pergunta: onde se encaixam os 20 anos de diferença que faltam? A resposta está na correta compreensão do caráter missionário de Deus. Vejamos:

Tanto em João 1:1-18 (especialmente os versículos 10 e 11) quanto Romanos 11:11-36 (especialmente os versículos 30 e 31) e Hebreus 2:14 vemos que Deus tem adotado até agora 3 métodos para lidar com os humanos:

1º) Rm 11:30a: revelação direta (comunicação direta) com todos humanos (ler Jó 21:7, 13-15; 22:15-17; Gn 3:8,9; 12:1; 14:18-20; 16:7-14; 18:1-33; 20:1-18; 31:24; Ex 3:1-22; 20:1, 18-21; Nm 22:8-13...). Este método vigorou de Adão até o pleno estabelecimento do Estado de Israel. De Abraão até Moisés percebe-se o período de transição entre o 1º e o 2º método;[19]

2º) Rm 11:30b-31a: Deus lida diretamente só com Israel, usando-o como nação sacerdotal a favor dos povos (Gn 12:1-3). Através das maravilhas que Deus operava em Israel e a seu favor, Ele atraía os outros povos (gentios) aSi (Ex 7:1-5; 9:18-21; Js 2:1-24; 9:8-11, 21-27...). Este método vigorou desde a saída do Egito (Ex 4:22) até a descida do Espírito Santo para habitar permanentemente nos crentes em Jesus (At 2).

3º) Rm 11:31a-31b: Deus lida diretamente com ambos (judeus e gentios) através de pessoas regeneradas e habitadas pelo Espírito Santo, proclamando o evangelho (Rm 1:1-17). O método agora é nós, os crentes, irmos através do poder do Espírito Santo a toda criatura (At 1:8; Mc 16:15; Mt 28:18-20). A compreensão do papel de Jesus como missionário medianeiro entre o 2º e 3º métodos está explicitada em Rm 15:1-13.[20]

Tudo isso foi escrito como preâmbulo para se provar que os 120 anos dizem respeito ao período entre o chamado de Noé e o dilúvio. Atentando para 1º método, encontraremos a chave para a compreensão desta afirmativa. Observe a seguinte pergunta: será que Deus já havia se pronunciado antes do chamado de Noé a respeito da destruição do mundo pré-diluviano?

Se a resposta for positiva, estaremos provando que o chamado de Noé está ligado a essas revelações de Deus a seus servos pré-diluvianos, não sendo o nascimento de seus 3 filhos o ponto de referência cronológico para o seu chamado.

Para obtermos a resposta a essa pergunta, recorremos novamente aos autores acima citados, onde eles citam a análise bíblica feita por Arthur Walkington Pink de Gênesis 5 como referência. Vejamos:

“E certo que os homens crentes daquela época deveriam ter bom testemunho que revelasse sua fé no Salvador. A conduta desses homens deveria ser bem marcante. Arthur Pink, em seu livro ‘Gleanings in Genesis’ comenta a história de Enoque e Matusalém, Gn 5:21-27, sugerindo que, tirando-se todas as pontuações do versículo 22, pois era a escrita no original, verifica-se que Deus fora ao encontro de Enoque quando lhe nascera Matusalém e desse encontro se originou o nome de seu filho, cujo significado é: quando morrer virá ou Matusalém.[21] Judas, na sua epístola, fala de Enoque, como proclamador da segunda vinda do Messias à geração que viveu antes dilúvio. ‘Andou Enoque com Deus’ daquele momento em diante e foi arrebatado antes do dilúvio (v.24).[22] O mesmo também faz um cálculo matemático com respeito à validade da revelação de Deus: o v. 25 diz que Matusalém gerou Lameque quando tinha a idade de 187 anos. No v. 28, afirma que com 182 anos Lameque gerou Noé.  Logo quando nasceu Noé, Matusalém tinha 369 anos, que é a soma de 187 mais 182. O dilúvio começou quando Noé atingiu a idade de 600 anos (Gn 7:11), portanto, Matusalém deveria ter alcançado a idade de 969 anos e morrido, ou seja a soma de 369 mais 600 anos. Nesse ano de vida de Noé, Deus cumprira a revelação que dera a Enoque fazendo de Matusalém uma testemunha viva de que, antes do juízo vir, seria muito longânimo e misericordioso.[23] Através de Matusalém poderiam controlar a época do juízo. Quando morrer virá... o dilúvio. Por outro lado, quem foi em busca de Noé? Hb 11:4-7 diz literalmente que Noé foi movido a construir uma arca por temor à revelação recebida. Em Gn 6:9-22 é Deus (Elohim), o Deus de compromisso, contemplando a criação. ‘Assim fez Noé; conforme a tudo o que Deus (Elohim) lhe mandou, assim o fez’, por compromisso. Deus ama a raça e tem um compromisso com toda a criação, preservando-a [Hb 1:1-3; II Pe 3:7-11]. Aqui não é Deus convidando Noé para crer n’Ele e sim Deus se revelando a um que já era crente. Aparentemente Noé não se mostra surpreso com aquele modo de Deus se revelar a ele, sendo tal atividade normal entre eles [comparar com Is 6]. No cap. 7:1 é o Senhor (Jeová) que fala a Noé: aqui é Jeová julgando e é Jeová salvando também.[24]

Com o acima exposto e comparando com Jó 21:13-15 e 22:15-17 vemos que desde Enoque Deus decretara o fim da raça pré-diluviana. Isto explica também as palavras de Lameque que “este ( referindo-se a Noé) nos consolará acerca de nossas obras e do trabalho de nossas mãos, por causa da terra que o SENHOR amaldiçoou” (Gn 5:29).

Amaldiçoou com que? “com dor comerás dela todos os dias da tua vida. Espinhos e cardos também, produzir-te-á...”? Não. Porque se fosse à maldição de Gn 3:17-19 que Lameque estivesse se referindo então Deus falhou, pois até hoje elas existem. Logo concluímos que Lameque se refere à profecia revelada a Enoque, sendo o “consolo de nossas obras” o cumprimento de tudo que os “crentes” daquela época haviam pregado.

Concluímos que o chamado de Noé está intimamente relacionado com as revelações de Deus aos seus servos pré-diluvianos. Logo, Deus chamou Noé quando ele tinha 480 anos.

Como assim?! E Gn 6:18? No chamado de Noé, Deus lhe revelou que somente sua família, que ele ainda haveria de constituir futuramente (vinte anos depois falando de filhos, não do casamento especificamente)[25], é que entrariam na arca, sendo que esta revelação coincide cronologicamente com a queda dos anjos (que foi a “gota d’água” na depravação do mundo pré-diluviano), bem caracterizado pelo emprego do advérbio ENTÃO em Gn 6:3, e não havendo relação com o nascimento dos filhos de Noé.[26]

Para concluir, gostaria de fazer duas observações:

A primeira é que a Bíblia é inspirada inerrante por Deus, preservada inerrante por Deus, suficiente[27] e a sua autoridade se estende por todos os assuntos em que se pronuncia, quer seja Teologia propriamente dita quer seja Biologia, Física, Química, Matemática, História, Geografia...[28]

Aprendi enquanto escrevia este artigo que não devemos fazer como alguns, que quando são perguntados sobre assuntos “cinzentos” (como criacionismo X evolucionismo, aborto, eutanásia, bebidas alcoólicas,...) dizem “a Bíblia nada fala a respeito disso” ou “muito pouco se diz sobre este assunto” ou “a Bíblia não tem a intenção de ser um livro científico” ou..., como se Deus não fosse capaz de se expressar com clareza, concisão e objetividade nem se expressar sobre outro assunto que não fosse "teologia pura".

O que de fato devemos dizer é “humildemente falando, em decorrência de minhas imperfeições (natureza pecaminosa, finitude de compreensão,...), pouco sei o que Deus nos diz em Sua Palavra sobre este assunto. Preciso ler mais a Bíblia, orar por discernimento e dedicar mais tempo para pesquisar”.

Nós é que somos imperfeitos, pecaminosos, dispersivos, prolixos,... e não o nosso Deus nem a Sua Palavra (Dn 9:7,8; Pv 30:5,6).

A segunda observação é que quando Adão pecou, ele morreu espiritualmente MESMO, e todos nós herdamos isso dele (Rm 3:23; 5:12; I Co 15:21a,22a). De fato, o pecado nos arruinou por completo, e precisamos ter consciência disso e abandonar a idéia de que nós podemos buscar a Deus pelos nossos esforços ou por auto-conscientização de nossos pecados (Rm 3:9-18), pois as únicas coisas que fazemos de fato é deixar o manancial de águas vivas e cavar cisternas rotas (Jr 2:13), sendo isso plenamente perceptível já nos primeiros capítulos de Gênesis.

Em Gn 3 vemos mentiras, rebeldia, arrogância, dureza de coração. Em Gn 4 vemos assassinatos, prostituição, bigamia, violência. Em Gn 6 Deus já diz a respeito do homem que “toda imaginação de pensamentos de seu coração era SÓ MÁ CONTINUAMENTE”.

Este artigo tem por finalidade elucidar ainda mais este contexto terrível em que caiu a humanidade, pois escatologicamente falando, Jesus nos manda atentar para os dias de Noé, revelando-nos que “como foi nos dias de Noé, assim será também a vinda do Filho do homem”. (Mt 24:37-39; Lc 17:26,27)[29]

Reitero, não foi um tropeço, mas uma queda mortal o que aconteceu no Éden!!! (Rm 5:12; Rm 3). E para não enveredarmos pelo mesmo caminho dos homens de Gênesis 6, e desta vez sermos destruídos pelo fogo (II Pe 3), precisamos nos humilhar perante Deus, sentir nossas misérias, lamentar e chorar (Tg 4:1-10). Precisamos reconhecer que não buscamos o bem e não há nada de bom em nós (Is 64:6; Rm 3), que a salvação vem SOMENTE do Senhor Jesus (At 4:12), que é Ele quem nos escolhe (Jo 6:37-40,44,63-65; 15:16; Ef 1:16-20), que é somente pela graça que somos salvos (Ef 2:8,9), que até nosso arrependimento e nossa fé são concessões divinas (At 11:18; Rm 2:2:3,4; II Tm 2:24-26; Fl 1:29,30) e as boas obras praticadas pelos salvos são feitas porque Deus as “preparou para que andássemos nelas” (Ef 2:10).

Só assim procedendo é que veremos o quanto somos carentes da graça de Deus e oraremos como Isaías e Daniel oraram:

“Por que, ó SENHOR, nos fazes errar teus caminhos? Por que endureces o nosso coração, para que não te temamos? Volta, por amor dos teus servos, às tribos da tua herança”. Is 63:17

“Inclina, ó Deus meu, os teus ouvidos, e ouve; abre os teus olhos, e olha para a nossa desolação, e para a cidade que é chamada pelo teu nome, porque não lançamos as nossas súplicas perante a tua face fiados em nossas justiças, mas em tuas muitas misericórdias. Ó Senhor, ouve; ó Senhor perdoa; ó Senhor, atende-nos e age sem tardar; por amor de ti mesmo, ó Deus meu; porque a tua cidade e o teu povo são chamados pelo teu nome”. Dn 9:18,19

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