A Arca de Noé era, segundo a religião abraâmica,
um grande navio construído por Noé, a mando de Deus, Ou Seres de outro Mundo, para salvar a si
mesmo, sua família e um casal de cada espécie de animais do mundo, antes
que viesse o Grande Dilúvio da Bíblia. A história é contada em Gênesis 6-12[1][2], assim como no Alcorão e em outras fontes.
Conforme a tradição bíblica, Deus decidiu destruir o mundo por causa
da perversidade humana, mas poupou Noé, o único homem justo da Terra em
sua geração, mandando-lhe construir uma arca para salvar sua família e
representantes de todos os animais e aves. A certa altura, Deus
interrompeu o Dilúvio, fazendo as águas recuarem e as terras secarem. A
história termina com um pacto entre Deus e Noé, assim como com sua
descendência.
Essa história tem sido amplamente discutida nas religiões abrâmicas,
surgindo comentários que vão do prático (como Noé teria eliminado os
resíduos animais?) ao alegórico (a arca representa a Igreja como salvadora da Humanidade em decadência). A partir do século I, vários detalhes da arca e da inundação foram examinados por estudiosos cristãos e judeus.
Mas, no século XIX, o desenvolvimento da Geologia e da Biogeografia
tornaram difícil sustentar uma interpretação literal da história. A
partir de então, os críticos da Bíblia mudaram sua atenção para a origem
e os propósitos seculares da arca; no entanto, os intérpretes literais da Bíblia continuam a ver a história narrada como chave para sua compreensão da Bíblia e agora exploram a região das montanhas do Ararat, no nordeste da Turquia, onde a arca estaria descansando.
A história de Arca de Noé, de acordo com os capítulos 6 a 9 do livro
do Gênesis, começa com Deus observando o mau comportamento da Humanidade
e decidido a inundar a terra e destruir toda vida. Porém, Deus
encontrou um bom homem, Noé,
"um virtuoso homem, inocente entre o povo de seu tempo", e decidiu que
este iria preceder uma nova linhagem do homem. Deus disse a Noé para
fazer uma arca e levar com ele a esposa e seus filhos Shem, Ham e Japheth,
e suas esposas. E, de todas as espécies de seres vivos existentes
então, levar para a arca dois exemplares, macho e fêmea. A fim de
fornecer seu sustento, disse para trazer e armazenar alimentos.
Noé, sua família e os animais entraram na arca e "passados 7 dias
foram quebrados todos os fundamentos da grande profundidade e as janelas
do céu foram abertas, e a chuva caiu sobre a terra por quarenta dias e
quarenta noites". A inundação cobriu mesmo as mais altas montanhas por
mais de seis metros (20 pés), e todas as criaturas morreram; apenas Noé e
aqueles que com ele estavam sobre a arca ficaram vivos. A história do
Dilúvio é considerada por vários estudiosos modernos como um sistema de
dois contos ligeiramente diferentes, entrelaçados, daí a aparente
incerteza quanto à duração da inundação (quarenta ou cento e cinquenta
dias) e o número de animais colocados a bordo da arca (dois de cada
espécie, ou sete pares de alguns tipos) . Em relação a inundação a
Bíblia narra que choveu durante 40 dias e 40 noites, e que após isso
parou de chover. Mas as águas permaneceram sobre a terra durante 150
dias. E depois disso Deus se lembrou de Noé e dos que estavam com ele na
arca e fez passar um vento sobre a terra para baixar as águas. E em
relação aos animais a Bíblia narra que foram 2 de cada espécie dos
animais impuros, e 7 pares das espécies dos animais puros.
Eventualmente, a arca veio a descansar sobre o Monte Ararat. As águas começaram a diminuir e os topos das montanhas emergiram. Noé enviou um corvo, que "voou de um lado a outro até que as águas recuaram a partir da terra". Em seguida, Noé enviou uma pomba, mas ela retornou à arca sem ter encontrado nenhum lugar para pousar. Depois de mais sete dias, Noé novamente enviou a pomba e ela voltou com uma folha de oliva no seu bico e então ele soube que as águas tinham abrandado.
Noé esperou mais sete dias e enviou a pomba mais uma vez, e desta vez
ela não retornou. Em seguida, ele e sua família e todos os animais
saíram da arca e Noé fez um sacrifício a Deus, e Deus resolveu que nunca
mais lançaria maldição à terra por causa do homem, nem iria destruí-la
novamente dessa maneira.
A fim de se lembrar dessa promessa, Deus colocou o Arco da Aliança
nas nuvens, dizendo: "Sempre que houver nuvens sobre a terra e o arco
aparecer nas nuvens, eu me lembrarei da eterna aliança entre Deus e
todos os seres vivos de todas as espécies sobre a terra".
A história da Arca de Noé foi objecto de muita discussão na posterior literatura rabínica.
A falha de Noé em advertir outros sobre a inundação foi largamente
vista como fonte de dúvidas sobre a sua bondade. Era ele o único
virtuoso em uma geração má? De acordo com uma tradição, ele passou
adiante a advertência de Deus, plantando cedros por cento e vinte anos antes do Dilúvio, a fim de que os pecadores pudessem ver e ser instados a alterar seu comportamento.
A fim de proteger Noé e sua família, Deus colocou leões e outros
animais ferozes a guardá-los contra os ímpios que escarneciam deles e
causavam-lhes violência. De acordo com um midrash,
foi Deus, não os anjos, que reuniu os animais para a arca, juntamente
com os seus alimentos. Como havia necessidade de distinguir entre
animais limpos e imundos, os animais limpos se deram a conhecer através
do rebaixamento diante de Noé à medida que eles entravam na arca. Uma
opinião diferente sustenta que a própria arca distinguia os puros de
impuros, admitindo sete dos primeiros e dois dos segundos.
Noé se encarregou dia e noite da alimentação e dos cuidados para com
os animais, e não teve sono pelo ano inteiro a bordo da arca. Os animais
foram os melhores de suas espécies e assim comportavam-se com extrema
bondade. Eles se abstiveram de procriação a fim de que o número de
criaturas que desembarcassem fosse exactamente igual ao número que
embarcou. O corvo criou problemas, recusando-se a sair quando a Arca de
Noé enviou-o primeiro e acusou o Patriarca
de querer destruir sua raça, mas, como os comentadores salientaram,
Deus quis salvar o corvo para que os seus descendentes fossem destinados
a alimentar o profeta Elias.
Os refugos foram armazenados no mais baixo dos três pavimentos, seres
humanos e animais limpos sobre o segundo, e os pássaros e animais
impuros no topo. Uma opinião diferente situou os refugos no pavimento
mais alto, de modo que podiam ser jogados ao mar através de um alçapão.
Pedras preciosas, brilhantes como meio-dia, providenciaram luz e Deus
assegurou que os alimentos frescos fossem mantidos. O gigante Og, rei de Bashan,
esteve entre os salvos, mas, devido a seu tamanho, teve que permanecer
fora, passando-lhe Noé alimentos através de um buraco na parede da arca.
- Na tradição cristã
Cedo no Cristianismo, escritores elaboraram significados alegóricos para Noé e a arca. Na primeira epístola de Pedro, aqueles salvos pela arca das águas da inundação eram vistos como os precursores da salvação através do batismo dos cristãos, e o rito do batismo anglicano
ainda pede a Deus, "que de sua grande misericórdia salvou Noé", que
receba na Igreja as crianças levadas para batismo. Artistas
freqüentemente retrataram Noé de pé em uma pequena caixa sobre as ondas,
simbolizando a salvação de Deus através da Igreja e sua perseverança
através do tumulto, e Santo Agostinho de Hipona (354-430), na obra Cidade de Deus, demonstrou que as dimensões da arca correspondiam às dimensões do corpo humano, que é o corpo de Cristo, que é a Igreja. São Jerônimo (347-420)
chamou o corvo, que foi enviado adiante e não retornou, de "chula ave
de abominação" expulsa pelo batismo; enquanto a pomba e a folha de oliva
vieram para simbolizar o Espírito Santo e a esperança de salvação e, eventualmente, de paz.
Santo Hipólito de Roma (235-), procurando demonstrar que "a arca era um símbolo de Cristo, que era esperado", declarou que a embarcação teve sua porta na parte oriental, que os ossos de Adão
foram levados a bordo juntamente com ouro, mirra e resina, e que a arca
foi lançada ao vaivém nas quatro direções sobre as águas, fazendo o
sinal da cruz, antes de eventualmente parar no Monte Kardu, "a leste, na
terra dos filhos de Raban, e os orientais chamaram-na de Monte Godash;
os árabes e os persas chamaram-na de Ararat".
Em um plano mais prático, Hipólito explicou que a arca foi construída
em três pavimentos, o mais baixo para os animais selvagens, o do meio
para aves e animais domésticos e o nível mais alto para seres humanos, e
que os animais machos foram separados das fêmeas por grandes estacas,
para ajudar a manter a proibição contra a coabitação a bordo do navio.
Do mesmo modo, Orígenes (182-251), respondendo a um crítico que duvidava de que a arca pudesse conter todos os animais do mundo, e seguindo uma discussão sobre cúbitos, sustentou que Moisés, o tradicional autor do livro do Gênesis, tinha sido ensinado no Egito
e, por isso, utilizava (no texto bíblico) os cúbitos egípcios, que eram
maiores. Ele também fixou a forma da arca como uma pirâmide truncada,
retangular, em vez de quadrada em sua base, e afunilando-se em um
quadrado na lateral; não foi até o século XII que se veio a pensar na arca como uma caixa retangular com um teto inclinado.
- Na tradição islâmica
Noé (Nuh) é um dos cinco principais profetas do Islã,
geralmente mencionado em conexão com o destino daqueles que se recusam a
ouvir a Palavra. As referências estão espalhadas através do Alcorão, com a máxima consideração à surata 11:27-51, intitulada "Hud".
Em contraste com a tradição judaica, que usa um termo que pode ser
traduzido como uma caixa ou um peito para descrever a arca, a surata
29:14 refere-se a ela como um safina,
um navio ordinário, e a surata 54:13 cita-a como "uma coisa de tábuas e
pregos". A surata 11:44 diz que ela foi parar no Monte Judi,
identificado pela tradição como uma colina perto da cidade de Jazirat ibn Umar, na margem oriental do Tigre, na província de Mosul, no norte do Iraque.
Abd Allah ibn Abbas, contemporâneo de Maomé,
escreveu que Noé estava em dúvida quanto a que forma dar a arca, e que
Deus revelou-lhe que era para ser modelada como uma barriga de ave e
feita com madeira de teca. Noé então plantou uma árvore, que em vinte
anos havia crescido o suficiente para proporcionar-lhe toda a madeira de
que ele necessitava.
O historiador persa Abu Ja'far Muhammad ibn Jarir al-Tabari, autor de História dos Profetas e Reis (915-),
incluiu inúmeros detalhes sobre a Arca de Noé, não encontrados em
nenhuma outra parte, por exemplo, ele diz que a primeira criatura a
bordo foi a formiga e a última foi o burro, por meio dos quais Satanás veio a bordo. Ele também diz que quando os apóstolos de Jesus
manifestaram o desejo de aprender sobre a arca de uma testemunha
ocular, ele respondeu com uma ressurreição temporária de Ham, filho de
Noé, dos mortos, que lhes disse mais: para lidar com o excessivo
excremento, Noé criou milagrosamente um par de porcos, que saíram da
cauda do elefante, e, para lidar com um rato clandestino, Noé criou um
par de gatos a partir do nariz do leão.
Abu al-Hasan Ali ibn al-Husayn Masudi (956-)
disse que o local onde ela veio a descansar poderia ser encontrado no
seu tempo. Masudi também disse que a arca começou sua viagem em Kufa, no
Iraque central, e rumou para Meca, onde ela marcou a Kaaba,
antes de viajar finalmente para Judi. A surata 11:41 diz: "E ele disse,
'Ancore-a aqui; em nome de Deus ela se moverá e permanecerá!’". Abdallah ibn Umar al-Baidawi, escrevendo no século XIII,
disse que Noé falava "Em Nome de Deus!" quando ele desejava que a Arca
se movesse e o mesmo quando ele queria que ela permanecesse no lugar.
A inundação foi enviada por Deus em resposta à oração de Noé, que
aquela geração má deveria ser destruída; mas, como Noé era justo, ele
continuou a pregar e setenta idólatras foram convertidos e entraram na
arca com ele, elevando o total para setenta e oito pessoas a bordo
(estes acrescidos de oito membros da própria família de Noé). Os setenta
não tiveram descendentes e todos os nascidos depois da inundação da
Humanidade são descendentes dos três filhos de Noé. Um quarto filho (ou
um neto, de acordo com alguns), Canaã, estava entre os idólatras e foi um dos afogados.
Baidawi
deu o tamaho da arca em 300 cúbitos (157 m, 515 pés) de comprimento por
50 (26,2 m, 86 pés) de largura e 30 (15,7 m, 52 pés) de altura e
explicou que, no primeiro dos três níveis, animais selvagens e
domesticados foram acomodados, no segundo os seres humanos e no terceiro
as aves. Em cada tábua havia o nome de um profeta. Faltavam três
tábuas, simbolizando três profetas, elas foram trazidas do Egito por Og,
filho de Anak, o único dos gigantes que teve permissão de sobreviver à
inundação. O corpo de Adão foi colocado no meio para dividir os homens
das mulheres.
Noé passou cinco ou seis meses a bordo da arca, no termo dos quais
ele enviou um corvo. Mas o corvo parou para se regozijar em Carrion e,
por isso, Noé amaldiçoou-o e enviou a pomba, que desde então tem sido
conhecida como a amiga do homem. Masudi escreveu que Deus comandou a
terra para absorver a água e algumas porções que foram lentas em
obediência receberam água salgada como castigo, e por isso se tornaram
secas e áridas. A água que não foi absorvida formou os mares, de modo que as águas da inundação ainda existem.
Noé deixou a arca aos dez dias do mês de Muharram,
e ele e os seus familiares e companheiros construíram uma vila no sopé
do monte Judi, chamado Thamanin ("oitenta"), a partir de seu número. Noé
então bloqueou a arca e confiou as chaves a Shem. Yaqut al-Hamawi (1179-1229) mencionou uma mesquita construída por Noé, que poderia ser vista em seu tempo, e Ibn Batutta atravessou a montanha nas suas viagens, no século XIV. Modernos muçulmanos, embora geralmente não ativos na pesquisa da arca, acreditam que ela ainda existe no alto das encostas da montanha.
- Em outras tradições
Os mandaeans, do sul do Iraque, praticam uma religião única, possivelmente influenciada em parte pelos seguidores iniciais de João Batista. Eles respeitam Noé como um profeta, embora rejeitem Abraão (e Jesus) como falsos profetas. Na versão dada em suas escrituras, a arca foi construída a partir de sândalo do Monte Hor e era de forma cúbica, com comprimento, largura e altura de 30 gama (o comprimento de um braço); o seu local de descanso final seria o Egito.
A religião dos yazidi, das montanhas Sinjar, no norte do Iraque, mistura crenças islâmicas e indígenas. De acordo com as sua Mishefa Reş,
o Dilúvio não ocorreu uma vez, mas duas vezes. No Dilúvio original,
sobreviveu um certo Na'umi, pai de Ham, cuja arca descansou em um lugar
chamado Sifni Ain, na região de Mossul. Algum tempo depois veio a
segunda inundação, sobre os yezidis apenas, na qual sobreviveu Noé, cujo
navio foi trespassado por uma rocha, uma vez que flutuava sobre o Monte
Sinjar, e depois passou à terra do Monte Judi como descrito na tradição
islâmica.
Segundo a mitologia irlandesa,
Noé teve um filho chamado Bith, que não foi autorizado a entrar na
arca, e que em vez disso tentou colonizar a Irlanda com cinqüenta e
quatro pessoas, as quais foram, então, todas aniquiladas no Dilúvio.
A Fé Bahá'í, uma mistura do Islamismo, Hinduísmo e outras religiões, criada no século XIX,
respeita a arca e as inundações como figuras simbólicas. Na crença
Bahá'í, apenas seguidores de Noé estavam espiritualmente vivos, e foram
preservados na arca por causa de seus ensinamentos, enquanto os outros
estavam mortos espiritualmente. A escritura Bahá'í Kitáb-i-Íqán
subscreve a crença islâmica de que Noé tinha um grande número de
companheiros, quarenta ou setenta e dois, além de sua família, na arca, e
que ele ensinou por novecentos e cinqüenta anos (simbólicos) antes da
inundação.
A Renascença
viu uma especulação que poderia ter parecido familiar a Orígenes e
Agostinho. Contudo, ao mesmo tempo, uma nova classe de escola surgiu,
uma que, embora nunca questionasse a verdade literal da história da
arca, começou a especular sobre o comportamento prático do Noé dentro de
um navio, de um âmbito puramente naturalista. Assim, no século XV, Alfonso Tostada deu uma descrição pormenorizada da logística da arca e estabeleceu critérios para a eliminação de excrementos e a circulação de ar fresco; e o notável geômetra do século XVI, Johannes Buteo,
calculou as dimensões interiores do navio, que permitissem salas para
moedores de moinhos e fornos de fumo, um modelo amplamente adotado por
outros comentadores.
No século XVII,
era necessário conciliar a exploração do Novo Mundo e a maior
consciência da distribuição global de espécies com a velha crença de que
toda a vida teve origem a partir de um único ponto nas encostas do
Monte Ararat. A resposta óbvia é que o homem se havia espalhado ao longo
dos continentes após a destruição da Torre de Babel e levado animais com ele, ainda que alguns dos resultados parecessem peculiares: por que razão tinham os nativos da América do Norte levado cascavéis, mas não cavalos, perguntou Sir Thomas Browne, em 1646.
"Como a América abundava de bestas e animais nocivos, mas não continha
criaturas necessárias como um cavalo, é muito estranho".
Browne, que foi um dos primeiros a pôr em causa o conceito de geração
espontânea, era um médico e cientista amador que fez essa observação de
passagem. Estudiosos da Bíblia da época, como Justus Lipsius (1547-1606) e Atanásio Kircher (1601-80),
também refizeram a história da arca sob uma análise rigorosa, na
tentativa de harmonizar a história bíblica com o conhecimento histórico e
natural. As hipóteses resultantes foram um importante impulso para o
estudo da distribuição geográfica de plantas e animais, e indiretamente
estimularam o surgimento da Biogeografia no século XVIII.
Historiadores naturais começaram a desenhar conexões entre os climas e
os animais e plantas adaptados a eles. Uma influente teoria considerou
que o bíblico Ararat tinha diferentes zonas climáticas e, como o clima
mudou, os animais migraram e eventualmente, espalharam-se e repovoaram o
planeta. Havia também o problema de um cada vez maior número de
espécies conhecidas: para Kircher e anteriores historiadores naturais,
havia pouco espaço para todas as espécies animais conhecidas na arca, e,
no tempo em que John Ray (1627-1705)
estava trabalhando, apenas várias décadas depois de Kircher, seu número
tinha se expandido para além das proporções bíblicas. Incorporando todo
o leque de diversidade animal na arca, a história foi se tornando cada
vez mais difícil, e em 1700 poucos historiadores naturais poderiam justificar uma interpretação literal da narrativa da Arca de Noé.
- A hipótese documentária
A narrativa bíblica da inundação, na qual aparece a Arca de Noé,
parece ter sido sujeita a análise literária considerável. A narrativa é
muitas vezes apresentada como um test-case para a hipótese documentária,
que propõe que a narrativa da inundação era composta pela combinação de
duas histórias independentes sobre o mesmo assunto. Essa hipótese ainda
tem muitos seguidores nos círculos académicos, mas já não pode ser
chamada uma posição consensual. Teorias alternativas sobre as origens do
Pentateuco
sustentam que a narrativa era o produto de uma lenta acumulação de
blocos de material ao longo do tempo, ou o resultado de extensas edições
e adições a um texto original. Existe um consenso geral de que a
história da arca está incorporada dentro de um contexto sugestivo de
influências editorais paralelas que continuam a ser chamadas de
jeovaístas e sacerdotais. O desacordo continua sobre que passagens da
narrativa pertencem a que fonte.
- Escola bíblica e a arca no século vinte
A hipótese documentária ainda tem muitos seguidores nos círculos
académicos, mas já não pode ser chamada de uma posição consensual.
Teorias alternativas sobre origens do Pentateuco sustentam que a Tora
e a narrativa da arca foram o produto de uma lenta acumulação de blocos
de material ao longo do tempo, ou o resultado de extensas edições e
adições a um texto original, mas há um acordo geral de que existem duas
vertentes distintas na narrativa da arca história, que,
independentemente de serem entendidas como documentos distintos, ou como
uma seqüência de camadas editoriais ou acréscimos autorais, continuam a
ser chamadas de jeovaístas e sacerdotais.
Uma boa parte da atenção acadêmica foi dada ao significado teológico da história da arca para os antigos autores. O respeitado estudioso evangélico Gordon Wenham fez notar a presença de uma elaborada palístrofe
dentro da história: a narrativa tem duas metades, cada uma espelhando a
outra, com a frase "E Deus lembrou-se de Noé" em seu centro: isso, de
acordo com Wenham, identifica o seu núcleo teológico. Martin Norte
identificou a arca história como o elemento central de uma unidade
narrativa que ele chamou de história primal: esta retoma Genesis 1-11 e
conta a história da criação da mundo, o surgimento do pecado, a decisão
de Deus de destruir a sua primeira criação e começar de novo com Noé. O
resto da história primal narra o novo crescimento do pecado depois de
Noé, que culminou com a Torre de Babel.
As percepções de Wenham e Noht são largamente aceitas entre os
estudiosos contemporâneos como a presença de uma forte vertente dos
mitos mesopotâmicos
em Gênesis 1.11 (a história da criação, a Torre de Babel e muitos
elementos individuais dentro dessas histórias). Os sacredotes exilados
do Templo de Jerusalém, confrontados com histórias sobre deuses babilônicos que criam e controlam o mundo (incluindo Atrahasis, as inundações e o mito da arca babilônica), reescreveram os mitos dos seus conquistadores para dar primazia a Javé
e efetivamente negar o poder de babilônicos e das suas divindades. Tal
como a arca deles, os navios de Atrahasis e Noé são modelados nos
templos de suas respectivas culturas: as quatro faces de Atrahasis, as
sete camadas do zigurate mesopotâmico, os sete céus da crença babilônica, os três pavimentos retangulares do Templo de Salomão e os três céus da crença hebraica.
Nenhum comentário:
Postar um comentário