Em maio deste ano, o pesquisador brasileiro Rodney Gomes
apresentou à Sociedade Americana de Astronomia um estudo que reacendeu a
discussão em torno da existência do Planeta X, o famoso corpo celeste
hipotético que, segundo um mito sumério, é do tamanho de Júpiter e
poderia passar tão perto da Terra que causaria destruição. Contudo, o
astrônomo do Observatório Nacional, do Rio de Janeiro, encontrou
problemas na pesquisa e está refazendo os cálculos que o levaram a
cogitar que um planeta quatro vezes maior que a Terra estivesse
orbitando a 225 bilhões de km do Sol.
Para o trabalho inicial, o pesquisador analisou as órbitas de 92 objetos do Cinturão de Kuiper e comparou os resultados com modelos computacionais de como os corpos deveriam ser distribuídos, com e sem um planeta adicional. Ele concluiu que, se não existisse um planeta distante, as órbitas de seis dos objetos estudados não seria tão alongada. A causa dessas perturbações poderia ser a presença de um companheiro solar de massa-planetária - o que muitos viram como a possibilidade de ser o Planeta X.
Gomes, contudo, afirma não ter considerado nos cálculos originais a perturbação de estrelas passantes, que também poderiam causar alterações. "Considerar as estrelas passantes pode mudar o resultado dos cálculos, mas também pode ser que não mude o fluxo dos objetos", explica o astrônomo, que ainda está em fase de pesquisa para alterar o estudo.
O pesquisador conta que, ao apresentar o trabalho, esperava um feedback maior da comunidade científica, e que a questão das estrelas passantes não foi apontada por ninguém na ocasião. "A existência dessa companheira, contudo, não é nada absurda. Toda estrela pode ter uma companheira, há de 5% a 10% de chance", ressalta.
Gomes afirma ainda estar procurando uma alternativa para refazer os cálculos que vá demorar menos tempo do que a maneira clássica de integração numérica, que deveria levar pelo menos seis meses.
Curiosamente, Gomes já se dedicou ao estudo de um "planeta X", mas que, segundo ele, não seria o mesmo que gera as discussões atualmente. Ele aponta que, na época em que fez a pesquisa para seu doutorado, em 1987, existiam discrepâncias que enfraqueciam a possibilidade de existência do planeta.
Inventores da primeira linguagem escrita que se tem notícia - a cuneiforme -, eles deixaram diversos registros históricos em tábuas de argila, que permaneceram indecifráveis em museus europeus por séculos.
Mais tarde, descobriu-se que um dos campos de estudo da antiga civilização havia sido a astronomia. E, aparentemente, eles tinham noções muito interessantes do universo. Datando de cerca de 3500 a.C., os escritos e representações sumérias já organizavam o Sistema Solar de forma muito similar à que conhecemos hoje, composto por 12 planetas (consideravam a Lua entre eles) que orbitavam em torno do Sol (também visto como um planeta).
Porém, além dos dois corpos celestes já citados, de Plutão, que recentemente foi rebaixado a planeta anão, e de outros oito conhecidos nossos (Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter, Saturno, Urano e Netuno), faltaria mais um planeta na lista dos sumérios. Mas que planeta é esse?
De acordo com a interpretação que fez de textos históricos, Sitchin aponta que os sumérios acreditavam que a civilização (valores sociais, culturais, etc) lhes fora ensinada por esses seres, que teriam chegado à Terra há cerca de 450 mil anos, estabelecendo-se no vale dos rios Tigre e Eufrates. Ali teriam fundado uma colônia para exploração de minérios, especialmente ouro. Além disso, teriam criado o Homo sapiens por meio de engenharia genética a fim de terem escravos que os auxiliassem na expedição.
O cinturão de asteroides, os cometas, as crateras na superfície da Lua e até mesmo a própria Terra seriam resultado da colisão de Nibiru e Tiamat, outro planeta mítico citado por Sitchin, que ficaria entre Marte e Júpiter.
Além de causar desequilíbrios cósmicos, a passagem de Nibiru pelo Sistema Solar ainda se faria sentir por meio de catástrofes naturais, a exemplo do dilúvio de Noé e do desaparecimento de Atlântida, e pela inversão dos polos magnéticos do planeta, causando imensa destruição.
Em 1982, quando a Nasa reconheceu ser possível a existência de um planeta além da órbita de Netuno, e no ano seguinte, quando lançou o Infrared Astronomical Satellite (IRAS), os discípulos de Sitchin logo suspeitaram da ligação entre os dois eventos, acreditando que a agência espacial estivesse secretamente investigando Nibiru.
No mesmo ano, a hipótese tornou-se mais sólida com a publicação de uma entrevista com o cientista-chefe do IRAS, Gerry Neugebauer, no jornal The Washington Post. A matéria afirma que um corpo celeste do tamanho de Júpiter e próximo o suficiente da Terra para ser parte do Sistema Solar fora encontrado na direção da constelação de Órion por um telescópio a bordo do satélite. Nos vídeos disponíveis na internet sobre o assunto, esse achado é tido como uma das provas mais concretas de que Nibiru é reconhecido por órgãos científicos como mais do que uma lenda.
Mas de acordo com o professor Renato Las Casas, coordenador do Grupo de Astronomia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), "cada instrumento é desenvolvido com uma determinada finalidade". "Dentro do espectro de luz, a faixa da luz visível seria a mais adequada para detectar um planeta com a descrição de Nibiru, não do infravermelho ou das micro-ondas (correspondentes às faixas de operação do IRAS e ao South Pole Telescope, respectivamente)".
Las Casas lembra ainda que há décadas admite-se a possível existência de dezenas, até centenas de planetas para além do nosso Sistema Solar. "Há, inclusive, teorias que apontam para regiões cheias desses corpos, como o Cinturão de Kuiper, mas estima-se que eles não sejam muito maiores do que Plutão", explica.
Além disso, seria muito pouco provável que Nibiru tivesse força significativa sobre a dinâmica dos polos magnéticos da Terra. "A inclinação magnética da Terra varia de ponto a ponto: o polo sul magnético e o polo sul geográfico, por exemplo, não coincidem. Porém, esses fenômenos estão ligados a processos internos ao planeta, e não a corpos externos", explica o professor Renato Las Casas.
Quanto à origem do Cinturão de Asteroides, Las Casas esclarece que não existem teorias conclusivas, mas que, somando-se a massa de todos os asteroides da região, provavelmente não se chegaria à de um planeta, derrubando a hipótese de eles seriam "estilhaços" de uma colisão, como afirma Sitchin. Para o astrônomo Gerry Neugebauer, trata-se mais de uma jovem galáxia do que de um novo planeta. E o mais importante: não haveria corpo celeste em rota de colisão com a Terra.
Com tantas evidências científicas, a Nasa resolveu publicar uma série de artigos para desmentir os rumores sobre a existência de Nibiru (em inglês). O mito do Planeta X seria apenas um recorte de dados convenientes à teoria de Sitchin, não necessariamente bem apurados em seu lado histórico e científico.
No estudo inicial, ele analisou as órbitas de 92 objetos do cinturão de Kuiper e comparou os resultados com modelos computacionais de como os corpos deveriam ser distribuídos, com e sem um planeta adicional. Ele concluiu que, se não existisse um planeta distante, as órbitas de seis dos objetos estudados não seria tão alongada. A causa dessas perturbações poderia ser a presença de um companheiro solar de massa-planetária - o que muitos viram como a possibilidade de ser o Planeta X. Agora, o pesquisador está refazendo os cálculos, considerando a perturbação causada por estrelas passantes.
A tese inicial de Gomes foi apresentada a pesquisadores da Sociedade Americana de Astronomia. Mesmo em cima do muro, outros astrônomos aplaudiram os métodos utilizados pelo brasileiro. Rory Barnes, da Universidade de Washington, disse à National Geographic que o colega "traçou um caminho para determinar como um planeta seria capaz de 'esculpir' partes do nosso Sistema Solar". "Por enquanto, a evidência ainda não existe. Acho que o principal ponto que ele demonstrou é que há maneiras de encontrar essas evidências. Mas não acho que haja provas de que o planeta realmente esteja lá", afirmou Barnes. "Conheço Rodney e tenho certeza de que ele fez os cálculos corretos", declarou Hal Levison, do Instituto de Pesquisa do Sudoeste em Boulder, Colorado.
Para o trabalho inicial, o pesquisador analisou as órbitas de 92 objetos do Cinturão de Kuiper e comparou os resultados com modelos computacionais de como os corpos deveriam ser distribuídos, com e sem um planeta adicional. Ele concluiu que, se não existisse um planeta distante, as órbitas de seis dos objetos estudados não seria tão alongada. A causa dessas perturbações poderia ser a presença de um companheiro solar de massa-planetária - o que muitos viram como a possibilidade de ser o Planeta X.
Gomes, contudo, afirma não ter considerado nos cálculos originais a perturbação de estrelas passantes, que também poderiam causar alterações. "Considerar as estrelas passantes pode mudar o resultado dos cálculos, mas também pode ser que não mude o fluxo dos objetos", explica o astrônomo, que ainda está em fase de pesquisa para alterar o estudo.
O pesquisador conta que, ao apresentar o trabalho, esperava um feedback maior da comunidade científica, e que a questão das estrelas passantes não foi apontada por ninguém na ocasião. "A existência dessa companheira, contudo, não é nada absurda. Toda estrela pode ter uma companheira, há de 5% a 10% de chance", ressalta.
Gomes afirma ainda estar procurando uma alternativa para refazer os cálculos que vá demorar menos tempo do que a maneira clássica de integração numérica, que deveria levar pelo menos seis meses.
Curiosamente, Gomes já se dedicou ao estudo de um "planeta X", mas que, segundo ele, não seria o mesmo que gera as discussões atualmente. Ele aponta que, na época em que fez a pesquisa para seu doutorado, em 1987, existiam discrepâncias que enfraqueciam a possibilidade de existência do planeta.
Um estranho no ninho
A origem do mito de Nibiru remonta ao período em que surgiram os sumérios, um dos mais antigos povos da Mesopotâmia, há cerca de 5 mil anos. A cultura suméria tornou-se uma das mais avançadas da Antiguidade.Inventores da primeira linguagem escrita que se tem notícia - a cuneiforme -, eles deixaram diversos registros históricos em tábuas de argila, que permaneceram indecifráveis em museus europeus por séculos.
Mais tarde, descobriu-se que um dos campos de estudo da antiga civilização havia sido a astronomia. E, aparentemente, eles tinham noções muito interessantes do universo. Datando de cerca de 3500 a.C., os escritos e representações sumérias já organizavam o Sistema Solar de forma muito similar à que conhecemos hoje, composto por 12 planetas (consideravam a Lua entre eles) que orbitavam em torno do Sol (também visto como um planeta).
Porém, além dos dois corpos celestes já citados, de Plutão, que recentemente foi rebaixado a planeta anão, e de outros oito conhecidos nossos (Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter, Saturno, Urano e Netuno), faltaria mais um planeta na lista dos sumérios. Mas que planeta é esse?
Civilização de ETs gigantes
Interessado na teoria suméria, o historiador Zecharia Sitchin (1920-2010) orientou suas pesquisas para tentar descobrir que planeta seria esse que completava o mapa do Sistema Solar do povo antigo. Com seus estudos, concluiu que se tratava de Nibiru, mencionado na mitologia suméria como lar de gigantes celestiais chamados Annunaki (ou Nefilim, seu correspondente bíblico).De acordo com a interpretação que fez de textos históricos, Sitchin aponta que os sumérios acreditavam que a civilização (valores sociais, culturais, etc) lhes fora ensinada por esses seres, que teriam chegado à Terra há cerca de 450 mil anos, estabelecendo-se no vale dos rios Tigre e Eufrates. Ali teriam fundado uma colônia para exploração de minérios, especialmente ouro. Além disso, teriam criado o Homo sapiens por meio de engenharia genética a fim de terem escravos que os auxiliassem na expedição.
Um passeio de 3,6 mil anos
De acordo com as pesquisas de Sitchin, Nibiru e suas luas descreveriam uma órbita lenta e elíptica em torno de uma estrela não muito distante e passariam pelo interior do Sistema Solar a cada 3,6 mil anos, sendo uma espécie de intermediário entre essas duas regiões do universo.O cinturão de asteroides, os cometas, as crateras na superfície da Lua e até mesmo a própria Terra seriam resultado da colisão de Nibiru e Tiamat, outro planeta mítico citado por Sitchin, que ficaria entre Marte e Júpiter.
Além de causar desequilíbrios cósmicos, a passagem de Nibiru pelo Sistema Solar ainda se faria sentir por meio de catástrofes naturais, a exemplo do dilúvio de Noé e do desaparecimento de Atlântida, e pela inversão dos polos magnéticos do planeta, causando imensa destruição.
A Nasa entra no jogo
Em 1906, os astrônomos William Pickering e Percival Lowell observaram ligeiras discrepâncias na órbita de Urano e Netuno e atribuíram essas perturbações ao campo gravitacional de um suposto planeta, que ficou conhecido como Planeta X. Mais tarde, após Sitchin já ter apresentado suas ideias, seus seguidores passaram a relacionar a interpretação do mito sumério com as descobertas da ciência.Em 1982, quando a Nasa reconheceu ser possível a existência de um planeta além da órbita de Netuno, e no ano seguinte, quando lançou o Infrared Astronomical Satellite (IRAS), os discípulos de Sitchin logo suspeitaram da ligação entre os dois eventos, acreditando que a agência espacial estivesse secretamente investigando Nibiru.
No mesmo ano, a hipótese tornou-se mais sólida com a publicação de uma entrevista com o cientista-chefe do IRAS, Gerry Neugebauer, no jornal The Washington Post. A matéria afirma que um corpo celeste do tamanho de Júpiter e próximo o suficiente da Terra para ser parte do Sistema Solar fora encontrado na direção da constelação de Órion por um telescópio a bordo do satélite. Nos vídeos disponíveis na internet sobre o assunto, esse achado é tido como uma das provas mais concretas de que Nibiru é reconhecido por órgãos científicos como mais do que uma lenda.
Planeta X não seria o único
A criação do South Pole Telescope, já em 2009, levantou mais suspeitas dos defensores das teorias acerca do misterioso planeta. Segundo os cálculos que indicam a trajetória orbital, Nibiru só poderia ser observado na época a partir de um local bem ao sul da Terra.Mas de acordo com o professor Renato Las Casas, coordenador do Grupo de Astronomia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), "cada instrumento é desenvolvido com uma determinada finalidade". "Dentro do espectro de luz, a faixa da luz visível seria a mais adequada para detectar um planeta com a descrição de Nibiru, não do infravermelho ou das micro-ondas (correspondentes às faixas de operação do IRAS e ao South Pole Telescope, respectivamente)".
Las Casas lembra ainda que há décadas admite-se a possível existência de dezenas, até centenas de planetas para além do nosso Sistema Solar. "Há, inclusive, teorias que apontam para regiões cheias desses corpos, como o Cinturão de Kuiper, mas estima-se que eles não sejam muito maiores do que Plutão", explica.
A Nasa "sai" do jogo
O lançamento da sonda Voyager, em 1977, posteriormente permitiu um cálculo mais preciso da massa de Netuno, e descobriu-se que as perturbações em sua órbita eram, na verdade, ilusórias. Nenhuma força gravitacional imprevista, ainda mais exercida por um planeta das dimensões que esse teria, foi detectada.Além disso, seria muito pouco provável que Nibiru tivesse força significativa sobre a dinâmica dos polos magnéticos da Terra. "A inclinação magnética da Terra varia de ponto a ponto: o polo sul magnético e o polo sul geográfico, por exemplo, não coincidem. Porém, esses fenômenos estão ligados a processos internos ao planeta, e não a corpos externos", explica o professor Renato Las Casas.
Quanto à origem do Cinturão de Asteroides, Las Casas esclarece que não existem teorias conclusivas, mas que, somando-se a massa de todos os asteroides da região, provavelmente não se chegaria à de um planeta, derrubando a hipótese de eles seriam "estilhaços" de uma colisão, como afirma Sitchin. Para o astrônomo Gerry Neugebauer, trata-se mais de uma jovem galáxia do que de um novo planeta. E o mais importante: não haveria corpo celeste em rota de colisão com a Terra.
Com tantas evidências científicas, a Nasa resolveu publicar uma série de artigos para desmentir os rumores sobre a existência de Nibiru (em inglês). O mito do Planeta X seria apenas um recorte de dados convenientes à teoria de Sitchin, não necessariamente bem apurados em seu lado histórico e científico.
Novos rumos às buscas
Em maio, um brasileiro trouxe o assunto de volta à luz. Em matéria publicada no jornal britânico Daily Mail, o astrônomo Rodney Gomes afirmou ter encontrado evidências do que poderia ser o Planeta X. Em julho, no entanto, o pesquisador disse que teria que refazer alguns cálculos, mas não descartou a possibilidade da existência do corpo celeste.No estudo inicial, ele analisou as órbitas de 92 objetos do cinturão de Kuiper e comparou os resultados com modelos computacionais de como os corpos deveriam ser distribuídos, com e sem um planeta adicional. Ele concluiu que, se não existisse um planeta distante, as órbitas de seis dos objetos estudados não seria tão alongada. A causa dessas perturbações poderia ser a presença de um companheiro solar de massa-planetária - o que muitos viram como a possibilidade de ser o Planeta X. Agora, o pesquisador está refazendo os cálculos, considerando a perturbação causada por estrelas passantes.
A tese inicial de Gomes foi apresentada a pesquisadores da Sociedade Americana de Astronomia. Mesmo em cima do muro, outros astrônomos aplaudiram os métodos utilizados pelo brasileiro. Rory Barnes, da Universidade de Washington, disse à National Geographic que o colega "traçou um caminho para determinar como um planeta seria capaz de 'esculpir' partes do nosso Sistema Solar". "Por enquanto, a evidência ainda não existe. Acho que o principal ponto que ele demonstrou é que há maneiras de encontrar essas evidências. Mas não acho que haja provas de que o planeta realmente esteja lá", afirmou Barnes. "Conheço Rodney e tenho certeza de que ele fez os cálculos corretos", declarou Hal Levison, do Instituto de Pesquisa do Sudoeste em Boulder, Colorado.