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Demonologia é o estudo sistemático dos demônios. Quando envolve os estudo de textos bíblicos, é considerada um ramo da Teologia. Por geralmente se referir aos demônios descritos no Cristianismo, pode ser considerada um estudo de parte da hierarquia bíblica. Também não está diretamente relacionada ao culto aos demônios.


terça-feira, 17 de junho de 2014

Único padre exorcista do RJ explica técnicas do ritual: "não é mágica"

"O exorcismo não é mágica. Ele é um processo de conversão, de mudança de vida. É um tratamento que pode durar um mês ou muitos anos", explica padre Geovane Ferreira, 35, o único religioso do Estado do Rio de Janeiro autorizado pelo arcebispo Dom Orani João Tempesta a praticar o exorcismo.
Há onze anos, o padre comanda a Paróquia Sagrada Família, na favela Nova Holanda, no Complexo da Maré, zona norte da capital fluminense. Segundo ele, existem duas formas de se fazer o exorcismo: uma em menor escala, na qual é possível alcançar a cura com orações de libertação, e outra maior, em que é necessário um ritual.
A primeira ocorre para casos de opressão, quando "aquela voz [interior] fica te levando a pensar e agir mal", e de obsessão, no qual as pessoas são obsessas "por dinheiro ou por prazer". Já o exorcismo maior é feito por conta de possessão do demônio.
"O demônio toma todo o corpo da pessoa. Ela muda de voz, fala línguas que nunca estudou e começa a saber coisas ocultas. Uma das técnicas que a gente faz, quando quer saber se a pessoa está possuída, é esconder alguma coisa dentro do bolso e perguntar ao demônio o que é", explicou o padre. "Se ela realmente tiver o demônio, ela vai dizer. Se for só a pessoa, ela nunca vai saber."

Antes de o exorcista atender o paciente, o religioso explica que há uma análise do caso, por parte de membros da igreja e de uma equipe formada por psiquiatras, psicólogos e neurocirurgiões. Após a comprovação da possessão do demônio, o padre está autorizado a fazer o ritual.

"A sessão é feita em lugares reservados, por um exorcista, com a ajuda de pelo menos um psicólogo e um neurocirurgião ou profissional médico para analisar o que está acontecendo. O corpo pode passar mal, ter algum distúrbio de pressão alta, de desmaio. Às vezes é necessário que alguém segure a pessoa para que ela não se machuque", disse. "Há casos em que a pessoa começa a bater a cabeça na parede, no chão."
Durante o ritual, que não tem tempo estimado de duração, o padre se veste com uma estola e usa crucifixo, água benta, óleo e sal exorcizados. É necessário que o paciente aceite participar. "A família pode até trazer, mas para ter a libertação, é necessário que a pessoa queira", diz o padre.

"Toda possessão [pelo demônio] tem que ter o querer da pessoa. Em algum momento, ela tem que dizer: "Eu quero". Deus nos fez livres", explica o religioso. "O demônio só pode nos tomar essa liberdade se a gente deixa. Pode ser por um pecado, por um desejo pessoal, por um pacto com o demônio. Muitas pessoas pedem que o demônio dê dinheiro."
Nos anos 60, houve uma atualização do manual com o que havia de novo na ciência, segundo padre Geovane, que trabalha com exorcismo desde 2005. Há dois anos, ele estudou o tema em um curso de duas semanas que fez em uma universidade católica, em Roma.
"Comecei acompanhando padre Nelson [Rabelo, 92, antigo exorcista do Rio de Janeiro], em 2005. Rezava, ficava ao lado só para estar junto. Quando ele ficou doente, há quatro anos, eu comecei a atender oficiosamente", explicou o padre Geovane. "O bispo viu que era um dom de Deus e me chamou para ser exorcista. Fui para Roma fazer o curso e voltei pertencendo ao Conselho Internacional dos Exorcistas e exercendo o exorcismo oficialmente."
Na Itália, o religoso participou de um ritual de exorcismo como ajudante. No Rio de Janeiro, o religioso conta que não tratou de nenhum paciente. Ainda. Ele espera, para as próximas semanas, o laudo final da equipe de psicólogos, psiquiatras e neurocirurgiões que vai dizer se um homem que frequenta a paróquia tem esquizofrenia ou possessão pelo demônio. Os profissionais que trabalham com o padre não são fixos. Eles são conhecidos que o ajudam quando chega um caso. "Um deles não é nem católico", afirma.
Em São Paulo, padre Geovane foi chamado há alguns anos para tratar de um homem. "Atendi, durante um mês, um caso em São José do Rio Preto [SP]. O rapaz era satanista e comia vísceras de bebês mortos. Não sei onde e nem como ele comprava, mas ele fez um pacto com o diabo, comeu vísceras, fez oferenda de vários animais e disse que queria pertencer ao demônio", lembra o padre. "Ele tinha uma força muito grande, 20 homens não conseguiam contê-lo. Ele conseguia falar alemão, francês e italiano, sem nunca ter aprendido. Não falava português direito. Ele sabia de coisas escondidas, de pecados de várias pessoas que estavam presentes e que ninguém sabia. Hoje ele dá testemunho e está totalmente liberto."

Conselho Nacional dos Exorcistas

Nas últimas semanas, além dos trabalhos na comunidade da Maré, ele também está envolvido com a preparação da Jornada Mundial da Juventude. Cerca de 68 pessoas que trabalham como voluntárias durante o evento, provenientes de vários Estados do Brasil, estão hospedadas na paróquia.
Assim que a Jornada acabar, Padre Geovane conta que continuará a fazer um trabalho que parou por conta do evento. Junto a mais quatro padres do Brasil, ele está procurando outros exorcistas em cada diocese do país. Segundo ele, há mais de 300 dioceses no Brasil, e a dificuldade de se contactar com elas é imensa, pois muitas não têm sequer telefone. O objetivo do grupo é achar todos os padres que praticam o exorcismo no país, reuni-los e formar um Conselho Nacional dos Exorcistas.
"Na Itália, existe um programa de televisão, no qual o exorcista fala sobre o assunto e explica como funciona. No Brasil, falar de exorcismo é um tabu. Tudo aquilo que você não conhece direito se torna nebuloso", explicou. "Durante muito tempo, se pensou na não existência do demônio, não na existência do mal. A sociedade da América Latina quis responder a muitos problemas apenas com a psiquiatria e a psicologia. O demônio ficou muito mal pensado."

Rio: briga entre bem e mal

Durante os últimos 11 anos trabalhando dentro do Complexo da Maré e às margens da Linha Vermelha, uma das vias expressas mais importantes para quem chega à capital fluminense, o padre conta que nunca teve problemas com o tráfico de drogas do local. "Eles nos respeitam muito, nunca fizeram nada contra a gente." Formado por 15 comunidades com 130 mil moradores, o Complexo da Maré é dominado por duas facções de traficantes de drogas e uma milícia. Cortado pelas três principais vias expressas do Rio (avenida Brasil e Linhas Vermelha e Amarela), o conjunto de favelas é rota obrigatória para quem chega ao Rio pelo Aeroporto Internacional Tom Jobim, na Ilha do Governador, e precisa se deslocar para o centro, a zona sul ou à Barra da Tijuca, na zona oeste.

No dia 25 de junho, após a operação do Bope, membros de ONGs que atuam na Maré revelaram que há menos de um mês a PM realizou uma reunião com representantes de todas as associações de moradores do complexo. O encontro foi em uma universidade particular, no Centro do Rio. Na ocasião, foi dito que a Maré começará a ser ocupada pelas forças de segurança em agosto, logo depois da Jornada Mundial da Juventude.

"Eu exorcizaria tudo o que está de errado na cidade do Rio de Janeiro. Essa briga entre o bem e o mal é muito grande. Em determinados momentos, o mal consegue um espaço para fazer o que ele quer", afirma. " Foi muito bonito o povo sair para reivindicar, mas é muito triste ver que nosso povo perdeu a noção do que estava fazendo e começou a quebrar tudo", diz o religioso sobre as recentes manifestações na cidade.

Benção, e não exorcismo

Em maio deste ano, o canal "TV2000", da CEI (Conferência Episcopal Italiana), divulgou que o papa Francisco havia realizado "uma prece de libertação do demônio ou um autêntico exorcismo" em uma criança doente que assistiu à missa de Pentecostes na Praça de São Pedro do Vaticano.
Dias depois, o Vaticano declarou que o papa Francisco não havia realizado qualquer exorcismo: "simplesmente rezou por uma pessoa doente que foi apresentada a ele". "Ali não houve exorcismo, apenas uma benção. O ritual é feito de maneira reservada e não em público", afirmou padre Geovane ao ser questionado sobre o assunto.

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