Devemos ou não acreditar em vampiros, esses seres da escuridão que se alimentam do sangue dos vivos?
Na tradição oral existe uma enorme variedade de monstros com que se assustam as crianças pequenas e dos quais os adultos falam com algum receio. A literatura moderna recuperou a imagem do vampiro, mas este bebedor de sangue já aterroriza gerações à milénios.
Os vampiros têm uma enorme variedade de rostos e podem transformar-se em ratos, morcegos, corvos, lobos, gatos, aranhas ou até numa nuvem de vapor. Possuem imensos poderes e uma força descomunal, para além de conseguirem controlar alguns animais. Durante o dia têm de evitar a luz do sol e refugiam-se em locais onde esta nunca penetra, de preferência dentro de caixões.
Supostamente a única defesa dos humanos contra estes seres são alguns símbolos religiosos como a cruz e a água benta e outros mais mundanos como o alho, embora para que surta efeito seja necessária uma boa dose de fé no sortilégio. Para evitar um vampiro, primeiro que tudo, nunca o convide a entrar na sua casa. Ele precisa sempre da autorização do dono do lar para poder penetrar neste.
Para se tornar um vampiro é preciso beber do seu sangue. Na tradição de alguns povos, basta que um corpo não tenha sido enterrado convenientemente, com pouca terra sobre a campa ou sem os ritos religiosos, ou que o defunto tenha sido exposto a um espelho, para que se torne um sugador de sangue. Na Roménia previne-se esta situação colocando na mão do cadáver um pedaço de ferro.
Segundo a mitologia grega e egípcia bastava que uma pessoa tivesse cabelos ruivos par ser um potencial vampiro após a sua morte. Pessoas cuja morte não tenha sido vingada ou os sétimos filhos/filhas de uma prole igual são os mais sérios candidatos a uma vida pós-morte de vampirismo.
Esta criatura surgiu aos olhos do mundo ocidental através de um conto de Bram Stoker, que por sua vez se inspirou nas velhas lendas romenas e numa das mais sanguinolentas figuras da História, Vlad Drakul,
O Impalador, um príncipe nascido no século XV na Transilvânia. Drakul era o nome utilizado pelos descendentes da Ordem do Dragão, título atribuído ao pai de Vlad pelo rei Sigesmundo em 1431, o mesmo do nascimento do que se viria a tornar um dos grandes assassinos em massa da história.
As histórias de vampiros podem não passar de casos de doentes de “porfíria”, uma doença cujo principal sintoma é uma enorme necessidade de beber sangue, mas porque as normas de segurança cada vez mais o indicam, nunca convide um estranho a entrar em sua casa sem lhe dar a provar, pelo menos, um dente de alho.
Lilith, a origem do vampirismo na mitologia judaica “Lilith, rainha dos súcubos, coorte, alfim, ilha de Tule, flor de espuma! Em tua taça bebo o ouro da morte e entro nos passos reais do silêncio da bruma…
A mulher sempre foi um enigma para o homem, mas é exatamente este mistério que o atrai, que desperta nele uma vontade de investigar de perto o desconhecido… O “eterno feminino” é um tema sempre atual, apesar dele surgir como fonte de inspiração desde os tempos primevos da pré-história onde um anônimo ancestral da raça humana esculpiu em uma pedra as formas opulentas de um corpo feminino, uma espécie de “Vênus” que foi encontrada em Laussel (Dordonha) com 43 cm aproximadamente, e que remonta à era paleolítica da humanidade.
Na tradição oral existe uma enorme variedade de monstros com que se assustam as crianças pequenas e dos quais os adultos falam com algum receio. A literatura moderna recuperou a imagem do vampiro, mas este bebedor de sangue já aterroriza gerações à milénios.
Os vampiros têm uma enorme variedade de rostos e podem transformar-se em ratos, morcegos, corvos, lobos, gatos, aranhas ou até numa nuvem de vapor. Possuem imensos poderes e uma força descomunal, para além de conseguirem controlar alguns animais. Durante o dia têm de evitar a luz do sol e refugiam-se em locais onde esta nunca penetra, de preferência dentro de caixões.
Supostamente a única defesa dos humanos contra estes seres são alguns símbolos religiosos como a cruz e a água benta e outros mais mundanos como o alho, embora para que surta efeito seja necessária uma boa dose de fé no sortilégio. Para evitar um vampiro, primeiro que tudo, nunca o convide a entrar na sua casa. Ele precisa sempre da autorização do dono do lar para poder penetrar neste.
Para se tornar um vampiro é preciso beber do seu sangue. Na tradição de alguns povos, basta que um corpo não tenha sido enterrado convenientemente, com pouca terra sobre a campa ou sem os ritos religiosos, ou que o defunto tenha sido exposto a um espelho, para que se torne um sugador de sangue. Na Roménia previne-se esta situação colocando na mão do cadáver um pedaço de ferro.
Segundo a mitologia grega e egípcia bastava que uma pessoa tivesse cabelos ruivos par ser um potencial vampiro após a sua morte. Pessoas cuja morte não tenha sido vingada ou os sétimos filhos/filhas de uma prole igual são os mais sérios candidatos a uma vida pós-morte de vampirismo.
Esta criatura surgiu aos olhos do mundo ocidental através de um conto de Bram Stoker, que por sua vez se inspirou nas velhas lendas romenas e numa das mais sanguinolentas figuras da História, Vlad Drakul,
O Impalador, um príncipe nascido no século XV na Transilvânia. Drakul era o nome utilizado pelos descendentes da Ordem do Dragão, título atribuído ao pai de Vlad pelo rei Sigesmundo em 1431, o mesmo do nascimento do que se viria a tornar um dos grandes assassinos em massa da história.
As histórias de vampiros podem não passar de casos de doentes de “porfíria”, uma doença cujo principal sintoma é uma enorme necessidade de beber sangue, mas porque as normas de segurança cada vez mais o indicam, nunca convide um estranho a entrar em sua casa sem lhe dar a provar, pelo menos, um dente de alho.
Lilith, a origem do vampirismo na mitologia judaica “Lilith, rainha dos súcubos, coorte, alfim, ilha de Tule, flor de espuma! Em tua taça bebo o ouro da morte e entro nos passos reais do silêncio da bruma…
A mulher sempre foi um enigma para o homem, mas é exatamente este mistério que o atrai, que desperta nele uma vontade de investigar de perto o desconhecido… O “eterno feminino” é um tema sempre atual, apesar dele surgir como fonte de inspiração desde os tempos primevos da pré-história onde um anônimo ancestral da raça humana esculpiu em uma pedra as formas opulentas de um corpo feminino, uma espécie de “Vênus” que foi encontrada em Laussel (Dordonha) com 43 cm aproximadamente, e que remonta à era paleolítica da humanidade.
Este escultor realçou as formas dando bastante volume às ancas e seios, mas a imagem parece meio disforme, talvez por se tratar de uma mulher adulta, conhecendo a mesma os processos de transformação no corpo devido à maternidade. Nota-se que a “mulher” é um tema arcaico e atual!
O mistério da alma feminina encontrou nas mitologias das primeiras civilizações da Terra o tema ideal para que, através do mito, fosse possível tentar compreender o enigma.
Cerca de mais de 2500 anos antes de Cristo, já se ouvia falar em “Lil”, uma espécie de espírito errante, que já vinha sobrevoando como um vento maligno, as crenças das civilizações Suméria, Assíria, Persa, Árabe, Teutônica, Babilônia, Cananéia, e por fim a Hebraica. A Mesopotâmia foi o berço das primeiras civilizações e foi no seio desses povos antigos que surgiu “Lilith”, o primeiro vampiro feminino, que obteve como maior missão ser a primeira esposa de Adão antes de Eva!
Foram os judeus quem melhor adaptaram o mito, incorporando-o em sua própria cultura. Mas as origens deste demônio remontam a era do caos. Antes porém desta interpretação, Lilith poderia equivaler à “Astarte”, ishtar alada com pés de coruja em formas de garras afiadas sobre animais mamíferos, com os braços abertos exibindo os seios e o ventre completamente nu, enormes asas e um enfeitado diadema de ouro sobre a cabeça, que davam a esta deusa o poder absoluto afirmando sua volúpia de luxúria e prazer sobre os homens, como se fosse o instinto sexual um poder sobrenatural!
Lilith é uma força oculta, pertencente às trevas da noite. É um demônio voador, uma vampira que bebe sangue fresco e jovem, uma bruxa, uma renegada, uma maldita, uma prostituta, uma promíscua, uma serpente, uma coruja, a própria lua, a escuridão do inconsciente… Lilith é o monstro da noite que estrangula criancinhas e fornica com os jovens que dormem sozinhos, provocando nestes, ereções noturnas, desencadeadas de sonhos orgíacos. Lilith foi temida pelos judeus e excluída da Bíblia…
Satã ou Satanás foi o criador de Lilith! Este ser rebelde, que significa “o contestador” ou “o anjo mais sábio”, foi o responsável por sua aparição no paraíso recém formado. Segundo o poeta John Milton, autor do livro “O paraíso perdido”, Satã fora expulso dos céus num momento de grande levante onde combateram todos os anjos numa guerra descomunal para tomar o trono de Jeová, o “todo poderoso”.
“Deus, co’a mão cheia de fulmíneos dardos, o arrojou de cabeça ao fundo do abismo. Lá vem descendo em tortuosos giros, até que o cume do ninfate pousa. Então Satã, que pela primeira vez soube o que é dor, torceu-se, recurvou-se. Tal bramido então ruge e tal estrondo, como jamais se ouviu dos céus no espaço…”
Nestes fragmentos significativos, Milton descreve como um profeta visionário, o episódio da expulsão de Satã dos céus! Satã, rancoroso para vingar-se de Deus, resolve ferir o Homem, a criação da imagem e semelhança do todo poderoso. Num momento de inspiração, ele sopra a vida em uma escultura feminil lapidada por ele mesmo. Assim Lilith, a obra prima de Satã, passa a fornicar com Adão sem que Deus saiba de toda a trama diabólica…
Adão, que segundo a Bíblia foi o primeiro Homem, encontrou em Lilith a forma ideal para descarregar todo seu impulso sexual, e Lilith tornou-se a companheira e esposa fiel de Adão satisfazendo-lhe todas as suas fantasias…
Meses e anos se arrastaram e o tempo passou, mas um dia Deus descobriu a trama de Satã e imediatamente criou a Mulher!
Lilith, que era um ser independente e arrogante, já vivia em desavença com o Homem e, num momento de discussão e desentendimento, Lilith abandonou Adão e voou até as margens do mar vermelho. Adão, angustiado, caiu em profundo sono e foi neste momento que Deus tirou de suas costelas a matéria prima para fazer Eva, a verdadeira companheira de Adão…
Novamente o Homem ganhou para si uma esposa, esta feita por Deus. Dessa forma Adão esqueceu Lilith, sua primeira mulher, para sempre, e agora Eva era o seu conforto, ela era mais dócil, meiga, submissa, espirituosa, mulher ideal em todos os aspectos. Eles viviam felizes no Paraíso até o dia em que Lilith voltou do seu exílio às margens do mar vermelho onde havia co-habitado com dezenas de demônios pertencentes ao exército de Satã…
Eva, que passeava descontraída à beira de um lago, avistou Lilith, mulher alta, morena de olhos verdes e cabelos pretos e longos, com um belo corpo, seios e ancas volumosas, que despertaram em Eva uma curiosidade. Quem era aquela mulher felina, selvagem, que perambulava pela floresta como se fosse a rainha de todos os animais? Lilith também avistou Eva e ficou surpresa com sua beleza tão delicada… Lilith, demônio súcubo de corpo sensual conversando com Eva, mulher ingênua e submissa, conseguiu convencê-la de provar o fruto do pecado, aquele no qual Deus havia proibido. Era chamado de “o fruto da árvore da ciência”. Eva, num momento de fraqueza e curiosidade, enganada por Lilith, provou o fruto e convenceu Adão também a prová-lo. Então ambos, homem e mulher, caíram em maldição pois o preço do pecado é a morte!
Escureceu os céus, a terra tremeu, soprou sinistro Haraverus, e o Todo Poderoso amaldiçoou Lilith por ter sido a culpada do engano do gênero humano. Lilith seria daquele dia em diante uma vampira condenada a beber sangue e reinar somente à noite, quando a lua brilhasse no firmamento.
Nascia a primeira vampira no seio do folclore judaico, e deste dia em diante a humanidade futura que iria nascer de Adão e Eva estavam condenados a sofrer os ataques de Lilith…
O primeiro filho de Adão e Eva, Caim, foi por muito tempo amante de Lilith, mas a sua malignidade influenciou tanto o jovem Caim que este foi induzido a matar seu próprio irmão Abel. Depois, Caim comete incesto com sua mãe Eva e tenta também matar seu pai, Adão. Percebe-se claramente que a humanidade se origina debaixo da maldição e do erro, da discórdia, do crime e do incesto..
O livro de Gênesis, da Bíblia comum, em nenhum momento cita Lilith, ao passo que não é Lilith quem tenta Eva, mas Satã em forma de serpente. Aqui a metamorfose do espírito de Lilith em serpente é fato decisivo para que o pecado manche a vida!
Os primeiros hebreus, os rabinos mais radicais e letrados, estes, ao descreverem o livro da criação do mundo, excluíram o nome de Lilith por questões de fé, temor, moral e preconceitos, afinal nas sociedades primitivas hebreias, era o patriarca o chefe absoluto da família e da tribo. E o poder da mulher sobre o homem era ignorado e mantido como coisa secundária.
Mas Lilith é muito mais que uma renegada e amaldiçoada vampira, ela tornou-se um símbolo de toda mulher independente ao passo que Eva é o símbolo da mulher subjugada pelo homem!
A lenda e o horror passou a povoar a mente de todos os homens e as primeiras aldeias e acampamentos eram alvos frequentes de Lilith. Ela surgia sempre à meia noite, batendo suas asas de coruja ou morcego, e seus caninos afiados buscavam um pescoço onde a veia jugular estivesse com mais facilidade em evidência.
A morte de crianças e os abortos eram obras malignas de Lilith, que deleitava-se com sangue de recém-nascidos! Jovens, homens ou mulheres que dormissem sozinhos, estavam condenados a tormentos e pesadelos sexuais onde através de masturbação chegavam ao orgasmo. O líquido expelido era também alimento para Lilith.
Sexo e sangue são os dois ingredientes básicos do culto do vampirismo. Aqui, estes dois elementos são constantes de modo a tornarem-se uma espécie de vício no seio da primeira mocidade.
Lilith prefere os jovens, mas não desdenha os velhos, porém na juventude a doçura dos prazeres é mais ardente. Por isso o poder de Lilith é mais forte neste período da vida humana.
A mãe comum de todos os vampiros, fruto do talento minucioso de Satã, a senhora das bestas e répteis peçonhentos, tornou-se o maior perigo para os hebreus que oravam à Deus e à três anjos para que protegessem toda a família da visita noturna da vampira sugadora de sangue e assassina de crianças.
Sanvi, Sansanvi e Semangelaf eram os três anjos que, segundo a lenda, assassinaram todos os filhos que Lilith gerou com Adão. Os anjos eram invocados para proteger os filhos de Eva, isto é, a humanidade, da qual Lilith tinha agora rancor e vingança de assassinar como uma espécie de revanche, pelo mal que ela sofreu no passado.
Existe uma complexidade enorme quanto à verdadeira origem deste vampiro chamado Lilith, afinal ela é fruto de outras culturas ainda mais primitivas que a dos hebreus. Seu nome foi mudando de tempos em tempos e o aspecto lúgubre foi se reafirmando na medida em que a evolução urbana povoou toda a região da antiga Mesopotâmia.
Lilith é uma espécie de súccubus perversa e sedutora…
Esta denominação é para um demônio malígno que se transforma em mulher, em espécie feminil para seduzir o homem. Acreditava-se muito que os demônios da legião de Satã metamorfoseavam-se em diabas sensuais equivalentes a uma Lilith voluptuosa. Mas Lilith foi um caso à parte, num primeiro momento, cerca de mais de cento e trinta anos, ela coabitou com Adão, depois afastou-se, mais tarde foi amaldiçoada por Jeová a perambular errante por toda a eternidade.
A lenda da vampira estendeu-se pelos tempos, e segundo as vítimas que sobreviveram aos seus ataques, Lilith surge do meio das trevas, sempre em noites de lua cheia, suas vítimas geralmente estão em sono profundo e de repente sente-se um peso asfixiante e a sensação de um corpo invisível em contato com o seu. Sente-se carícias ardentes abaixo do ventre e uma picada no pescoço por onde o sangue é chupado. Lilith provoca um orgasmo na vítima para ludibriá-la com o prazer enquanto rouba-lhe o líquido rubro da vida.
Este súccubus de boca irrisória e lábios de mel, foi temido e desejado por muitos indivíduos em suas terríveis noites de solidão e insônia…
“Bem-vinda Lilith, ao meu leito!”
Em outubro de 1999, eu tive a oportunidade de viajar para Minas Gerais para a cidadezinha de Mariana, lugar exótico onde viveu o poeta Alphonsus de Guimaraes.
Foi aí que eu conheci melhor toda a obra do poeta, visitei sua antiga habitação onde hoje é um museu, peregrinei até o seu túmulo no cemitério local, e folheando sua obra, deparei-me com um poema que chamou-me a atenção, pois o título do escrito é “Súccubus”. O poeta descreve o demônio que o atormenta como uma espécie de Lilith! Observem o poema que eu transcrevo como algo inédito a todos os leitores e pesquisadores do sobrenatural e do fantástico, do lúgubre e do desconhecido. O poema foi resgatado de uma segunda edição publicada no ano de 1955.
As vezes, alta noite, ergo em meio à cama o meu vulto de espectro, a alma em sangue, os cabelos hirtos, o torvo olhar como raso de lama, sob o tropel de um batalhão de pesadelos. Pelo meu corpo todo uma fúria de chama enrosca-se, prendendo-o em satânicos elos: vai-te demônio encantador, demônio ou dama loira fidalga infiel dos infernais castelos! Como um danado em raiva horrenda, clamo e rujo, hausto por hausto aspiro um ar de enxofre: tento erguer a voz, e como um réptil escabujo. Quem quer que sejas, vai-te, ó tu que assim me assombras! Acordo: o céu, lá fora, abre o olhar sonolento cheio da compunção dos luares e das sombras. O poeta parece descrever um horrendo pesadelo que atormenta-o a noite toda, um súccubus, demônio de espécie feminil que roubou-lhe o sagrado e tranquilo sono!”
Já um outro poeta conhecido por Dário Veloso, fez uma obra com uma alusão direta à Lilith, onde o título é Lilith! Observem:
Lilith (fragmento)
“Vênus Urânia, Sol, num poente agoníaco. Ilusão dos sentidos, flor de espuma. Lótus de volúpia, os olhos do zodíaco. Astro do sonho a mergulhar na bruma. Bruxa cruel, de olhos do infortúnio! Toda de neve, a cordilheira linha de finos rutílos punhais, cordilheira da morte, val da morte, para imortais…
O mito de Lilith ressurgiu não somente na literatura, mas nas histórias em quadrinhos também!
A editora RGE publicou em novembro de 1976 o terceiro número de uma das melhores revistas de terror de todos os tempos, Kripta! Lembram-se da frase: “Com Kripta qualquer dia é sexta-feira e qualquer hora é meia-noite!”? Muito bem, foi nesta edição que publicou-se a história de Lilith em quadrinhos, o roteiro foi escrito por Nicola Cuti e as ilustrações ficaram a cargo de Jaime Brocal. Diria que foi uma das melhores edições da revista, simplesmente formidável! Mas a Lilith das lendas hebraicas é muito mais assustadora do que podemos imaginar, sua energia negativa oriunda da maldição de Deus pesa como um fardo do inferno. Ela carrega sozinha a sina errante de ter sido ela a responsável pela mancha do pecado no seio da humanidade e de sua morte e aniquilação. Na Bíblia, no livro de Eclesiastes, que é tão pessimista quanto algumas obras de Schopenhauer e Cíoran, existe uma advertência sobre o episódio: Por causa da mulher, morrerás!.
Duras palavras que não entoam bem nos ouvidos desavisados! Parece que a mulher carrega sozinha o peso do seu castigo sendo que o homem também foi cúmplice! Mas se Lilith assombrou os tempos antigos das civilizações da Mesopotâmia, na Idade Média multiplicou-se o terror envolto no mito. Comunidades judaícas espalhadas por toda a Europa afirmando-se nos seios dos outros povos como bons comerciantes, mantinham suas crenças e tradições intocáveis, principalmente a religião, e no livro Zohar, dos judeus cabalísticos, que era uma espécie de obra reflexiva sobre o velho testamento, surge a citação clara e evidente que Lilith era a primeira esposa de Adão antes de Eva, e que tornou-se um ser maligno, uma vampira… Aqui, o mal personificou-se quase que em um símbolo místico relacionado com o lúgubre do imaginário humano de todos os tempos!
Segundo Carl G. Jung, “uma palavra ou uma imagem é simbólica quando implica alguma coisa além de seu significado manifesto e imediato. Esta palavra ou esta imagem tem um aspecto inconsciente, mas amplo, que nunca é precisamente definido ou de todo explicado”. Lilith se encaixa perfeitamente nesta visão jungeana de complexa simbologia mística onde o inconsciente é manifestado em todas as suas expressões.
Lilith é a noite, é a rainha da noite, é a lua, representa a lua, a oposição do sol. Lilith foge da luz, como uma vampira, precisa reinar nas trevas como algo desconhecido e que causa medo nas criaturas. Lilith é a mulher livre, independente, soberba em curvas sensuais e provocantes, é a dançarina do ventre, logo seduz o homem por dominar a fraqueza deste com seu poder maléfico de sedução. Lilith é o vaso, o homem é a semente!
Ela aparece em uma outra obra judaica, o “Talmude”, e novamente é reforçado o caráter notívago deste demônio alado, deste súccubus a enfeitiçar os homens para uma cúpula noturna bastante calorosa.
A vitória de Satã é exatamente a sua obra prima, este ser indestrutível, que seduziu o próprio “Todo Poderoso”, pois há relatos que Lilith tenha sido amante do próprio Jeová! E dentro de toda esta mitologia, com absoluta certeza reina “o eterno feminino” que até deuses seduzem.
É o caso também da Vênus Afrodite greco-romana, onde todo o Olimpo curvou-se em completo arrebatamento ao pousar os olhos na mais bela das belas, a “Vênus Citaréia”, que encantou todos os deuses, provocando intrigas, ciúmes e paixões cegas e desenfreadas, devido seu alto poder de sedução e beleza.
A presença simbólica e inconsciente do demônio Lilith pode ser identificada na obra de Sheridan Le Fanu, nascido em 1814 em Dublin, Irlanda, e falecido em 1873. “Carmilla” justifica essa afirmação.
Esta obra completamente voltada para o vampirismo descreve um ser maligno feminil que se alimenta de sangue, mas não é só a presença de uma vampira que caracteriza a obra, e sim o forte potencial erótico lésbico que completa os quadrantes mais significativos do livro.
Carmilla é uma espécie de Lilith moderna dentro da literatura gótica, onde a luxúria inebriante multiplica o potencial de sedução. Afinal, o lesbianismo simbólico ou real é para o inconsciente do homem, a mais alta expressão do prazer! Isto é fato e a psicanálise pode explicar, afinal a incessante busca de prazer nos seres humanos atinge o seu ponto máximo e somente a espécie humana tem esta capacidade de multiplicar o prazer e a fantasia como um meio de arrebatamento da realidade que se manifesta de forma tão estressante.
Parece que Eva e Lilith são uma só mulher, mas ao mesmo tempo são duas, dois prazeres diferentes e dois mistérios opostos de uma mesma essência que é contrária às forças da masculinidade do homem. Dois perfumes de aromas orientais, duas musas representando um desafio à virilidade e apetite do homem, que hora subjulga ambas para em seguida ser cativo desta força sobrenatural impressionante, onde a energia masculina é sugada e consumida num ritual primitivo que é uma relação sexual!
Nos oráculos, encantamentos, e feitiços para o amor descritos nas obras de ocultismo da idade média, o nome de Lilith está presente. Observem esta evocação de feitiçaria:
“Faça-se a luz para o grande bode com suas ajudantes Sadrak, Abimelec e Cafmoot. Faça-se a luz para Astaroth com suas ajudantes Nebirus, Kobol e Dísjin. Faça-se a luz para Belzebuth, com suas ajudantes Baalarith, Sacheva e Lilith.”
Este fragmento extraído do breviário de Nostradamus é bastante significativo onde Lilith aparece em companhia de uma legião infernal de espíritos malignos para realizar um fluído de ligação amorosa. Este tipo de prática era coisa abominável para o cristianismo, a igreja que detinha o poder absoluto na Idade Média, torturava e mandava à fogueira todo indivíduo suspeito de ser mago, bruxo ou feiticeiro, e usasse de tais práticas. E foi neste período onde a Inquisição reinou com toda a sua abominável bestialidade irracional oriunda do dogma cristão, que o maior número de mulheres foi para a fogueira!
A bruxa (mulher sábia e independente), uma espécie de manifestação de Lilith, foi durante muito tempo o alvo dos hipócritas supersticiosos da Idade Média e uma quantidade significativa de gente acabou numa pira humana. Que horror! Este dito “dia do perdão”, noticiado no dia 13 de março de 2000 a todo o mundo, o Papa (“porco do diabo”, na expressão de Nietzsche) pediu desculpas pelos erros do passado, lançando um documento oficial onde reconhecia os gravíssimos erros cometidos pela igreja. Quanta hipocrisia novamente! Não há perdão para tais crimes! E a Igreja é a maior culpada por todo o atraso cultural e científico do ocidente. Os orientais neste ponto foram fortes, o suficiente para não se deixarem dominar pela doutrina do cristianismo que pouco significado tem para eles…
Mas, voltando à Lilith e ao vampirismo, que é o assunto central de nosso estudo e reflexão, mergulhemos no vácuo da solidão de uma noite fria de inverno, e em poucos minutos a nossa imaginação enxergará o sepulcro de Lilith entalhado em mármore desgastado pelo tempo, como alguns dos antigos túmulos do Cemitério da Consolação, na cidade de São Paulo.
Como um louco que vê a morte e não teme o seu poder de aniquilamento, Lilith caminha à nossa direção, voa como uma coruja até nossa morada, invade nossa vida privada, seduz nossa alma pagã de solitário! Suga o nosso sangue mas nos dá prazer, e o prazer segundo Oscar Wilde, é “a única coisa na vida que vale a pena!”.
Deixemo-nos seduzir por esta força oculta, mas um lembrete que pode entoar como advertência:
“Cuidado homens inocentes, com Lilith. Ela é um símbolo, uma força inconsciente oculta dentro da mulher, onde o seu poder pode ser de prazer ou dor, amor ou ódio.”
O Homem a cada dia perde um pouco do seu espaço e papel dentro da sociedade, porque a força de Lilith multiplicou o seu potencial. Cabe agora haver um equilíbrio para que homem e mulher convivam sem maiores atritos!
Como Adão, o primeiro homem, o homem moderno ainda está mergulhado e embaraçado num conflito com sua companheira talvez porque não compreenda que Lilith e Eva são duas, mas ao mesmo tempo são uma só…
Não posso esquecer de citar a genial Barbara Black Koltuv, com sua obra “O livro de Lilith”, do qual estudei para elaboração desse artigo. Lembrando que o interessante para nós é o histórico do vampirismo e o horror que possui, o fascínio do fantástico, o resto cada um interpretará a seu modo.
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