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Demonologia é o estudo sistemático dos demônios. Quando envolve os estudo de textos bíblicos, é considerada um ramo da Teologia. Por geralmente se referir aos demônios descritos no Cristianismo, pode ser considerada um estudo de parte da hierarquia bíblica. Também não está diretamente relacionada ao culto aos demônios.


quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

A Força Mágica nos Ritos de Thelema

Os Ritos de Thelema utilizam o que nós thelemitas chamamos de força mágica, poder mágico, energia mágica etc., uma força misteriosa que opera sob o controle do magista, o indivíduo que conscientemente o emprega para os mais variados fins. A natureza dessa força é relativamente obscura e é descrita por muitos autores de maneiras distintas, às vezes até contraditórias. O que nos interessa aqui é, portanto, tentar entender como Crowley compreendia essa força mágica e sua natureza, assim como ele a apresentava em seus escritos.

É possível, portanto, ver a identidade entre a Serpente, Hadit, a kuṇḍalinī e a força mágica. Nós podemos incluir nesses conceitos o Aud da magia e o prāṇa manifesto no indivíduo. Um outro simbolismo aparece quando a kuṇḍalinī ou Śakti é entendida como uma Força Redentora, pois é ela que libera o yogī dos inúmeros ciclos de morte e renascimento no saṃsāra, livrando-o do enlace fantasioso da poderosa māyā «Ilusão». Podemos conectar aqui o conceito ocidental da força messiânica que redime o Adepto





Em Daath é dito encontrar a Cabeça da grande Serpente Nechesh ou Leviathan, considerada diabólica para ocultar sua Santidade (NChSh [Serpente] = 358 = [hy#m, messias], o Messias ou Redentor e [ntywl, Leviathan] = 496 = [twblm, Malkuth], a Noiva. Ela é idêntica a kuṇḍalinī da filosofia hindu, a Kwan-se-on dos mongóis e significa a Força Mágica no homem, que é a força sexual aplicada ao cérebro, coração e outros órgãos para redimi-los.


Aqui Crowley acrescenta mais informação ao nosso conhecimento. A kuṇḍalinī, portanto, representa a força mágica messiânica que transforma o homem no Adepto, a Serpente Nechesh ou força sexual. Na cultura tântrica, essa força é somente um aspecto de Śakti, o mais poderoso e volátil de todos, pois Śakti como poder representa Força, tanto microcósmica quanto macrocósmica. A força ou potência sexual é, assim, a mais potente manifestação da Força Mágica. Por conta disso, os Ritos de Thelema operam com este aspecto da Força Mágica e dessa maneira, têm um grau elevado de simbolismo sexual. Talvez essa tenha sido uma das maiores contribuições de Kenneth Grant (1924-2011), destacar e desenvolver este importante aspecto das operações mágicas e práticas místicas que envolvem a Filosofia de Thelema. Ele chamou a atenção para a identidade entre Thelema e o Tantra, demonstrando os aspectos práticos comuns nessas duas tradições. Na cultura tântrica, como vimos acima, Śiva e Śakti são demonstrados em um estado de amor em coiso sexual conhecido como maithunā e o Rito de Thelema que explicitamente explora esse princípio é a Missa Gnóstica.


odos nós, homens e mulheres, carregamos essa Força Mágica em nosso interior e a cultura tântrica ensina que sem ela a vida não é possível. Portanto, trata-se de um princípio de vida ou o espírito que vivifica a vida. Na terminologia de O Livro da Lei, cada homem e cada mulher é uma estrela e no Credo da Missa, creio  em um Ar, o alimentador de todos os alentos. O símbolo mágico dessa força é o lingam-yoni e no sistema de magia sexual de Aleister Crowley, a Lança e a Taça. Isso nos leva a uma reflexão importante: o Falo foi extensivamente utilizado por Aleister Crowley como um símbolo da própria kuṇḍalinī e da Força Mágica. Isso significa que o Falo como símbolo dessa Força Mágica não representa apenas a potência masculina, pois uma vez que representa uma força bi-gênera, é adequada a ambos, homem e mulher, o lingam-yoni. Isso chama atenção para identidade entre esses dois símbolos, o Falo e o lingam-yoni. Interessante notar que no Ritual Rubi Estrela, a palavra «O PhALLE» no grego tem o mesmo valor de «PhALLOS», o lingam e «KTEIS», yoni juntos: 1366 . Podemos perceber, assim, que o único vice-regente do Sol sobre a Terra é o poder gerador de cada homem e cada mulher é uma estrela refletido na interação de Sacerdote «o Falo» e Sacerdotisa «a Vulva», daí, Magick.

Algo interessante ainda a se destacar é o relato de Sacerdotes e sacerdotisas que oficiam a Missa Gnóstica. Os sacerdotes têm descrito sua experiência como um tipo de centramento ou contração¸ enquanto que as Sacerdotisas descrevem sua experiência como um tipo de expansão, o que reflete as imagens de Hadit e Nuit. Eu sou o eixo da roda da revolução, e o cubo no círculo. ‘Venha para mim’ é uma palavra néscia: por isso sou Eu que vou.

Nem todos os Ritos de Thelema exigem a interação física entre homem e mulher. A Missa Gnóstica, por exemplo, resume todo o Arcano da magia do IX° O.T.O. e não existe nenhum tipo de interação sexual real entre o Sacerdote e a Sacerdotisa oficiantes. Isso significa que a execução do ritual, através de seu simbolismo, contém e produz essa mesma Força Mágica, bem como outros rituais da mística thelêmica. Isso é muito importante ser compreendido porque a Corrente Mágica Ofidiana de Thelema não se manifesta apenas através da energia sexual produzida pelo próprio ato sexual. A execução ritualística deste simbolismo opera com a mesma Força Mágica. Por exemplo, na Missa Gnóstica quando a Lança é acariciada ou quando ela toca a Taça, não se trata apenas da emulação de um segredo que vela o ato sexual, pois o próprio ato em si nada mais é do que a manifestação material de princípios espirituais mais elevados, a união que une sujeito e objeto em samādhi. Consideremos aqui o que Crowley tem a dizer sobre o coito sexual em Entusiasmo Energizado:

E mais, no uso sacramental e cerimonial do ato sexual, a consciência divina pode ser alcançada. Admitimos o sexo como propósito religioso, e podemos imediatamente declarar que o ato não deva ser profanado. Não deve ser executado com leviandade e tolice. Não deve ser necessário acrescentar a necessidade de estrito autocontrole e concentração por parte destes operadores. Tal como seria blasfêmia apreciar o gosto grosseiro da base material do vinho do sacramento, da mesma forma o celebrante deve suprimir até a mais diminuta manifestação de prazer animal , a excitação sexual deve ser suprimida e transformada em seu equivalente religioso. 
 É, realmente, de importância primária para o celebrante em qualquer rito fálico que ele seja capaz de completar o ato sem uma vez sequer permitir um pensamento sexual ou sensual que lhe invada a mente.


Assim, a sexualidade e atividade sexual são tipos distintos de manifestação da Força Mágica ou kuṇḍalinī. Por ser equiparada a fonte da vida que opera por meio da atividade sexual, é tida como o tipo mais potente de Força Mágica através da qual a vida se perpetua. No entanto, para que seja apropriadamente considerada Força Mágica, ela deve ser conscientemente produzida, controlada e dirigida através do poder da Vontade.



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